quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um pouco mais de reflexão sobre fins e meios

Recentemente, mandaram-me um texto bem intencionado, mas tremendamente falacioso, daqueles que se propagam aos montes na Internet por gente que é do bem, mas que, usando uma expressão paulina, pecam por desenvolverem um “zelo sem entendimento”. Nele, o autor afirma a bobagem de que 20 bilhões de dólares acabariam com a fome no mundo para sempre. E arremata ao final: “Por que ninguém falou disso, quando os EUA desembolsaram 1,6 trilhão e a Europa, 1,5 trilhão, para ajudar a acabar o mais rápido possível com a crise financeira mundial?” Ora, porque essa afirmação dos 20 bilhões é simplesmente falsa. E para a pessoa perceber isso, mesmo que não esteja munida de números, basta refletir sobre a própria pergunta: Se é verdade que o problema da fome no mundo se resolveria com apenas 20 bilhões de dólares, como é possível que ninguém até agora tenha tomado a iniciativa de resolver esse problema? O que levaria alguém a não tê-lo feito até hoje? Egoísmo? Pura maldade? Falta de compaixão?
Se o problema é fácil de se resolver e sua solução traria uma tremenda repercussão positiva ao benfeitor, não é preciso nem ter compaixão para proceder a solução. Alguém poderia resolver o problema sem ser movido por interesses cândidos. Bastava ser motivado pelo desejo de receber honras e glórias por isso.
Só para citar um exemplo mais nítido do que estou falando: se fosse tão fácil assim resolver o problema da fome no mundo, os próprios EUA, que até poucos dias tinham 15 trilhões de dólares em caixa, já teriam solucionado o problema há muito tempo, já que 20 bilhões representavam, até um dia desses, minúsculos 0,1% do dinheiro do Tesouro americano. Mas, não precisava nem recorrer ao Tesouro. Bastava os dez homens mais ricos do mundo (que juntos somam um patrimônio de cerca de 400 bilhões de dólares) doarem, cada um, 2 bilhões e o problema seria resolvido. O que é 2 bilhões para Warren Buffet, Carlos Slim, Bill Gates, Lakshmi Mital, Mukesh Ambani e seus colegas?
Perceba: se isso não foi resolvido ainda, das duas uma – ou é porque todo mundo é ignorante ou é porque 20 bilhões de dólares simplesmente não extinguiriam a fome do mundo. Precisa ir longe para saber qual das duas opções é a correta?
Sei que talvez seja desnecessário, mas vamos aos números.
Ninguém acaba com a fome do mundo com 20 bilhões, nem com 200 bilhões de dólares e nem com 2 trilhões. Segundo o Banco Mundial e a ONU, há pelo menos 1,4 bilhão de pessoas no mundo passando fome. Ora, 20 bilhões de dólares para 1,4 bilhão de pessoas é 14,3 dólares por pessoa; 200 bilhões são 143 dólares por pessoa e 2 trilhões, 1.430 dólares por pessoa (o que, no máximo, numa hipótese extremamente otimista, alimentaria cada pessoa por apenas dois ou três anos e o problema da fome continuaria).
Para usar um dado mais preciso, podemos evocar as contas do Banco Mundial. Dizem esses cálculos que uma pessoa que ganha pelo menos 40 dólares por mês teoricamente conseguiria se alimentar todos os dias, embora da forma mais básica possível. Portanto, se fizermos as contas, chegaremos à conclusão de que acabar com a fome do mundo custaria 600 bilhões de dólares por ano. E tudo isso para manter 1,4 bilhão de pessoas comendo mal, mas comendo. Ou seja, na verdade, seria necessário mais de um trilhão de dólares por ano para manter 1,4 bilhão de pessoas comendo razoavelmente todos os anos e dezenas de trilhões de dólares para mantê-las sem fome por muitos anos. Isso significa um monstruoso Bolsa Família. E aí vem a pergunta: Sustentado por quem? E mais: Isso é realmente viável, plausível? Qual o resultado prático para as nações mais ricas do mundo se resolvessem desembolsar mais de um trilhão de dólares anualmente nessa empreitada? Simples: em vez de acabarem com a fome no mundo, aumentariam-na, a começar em seu próprio território com a bancarrota econômica. Aliás, os mais de 3 trilhões de dólares que os EUA e Europa desembolsaram por ocasião da atual crise é para que todos os setores da economia se recuperem em curto prazo e, assim, as empresas voltem a poder contratar; é para que a recessão acabe em pouco tempo, para que não sejam mais demitidas milhões de pessoas como as dezenas de milhões que já foram demitidas em todo o mundo até agora devido à crise econômica.
Entretanto, alguém mais razoável pode dizer: “E se fossem investidos 30 bilhões anualmente na produção de alimentos para essas pessoas, como alguém da ONU já sugeriu uma vez?” Mesmo assim, o problema não seria resolvido. Os mesmos que calcularam esse valor para investimento anual na produção de alimentos admitem que, ainda assim, poderia levar até 150 anos para a fome ser totalmente erradicada do mundo. Ou seja, se alguém quiser adiantar o processo, deverá investir não 30 bilhões, mas centenas de bilhões de dólares por ano. Pergunta-se: Quem tem condições de patrocinar não um, mas dezenas de gigantescos pacotes econômicos do tipo do europeu ou do americano e em um período de quase duas décadas?
Portanto, é um tremendo equívoco dizer que “falta apenas vontade política para acabar com a pobreza no mundo”. Para alguns outros problemas do mundo (e inclusive do Brasil), pode faltar essencialmente isso, mas, para o problema da fome no mundo, a solução depende de muitos outros fatores que vão além da boa vontade de países ricos. A solução do problema da fome não passa pela mera transferência de valores da “conta dos ricos” para a “conta dos pobres”. O problema não se resume a uma simples “transferência bancária”.
Outro detalhe: para quem não sabe, a fome no mundo diminuiu consideravelmente nos últimos anos. Segundo dados oficiais do Banco Mundial, havia 1,9 bilhão de miseráveis no mundo em 1981 e, hoje, são 1,4 bilhão. Isto é, há meio bilhão a menos de miseráveis no mundo do que havia 27 anos atrás. E com um adendo: em 1981, a população mundial era de 4,4 bilhões de pessoas. Logo, em 1981, os miseráveis representavam quase metade da população do planeta. Hoje, porém, os miseráveis representam menos de 1/4 da população mundial (são 1,4 bilhão em 6,7 bilhões de pessoas). Pergunta-se: O que afetou o quadro? Advinhem. A resposta é... o liberalismo econômico. Revelam dados do Banco Mundial que foi o choque de liberalismo econômico por que passaram China, Índia, Rússia, Brasil e outros países que provocou, nesse período, uma queda drástica no número de miseráveis nesses países. Só na China, foram 207 milhões de miseráveis que saíram da situação de miséria depois da abertura que o governo chinês promoveu, mesmo que relutantemente, na área econômica. Imagine, então, se a China não mais mantivesse seus trabalhadores em regime quase escravo (o que fere tanto os direitos humanos quanto o próprio princípio do liberalismo econômico).
Isso significa que se todos os países adotassem o liberalismo econômico a fome seria erradicada? Não, seria preciso mais do que isso. O liberalismo econômico não é a salvação do mundo, embora seja, indubitavelmente, o modelo econômico que melhor funciona, ou seja, o que traz melhores resultados práticos positivos, principalmente se aplicado eticamente, obedecendo a princípios bem estabelecidos. Não há sombra de dúvida de que mais resultados positivos consideráveis já poderiam ser conquistados no mundo em relação à erradicação da fome se muitos países deixassem de adotar modelos econômicos que inviabilizam ou tolhem a possibilidade de crescimento econômico de seus cidadãos. Agora, como já disse, não existe uma solução fácil. A solução depende de vários fatores. Logo, se tal modelo fosse voluntariamente implementado (dentro da peculiaridade de cada país) e, juntamente com ele, outras medidas combinadas fossem executadas, o problema da fome seria, mui provavelmente, extremamente reduzido.
Note que não são soluções fáceis. Muitas delas esbarram, por exemplo, na barreira ideológica, política e/ou cultural de muitos países.
Essa breve reflexão sobre os equívocos de uma solução fantasiosa para um problema que toda pessoa de bem gostaria de ver resolvido, independente de credo ou matiz ideológica, leva-me a ressaltar uma verdade a qual não podemos olvidar em nossa atividade reflexiva sobre o mundo: nem todos os meios são válidos para a consecução de um bom objetivo. Na verdade, muitos meios idealizados visando ao bem social, ainda que pregados enfática, sincera e fervorosamente em nome de bons objetivos, ao serem implementados, trazem resultados desastrosos que nos afastam ainda mais do fim almejado. A História está repleta de casos assim. Foram meios equivocados utilizados em nome de boas causas que provocaram algumas das maiores catástrofes da História.
Portanto, urge sempre atentarmos não apenas para o fim pregado e perseguido, mas também para os meios propostos para se tanger esse fim. Não basta analisarmos apenas os alvos; é preciso escrutinar também os processos, os métodos.
O triste, porém, é que essa lógica torta, que não pesa os meios em nome dos fins, que satisfaz-se apenas com os fins sem atentar para a importância dos meios no processo, ainda subsiste e ganha verniz hoje, no dia-a-dia dos debates travados nos meios acadêmicos e midiáticos sobre as principais questões que perpassam a nossa sociedade e que envolvem valores. Por exemplo: essa lógica subsiste na argumentação pró-aborto, na argumentação pró-eutanásia e na argumentação em favor da destruição de embriões para a produção de células-tronco, só para citar alguns casos. É o mal praticado em nome do bem - o aborto, em nome do melhor para a mãe; a eutanásia, em nome do que é melhor para a família; a eugenia, em nome da busca da cura para as pessoas vitimadas por doenças de toda sorte nesta vida. Somados esses três casos, mata-se mais vidas do que em muitas guerras, sendo que ninguém se sensibiliza com esse morticínio, porque, afinal, não há explosões chamando a atenção. É um sofrimento longe dos nossos olhos. Aí, não incomoda. Mas, existe, e Deus vê. Deus vê o mal feito em nome do bem e continua a reconhecê-lo como mal.
Como disse certa vez Victor Hugo, autor de A História de um Crime, "o mal que se comete por uma boa causa continua sendo mal". Ao que lhe perguntaram: "Até mesmo quando faz sucesso?" A resposta: "Principalmente quando faz sucesso".
Parafraseando o romancista francês: defendamos o que é bom (tanto nos fins como nos meios) e mesmo que não faça sucesso.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sobre a "popularidade" do Hamas entre os palestinos, o conteúdo da nova edição da revista Obreiro e a volta das indulgências

Durante a ofensiva de Israel contra o Hamas em Gaza, costumeiramente ouvíamos os opositores de Israel sustentando que a ação israelense, mesmo sendo legítima, resultaria em fortalecimento do Hamas diante do seu próprio povo. Diziam esses comentaristas que os palestinos iriam culpar Israel pelos ataques em Gaza, recrudescendo seu ódio contra os judeus e fortalecendo o Hamas na região. Entretanto, os números de uma pesquisa recente jogam por terra todas essas previsões.
Anteontem foi divulgada uma pesquisa feita pelo Centro de Opinião Pública Palestino sobre a popularidade do Fatah e do Hamas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O resultado mostra que a popularidade do Hamas despencou após a resposta de Israel.
Em novembro, antes da guerra, o Hamas era apoiado por 51,5% da população da Faixa de Gaza (onde o Hamas domina); agora, é apoiado por apenas 27,8%. O Fatah, por sua vez, que em novembro tinha o apoio de apenas 32,5% dos palestinos de Gaza (por causa das denúncias de corrupção em seu governo exploradas pelo Hamas nos últimos anos), agora, depois da ofensiva de Israel, conta com o apoio de 42,5% da população em Gaza. E mesmo o Fatah tendo diminuído seu prestígio na Cisjordânia (onde domina) devido justamente àquelas acusações de corrupção, ainda é o preferido dos palestinos ali. O Fatah não detém mais os 68,6% de apoio que lhes eram conferidos pelos palestinos da Cisjordânia até alguns meses atrás, porém ainda continua com expressivos 40% de apoio na região, contra apenas 23,7% de apoio ao Hamas. Ou seja, caso fossem realizadas eleições hoje entre os palestinos, o Hamas perderia de goleada. Pela média, Fatah 41%, Hamas 26%.
Ou seja, até os palestinos, inclusive os da Faixa da Gaza, reconhecem a responsabilidade do Hamas na tragédia que os acometeu em janeiro. A pesquisa mostra que o Hamas não só se saiu enfraquecido militarmente, mas também popularmente. Só na Grande Mídia, na "esquerda chique" e em universidades, o Hamas chega perto de 100% de popularidade.

Creio que vocês já devem ter lido nos jornais, mesmo assim vale a pena o registro: as indulgências voltaram com tudo na Igreja Católica. Com o objetivo de revalorizar a doutrina romanista da penitência, o papa Bento 16 resolveu dar seqüência, e com mais força, ao movimento das indulgências reencetado pelo seu antecessor João Paulo 2 há nove anos.
A repercussão no seio do catolicismo tem oscilado entre o fervor e o receio. Em entrevista ao jornal The New York Times de ontem, o bispo Nicholas A. DiMarzio, de Nova Iorque (EUA), um dos bispos que aderiram fervorosamente à orientação do Vaticano, justificou sua adesão, afirmando: "A idéia da indulgência perdeu a força, juntamente com muitas outras coisas na igreja, mas nunca foi abandonada. Estava sempre ali. Queremos só que as pessoas retornem às idéias que conheciam no passado".
Em relação ao movimento de indulgências do século 16, a diferença é que as indulgências atuais não são vendidas. Em vez de pagar por elas, os fiéis católicos agora terão de se dirigir ao confessionário para receberem dos padres a orientação quanto ao ritual a ser seguido para diminuir seus sofrimentos no Purgatório. O perdão almejado é recebido via o cumprimento de alguns rituais específicos de orações e pela prática de devoções especiais e romarias em datas consideradas sagradas para os católicos.
E pensar que alguns evangélicos mais condescendentes com o romanismo ficaram entusiasmados quando Bento 16 surpreendeu-nos meses atrás dizendo que tinha uma queda por Lutero...

A próxima edição da revista Obreiro, referente ao segundo trimestre, já estará à venda a partir do final de fevereiro e início de março. O tema desta edição é Doutrinas bíblicas pentecostais, abordando temas como batismo no Espírito Santo, línguas como evidência física inicial do batismo no Espírito, dons espirituais e seu uso, a questão das visões e dos sonhos, cura divina, Escatologia na perspectiva do pentecostalismo clássico, Santificação e Fruto do Espírito. Os articulistas são os pastores Stanley Horton, R. L. Brandt (artigo escrito antes de seu falecimento em 2007), Antonio Gilberto, Gordon Chown, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato, José Gonçalves e este escriba. Os entrevistados desta edição são os pastores Antonio Gilberto e Josué Brandão.
Para assinar a revista, os telefones são (21)2406-7416 e 2406-7418. Para comprar cotas ou adquirir exemplares para revenda em sua livraria ou loja, o telefone é 0800-021-7373.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre bom e mau jornalismo

Sei que muitos já devem ter lido na Grande Rede, mas não poderia deixar de fazer o registro, até porque falamos desse assunto em postagem recente: Lembram-se das manchetes de 6 e 7 de janeiro sobre o caso da morte de dezenas de crianças (todas meninas) em uma escola da ONU em Gaza? Os jornais impressos e televisivos da época noticiaram: “Israel bombardeia escolas da ONU”, "Israel arrasa escola em Gaza" etc. Bem, mas quais foram as fontes para essas matérias? Vocês as viram na televisão dando depoimentos em profusão naquela época, principalmente aos jornalistas das tevês árabes: John Ging, principal representante da ONU em Gaza, e alguns funcionários palestinos da ONU. Naquele dia trágico, Ging e seus colegas disseram diante das câmeras que Israel bombardeara criminosamente a escola.
Na época, o Exército de Israel os desmentiu imediatamente, informando que apenas respondeu com tiros a ataques de morteiros de militantes do Hamas que se escondiam não dentro do prédio da instituição, mas no terreno da escola, e que não jogou bomba alguma na escola. E os israelenses destacaram ainda: se houve mesmo alguma explosão dentro da escola, ela só poderia ter sido provocada pelos militantes do próprio Hamas ou por disparos que eventualmente possam ter atingido o inesperado: explosivos guardados pelo Hamas dentro do terreno da escola, porque (1) morteiros ou bombas de qualquer tipo o Exército de Israel não lançou sobre a instituição e (2) projéteis não produzem explosões, a não ser que acertem explosivos.
Pois bem, logo depois do ocorrido, como informamos neste blog, foram divulgadas informações na mídia internacional (e que infelizmente não foram reproduzidas pela mídia brasileira) de que as escolas da ONU em Gaza não só funcionavam mesmo várias vezes como depósito de armas do Hamas como o grupo terrorista também ditava o que deveria ser ensinado às crianças, e entre as matérias exigidas estava a propaganda de ódio contra os judeus. Inclusive, foi lembrado ainda que a maioria dos 9 mil funcionários das Nações Unidas em Gaza é de simpatizantes do Hamas e que o tal John Ging é o mesmo que, anos atrás, chegou a dizer a sandice de que os Estados Unidos arquitetaram e executaram os atentados de 11 de setembro de 2001 para atacar o Oriente Médio (sic)...
Mas, se você pensou que já era tudo, se enganou. Anteontem, a ONU reconheceu que Israel não chegou a atacar a escola e que o exército israelense lançou apenas um morteiro numa rua próxima; e que as dezenas de meninas mortas e apresentadas às câmeras dos fotógrafos como sendo “crianças mortas pelo ataque de Israel à escola” não foram atingidas dentro da escola, mas fora dela. Teriam sido, segundo a ONU, mortas num ataque de Israel a militantes do Hamas que estavam em uma rua perto da escola e em um lugar que Israel não sabia que estava abrigando crianças (conquanto aqueles que estavam usando o lugar para atacar o exército israelense com morteiros - os militantes do Hamas - soubessem muito bem que elas estavam ali). A declaração é de Maxwell Gaylord, coordenador de ações humanitárias da ONU na Palestina. Leia sobre a declaração dele, por exemplo, aqui: http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html
Que eu tenha percebido, no Brasil, só o jornal O Estado de São Paulo publicou uma nota, e ainda assim minúscula, divulgando a retratação da ONU. A pergunta, portanto, é inevitável: O que você acha dessa atitude “nobre” da mídia brasileira? O que você acha dessa tremenda “barriga”, como se diz na linguagem jornalística?
Isso é o que dá se basear apenas nos releases do Hamas para divulgar o que está acontecendo. São casos como esse que nos ajudam a medir a “imparcialidade” e a “isenção” do jornalismo brasileiro em relação ao conflito Israel-palestinos. E também exemplificam como se criam lendas em nossos dias.
Como assim?
Daqui a cinco anos, quando você conversar com alguém sobre essa ofensiva de Israel, seu interlocutor poderá te dizer em determinado momento: “E aquele ataque criminoso de Israel àquela escola cheia de meninas?” Aí você, que conhece a história, que não fica preso apenas ao que sai no jornal e na tevê do Brasil, que acompanha a apuração dos fatos, responderá: “Mas Israel não bombardeou escola nenhuma”. E o seu interlocutor vai olhar para você com aquele rosto de estranhamento e reprovação, como se você fosse um ignorante ou cínico. Isso porque, como a maioria esmagadora das pessoas, seu interlocutor pensa que o que não sai na Grande Mídia é porque ou não existe ou, no mínimo, não tem importância. Ele acha que basear-se apenas em uma fonte de informação midiática para formular todas as impressões sobre o mundo à sua volta é suficiente. Olvida, infelizmente, que, em questões como essa (que envolve ideologias), a mídia brasileira baseia-se propositalmente só nos releases de um lado e, quando ouve o outro, ainda tem o trabalho de editar as informações de forma a conduzir seus leitores a refletir sobre o assunto apenas em favor de um lado. Essa prática tem vários nomes, e um deles é péssimo jornalismo.
Estou dizendo com isso que no Brasil só há péssimo jornalismo ou que não devemos acreditar em mais nada que sai na imprensa? Claro que não. Muitos desses mesmos órgãos de imprensa que cometem esses erros (deliberados ou por arroubo) não poucas vezes fazem muito bom jornalismo. O problema surge apenas, volto a frisar, quando o assunto envolve simpatias ideológicas. Aí, quando isso acontece, seja no Brasil, seja lá fora, se faz, e muito, péssimo jornalismo.
Prosseguindo, eu disse (o título deste artigo indica) que iria falar também de bom jornalismo. Ei-lo: uma entrevista do ator e produtor latino Benício del Toro à jornalista Marlen Gonzales ao Canal 41 Notícias, de Miami, acerca do filme que Benício produziu e estrela sobre a vida de Che Guevara. Trata-se de uma fita que exalta Che como uma referência positiva, um herói, um homem bom etc, omitindo descaradamente todas as atrocidades que cometeu. Na entrevista, a jornalista lembra que lançar um filme exaltando Che nos Estados Unidos, onde está a maior comunidade de cubanos fora de Cuba, é quase como lançar um filme em Israel ou nos próprios Estados Unidos sobre Hitler para ofender os 15 milhões de judeus e a memória das famílias dos 6 milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial. Ela ainda pergunta se Benício sabia que Che dirigiu o primeiro campo de concentração do continente americano, que matou e mandou matar milhares de pessoas, que só nesse campo de concentração que dirigiu fuzilou mais de 400 cubanos (90% deles eram pessoas cujo único crime que cometeram foi discordar ideologicamente do regime) e cita uma frase estarrecedora de Che sobre a importância de se chacinar inimigos ideológicos sem pena. Del Toro simplesmente emudece, fica no "...Bem...Euuuuuuu...Éeeeee..." ou diz "Não sabia". Passou sete anos de sua vida estudando a vida de Che e... não sabia! Ao final da entrevista (ou diria aula), a jornalista entrega um livro sobre Che para que Benício del Toro aprenda história.
Para quem não viu, o link para a entrevista é este: http://br.youtube.com/watch?v=IZGTV6FbBXM&feature=related. Isso é um exemplo de bom jornalismo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Novo programa e novidades

Caros irmãos e amigos, a Rádio Web CPAD estréia esta semana novo programa na parte da tarde. De segunda à sexta, sempre a partir das 12h, você terá agora o programa jornalístico CPAD News. Será uma hora de apresentação das principais notícias nacionais e internacionais do dia e comentários sempre sob a cosmovisão cristã. E na próxima semana, o programa Resposta Fiel, de apologética e reflexão bíblica e teológica, abordará, a pedido dos ouvintes, o tema Unicismo. O programa vai ao ar todas as terças (22h), quintas (17h) e domingos (12h). O link da rádio é www.cpad.com.br/radioweb
Aproveitando, lembro que esta semana ainda publicaremos novo artigo neste blog e, nos próximos dias, também traremos novidades sobre o conteúdo da próxima edição da mais antiga revista pentecostal de reflexão teológica do Brasil, a revista Obreiro, que completou 31 anos em outubro.
Abraço!