segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Verdades e mentiras sobre o Golpe de 1964, a Ditadura Militar e a postura dos evangélicos à época

Visão parcial da marcha de março de 1964 em São Paulo contra as medidas pró-comunismo do governo Jango, e que reuniu cerca de 600 mil pessoas
Em 2009, o Golpe de 1964 completou 45 anos. Como era de se esperar, várias manifestações na mídia impressa, televisiva e virtual marcaram a data. Nem todas, porém, justas. Alguns equívocos muito comuns foram repetidos. Por exemplo, as afirmações de que o Golpe de 1964 veio para instaurar uma ditadura no Brasil (quando, na verdade, a Ditadura Militar foi um desvio da proposta do movimento de 1964 e que só ocorreu um ano depois da deposição de Jango); que a deposição de Jango foi "uma tremenda injustiça"; e que os Estados Unidos idealizaram e patrocinaram o Golpe. Essas distorções só prosperam hoje porque, infelizmente, já faz alguns anos que uma educação com viés de esquerda prevalece nas escolas desse país, distorcendo os fatos e reescrevendo a História.
À época, pensei em escrever um artigo a respeito, mas abortei a idéia no meio do caminho, já que o texto ficaria enorme, exigindo de mim tempo significativo dentro do meu pouco tempo. Seria o mais longo texto que já postei neste blog. Porém, hoje, quase um ano depois, depois da discussão no início do ano em torno da Lei de Anistia (por causa do nefasto Programa de Direitos Humanos lançado em 21 de dezembro pelo governo federal), senti-me impelido novamente a escrever o tal texto. Você está exatamente diante dele. Ou melhor, de parte dele. É que, como era de se esperar, ficou extremamente extenso e, por isso, decidi postá-lo em duas partes. Esta é a primeira.
Essa série de dois artigos (*) que enceto hoje objetiva corroborar a não-proliferação dessas versões falsas sobre aquela época de nossa história, distorções estas que, inclusive, têm levado muitos crentes a fazerem julgamentos equivocados sobre o comportamento que a igreja evangélica brasileira teve em relação à deposição de Jango e à Ditadura Militar.
Sim, os evangélicos foram condescendentes com o movimento de 1964, mas, para entender essa atitude, é preciso saber o que o governo Jango estava fazendo à época para provocar essa reação radical da sociedade brasileira, e pelo que lutou realmente esse movimento de deposição, para, então, finalmente, entendermos porque não apenas os evangélicos, mas todos os setores da sociedade civil brasileira e a maioria da população, apoiaram a deposição de Jango. Não, não concordo com golpes de Estado, mas, ao conhecer a conjuntura do movimento de 1964, dá para entender as razões pelas quais a igreja não viu aquele movimento como um mal.
Sim, os evangélicos também foram condescendentes com a Ditadura Militar que veio depois (embora, neste caso, relativamente), assim como a maioria esmagadora da população daquela época apoiou o regime (especialmente no período de 1964 a 1982). Mesmo preferindo obviamente a democracia à ditadura, os evangélicos agiram assim porque sabiam que seu papel, como Igreja, não era partir para o confronto com os militares em prol da democracia, assim como a Igreja Primitiva não se engajou em nenhuma luta pela derrubada do Império Romano, nem mesmo quando Roma passou a perseguir os cristãos a partir do final dos anos 60 da Era Cristã. Os evangélicos sempre foram ordeiros e, como povo ordeiro, não poderiam coadunar com badernas, guerrilha, desordem e movimentos que tentavam derrubar o regime pela força. E em sua esmagadora maioria, não compactuavam com as teologias esposadas pelos que se opunham ao regime em nome da “fé cristã” (refiro-me à Teologia da Esperança, ao Evangelho Social e à Teologia da Libertação, que levaram seus adeptos a confundirem socialismo com fé cristã e a muitos deles entrarem para a guerrilha).
A igreja evangélica também estava ciente do que fizeram os comunistas na China, Cuba, URSS e Coréia do Norte (matando, inclusive, milhões de cristãos), o que a levava a valorizar o importante combate que os militares realizavam contra os grupos terroristas que lutavam para implantar o comunismo em nosso país. Por sua vez, o regime militar ainda garantia a liberdade religiosa e honrava as igrejas cristãs de forma geral, que gozavam do respeito e apreço dos militares. Finalmente, os evangélicos da época, como a maior parte do povo, reconheciam o fato de que os principais culpados pelo abortamento do retorno programado - pelos militares - às eleições diretas (falo disso no segundo artigo), bem como pelo endurecimento e excessos dos militares durante o regime, foram os terroristas de esquerda, que promoveram destruição e caos, mataram mais de 130 pessoas, seqüestraram, e assaltaram bancos, casas e carros. Os militares apenas reagiram a eles, embora tenham se excedido nesse processo, cometendo crimes. Hoje, omite-se deliberadamente que os terroristas já haviam matado dezenas de pessoas de 1964 até dezembro de 1968 antes de o regime instaurar o AI-5, começando a repressão e dando meia volta volver no processo de retorno à democracia plena.
Bem, para que você fique plenamente inteirado do que estou falando, detalho abaixo quatro fatos fundamentais olvidados e/ou omitidos sobre o Golpe de 1964 e a Ditadura Militar. Vamos ao primeiro.
1) O Golpe ou Revolução de 1964 foi um contra-golpe ao processo de “cubanização” do Brasil que já estava em explícito andamento; ele veio para evitar uma ditadura, não para instaurar uma. A Ditadura Militar, que surgiu um ano após o movimento de 1964, foi um golpe dentro desse contra-golpe.
Não é verdade que o Golpe de 1964 pretendeu estabelecer uma ditadura. Foi exatamente o contrário: ele ocorreu para garantir a democracia em nossa nação, impedindo a implantação de uma ditadura comunista em nosso país. O movimento de 1964 foi um contra-golpe ao processo de “cubanização” do Brasil, que já estava em andamento.
Para quem não conhece os fatos sobre o processo acelerado de “cubanização” do Brasil naquela época, e que levaram ao movimento nacional de deposição de Jango, passarei a elencá-los a seguir.
À guisa de introdução, lembremos o contexto da época.
O mundo vivia a Guerra Fria. A União Soviética e seus satélites apoiavam e financiavam a implantação do comunismo no mundo, e os Estados Unidos lutavam para impedir essa expansão, apoiando todos quantos se opusessem aos movimentos de guerrilha revolucionária comunista nos seus respectivos países.
Em 1959, a guerrilha dos irmãos Castro e Guevara apeou do poder o ditador Fulgêncio Batista, uma espécie de "Getúlio Vargas" de Cuba. Batista era um militar que apoiou e concretizou um golpe de Estado em Cuba em 1933. Anos depois do golpe, mais precisamente em 1940, foi eleito presidente daquele país em eleições diretas, sendo sucedido por Ramon Grau, que venceria as eleições de 1944, e Carlos Prío Socarrás, que venceria as eleições de 1948. Em 1952, depois de três eleições, quando a democracia em Cuba parecia solidificada e Batista concorria à presidência mais uma vez, este resolveu promover outro golpe de Estado, dessa vez em seu próprio benefício, para se fixar no poder. Durante sua gestão, Batista mandou prender opositores e enriqueceu ilicitamente. Seu governo ditatorial foi criticado tanto por comunistas e esquerdistas em geral quanto por democratas e liberais. Porém, foi a guerrilha de esquerda que obteve êxito, derrubando-o. E quando os irmãos Castro e seus revolucionários o derrubaram, em vez de restituírem a democracia a Cuba, implantaram eles mesmos sua própria ditadura, e incomensuravelmente mais violenta.
Se o ditador Batista prendia seus opositores, os irmãos ditadores (Fidel e Raul) simplesmente os matavam aos milhares.
Os cubanos não-esquerdistas que lutaram contra a ditadura de Fulgêncio foram todos exilados ou mortos pelos irmãos Castro. Logo nos primeiros dias após a Revolução, Fidel e sua turma fuzilaram nada menos que 600 opositores ideológicos. Guevara liderou em Cuba o primeiro campo de concentração da América Latina. Chamavam-no de “Unidade Militar de Apoio à Produção” (Umap). Ali, nos quase dois anos que passou “apoiando a produção”, o argentino fuzilou mais de 400 pessoas (Ver livro Guevara: Misionero de La Violencia, do ex-preso político e renomado historiador cubano Pedro Corzo, que cita todos os mortos. Para uma consulta mais imediata, há uma lista com o nome de 200 dessas vítimas de Guevara aqui e fotos e dados de mais de 100 dessas vítimas aqui).
Nos dez primeiros anos de ditadura, Raul, Fidel e Guevara fuzilaram mais de 7 mil pessoas e encarceraram 30 mil cubanos nas Umap’s (Informações sobre algumas dessas chacinas aqui e fotos de alguns fuzilamentos executados por Raul, Fidel, Guevara e companhia podem ser vistas aqui). Por isso, em 1960, com apenas um ano de Revolução, 50 mil cubanos já haviam fugido da ilha. Em 1963, o número de cubanos que fugiram do terror em seu país já havia subido para 250 mil. Ou seja, a ditadura dos irmãos Castro era uma “maravilha” tão grande que centenas de milhares de cubanos “deram no pé” em apenas quatro anos de regime. E ainda hoje há gente fugindo daquela “ilha da fantasia”...
Só para registro: de 1959 a 2008, a ditadura cubana fuzilou 17 mil pessoas (ao todo, de lá para cá, foram cerca de 100 mil mortos; 17 mil foram os que foram assassinados por fuzilamento) e jogou nas Umap’s mais de 100 mil opositores; e o número de cubanos que tentam fugir da ilha é hoje, em média, de 5 mil por ano – o recorde foi em 1994: 37 mil lançaram-se ao mar em fuga.
Mas, voltemos a meados do século 20.
Antes mesmo de Cuba, o grande interesse do Movimento Comunista internacional era o Brasil. O namoro já era antigo. Em 1935, a mando da URSS, os comunistas, encabeçados por Luis Carlos Prestes (então membro da Comissão Executiva da Internacional Comunista – Comintern), já haviam tentado tomar o poder, matando 28 militares no Estado da Guanabara, 20 pessoas (entre militares e civis) em Natal e 720 (entre militares e civis) em Recife (História das Revoluções Brasileiras, do historiador Glauco Carneiro, volume 2, p. 424). Ainda em Natal, durante os três dias de tentativa de revolução, promoveram saques, estupros e arrombamentos (Relembre esses crimes – ou leia sobre eles a primeira vez – aqui e aqui). E na Guanabara, logo depois da Intentona, os comunistas ainda mataram uma jovem de 18 anos – Elza Fernandes –, namorada de um dos “camaradas”, apenas por suspeitarem que ela denunciara o grupo. Se realmente tivesse denunciado, estaria cumprindo seu dever como cidadã; mas, o pior é que ela não o fez (Relembre essa terrível história aqui).
Enfim, desde a década de 30, o Brasil era visto como estratégico pela Internacional Comunista pelo seu tamanho e representatividade na América Latina. Ter um país do tamanho do Brasil como satélite comunista na América Latina seria uma grande conquista e uma influência poderosa sobre os demais países do continente. China, na Ásia, e Brasil, na América Latina, eram duas antigas obsessões. A China, desde 1949, devido ao trabalho de Mao Tse-tung (que mandou ali de 1949 a 1959 e de 1966 a 1976), tornou-se comunista. Faltava agora o Brasil.
Os anos se passaram e, um ano apenas após a Revolução Cubana, os comunistas resolveram investir outra vez na conquista do Brasil. E em pouco tempo, a sociedade brasileira, que ainda mantinha viva na memória a Intentona de 1935, foi tomando ciência desse projeto.
O primeiro fato a ser notado foi o surgimento e crescimento de grupos de guerrilha comunista no Brasil, patrocinados, armados e treinados pelos comunistas internacionais, e empenhados declaradamente em instaurar uma ditadura comunista no país. Em segundo lugar e simultaneamente às guerrilhas, vieram as primeiras invasões de terra no campo, e com o apoio do governo federal durante a presidência de João Goulart. Em terceiro lugar, nos primeiros anos da década de 60, centenas de sindicatos foram criados no Brasil (cerca de mil em apenas quatro anos), sendo o número de greves fomentadas por setores de esquerda naquele período algo inigualável na história do país. Então, quando, em 13 e 17 de março de 1964, o presidente João Goulart manifestou a intenção de desapropriar terras - e sem promessa de indenização - para promover a reforma agrária, ameaçou a ordem econômica com o estatismo, propôs uma nova Constituição conforme seus ideais e incitou descaradamente a rebelião dentro das Forças Armadas, desrespeitando hierarquias e favorecendo injustamente militares de esquerda, a sociedade civil brasileira não teve dúvida e saiu em massa às ruas. Depois dos discursos de 13 e 17 de março de 1964, sua deposição foi inevitável.
Vamos recapitular cronologicamente esses fatos.
A partir do ano de 1960 até o período final do Regime Militar, milhares de comunistas brasileiros treinaram terrorismo na União Soviética, China, Cuba, Coréia do Norte e Argélia. O objetivo expresso desse treinamento era tentar promover uma revolução comunista no Brasil, implantando a “ditadura do proletariado”, a “cubanização” do país. Sobre tais treinamentos, tão convenientemente omitidos hoje em dia, leia a obra O Apoio de Cuba à Luta Armada no Brasil, da professora Denise Rollemberg; e a obra A Revolução Impossível, de Luís Mir. Eis alguns links sobre o assunto aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
A prática comunista de incentivar e patrocinar guerrilhas nos outros países foi idealizada ainda na época de Stalin.“Os líderes comunistas sempre procuraram criar situações revolucionárias. Lenin favorecia a agitação para conseguir seus objetivos de domínio mundial do comunismo, e Trotsky pregava providências ainda mais militantes. Foi, no entanto, Stalin quem preferiu treinar um exército de subversivos clandestinos que se infiltrariam nas democracias para destruí-las de dentro para fora… a perigosa quinta-coluna” (Hutton, Os subversivos, p. 9).
Herbert José de Souza, mais conhecido como “Betinho”, ex-dirigente do grupo esquerdista Ação Popular, contou em depoimento no livro O Fio da Navalha: “Ainda antes da Revolução de 31 de março de 1964, no governo do presidente João Goulart, um grupo de militantes do Partido Comunista do Brasil foi enviado à China, onde recebeu treinamento militar na Escola Militar de Pequim. Também um grupo de dirigentes da Ação Popular recebeu treinamento político-ideológico na China no início dos anos 70”.
Desde 1961, as Ligas Camponesas do deputado comunista Francisco Julião, surgida em Pernambuco, já haviam se armado para a revolução e recebido treinamento de guerrilha dos chineses e cubanos. De Cuba, receberam ainda armas e dinheiro para comprar fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco para funcionarem como campos de treinamento. Essa história está contada parcialmente aqui, mas pode ser lida em detalhes na obra supracitada da professora Denise Rollemberg. Após a deposição de Jango, as Ligas foram fechadas, as armas apreendidas e seus membros presos ou exilados.
Em 1963, Leonel Brizola montara o chamado “Exército Popular de Libertação”, formado de grupos de 11 pessoas (os G-11) com, ao todo, 58.344 homens distribuídos pelo Rio Grande do Sul, Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. No documento denominado “Instruções Secretas”, escreveu Brizola ao seu exército, justificando o uso que seu grupo pudesse fazer de atos de violência: “Não nos poderemos deter na procura de justificativas acadêmicas para atos que possam vir a ser considerados, pela reação e pelos companheiros sentimentalistas, agressivos demais ou, até mesmo, injustificados”. Sobre sua certeza do compromisso de João Goulart com a revolução comunista, escreveu ele: “Devemos nos lembrar que, hoje, temos tudo a nosso favor, inclusive o beneplácito do Governo e a complacência de poderosos setores civis e militares, acovardados e temerosos de perder seus atuais e ignominiosos privilégios”. Sobre a escassez de armas para a luta: “A escassez inicial de armas poderosas e verdadeiramente militares será suprida pelos aliados militares que possuímos em todas as Forças Armadas”.
Sobre as táticas a serem usadas pelo seu exército, orientou Brizola: “Os camponeses, dirigidos por nossos companheiros, virão destruindo e queimando as plantações, engenhos, celeiros, depósitos de cereais e armazéns gerais. A agitação será nossa aliada primordial e deveremos iniciá-la nos veículos coletivos, à hora de maior movimento, nas ruas e avenidas de aglomeração de pedestres, próximo às casas de armas e munições e nos bairros eminentemente populares e operários. Desses pontos e à sombra da massa humana, deverão convergir os G-11 especializados em destruição e assaltos, já comandando os companheiros e com outros se ajuntando pelas ruas e avenidas, para o centro da cidade, vila ou distrito, de acordo com a importância da localidade, depredando os estabelecimentos comerciais e industriais, saqueando e incendiando, com os molotovs e outros materiais inflamáveis, os edifícios públicos e os de empresas particulares. Ataques simultâneos serão desfechados contra as centrais telefônicas, rádio-emissoras e, onde houver, de TV, casas de armas, pequenos quartéis militares”.
Finalmente, ao cogitar a possibilidade da revolução comunista não acontecer, orientou Brizola seus soldados como se segue: “No caso de derrota do nosso Movimento, o que é improvável, mas não impossível, dado a certas características da situação nacional, e temos que ser verdadeiros em todos os nossos contatos com os Comandos Regionais e esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição”.
Mais sobre Brizola e seus soldados, inclusive após o Golpe de 1964, leia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Como se não bastasse tudo isso, em setembro de 1963, um grande carregamento de armas que se encontrava a caminho do Brasil, procedente da Europa oriental, foi interceptado pelo Exército Brasileiro, que enviou uma tropa ao navio e conseguiu confiscar toneladas de armas portáteis, munições, metralhadoras, equipamentos de comunicações de campanha e montões de propaganda pró-comunismo em português. E quando Luis Carlos Prestes foi preso em 1964 logo após a deposição de Jango, foi encontrado com grande quantidade de armamentos pesados originários de Cuba.
Mas, antes mesmo das primeiras apreensões de armas, planos e cartilhas da guerrilha, a imprensa brasileira já havia se apercebido do que acontecia às escondidas no país. Em 1961, chegou às mãos da Redação do jornal O Globo informações confidenciais sobre o plano de tomada de poder no país pelos comunistas, o que resultou em grandes reportagens de denúncia no jornal a respeito do assunto.
Foi em 13 de maio de 1961 que o jornal O Globo publicou, pela primeira vez, um encarte denunciando a orquestração que se formava no país para implantar uma ditadura comunista. Abaixo, cito na íntegra, conforme arquivo do médico e escritor Heitor de Paula, dois textos do referido encarte:

Entreguismo Vermelho
Plano Básico do Comunismo Internacional

“O comunismo não é fraternidade; é a invasão do ódio entre as classes. Não é a reconciliação dos homens; é a sua exterminação mútua. Não arvora a bandeira do Evangelho; bane a Deus das almas e das reivindicações populares. Não dá trégua à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria a sociedade. Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade. Everteria, subverteria, inverteria a obra do Criador” (Ruy Barbosa)
Em 1957, por ocasião das comemorações do quadragésimo aniversário da Revolução Russa, um grupo de dirigentes comunistas reuniu-se em Moscou para organizar o plano de ação de vários partidos comunistas de todo o mundo, segundo a nova "linha" estabelecida pelo Kremilin. Tendo Khruchtchev consolidado sua posição de dirigente supremo da U.R.S.S., modificou o sistema anterior de direção dos partidos comunistas estrangeiros, dissolveu o Cominform e fez novamente de Moscou o centro do poder e a única fonte de autoridade sobre aqueles partidos.
Os representantes dos PCs deste continente tiveram, na época, uma reunião especial, sendo as delegações do Brasil, Argentina, México e Chile as mais numerosas, num total superior a 179 delegados. Uma cópia do plano, mais tarde, foi revelada em Lima e divulgada em sua parte referente à América Latina.
As decisões
Em linhas gerais, as decisões da referida reunião especial com os dirigentes latino-americanos podem ser assim enumeradas: De Moscou vem a iniciativa, a orientação e o comando para o desenvolvimento da ação comunista. Assim, por exemplo, a luta entre os PCs do Brasil, da Argentina, do México e do Chile pela supremacia entre os partidos latino americanos cessou definitivamente, passando cada um deles a partidos autônomos com relação aos outros, mas subordinados todos à direção de Moscou. Neste Continente, o desenvolvimento dos partidos comunistas deve ser escondido do público, embora mais do que nunca se trabalhe internamente em cada país pela "defesa" da União Soviética e do Socialismo. Duas bandeiras devem encobrir essas atividades comunistas: o "nacionalismo" e a luta por constantes aumentos de salários e redução de horas de serviço, com aumento também das inatividades remuneradas.
“Os comunistas não devem declarar que lutam contra o capitalismo, mas, sim, contra o ‘monopólio estrangeiro’ e ‘a tendência monopolizadora das empresas norte-americanas’. Para isso devem ficar de lado as campanhas de exaltação do comunismo ou da Rússia, para dar lugar ao acirramento do ódio e da resistência aos Estados Unidos, entre a burguesia comercial e a industrial e, principalmente, entre a pequena burguesia, os intelectuais e os estudantes”.
“Os comunistas não devem usar a doutrina da luta de classes, mas devem lutar contra todas as idéias de ‘harmonia entre as classes’, de ‘relações humanas’ e de ‘capitalismo popular’. Divisão de trabalho dando-se preferência às atividades de infiltração. Enquanto um grupo coopera com o Governo, outro, menos silencioso, deve ficar com a oposição. O grupo infiltrado no governo criará as condições de liberdade de ação para os comunistas de oposição a fim de que essas possam exercer maior influência sobre a comunidade”.
“Cooperar com todas as forças de oposição, onde haja liberdade, mas cooperar também com os ditadores, quando não houver movimentos de oposição; dar assistência a todos os grupos, independentemente de suas tendências, que de algum modo se oponham aos Estados Unidos, seus empreendimentos oficiais ou suas empresas particulares. Tomar como aliado todo e qualquer descontente com a política norte-americana”.
“Dividir os partidos comunistas em grupos diferentes que se devem infiltrar nos vários partidos políticos, principalmente na oposição política, estimulando, sob as bandeira do nacionalismo, o ódio aos Estados Unidos”. Nesse ponto, o documento recomenda cuidadosamente que se evitem os aspectos de pregação comunista.
Há uma parte do plano, porém, que mais impressionante parece, quando analisamos diante do quadro latino-americano. É a parte em que a resolução de Moscou apresenta como principal objetivo dos partidos comunistas ocidentais o enfraquecimento da economia de cada país não comunista pelo apoio às exigências constantes de salários sempre maiores, de férias remuneradas mais longas e de maiores vantagens da Previdência Social, assim como a condenação do progresso tecnológico, sob a alegação de que esse é a causa do desemprego e resulta em superexploração, por impedir que mais homens trabalhem e permitir que mulheres tomem seus lugares. A aplicação minuciosa dessas medidas determinadas pela reunião de Moscou já se fez sentir em toda a parte. Cada dia, uma comprovação. Não nos assiste, portanto, o direito de cruzar os braços diante do perigo presente.

Ao referir-se ao "perigo presente", O Globo refere-se ao Brasil nos primeiros três meses e meio do mandato de Jânio Quadros, que duraria só mais três meses: as greves e os sindicatos recém-criados nesse período seguiam à risca essa cartilha, enquanto o presidente Jânio, sob o discurso de que o Brasil, sob seu governo, teria uma “política externa independente”, pregava o restabelecimento das relações diplomáticas e comerciais com a URSS e a China comunista, e condenou o isolamento de Cuba.
Outra matéria da extensa reportagem da edição de 13 de maio de 1961 de O Globo segue abaixo:

Comprovações do entreguismo vermelho
Seguindo-se sempre o zigue-zague das mutações determinadas por Moscou, chegamos aos dias atuais em que o Partido caminha na direção estabelecida pelo XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, realizado em fevereiro de 1956. Khruchtchev, substituto de Stalin na ditadura soviética, confirmou em discurso, perante aquele Congresso, alguns dos crimes e violências praticados pelo ditador morto, contra indivíduos e nações. O discurso, pronunciado secretamente, mas depois divulgado pelas próprias autoridades russas, determinou, em todos os partidos comunistas de fora da Rússia, a queda dos líderes que, de certo modo, se desiludiram com a confissão de tantos crimes sempre negados, até pelo próprio Khruchtchev, quando Stalin era vivo. Ficaram apenas aqueles líderes locais que, embora nascidos fora da Rússia, a servem incondicionalmente, mesmo quando em situação de flagrante traição a suas pátrias. No Brasil, Luiz Carlos Prestes ficou. Muitos líderes locais comunistas brasileiros, sem renunciar as suas ideais socialistas, reconheceram de público o caráter totalitário e imperialista da Rússia Soviética e abandonaram o Partido. Mas Luiz Carlos Prestes ficou.
Entre os que não ficaram, Osvaldo Peralva, do grupo dos intelectuais do Partido, publicou recentemente o livro "O Retrato", em que dá as razões do seu desligamento das hostes vermelhas, denuncia o caráter entreguista do Partido Comunista Brasileiro e faz considerações sobre o comunismo internacional. A esse respeito diz Peralva: "A força da atração do bolchevismo tem residido na rapidez com que, combinando o impulso revolucionário com as medidas compulsórias, promove o desenvolvimento das grandes indústrias. Daí que só tenha triunfado em países subdesenvolvidos (Rússia, China, Vietnam etc.), ou onde foi levado na ponta das baionetas soviéticas, como é o caso da Tcheco-Eslováquia. É certo que na Itália e na França existem poderosos partidos comunistas, mas ali o bolchevismo jamais representou grande força, antes da II Guerra Mundial. Somente após o rompimento do pacto nazi-soviético e a agressão hitlerista contra o aliado da véspera, num momento em que a resistência ao ocupante nazista, na França e na Itália, coincidia com os interesses da União Soviética, é que os dirigentes comunistas daquelas duas nações conquistaram o apoio e a simpatia de amplas massas. Guiando-se pelo principio estalinista de que ‘a atitude ante a U.R.S.S. é a pedra de toque do internacionalismo proletário’, eles se destacaram na luta contra o inimigo comum – de seus países e da U.R.S.S. – visando sobretudo defender a ‘pátria do proletariado’, mas aparecendo aos olhos de seus povos como valorosos combatentes pela libertação nacional”.
“No único país altamente industrializado em que o bolchevismo se instaurou – a Tcheco-Eslováquia – o bem estar econômico das massas trabalhadoras diminuiu. (...) E na própria estrutura da sociedade verificou-se um retrocesso, pois a antiga democracia tcheco-eslovaca, com suas tradições de respeito às liberdades e aos direitos individuais, foi substituída pela ditadura de uma camarilha burocrática”.
Como se vê, no primeiro resumo de artigo deste suplemento, na análise do plano comunista revelado em Lima, em 1957, Khruchtchev dissolveu também o Cominform e Moscou passou a ser o centro do poder e a única autoridade. Do Kremlin vem a iniciativa, a orientação e o comando para o desenvolvimento da política comunista no mundo ocidental. Uma afirmação dessa gravidade seria de difícil aceitação se os fatos não a viessem frequentemente comprovar.Alunos na Rússia, mestres na América Latina
O plano de domínio pela Rússia dos países menos desenvolvidos de todo o mundo, embora conhecido no conjunto, só tem podido ser verificado em retalhos, em fatos isolados, apenas percebidos em seu verdadeiro significado por aqueles que estudam as manobras dissimuladas do imperialismo soviético. Mas esses fatos surgem e, com algum cuidado, podem ser estudados, em sua importância exata.Em princípios de outubro de 1959, a Polícia Política do Rio de Janeiro prendeu o agente comunista internacional José Manoel Fortuny Arana que se encontrava clandestinamente no País, protegido por um passaporte falso. Fortuny tornou seu nome conhecido como um dos comunistas mais ativos da Guatemala, durante os anos sangrentos do regime de Arbenz. Quando os comunistas guatemaltecos foram postos para fora do poder, pela revolução popular de Castillo Armas, Fortuny escapou para a Europa, de onde veio para o Brasil a fim de, segundo informações oficiais, pôr em execução planos destinados a derrubar vários governos sul-americanos. Fortuny não viria ao Brasil para outro fim, encoberto por uma falsa identidade. Como Luiz Carlos Prestes e outros, é um agitador preparado em Moscou para a função específica de organizar, nos países em que consegue entrar, a subversão e a desordem. Mas esses fatos se perdem na imprensa diária e o povo os esquece.
As Ligas Camponesas de Francisco Julião
Não obstante a controvérsia que surge, de vez em quando, sobre a natureza real das Ligas Camponesas de Pernambuco, organizadas pelo Dep. Francisco Julião, a verdade é que essas ligas representam uma das mais perigosas infiltrações comunistas no País.
Aproveitando as más condições em que vivem os lavradores do Nordeste, o Deputado Julião promove o mais intenso movimento subversivo de preparação da revolução comunista no Brasil, acobertado pelo pretexto de exigir a reforma agrária. Como exemplo e ídolo para o lavrador nordestino, Francisco Julião apresenta a figura de Fidel Castro, levada àquelas paragens como salvador do camponês cubano e inspirador de todos os homens do campo da América. Em seu trabalho constante, as Ligas subvertem a ordem, provocam a ação policial, prejudicam o equilíbrio econômico da região e preparam o terreno para a ação dos agentes comunistas.Mas, de tudo o que mais impressiona é a exaltação permanente de Fidel Castro, o homem que entregou Cuba ao comando do imperialismo sino-soviético.
Compreende-se, naturalmente, que os camponeses do nordeste brasileiro tenham justa ansiedade em resolver seus problemas econômicos e sociais, mas, positivamente, não se compreende que a solução de tais problemas seja oferecido a troco da traição à Pátria. Mesmo porque jamais haverá solução para os problemas do homem do campo sob o regime que Fidel Castro instalou em Cuba, como muitos outros agentes de Moscou têm instalado em outras nações hoje escravizadas ao jugo soviético.

Bem, o que ocorreu desde a matéria de O Globo de 13 de maio de 1961 até 1963?
Em seu curto mandato presidencial sabotado por ele mesmo, o presidente Jânio Quadros fez uma política de aproximação com os comunistas, visitando e elogiando Cuba e condecorando o guerrilheiro Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, e restabeleceu as relações entre o Brasil e URSS e China. Aliás, na renúncia de Jânio, seu vice João Goulart estava em visita à Rússia e à China comunistas exatamente restabelecendo as relações diplomáticas entre o Brasil e esses países (veja aqui e aqui).
Antes de Goulart voltar ao Brasil para assumir a presidência no lugar de Jânio, surgiu forte resistência em relação ao seu nome por parte de alguns setores da sociedade (que contaram inclusive com o apoio de militares) por ser ele escancaradamente esquerdista e simpático à Revolução Cubana. Além do mais, seu cunhado e parceiro ideológico Leonel Brizola (casado com Neusa Goulart, irmã de Jango), então governador do Rio Grande do Sul, declarado defensor da “cubanização” do Brasil e mentor de Goulart, havia estatizado, durante seu mandato como governador gaúcho, duas empresas norte-americanas sem direito a indenização, o que criou um impasse entre o Brasil e os Estados Unidos; e também desapropriara terras para reforma agrária usando como critério uma emenda na constituição gaúcha que garantia a desapropriação de terras se houvesse tão somente um abaixo-assinado com 100 assinaturas pedindo-a. Brizola estimulou os abaixo-assinados em acampamentos de agricultores para forçar desapropriações.
Foi o temor pela “cubanização” do país em um mandato Jango com Brizola ao seu lado que fez com que, após a renúncia de Jânio, se cogitasse fortemente impedir a posse do seu vice (mesmo contrariando a Constituição) e invocar outras eleições presidenciais. Diante dessa ameaça, Brizola promoveu a chamada “Cadeia da Legalidade”, uma campanha pelo rádio em prol do cumprimento da Constituição, isto é, da posse do vice, seu cunhado Jango, no lugar do renunciante Jânio. A causa defendida por Brizola foi justa, mas isso não significa dizer que Brizola fosse defensor do cumprimento estrito da Constituição. Como seus atos à época mostraram, sua defesa foi por conveniência. Para ele, os ideais socialistas estavam acima.
Enquanto Brizola, apoiado por militares de esquerda, fazia sua campanha, formando, inclusive, uma trincheira armada de onde provocava as Forças Armadas, uma solução política já havia sido negociada no Congresso Nacional. Em 2 de setembro de 1961, foi aprovada uma emenda constitucional (número 4) alterando o regime de governo para o parlamentarismo. Com os poderes de Jango limitados ao de um chefe de Estado e não de governo, o temor em relação a um governo Goulart desapareceu e, em 7 de setembro, dois dias depois de voltar da China, João Goulart tomou posse como presidente.
A resistência inicial a Jango fez com que este engavetasse temporariamente alguns de seus projetos “cubanizadores”, passando a usar um discurso centrista, o que irritou seu cunhado Brizola. Mas, não demorou muito para Jango voltar ao seu normal. Estrategicamente, Goulart agira assim no início de seu mandato como chefe de Estado, para tentar convecer a todos que não era mais um esquerdista "carnívoro", mas "herbívoro", para, dessa forma, conquistar a confiança de seus opositores. Ele queria a volta ao presidencialismo.
Em 1962, Goulart dá os primeiros passos de retorno ao velho estilo. Ele foi à ONU tentar defender as estatizações sem indenização de Brizola no Rio Grande do Sul (veja aqui). No mesmo ano, idealizou um plebiscito para que o sistema presidencialista voltasse. O plebiscito ocorreu em 6 de janeiro de 1963 e, após uma campanha maciça de Jango, o presidencialismo venceu.
No final de 1962, o gaúcho Brizola, pretendendo estar mais perto de Jango para ajudá-lo no ano seguinte no processo de “cubanização” do país, se candidatou e se elegeu deputado federal pelo então Distrito Federal, o Estado da Guanabara, assumindo o cargo no ano seguinte.
Em 1963, Goulart, sem o regime parlamentarista para tolhê-lo e com o apoio de Brizola ao seu lado, começou seu projeto de “cubanização”. Ainda naquele ano, ele apoiou as invasões de terra das Ligas Camponesas no Nordeste, o que levou, por exemplo, o jornal O Globo a retomar o assunto da reportagem especial de 1961. Eis o texto da matéria de O Globo em 1963:
Meditem os responsáveis pelo destino do País
Há cerca de dois anos passados, sob o título-tema de "Entreguismo Vermelho”, publicamos um suplemento em forma de revista, denunciando o trabalho do comunismo internacional no sentido de arrastar para o domínio da Russia soviética muitas nações de vários continentes, principalmente as de menor desenvolvimento econômico, como o Brasil. Foi tão clara a exposição dos fatos e tão irrefutável a documentação apresentada naquele suplemento, que por muito tempo se estendeu a repercussão da denúncia, glosada em vários comentários da imprensa, em declarações de líderes políticos democráticos e em afirmações decididas de autoridades eclesiásticas.O suplemento trazia como epígrafe um trecho do discurso do Presidente Getúlio Vargas, que assim se referia aos comunistas e suas atividades anti-nacionais: “A dissiminação da mentira, a felõnia, constituem as suas armas, chegando, não raro, à audácia e ao cinismo de se proclamarem nacionalistas e de receberem o dinheiro da traição para entregar a Pátria ao domínio estrangeiro. Sejam quais forem os disfarces e os processos usados, os adeptos do comunismo perseguem, invariavelmente, os mesmos fins”.
O decorrer do tempo comprovou cada uma dessas afirmações de Vargas. Mais adiante, mostraremos que isso aconteceu em muitas partes do mundo, nos últimos dois anos. Quanto ao Brasil, porém, basta pequeno esforço de memória para relembrar que no mesmo período os comunistas dissimularam, mentiram, proclamaram-se nacionalistas, receberam dinheiro da traição e muito fizeram para entregar a Pátria ao domínio estrangeiro. E assim continuam a agir, porque embora mudem de vez em quando as condições político-sociais e, consequentemente, seus métodos de ação, o movimento comunista internacional tem sempre os mesmos objetivos, que é a entrega de nações ao domínio da Russia soviética.
O plano comunista, originário de Moscou, que denunciamos há dois anos passados, com forte reação democrática do povo brasileiro, não conseguiu os efeitos desejados pelos dirigentes vermelhos. Mas os esforços comunistas continuam, mais dissimulados, mais insidiosos, contra a liberdade e a independência deste País, deste Continente, do Mundo.
Para aferir os perigos permanentes que nos ameaçam e a muitos outros países, repetiremos os pontos básicos do plano comunista para a conquista da América Latina. Meditem sobre eles os responsáveis pelos destinos do País.

Então, a matéria repetia o texto da reportagem de 1961, o qual já apresentamos.
Em 1963, setores da sociedade civil, sentindo a forte guinada do país à esquerda, começaram a manifestar-se e a protestar contra os ideais do governo e as denúncias de corrupção que se seguiram. Sobre a mobilização popular em todo o país, escrevo no segundo artigo. Sobre a corrupção, eis um relato abaixo:
Com uma renda declarada de menos de 50 milhões de cruzeiros em 1963, Goulart, por exemplo, conforme documentos apreendidos pelo Conselho de Segurança Nacional depois que ele fugiu para o exílio – gastou 236 milhões de cruzeiros somente em suas fazendas do Mato Grosso. Enquanto Goulart insistia no confisco das propriedades dos latifundiários e na distribuição da terra aos camponeses, os registros de imóveis demonstram que ele rapidamente somava imensas propriedades às que já tinha. Só depois que Jango fugiu pôde o Brasil medir a sinceridade dele em matéria de partilha de terras. Proprietário de terras apenas em São Borja, quando iniciou sua vida pública, ao abandonar o País em abril de 64 Goulart era o maior latifundiário do Brasil, possuindo em seu nome mais de 7.700 quilômetros quadrados de terras, uma área quatro vezes e meia superior à do município do Rio de Janeiro.
E havia os que compartilhavam as oportunidades de ficarem ricos depressa. Indiscrições sobre uma possível mudança na política oficial, como sobre taxas de câmbio, davam milhões a favoritos palacianos. Empreendimentos de qualquer gênero eram vinculados a comissões e retribuições em dinheiro.
Verificou-se que um membro do estafe de Jango tinha um bico como ‘ministro-conselheiro’ de assuntos econômicos numa embaixada no exterior – emprego a que nunca dedicou um dia de trabalho, mas adicionava mais de 15 milhões de cruzeiros ao seu salário anual de oito milhões e meio. O tráfico de influência era um fato. Um dos deputados do Partido Trabalhista, de Goulart, estava fazendo uma fortuna acrescentando 1.295 funcionários à sua folha de pagamento em troca de uma fatia dos vencimentos deles.Outro negócio confortável, explorado por um do peito do Governo, era conseguir bons empregos públicos para quem pudesse pagar-lhe uma taxa de um milhão e meio de cruzeiros. Um governador de Estado estava fazendo fortuna com contrabando; outro recebeu uma verba de 6 bilhões e meio de cruzeiros para a construção de rodovias e calmamente embolsou o total.
Além de todas essas velhacarias de alto calibre, que podiam ser documentadas, inúmeros milhões de cruzeiros desapareciam sem deixar rastro no poço sem fundo da corrupção que campeava. (...) Especialmente mimada pelo Ministério da Educação era a UNE (União Nacional dos Estudantes), cuja diretoria era completamente dominada por vermelhos e cujos 100.000 sócios constituíam a maior organização estudantil nacional da América Latina. Durante anos, um subsídio anual do Governo, de cerca de 150 milhões de cruzeiros (valores de 64) era entregue aos diretores da UNE – sem que tivessem de prestar contas. Assim garantidos, eles se dedicavam integralmente à agitação política entre os estudantes. Parte desse subsídio era usado para financiar excursões à Cuba Vermelha e visitas a grupos de irmãos de estudantes comunistas em outros países da América Latina. (...) A UNE publicava panfletos inflamados e um jornal semanal marxista. Fingindo-se empenhado em combater o analfabetismo, um grupo da UNE passou dois meses distribuindo material de leitura, no qual se incluía o manual de guerrilhas do castrista Che Guevara – impresso em português por comunistas brasileiros da linha vermelha chinesa. Líderes da UNE especializavam-se em fomentar greves escolares estudantis, demonstrações públicas e distúrbios de rua.

A citação acima é do texto A Nação que Salvou a Si Mesma, de Clarence Hall, publicada pela Biblioteca do Exército e sintetizada em formato de artigo na revista Seleções, do Reader’s Digest.
Em 1963 e 1964, a inflação subiu em espiral com o aumento da impressão de toneladas de papel-moeda sem lastro, fazendo o cruzeiro alcançar uma desvalorização abissal. Além disso, o capital estrangeiro fugira do país devido ao aumento das restrições a ele impostas pelo governo Jango e às constantes ameaças de desapropriação proferidas pelo presidente (vide discurso de Jango à ONU em 1962 e o apoio às invasões camponesas).
Porém, em 1964, Jango passou de todos os limites. Ele promoveu uma rebelião entre os militares apoiando militares de esquerda (ao lado, um dos exemplares da série de matérias no jornal Folha de São Paulo da época sobre o assunto). E mais: anunciou, em seu discurso na Central do Brasil em 17 de março de 1964, a cartilha do golpe que planejara junto com Brizola: (1) a “superação da estrutura de governo e da ordem social vigentes”, exigindo “mudanças na Constituição”; (2) a legalização do Partido Comunista; e (3) o confisco, sem indenização em dinheiro, de qualquer área agrária julgada pelo governo como inadequadamente utilizada, a qual seria entregue a camponeses sem terra. Brizola, que discursou no mesmo evento logo após Jango, vaticinou ainda (4) “a extinção do Congresso” (sic) e (5) a instituição em seu lugar de “assembléias de operários, camponeses e sargentos do Exército”. Cerca de 150 mil pessoas assistiram o discurso, sendo milhares deles militantes de esquerda trazidos de ônibus e de trem pelo governo portando bandeiras com a foice e o martelo.
A reação foi imediata. O povo saiu às ruas. Seis dias após o evento, mais de 600 mil pessoas marcharam nas ruas de São Paulo contra as propostas do governo. Os jornais também protestaram contra o ato tresloucado de Jango, bem como todos os setores organizados da sociedade civil.
Cito, a seguir, na íntegra, três editoriais: um antes do golpe, outro durante o golpe e mais outro após o golpe. Os dois primeiros são do Correio da Manhã, um dos maiores jornais do país à época; e o terceiro é do jornal O Globo. Por estes editoriais pode-se sentir o clima da época em relação às medidas socialistas, absurdas, de Jango. Na seqüência, citarei também trechos de editorias de outros dos principais jornais do período.

Correio da Manhã
(31 de março de 1964)
“Basta!
Até que ponto o Presidente da República abusará da paciência da Nação? Até que ponto pretende tomar para si, por meio de decretos-lei, a função do Poder Legislativo? Até que ponto contribuirá para preservar o clima de intranqüilidade e insegurança que se verifica presentemente, na classe produtora? Até quando deseja levar ao desespero, por meio da inflação e do aumento do custo de vida, a classe média e a classe operária? Até que ponto quer desagregar as Forças Armadas por meio da indisciplina que se torna cada vez mais incontrolável?Não é possível continuar neste caos em todos os sentidos e em todos os setores. Tanto no lado administrativo como no lado econômico e financeiro.Basta de farsa. Basta da guerra psicológica que o próprio Governo desencadeou com o objetivo de convulsionar o País e levar avante a sua política continuísta. Basta de demagogia, para que, realmente, se possam fazer as reformas de base.
Quase todas as medidas tomadas pelo Sr. João Goulart, nestes últimos tempos, com grande estardalhaço, mas inexeqüíveis, não têm outra finalidade senão a de enganar a boa-fé do povo, que, aliás, não se enganará.
Não é tolerável esta situação calamitosa provocada artificialmente pelo Governo, que estabeleceu a desordem generalizada, desordem esta que cresce em ritmo acelerado e ameaça sufocar todas as forças vivas do país.
Não contente de intranqüilizar o campo, com o decreto da Supra, agitando igualmente os proprietários e os camponeses, de desvirtuar a finalidade dos sindicatos, cuja missão é a das reivindicações de classe, agora estende a sua ação deformadora às Forças Armadas, destruindo de cima a baixo a hierarquia e a disciplina, o que põe em perigo o regime e a segurança nacional.
A opinião pública recusa uma política de natureza equívoca que se volta contra as instituições, cuja guarda deveria caber ao próprio Governo Federal.
Queremos o respeito à Constituição. Queremos as reformas de base votadas pelo Congresso. Queremos a intocabilidade das liberdades democráticas. Queremos a realização das eleições em 1965. Se o Sr. João Goulart não tem a capacidade para exercer a presidência da República e resolver os problemas da Nação dentro da legalidade constitucional, não lhe resta outra saída senão entregar o Governo ao seu legítimo sucessor.
É admissível que o Sr. João Goulart termine o seu mandato de acordo com a Constituição. Este grande sacrifício de tolerá-lo até 1966 seria compensador para a democracia. Mas, para isto, o Sr. João Goulart terá de desistir de sua política atual, que está perturbando uma Nação em desenvolvimento e ameaçando de levá-la à guerra civil.
A Nação não admite nem golpe nem contragolpe. Quer consolidar o processo democrático para a concretização das reformas essenciais de sua estrutura econômica. Mas não admite que seja o próprio Executivo, por interesses inconfessáveis, quem desencadeie a luta contra o Congresso, censure o rádio, ameace a imprensa e, com ela, todos os meios de manifestações do pensamento, abrindo o caminho à ditadura.
Os Poderes Legislativo e Judiciário, as classes armadas, as forças democráticas devem estar alertas e vigilantes e prontos para combater todos aqueles que atentarem contra o regime.
O Brasil já sofreu demasiado com o Governo atual. Agora, basta!

Correio da Manhã
(1 abril de 1964)
“Fora!”
“Art. 83. Parágrafo único. O Presidente da República prestará, no ato da posse, este compromisso: "Prometo manter, defender e cumprir a Constituição da República, observar as suas leis, promover o bem geral do Brasil, sustentar-lhe a união, a integridade e a independência".
Este foi o juramento prestado pelo Sr. João Goulart no dia 7 de setembro de 1961, perante o Congresso Nacional. Jurou e não cumpriu. Não é mais Presidente da República. Fora!
A Nação não mais suporta a permanência do Sr. João Goulart à frente do Governo. Chegou ao limite final a capacidade de tolerá-lo por mais tempo. Não resta outra saída ao Sr. João Goulart senão a de entregar o Governo ao seu legítimo sucessor. Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: saia.
Durante dois anos o Brasil agüentou um Governo que paralisou o seu desenvolvimento econômico, primando pela completa omissão, o que determinou a completa desordem e a completa anarquia no campo administrativo e financeiro.
Quando o Sr. João Goulart saiu de seu neutro período de omissão foi para comandar a guerra psicológica e criar o clima de intranqüilidade e de insegurança, que teve o seu auge na total indisciplina que se verificou nas Forças Armadas.
Isto significou e significa um crime de alta traição contra o regime, contra a República, que ele jurou defender.
O Sr. João Goulart iniciou a sedição no País. Não é possível continuar no poder. Jogou os civis contra os militares e os militares contra os próprios militares. É o maior responsável pela guerra fratricida que se esboça no território nacional.
Por ambição pessoal, pois sabemos que o Sr. João Goulart é incapaz de assimilar qualquer ideologia, ele quer permanecer no Governo a qualquer preço.
Todos nós sabemos o que representa de funesto uma ditadura no Brasil, seja ela de direita ou de esquerda, porque o povo, depois de uma larga experiência, reage e reagirá com todas as suas forças no sentido de preservar a Constituição e as liberdades democráticas.
O Sr. João Goulart não pode permanecer na presidência da República, não só porque se mostrou incapaz de exercê-la, como também porque conspirou contra ela, como se verificou pelos seus últimos pronunciamentos e seus últimos atos.
Foi o Sr. João Goulart quem iniciou de caso pensado uma crise política, social e militar, depois de ter provocado a crise financeira, com a inflação desordenada e o aumento do custo de vida em proporções gigantescas.
Qualquer ditadura, no Brasil, representa o esmagamento de todas as liberdades, como aconteceu no passado e como tem acontecido em todos os países que tiveram a desgraça de vê-la vitoriosa.
O Brasil não é mais uma nação de escravos. Contra a desordem, contra a mazorca, contra a perspectiva de ditadura, criada pelo próprio Governo atual, opomos a bandeira da legalidade.
Queremos que o Sr. João Goulart devolva ao Congresso, devolva ao povo o mandato que ele não soube honrar.
Nós do Correio da Manhã defendemos intransigentemente em agosto e setembro de 1961 a posse do Sr. João Goulart, a fim de manter a legalidade constitucional. Hoje, como ontem, queremos preservar a Constituição. O Sr. João Goulart deve entregar o Governo ao seu sucessor, porque não pode mais governar o País.
A Nação, a democracia e a liberdade estão em perigo. O povo saberá defendê-las. Nós continuaremos a defendê-las.

O Globo
(2 de abril de 1964)
“Ressurge a Democracia!”
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.
As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.
Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.
A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.
Seguem agora trechos de outros editoriais de grandes jornais da época:
"De Norte a Sul vivas à Contra-Revolução"
“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade. Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”
(Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de abril de 1964).
"Multidões em júbilo na Praça da Liberdade"
"Ovacionados o governador do estado e chefes militares.O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (...), formando uma das maiores massas humanas já vistas na cidade”
(O Estado de Minas, Belo Horizonte, 2 de abril de 1964).
“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento” (O Dia, Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964).
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou., o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu” (Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964).
"A paz alcançada"
A" vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”
(O Povo, Fortaleza, 3 de abril de 1964).
“Vibrante manifestação sem precedentes na história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas. (...) Cinquenta mil pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento” (A Razão, Santa Maria - RS, 17 de abril de 1964).
“Sabíamos, todos que estávamos na lista negra dos apátridas, que se eles consumassem os seus planos, seríamos mortos. Sobre os democratas brasileiros não pairava a mais leve esperança, se vencidos. Uma razzia de sangue vermelha como eles atravessaria o Brasil de ponta a ponta, liquidando os últimos soldados da democracia, os últimos paisanos da liberdade” (Revista O Cruzeiro, edição extra de 10 de abril de 1964 – Edição Histórica da Revolução, artigo Saber ganhar, de David Nasser).
“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada” (Jornal do Brasil, edição de 1 de abril de 1964).
"...cuja subversão além de bloquear os dispositivos de segurança de todo o hemisfério , lançaria nas garras do totalitarismo vermelho, a maior população latina do mundo..." (31 de março de 1964, Folha da Tarde, do Editorial A grande ameaça).
"Quem quisesse preparar um Brasil nitidamente comunista não agiria de maneira tão fulminante quanto a do Sr. João Goulart a partir do comício de 13 de março..." (31 de março de 1964, Jornal do Brasil).
"Minas desta vez está conosco (...) Dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições" (1 de abril de 1964, O Estado de São Paulo).
"Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos. (...) Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria" (5 de abril de 1964, O Estado de Minas).
"Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!" (6 de abril de 1964, Jornal do Brasil).
"A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista" (5 de abril de 1964, O Globo).
Leia ainda matérias da revista O Cruzeiro, maior revista do país na época, celebrando o contra-golpe de 1964: primeiro, veja aqui como foi a Revolução de 1964 no Rio de Janeiro; depois, veja aqui como foi em São Paulo; e aqui, como foi em Minas Gerais; e ainda aqui como se deu a reação dos principais políticos da época; e aqui as explicações porque o golpe aconteceu.
No próximo artigo (*), os protestos e mobilização nas ruas de todo o país contra Jango, e os crimes dos terroristas de esquerda que adiaram a volta das eleições diretas e levaram ao AI-5.
(*) Para que todos os comentários sobre este assunto se encontrem em um mesmo lugar no blog, isto é, em um mesmo espaço de comentários em vez de se dividirem entre os espaços de comentários de dois artigos com datas distantes uma da outra, resolvi publicar a segunda parte dessa série neste mesmo espaço - clarificando: no espaço de comentários deste artigo. Tal medida facilitará pesquisas futuras sobre o tema neste blog. O próximo artigo, se o Senhor permitir, deverá sair do forno até o final de semana (S.D., 03/02/2010). P.S.: Não foi possível concluir o segundo artigo na data pretendida, mas brevemente, como prometido, ele será postado (S.D., 01/04/2010).