sábado, 5 de julho de 2008

A tresloucada simpatia de alguns cristãos por Friedrich Nietzsche e a gritante distorção que fazem do seu discurso

Há um pequeno fenômeno entre alguns cristãos de hoje, influenciados pela mentalidade pós-moderna, e que, mesmo sendo ainda tímido, já está suficientemente reproduzido em inúmeras reflexões exaradas em livros e sites, ao ponto de merecer a nossa atenção e preocupação: a prática de eleger acriticamente, como referenciais, personalidades que nada têm a ver com aquilo ao qual elas foram eleitas para representar pelos seus aficcionados.
Trocando em miúdos, muitos cristãos estão cometendo o terrível equívoco de escolher como seus referenciais na fé cristã, ou em aspectos da fé cristã, personalidades não-cristãs que não apenas não têm nada a ver com os princípios bíblicos como, em alguns casos, também se opõem ferozmente à genuína fé cristã. Mas seus aficcionados, com sua percepção eclipsada pela sua veneração à entourage da pós-modernidade, não conseguem (ou não querem) enxergar isso. Ao ponto de alguns deles chegarem a afirmar ainda, em alguns casos, o absurdo de que tais personalidades não-cristãs “entenderam mais do Evangelho do que a maioria dos crentes” (sic).
Para não me alongar muito nesta postagem, citarei apenas um dentre vários exemplos graves: o caso do tratamento que alguns cristãos dão ao filósofo prussiano Friedrich Wilhelm Nietzsche.

Nietzsche não era um “oponente do falso cristianismo”

É inconcebível que cristãos vejam algo de cristão, algo do Evangelho, nos escritos de Nietzsche. Na verdade, os que assim fazem ou agem por ignorância ou por pura desonestidade.
Já li e ouvi alguns crentes citarem frases de Nietzsche absolutamente fora de contexto, fazendo seus leitores ou ouvintes pensarem que o filósofo estava se referindo, naqueles momentos pinçados, a idéias que, de alguma forma, se assemelhariam a algo que o Evangelho ensina. Já vi também alguns cristãos irem mais além, afirmando o absurdo de que a luta ácida do prussiano não era contra Jesus, não era contra o Evangelho, mas “apenas contra a religião chamada 'cristianismo', que se corrompeu”, e, por isso, “a luta de Nietzsche, de certa forma, seria a mesma nossa”. E ainda há quem assevere tresloucadamente: “Quem pensa que a luta de Nietzsche é contra Jesus ou não leu Nietzsche ou, se leu, leu e não entendeu”. Não! Quem afirma isso é quem nunca leu Nietzsche ou, se leu, não entendeu absolutamente nada do que escreveu, por mais claro que ele tenha sido em seus escritos.
Nietzsche não era intrincado, mas claro em suas afirmações absurdas. Obtusos são os que tentam fazê-lo dizer o que não disse, citando-o totalmente fora de contexto.

Nietzsche era absolutamente contra o Jesus da Bíblia

O Jesus que Nietzsche defendia não era o Jesus dos Evangelhos.
Para Nietzsche, os Evangelhos falsificaram a Boa Nova original de Jesus. O Jesus dos Evangelhos é, para ele, uma farsa. Afirmava o prussiano que os quatro evangelistas teriam misturado verdades (poucas) com mentiras (em profusão) em suas narrativas dos Evangelhos. Os quatro Evangelhos são, para Nietzsche, uma fraude, adulterações da “verdadeira história”. Baseado em que Nietzsche dizia isso? Em nada e em ninguém. Ele apenas achava que era assim. E mais: acreditava também que sabia qual era a suposta "genuína mensagem original de Jesus". E como teria encontrado essa "mensagem original"? Intuição (sic). Selecionava as passagens do Evangelho que ele achava que tinham mais a ver com sua idealização do “Jesus histórico” e desprezava as outras, que eram a esmagadora maioria, taxando-as absurdamente de fraudes promovidas por Mateus, Marcos, Lucas e João.
Nietzsche afirmava o que afirmava sobre Jesus e os Evangelhos não porque tinha como provar, mas por simplesmente achar que era assim e pronto. Afirmava como verdade sem preocupar-se com provas. Seguia apenas seu desejo e intuição. E como se não bastasse já a sandice do ato em si, ele escreveu essas suas tresloucadas intuições, em O Anticristo, quando já estava clinicamente louco e sob o efeito de drogas. Ou seja, além de vigarista, era louco. A própria professora Scarlett Marton, especialista em Nietzsche, admite que alguns estudiosos admiradores do prussiano, justamente por causa disso, preferem colocar o filósofo “no seu devido lugar”, separando os seus demais textos daqueles que foram escritos sob o efeito das drogas. Estes, apesar do péssimo gosto, pelo menos são mais honestos, diferentemente de alguns professores seculares que conheci que achavam "lindo" e "romântico" o fato de alguns dos livros de Nietzsche terem sido escritos quando ele estava louco e sob o efeito de drogas. Eles tratavam esses livros, exatamente por isso, como uma espécie de "livros sagrados", quase "revelações divinas", por mais absurdamente ilógicas que sejam, do começo ao fim, as afirmações contidas neles. "Oh, o gênio louco! Que lindo! Que emocionante!"
Ou seja, tratavam-no como aqueles tolos dos anos 60 e 70 tratavam (e alguns ainda tratam hoje) os quadros e músicas bizarros de artistas que produziram suas obras sob o efeito de drogas, sob o pretexto de "ampliar a criatividade". Preferem venerar o que chamam de "insights da loucura" do que atentar para o que é dito em lucidez e sem vigarices. Preferem a "intuição" da loucura do que a lucidez e a verdade dos fatos. Preferem deliberadamente ser engodados do que aceitar a verdade. A lucidez já não importa tanto. Loucura é quase salvação. Mas, pensando bem, o que esperar de uma geração que acha Dadaísmo arte?
E ainda há cristãos que alçam ao nível da excelência frases extraídas de textos sem lógica, sem pé nem cabeça, absurdos, de um coitado acometido de loucura e sob o efeito de drogas nos últimos 27 anos de sua vida (ele se auto-medicava e, entre as drogas consumidas quase que diariamente, estava o haxixe)! E ainda há cristãos que citam declarações de seus livros como se fossem pensamentos sadios teologicamente ou coerentes inferências filosóficas. Basta ler o respectivo contexto de cada citação e vê-se a verdadeira intenção e absurdo por trás de cada frase (independente de ser de livros em que Nietzsche já havia surtado totalmente ou não – basta serem da fase de revolta).
Bem, mas voltemos ao que o prussiano achava de Jesus. Afirma Nietzsche que o verdadeiro Jesus era um rebelde que morreu pelos seus ideais, não era Deus e nem queria salvar ninguém. Os seguidores de Jesus é que teriam inventado essa história de que ele era Deus. Jesus seria apenas um mestre anarquista que queria mostrar como se deveria viver, sem essa história de “humildade” (considerada pelo filósofo “tolice” e “fraqueza”), e que não morreu para salvar os homens. Era esse Jesus que Nietzsche aceitava. Ele afirmava, inclusive, que “o [verdadeiro] Evangelho morreu na cruz [com Jesus]” e o cristianismo seria nada mais do que uma invenção, tendo como seu maior mentor, construtor, idealizador, o apóstolo Paulo.
Nietzsche dizia que Paulo inventou a história do Céu e do Inferno e a necessidade da crença na imortalidade como maneira de desvalorizar o agora da vida no mundo. Seu livro O Anticristo é uma guerra declarada contra o Jesus da Bíblia, o apóstolo Paulo e tudo o mais relativo ao cristianismo. E ataca acidamente todos os teólogos cristãos em seu livro (e não o faz porque acha que os teólogos estão se desviando da Bíblia, como distorcem alguns, mas exatamente porque, como ele mesmo explica, os teólogos disseminam os valores ensinados pela Bíblia, que ele tanto odiava. Porém, alguns cristãos simpatizantes de Nietzsche, avessos à ortodoxia e seduzidos pelos princípios da pós-modernidade, cometem diante desses textos uma vergonhosa dislexia premeditada: usam descaradamente essas passagens em que Nietzsche fala contra teólogos como se ele estivesse opondo-se a estes porque teriam deturpado a Bíblia).
Sintética e finalmente, sabe o que Nietzsche achava do Jesus da Bíblia? A definição a seguir é dada por ele mesmo em O Anticristo: “Canalha indecente!” É isso mesmo que você leu. Essa blasfêmia contra Jesus é proferida por ele em meio à ojeriza que ele expressa em relação às falas de Jesus registradas em Lucas 6.23, Mateus 5.46,47; 6.15,33; 7.1-2; Marcos 6.11 e 8.34 etc. Nietzsche considera esses ensinos de Jesus, todos, uma “sujeira”. Sugere, inclusive, que “convém vestir luvas antes de ler o Novo Testamento”. Veja quanta "simpatia" ele acalentava por Jesus e a Bíblia! E o pior de tudo é que ainda há quem diga que a sua luta era apenas contra o falso cristianismo e não contra Jesus...

O “evangelho” segundo Nietzsche e o Evangelho de Jesus

Nietzsche era um ateu que se opôs veementemente a Deus, à Bíblia e a seus valores. Dizia até que não era “ateu por conseqüência” de alguma coisa, mas “ateu por instinto”; ou seja, segundo ele, sempre fora ateu, mas fugira inicialmente dessa realidade até assumi-la de vez em determinado momento da vida. E levou seu ateísmo até às últimas conseqüências, renegando todos os valores defendidos pela Bíblia, e que considerava a grande “praga” da humanidade e contra os quais lutou em seus escritos até a loucura e a morte. Era um ateu antiteísta no sentido correto da palavra. Ele não era do tipo de ateu que negava o Deus da Bíblia, mas, por outro lado, gostava dos valores judaico-cristãos. Deus, para ele, era uma invenção, “um reflexo da psicologia das pessoas”, do que há de mais fraco nelas, isto é, do que há no “homem atrasado”. Por isso, de acordo com ele, a idéia de Deus e os valores judaico-cristãos deveriam ser todos defenestrados da humanidade, e a nova moral deveria estar baseada no indivíduo, mais especificamente nos seus instintos. Para Nietzsche, a essência do ser é a vontade. Aliás, este é um conceito central no pensamento de Nietzsche.
Enfim, nenhuma das virtudes defendidas pelo prussiano se coaduna com o Evangelho. As virtudes do “super-homem” pregadas por ele são orgulho, vontade inabalável (a busca pela prevalência da vontade pessoal), ambição de poder e inimizade (que os fortes vençam os mais fracos), busca pela satisfação sem restrições “morais” e o que ele entendia como “espírito livre” (livre das “amarras” dos valores judaico-cristãos). Ou seja, extravasar e obedecer à vontade pessoal é a verdadeira felicidade. Jesus, ao contrário, falava de negar a si mesmo e ser fiel até à morte, e que o maior é aquele que mais serve e não se preocupa apenas consigo; e que a felicidade está no amor a Deus e ao próximo.
Entretanto, o que é nobreza para Nietzsche? Segundo ele, o ser humano é tão nobre quanto a sua proximidade com o “super-homem”. Isto é, quanto mais desejo de poder e orgulho, maior é sua nobreza. Já Jesus falava de humildade, mansidão, abnegação e submissão total e incondicional a Deus como coisas que caracterizam a verdadeira virtude, a verdadeira nobreza.
Bem, se Nietzsche chamava a idéia de Deus e todos esses valores defendidos pelo Jesus da Bíblia de “praga”, e asseverava que o que importava mesmo era o poder e o orgulho, como é que alguém pode afirmar que a luta dele era "apenas contra o falso cristianismo"?

“Deus está morto e os pecados morreram com ele”

Outro absurdo inconcebível é ver crentes lerem a declaração do filósofo de que “Deus está morto e esses pecados morreram com ele” como uma afirmação que estaria reverberando, ainda que inconscientemente, o Evangelho. Nada mais falso! É como usar a música Imagine de John Lennon como se fosse uma música que fala de como será o mundo quando o Reino de Deus for implantado definitivamente em toda a Terra, como já vi crentes fazendo. Isso é um desrespeito ao próprio Lennon, que nem escreveu aquelas palavras nesse sentido, pois nem cria nisso, e ainda era anticristão, deixando isso claro inclusive na própria letra de Imagine: “Imagine que não existe nenhum Céu (...) e nenhum Inferno. (...) Imagine que existe apenas o céu sobre nós. (...) Imagine todas as pessoas vivendo pelo hoje. (...) Nenhuma religião também”.
Quando Lennon fala de “religião” na letra dessa música, não tinha em mente o que chamamos pejorativamente de religião. Tinha em mente principalmente a pregação do cristianismo sobre a Salvação só em Jesus, a necessidade de arrependimento (palavra inconveniente na pós-modernidade) em relação aos nossos pecados, realidade do Céu e do Inferno etc. Ele, inclusive, destaca na letra de Imagine que devemos imaginar o mundo ideal sem Céu (Heaven), somente com o céu sobre nós (sky).
Além de não acreditar em Céu e Inferno, o Deus em que Lennon cria não era um Deus pessoal. Afirmou ele certa vez quando perguntado se o Deus em que ele cria era uma fórça cósmica: “Sim, eu acredito que Deus é como uma usina de força, que Ele é um poder supremo, que não é nem bom nem ruim, nem de direita nem de esquerda, nem branco nem preto. Ele simplesmente é”. Em outra oportunidade, acrescentou: “Deus é um conceito pelo qual medimos o nosso sofrimento”.
Na famosa entrevista que deu ao jornal Evening Standard, edição de 4 de março de 1966, ele afirmou: “O Cristianismo vai desaparecer. Vai diminuir e encolher. (...) Nós [Beatles] somos mais populares do que Jesus neste momento. Não sei qual vai desaparecer primeiro – o rock and roll ou o Cristianismo. Jesus era legal, mas os discípulos dele eram estúpidos e vulgares. É a distorção deles que estraga o Cristianismo para mim”. Segundo Lennon, foram os discípulos de Jesus que distorceram o Evangelho, pregando sobre Céu, Inferno, pecado, arrependimento etc (quando, sabemos, Jesus pregou sobre tudo isso). Para Lennon, o Evangelho, a mensagem de Jesus, consistia só em amor, paz e união, o resto era distorção. Para ele, Jesus não era Deus encarnado, mas apenas um grande homem, um mestre de moral, e sua morte foi apenas um martírio.
Por isso, se Lennon estivesse vivo e ouvisse o uso descaradamente distorcido de suas afirmações como se fossem referência ao Evangelho bíblico, ele se revoltaria, escandalizado e extremamente indignado. Nietzsche, idem.
Aliás, já notou como os crentes influenciados pela pós-modernidade criaram um mecanismo falacioso para tentar fazer os outros e eles mesmos crerem que todos os ataques ao cristianismo não têm a ver com ataques ao Evangelho? A falácia está no joguinho que se faz com o termo “religião”. É o que chamei, parágrafos acima, de “dislexia premeditada”. Simplesmente, dizem que todos esses ataques são, na verdade, contra a “religião cristã” (religião no sentido pejorativo, diferentemente do que aparece em Tiago 1). Porém, a maioria desses ataques estavam e estão expressamente se referindo, quando falam em cristianismo, não a meros ritos religiosos ou legalismo, não ao falso cristianismo, não a uma casca religiosa que se apresenta como cristianismo, mas aos princípios e valores bíblicos mesmo. Conquanto haja quem critica o cristianismo por confundi-lo com o falso cristianismo, é ignorância ou desonestidade classificar todos os ataques como sendo isso. Não são.
Quer se fazer crer que sempre quando alguém ataca a “religião” está usando esse termo no sentido pejorativo que muitos cristãos usam. “Ah, o ataque deles é só contra a chamada ‘religião cristã’, não contra o Evangelho mesmo. Se conhecessem o que ensina o Evangelho, não fariam esses ataques”. E chegam até ao ponto de sacralizar ataques, sagrar o que é original, bíblica e essencialmente anticristão. "Ele não queria dizer o que pensam... O que disse até se parece com o Evangelho!..." Por exemplo, aceitar a letra de Imagine como um não-ataque ao Evangelho, quando é. Desfigura-se a intenção do autor da música ou do texto, ou do artigo, colocando por cima dela a sua interpretação. Despreza-se totalmente a intenção original do autor. Não vale mais o que Lennon quis dizer claramente e como ele tratou do assunto durante sua vida, mas o que eu acho que ele queria dizer ou, melhor dizendo, o que eu quero que ele diga. Assim como não vale mais a intenção de Nietzsche, o que ele quis dizer, por mais gritantemente claro e nítido que ele tenha sido. Vale o que eu quero que ele diga. Isso tem um nome na filosofia: desconstrutivismo. Pode chamar também de “desonestidade com roupagem filosófica”.
Além de não haver Evangelho em Nietzsche, torcer o significado claro de seu texto é desrespeitá-lo. É propaganda enganosa, é usar indevidamente, distorcidamente, as suas palavras. Não é à toa que os crentes que fazem isso são geralmente os mesmos que desprezam as regras básicas e evidentes de hermenêutica na hora de interpretar textos bíblicos. A motivação é a mesma: fazer com que os textos bíblicos que usam digam o que eles querem que digam, assim como fazem com os textos de outros autores.
Quem ler o argumento de Nietzsche todo verá que quando ele disse “Deus está morto e esses pecados morreram com Ele”, estava dizendo que os valores são uma invenção alimentada pela crença em Deus, por isso, de acordo com o prussiano, quando os seres humanos tomassem consciência da inexistência de Deus, os valores decorrentes dessa crença (e que são para ele uma “doença”) se extinguiriam, e com eles a idéia de “pecado”. Quando ele afirma “Deus morreu”, está dizendo que tanto a idéia de Deus quanto os valores, decorrentes de se crer nEle, morrem. Morrem com Ele. Por isso, não haveria mais o que se falar de “pecado”.
O que Nietzsche pregava era a “transvalorização” de toda moral e ética cristãs. O que vale mesmo, de acordo com ele, é a vontade de poder, que, quando prezada, leva ao “super-homem”, ao “sobre-homem”, ao “além-do-homem” (o übermensch, o overman). “Além-do-homem” significa que o “homem normal” deveria se tornar o “homem desejável”, o humanismo em seu sentido mais acentuado.
O que isso tem a ver com o Evangelho? Nada. Mas tem gente que prefere “ver cabelos em sapo” só para não parecer “atrasado” diante da entourage da pós-modernidade – já que, na pós-modernidade, desprezar o “papai” Nietzsche é não ser intelectual, quando a verdade crua e nua é que Nietzsche está quilômetros abaixo dos maiores filósofos do passado. É fumaça pura.
Isso não quer dizer que não possa existir alguma razão para lê-lo. Há umazinha só: ler Nietzsche é importante para entender melhor o espírito e a mentalidade desvirtuada dos nossos dias, tão influenciados pelos seus escritos. Excetuando isso, o que sobra é uma experiência irrelevante, que não acrescenta nada à nossa vida, além de ser desagradável por razões óbvias (Ou alguém gosta de ler mentiras grosseiras e ofensas vomitadas num papel em um transe de ódio e alucinação?). Passei por essa experiência há alguns anos, sem um pingo de saudades e achando cada vez mais estranho como tem gente que consegue lê-lo (se é que realmente leu, no sentido lato do termo) e confundir vidro com diamante, latas com taças de ouro.

30 comentários:

Anônimo disse...

"em O Anticristo, quando já estava clinicamente louco e sob o efeito de drogas".

Sou formado em administração e acadêmico do 6° período de ciências contábeis, mas nunca tinha lido sobre a loucura de Nietzsche. É lamentável a grau de desonestidade de vários dos nossos professores universitários, eles não dizem quem de fato foram esses pensadores.

Observo que que esse filósofo, bem como o seu pensamento está presente em nossas igrejas, hoje mesmo um Pr falou alguns pensamentos de Nietzche.

Louvo a Deus por mais um post esclarecedor no verba volant, scripta manent.

Silas Daniel disse...

Caro Josélio, a Paz do Senhor!

Pois é, há muita coisa que os aficcionados de Nietzsche falam pouco. Sua loucura e as drogas estão entre elas. Nietzsche começou a sua série de obras de revolta em 1873, exatamente o mesmo ano em que começou a usar drogas por conta própria para tratar sua depressão contínua e demais problemas de saúde. Como havia estudado um pouco de biologia e fora enfermeiro voluntário na guerra franco-prussiana em 1870, conhecia algumas drogas e começou a usá-las. Desde 1873, Nietzsche se drogava praticamente todos os dias com ópio, cloral e, principalmente, haxixe. Para você ter uma idéia, em 1879, por fazer intenso uso de drogas, Nietzsche adoeceu ao ponto de ser afastado da sala de aula pela universidade onde lecionava.

Não é sintomático o fato de que Nietzsche achava o máximo o deus grego Dionísio (que entre os romanos era denominado Baco), símbolo da embriaguez e da orgia, defendendo-o fervorosamente como metáfora do que há de bom?

Suas crises iniciaram no fim dos anos 70. Nesse período, oscilava entre a agressividade e a doçura, entre delírios, lucidez e náuseas. O estado começou a se agravar nos anos 80, período em que escreveu, por exemplo, cada vez mais sob o efeito das drogas, “Assim falou Zaratrusta”, “Além do Bem e do Mal”, “Genealogia da Moral”, “O Crepúsculo dos Ídolos”, “O Anticristo” e “Ecce Homo”.

Em 1889, as crises de loucura se agravaram muitíssimo, tornando-se muito fortes e quase permanentes, acompanhando-o assim até à morte. Para ser mais claro, a partir de 1889, simplesmente Nietzsche “pirou” de vez. Chegava a ficar, algumas vezes, desmaiado de um a dois dias. Passou os 11 últimos anos de sua vida internado. Quando acordado, raramente estava lúcido. O diagnóstico era paralisia cerebral decorrente da ingestão contínua de drogas. Morreu totalmente louco, com um câncer no cérebro.

Essa é a história do pai e “profeta” da mentalidade pós-moderna. O pior de tudo, Josélio, é que ainda há crentes que, bobos, valorizam os escritos desse pobre coitado!

Abraços!

Mozart Paulino disse...

Caro pastor Silas,

Louvo a Deus pela vida de irmãos como o senhor, pastor Ciro e outros.
Houve o tempo em que ser cristão era loucura, sinal de analfabetismo, ignorância. Principalmente se fosse não tradicional, ou seja, pentecostal. Tenho visto que Deus abriu os olhos dos verdadeiros cristãos incomodando-os a alertar o rebanho de Cristo dos falsos ensinos e a anunciar o evangelho do Senhor Jesus Cristo em toda sua plenitude. Sabendo que o tempo do Senhor vir buscar Sua igreja está próximo.
Oro pela vida dos irmãos.
Acho interessante ainda existir ignorância, não do povo, e sim de quem deveria ser mais maduro,ou seja, dos líderes, pois ainda hoje sou questionado do porque publicar em meu blog textos de irmãos pentecostais ao lado dos tradicionais.
Ora, o Senhor não virá buscar um grupo, e sim, os eleitos, os seus filhos.
Respondo com o seguinte texto, que para mim resume tudo:
"Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado" (1Co.2:2).
Que o Senhor os abençoe e guarde.

Paz do Senhor

Silas Daniel disse...

Caro pastor Mozart, a Paz do Senhor!

Obrigado por suas palavras de apreço e motivação. Dentro da porção que o Senhor nos tem concedido pela Sua graça, procuramos acrescentar algo de Deus à vida de todos os que entram neste blog ou lêem nossos livros e artigos. Nosso objetivo é trazer, justamente, textos não-superficiais que despertem uma reflexão saudável de retorno à ortodoxia bíblica e que estimulem a um despertamento espiritual.

Estamos conscientes de que vivemos dias difíceis e, sem o retorno à Palavra de Deus e à vida de comunhão com o Senhor da Palavra, não teremos uma vida cristã densa, mas, sim, rarefeita. Por isso, nossa mensagem é: "Mergulhemos na vontade de Deus para nossas vidas, revelada em sua santa e preciosa Palavra!"

Que bom saber que o amado irmão também tem essa consciência! E que Deus também continue abençoando sua vida e ministério, em nome de Jesus!

Ronaldo Junior disse...

Caro Pr. Silas!

Ótimo post.
Tenho apreciado muito seus artigos e já que "palavras voam, escritos ficam", gostaria de deixar registrado minha admiração por seu ministério, de sua esposa e pela bela forma de escrever seus artigos e livros.
Tive a oportunidade e privilégio de ler um de seus livros (Como vencer a frustração espiritual), inclusive recomendo em meu blog e gostaria de saber como recebo sua mais nova apologia "A sedução das novas teologias".

Um abraço fraternal
Junior

Silas Daniel disse...

Caro Junior,

Obrigado pelas palavras de apreço e de motivação. Tenho recebido dezenas de ligações telefônicas, emails e abordagens em lugares onde vou pregar de pessoas testemunhando o quanto foram abençoadas por meio do livro "Como vencer a frustração espiritual", o que muito nos alegra e motiva. Creio ser esse livro um dos mais importantes que já escrevi, pela graça de Deus.

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Abraço, Deus o abençoe e boa leitura!

Anônimo disse...

Tenho um adimiração profunda pela pessoa e obra do Evangelista Billy Granham. Mas a cada dia que passa tenho ouvindo comentários não muito agradaveís a cerca do evangelista Billy Granham. Não tenho conhecimento profundo a cerca de sua pessoa e vida. Gostaria de saber a cerca de uma entrevista em que ele disse pode haver salvação fora do contexto cristão o que tem gerado bastante controversias.Ele deu expliucações para estas acusações?
Não seria possivel o Senhor tecer um comentário acerca dele e das polemicas que envolvem a sua pessoa.
Em Cristo,
Valter Alex

Silas Daniel disse...

Caro Valter,

Sua preocupação é importante e denota a importância que a ortodoxia bíblica tem para o irmão, independente da popularidade ou não da pessoa que esteja esposando o erro. Saber separar as coisas é uma virtude. Infelizmente, pouca gente o faz, confundindo carisma ou popularidade com legitimidade.

Quanto às acusações feitas contra o pastor Billy Graham, elas foram alvo de nossa apreciação no espaço de comentários da nossa antepenúltima postagem, datada de 2 de maio de 2008: "De que lado realmente está Phillip Yancey". Portanto, para não precisar reproduzir aqui o que já disse ali, peço ao irmão para apreciar o que ali foi exposto, inclusive a importante e esclarecedora participação do pastor Geremias do Couto no debate.

Abraço!

Casamento Eduarda e Gutierres disse...

Silas Daniel, a paz do Senhor.

Parabéns por mais um alerta que você dirige ao povo de Deus.

Há poucos meses assisti a uma palestra interessante sobre o “Fundamentalismo”, onde o professor Ricardo Quadros Gouvêa criticava o fundamentalismo e o liberalismo pela influência racionalista-cartesiana do modernismo de Jean-Jacques Rousseau. As observações foram interessantes, mas quando aquele palestrante começou a pincelar sobre pós-modernidade, não digeriu nenhuma crítica aos movimentos evangelicais que optaram por abraçar essa cosmovisão. Pelo contrário, expressou simpatia por um autor norte-americano que pregava o fim da igreja-instituição, para formar uma pequena comunidade eclesiástica como reprodutora de outras pequenas comunidades.
Naquele dia vi uma parcialidade absurda, onde os protestantes foram criticados por influências do modernismo, mas os o neoliberalismo teológico não foi criticado pela influência do desconstrutivismo revisionista pós-moderno.
Ricardo Gondim no artigo “O crepúsculo”, escreveu: “Para posarmos de intelectualóides, tínhamos de saber comentar tanto C.S. Lewis como Schaeffer”. Ora, o que achei absurdo nesse texto foi uma crítica dirigida ao Schaeffer, enquanto Gondim romantiza Madre Teresa de Calcutá e já citou positivamente filósofo Michel Foucault. Não estou dizendo que não há coisas boas em Foucault ou Nietzsche, mas porque trocar Schaeffer pelos pais do pós-modernismo?
Gosto de Nancy Pearcey pelo fato que ela conhece profundamente o pensamento filosófico do ocidente, mas não molda sua teologia por meio de pensamentos incompatíveis com a Palavra de Deus. O resgate desses filósofos por cristãos mostra a nossa fraqueza por criar uma cosmovisão cristã que influencia a humanidade. Precisamos criar uma cosmovisão com base na Palavra, criando até filosofia e não se deixando influenciar.
Os cristãos devem resgatar os “Pais da Igreja”, os escritos de Agostinho, Anselmo, Aquino; além dos reformados. Será assim mais edificante, pelo amor que esses homens tinham a Deus e sua Palavra.


Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

daladier.blogspot.com disse...

Excelente artigo. Coaduna com os demais, parabéns! Nunca mais havia passado por aqui. Vou adicioná-lo em minha lista de blogs para poder lembrar com mais frequência.

Aproveito o assunto para perguntar: há procedência no que dizem sobre o fato de Nietzsche ter escrito: Deus está morto. E quando ele morreu, alguém ter escrito: Nietzsche está morto? Ou é apenas mito?

Silas Daniel disse...

Caro Daladier,

Obrigado por suas palavras motivadoras. Quanto à história do "Nietzsche está morto - assinado: Deus", lembro de tê-la lido há muito tempo (não me lembro exatamente onde agora, mas, se lembrar-me, prometo registrar aqui) relacionada aos protestos que jovens gravavam em muros durante a crise de maio de 1968 na França. Conta-se que, durante aquela crise, alguém escreveu em grandes letras em um muro de Paris: "Deus morreu". E abaixo: "Assinado: Nietzsche". Porém, no dia seguinte, alguém escreveu no mesmo muro, em letras igualmente grandes e logo abaixo: "Nietzsche morreu". E na sequência: "Assinado: Deus".

O que posso dizer também é que essa resposta à declaração de Nietzsche ficou famosa a partir desse fato, mas ela é bastante antiga. Com certeza, muita gente já deve ter feito esse trocadilho antes do episódio do muro em Paris.

Abraço!

Silas Daniel disse...

Caro Gutierres,

Como escrevi em meu livro "A Sedução das Novas Teologias", e você também pôde perceber por experiência própria, os mesmos que acusam todos os pensadores cristãos sérios dos últimos séculos de terem sido influenciados pelos princípios modernistas na sua reflexão teológica (o que é uma acusação absurda - alguns desses pensadores do passado foram até influenciados, mas só em alguns pontos de sua reflexão teológica, e não em toda a sua reflexão teológica) não percebem que eles mesmos cometem hoje esse erro, mas em monta infinitamente maior (desrespeitando e distorcendo clamorosamente a Bíblia), ao serem influenciados pela cosmovisão pós-moderna na sua reflexão teológica. Ao ponto até de eleger como alguns de seus referenciais gente como Foucalt, Nietzsche e por aí vai. Mesmo que haja uma ou outra coisa aproveitável, daí a elegê-os como referenciais é outra coisa (se bem que, no caso do Nietzsche da fase de revolta, sinceramente, não vejo nada de aproveitável mesmo). Outro problema é que os que dizem que há algo de aproveitável logo nos decepcionam quando citam desses autores, como exemplo, exatamente o que não há de aproveitável neles.

Outra coisa: quem diz que citava C.S.Lewis e Schaeffer só para "posar de intelectualóide" está querendo dizer então que Lewis e Schaeffer são obsoletos e, portanto, imagina-se que se agora os deixa de lado é para substituí-los por outras referências para fazer com essas novas referências o mesmo que fazia quando citava Lewis e Schaeffer: "posar de intelectualóides". Ou seja, parecer substancial para a "entourage" da pós-modernidade.

Em primeiro lugar, é um absurdo alguém citar Lewis e Schaeffer só para "posar de intelectualóide". Deve-se citá-los pelo que há de coerente bíblica e logicamente no que dizem - e há muita coisa. Se erraram em algumas de suas afirmações, devemos rejeitar esses erros. Eu mesmo já afirmei em artigo em revista, e creio que também em comentário a alguma postagem por aqui, que não concordo com tudo o que Lewis afirmou. Ninguém deve ter sua produção intelectual aceita acriticamente. O bom de Lewis e Schaeffer é justamente que, ao passá-los pelo crivo da Palavra de Deus e da razão, encontramos muita coisa, mais muita coisa mesmo aproveitável, bem diferente do vemos nos referenciais dos cristãos influenciados pela cosmovisão pós-moderna em sua reflexão teológica.

Em segundo lugar, dizer que Lewis e Schaeffer estão obsoletos é de uma ignorância enorme. Só para citar um caso. Francis Collins, o diretor do Projeto Genoma, quando lançou um livro (que se tornou best-seller nos EUA e no mundo) há pouco tempo, citou em profusão... C.S.Lewis. Sim, o "obsoleto" Lewis e seu "obsoleto" livro "Cristianismo puro e simples". Aliás, Lewis é tão "obsoleto" que dois filmes baseados em sua obra para crianças que é uma metáfora do cristianismo - "Crônicas de Nárnia" - já renderam mais de 1 bilhão e 50 milhóes de dólares. E os livros de Lewis estão sendo relançados no Brasil por editoras seculares como a Martins Fontes, sendo sucesso de vendas. Este é o "obsoleto" Lewis. E o que dizer de Schaeffer? Três dos maiores pensadores evangélicos dos EUA e do mundo hoje, que têm influenciado milhões de cristãos em todo o mundo, são discípulos de Schaeffer: Nancey Pearcey, Charles Colson e Os Guiness. Além do mais, a simples leitura da obra destes mostra que são muito mais relevantes e substanciais do que a soma de muitos livros da turma da cosmovisão pós-moderna.

E aproveitando que você falou da madre de Calcutá, pretendo escrever um artigo sobre outra tendência entre alguns cristãos evangélicos: a de passaram a ter como seus maiores referenciais teológicos católicos romanos, tais como Madre Tereza e Francisco de Assis; Leonardo Boff e Frei Beto; Henry Nouwen e Brenan Manning etc. E nossa preocupação não é nem tanto pelo fato destes mencionados serem católicos (já que a verdade vale por si mesma, e não por quem a diz), mas é pelo que ensinam mesmo, apesar de não deixar de ser sintomático o fato de que os que incensam tais figuras são cristãos que resolveram "chutar para o alto" todos os escritos de cristãos evangélicos para procurar espiritualidade sadia nos escritos católicos. E alguns deles ainda o fazem em escritos até de budistas e de outros grupos religiosos.

Amplexo!

João Paulo Mendes disse...

A Paz do Senhor,

Em meio a tantos escritos da atualidade e o facilitado acesso de todos nós a todo tido de literatura, é altamente necessário escritos como o do Pr, eu mesmo, desejoso de conhecer mais do cristianismo e sua história, tenho me posto ler muitas coisas e nem sempre é fácil separar, fazer distinção entre o que é genuninamente bíblico e o que traz uma pontinha de heresia e desonestidade contra o Crsitinismo genuíno.
Em outra ocasião vi Cáio Fábio usando a música de Lennon, há poucos dias em um trabalho de jovens um líder fez uso da mesma forma que o Cáio, preferem usar como modelo coisas mundanas do que a imensidão de exemplos bíblicos para fazer referência a algo.
Que o Senhor nos dê entendimento para que possamos viver sobria e equilibradamente nos dias atuais.

Em Cristo,

Joao Paulo
www.joaopaulo-mendes.blogspot.com

Silas Daniel disse...

Caro João Paulo,

Que bom que o irmão tem esse discernimento!

Como você bem frisou, tudo é uma questão de equilíbrio, mas isso é uma coisa que, infelizmente, alguns cristãos já esqueceram há muito tempo. A Bíblia diz para examinarmos tudo e retermos o que é bom, porém o que muita gente está fazendo hoje descaradamente é exatamente o contrário: relaxa-se o exame, ou olvida-o totalmente, e digere-se o que é ruim.

A insistência de alguns crentes em usar frases de Nietzsche fora de seus respectivos contextos para fazê-lo dizer algo que se pareça com o Evangelho e o uso distorcido de uma música claramente anticristã de Lennon, ao ponto de fazer dela seu extremo oposto - uma ilustração de uma verdade do Evangelho -, são apenas alguns exemplos que demonstram como alguns crentes preferem deliberadamente negligenciar um exame coerente sobre os ícones da pós-modernidade e sua produção para não parecerem "bizarros" ou "estranhos" à "entourage" da pós-modernidade.

Isto é, para não parecerem "out" diante da "entourage" da pós-modernidade, para parecerem "sintonizados", "in", chega-se ao ponto de forçosamente reinterpretar o que ídolos incensados por essa "entourage" disseram para tentar encaixá-los, de alguma forma, com o Evangelho. Sacraliza-se forçosamente o que é obviamente anticristão só para não ser "out".

Como já disse em comentário a um oportuno comentário do Gutierres, não há problema algum em citar um autor não-cristão quando a citação dele encerra realmente uma verdade, posto que a verdade vale por si mesma e não por quem a diz. A verdade é verdade independente se dita por um cristão ou por uma não-cristão. Porém, os casos que acabei de citar são absolutamente diferentes. São casos de distorção total do que essas pessoas realmente queriam dizer. São tentativas de fazer o lixo parecer ouro. Lennon não quis dizer em "Imagine" o que essas pessoas dizem que ele queria dizer, mas, sim, exatamente o oposto. Nietzsche não gostava do Jesus da Bíblia. Ele o abominava. Nietzsche defendia o que ele achava ser o "Jesus histórico", que não era Deus coisa nenhuma e que pregava, segundo ele, uma mensagem totalmente diferente do que encontramos nos Evangelhos, os quais ele considerava "lixo".

Perceba: o problema não está em ler Nietzsche, Foucalt, fulano, beltrano, cicrano etc ("Examinai tudo..."); o erro está em reter deles o que não é bom, quando a Bíblia diz: "..retende o que é bom". E pior ainda: distorcer o que não é bom para, agora travestido, retê-lo. Pergunta-se: O que leva alguém a fazer isso, se não a influência da mentalidade pós-moderna sobre ele? Aliás, não é curioso que as tendências da pós-modernidade (relativização; aversão a instituições e absolutos; desconstrução; a ênfase no "feeling", nos impulsos do coração, como definidor de certo e errado etc) encontram-se continuada e flagrantemente no discurso de quem comete essas coisas? Apesar disso, essas pessoas preferem não permitirem a si mesmas perceber isso; preferem não se permitir perceber que, ao agir como agem, não estão sendo realmente relevantes (à luz da Bíblia) em sua geração - estão apenas repetindo o mesmo erro de muitos cristãos do passado: o de serem influenciados pelas tendências de suas respectivas épocas ao ponto de reinterpretarem a Bíblia conforme essas tendências, em vez de deixarem a Bíblia falar por si mesma, por mais que o resultado seja politicamente incorreto; ao ponto de confundirem seus posicionamentos, influencidos por essas tendências, com o que seja realmente a verdade à luz da Bíblia.

Amplexo!

Paulo Cézar de Lima disse...

paz do Senhor pastor Silas.... fiquei feliz ao ler seu artigo.... precisamos ter como referencia aqueles que batalharam pelo caminho da fé, e não esses pensadores, que com o seu modo academico estão querendo penetrar seus pensamentos em nosso meio sem ao menos procurar aber quem verdadeiramente eles foram....

esperamos o pastor com a irmã Lilian em breve aqui em Itararé SP novamente..

um abraço do seu irmão em Cristo
Paulo Cézar de Lima e do pastor Sergio Silva.

Silas Daniel disse...

Caro Paulo, a Paz do Senhor!

É isso mesmo! Em uma época de mixórdia como esta, urge colocarmos as coisas claramente nos seus devidos lugares. Por isso, esta postagem foi, por assim dizer, inevitável. Outras se seguirão mencionando casos similares. É preciso clarificar as coisas.

Infelizmente, não deu para estar pregando aí na festa dos 70 anos da igreja, devido ao nosso compromisso em estar em Portugal, por ocasião do Congresso Mundial das Assembléias de Deus; mas, se Deus assim permitir, estaremos brevemente falando de Jesus mais uma vez entre os amados irmãos.

Um abraço, estendido ao pastor Sérgio e a toda a amada igreja em Itararé!

Anônimo disse...

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A teologia pode matar; a vítima pode ser você. Quem diria que um moço formado em Teologia e Filosofia pela Universidade de Bonn, a melhor escola da Alemanha se tornasse um crente desviado?

Se é mesmo verdade que o diabo derruba os homens atacando o ponto forte deles, com Nietzsche não foi diferente. Sua bagagem cultural foi uma pedra de tropeço para sua fé. Infeliz no amor por causa da sífilis em nenhum momento acreditou em um milagre. A mim se me parece que seu caso é comparado com um semente que caiu no terreno pedredoso. Quando o sol da tribulação veio sobre ele, suas raízes nas escrituras paradoxalmente não eram profundas.

Caiu onde era mais forte.

Que deus se apiede de nós e nos guarde da tentação maligna.

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Silas Daniel disse...

Caro irmão Cruzué,

Antes de tudo, é um prazer vê-lo aqui. Sabemos que o irmão é um dos pioneiros da blogosfera evangélica brasileira, por isso sua participação em nosso blog muito nos honra. Parabéns pelo seu belo trabalho de evangelização e divulgação da obra missionária!

Sobre sua colocação, gostaria de apenas fazer uma pequena ressalva: a verdadeira Teologia não mata, mas, sim, a falsa teologia. Esta foi, sem dúvida, uma das coisas que influenciou o jovem Nietzsche a se tornar o hostil antiteísta em que se tornou, mas o que o levou a começar a se desviar não foi o estudo da teologia liberal, mas seus primeiros professores de Filosofia, que eram ateus, agnósticos e céticos. Isso foi antes de Bonn. Ocorreu quando estudava em Pforta, ainda adolescente. A teologia liberal, que estudou em Bonn logo em seguida, só "completou o serviço" de transformação.

Aos 15 anos, na escola de Pforta, começou a estudar Filosofia e, lá, seus professores o influenciaram a abandonar o cristianismo. Só depois de Pforta, quando Nietzsche já se considerava um mero cristão nominal, quando já não se dizia um cristão de verdade, é que foi para Bonn, onde estudou Filosofia e Teologia (que era uma matéria que fazia parte do estudo da Filosofia; ou seja, Teologia não foi o carro-chefe de seus estudos ali, nem muito menos um segundo curso que fez em Bonn. Aliás, Nietzsche se especializou em Filologia). Ademais, na época, no que concerne ao estudo da Teologia, Bonn não era uma universidade conservadora, mas liberal. Além disso, o ambiente lá era promíscuo. Só para se ter uma idéia do ambiente “sadio” de lá, foi em Bonn que o jovem Nietzsche participou pela primeira vez de orgias sexuais, patrocinadas pelos seus colegas de turma. Também foi lá que começou a beber e a fumar, hábitos que abandonou tempos depois, mas que acabaram sendo substituídos pelo uso de drogas (haxixe e ópio entre elas), que, como já contei, começou a usar como automedicação e acabou se viciando nelas.

Portanto, não foi a Teologia que desviou Nietszche. Nem Bonn era nada disso, nem foi lá que ele se desviou. O prussiano veio de Pforta já desviado e caiu na depravação em Bonn, que era um ambiente hostil intelectualmente à ortodoxia.

Abraço!

Silas Daniel disse...

Caros,

Aproveito para informar que, nos próximos dias, estarei postando novo artigo, dando sequência à nossa reflexão sobre os perigos da eleição acrítica de referenciais. Desta vez, trataremos de exemplos mais sutis.

Amplexo!

Casamento Eduarda e Gutierres disse...

Pastor Silas Daniel, a paz do Senhor!

Há poucos dias a revista “Time” publicou uma longa matéria sobre o pastor Rick Warren, noticiando sobre o debate político que haverá na “Saddleback Church”, como os candidatos John McCain e Barack Obama.
Warren diz para a reportagem que sua principal preocupação política está em assuntos gerais, como “a pobreza, HIV, as alterações climáticas e os direitos humanos”... Então a revista compara a posição de Warren com os pastores conservadores que tomam partido pelos republicanos, enquanto Warren, segundo a revista é neutro.
Pergunto se nos Estados Unidos não existe algum grupo conservador que luta pelos diretos humanos, meio ambiente, contra guerras e ainda permanece firmemente contra o aborto, o casamento gay e células tronco-embrionárias?
Pergunto isso pastor Silas, pelo fato que a impressão que fica é que ser conservador nos EUA é não ligar para o meio ambiente e jogar todas as forças contra o aborto. Seria isso uma falsa imagem da direita- cristã- estadudinense?

Um abraço!

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Silas Daniel disse...

Caro Gutierres,

Muito boa a sua pergunta! Trata-se de uma distorção colossal da mídia dizer que os evangélicos conservadores dos EUA não se preocupam com direitos humanos nem com questões ambientais. O que ocorre é que os evangélicos conservadores dos EUA não se alinham àqueles grandes e famosos "grupos de direitos humanos" dos EUA que se notabilizam por confundir Estado laico com Estado ateu ou anti-religioso, e que também defendem o aborto, a manipulação de células-tronco embrionárias, a eutanásia em determinadas circunstâncias, a união civil homossexual e a criminalização da "homofobia" como direitos humanos. Ora, como os grandes grupos de direitos humanos nos EUA defendem esses pontos e os evangélicos conservadores logicamente não se coadunam com estes, a mídia televisiva e escrita dos EUA, majoritariamente democrata (que defende essas bandeiras desses grupos), os tratam como negligentes em relação aos direitos humanos ou mesmo, em textos mais ofensivos de alguns colunistas, como opositores dos direitos humanos.

A distorção se situa justamente no que eles dizem que são direitos humanos e o que são realmente direitos humanos. Só vou citar um caso, dos mais comuns, para não me estender tanto nesta resposta: o aborto. Para ACLU (American Civil Liberties Union), por exemplo, aborto é direito humano. Para o evangélico conservador, aborto é uma afronta aos direitos humanos, já que é assassinato. Fere o direito à vida.

Os evangélicos conservadores dos EUA defendem engajadamente tudo aquilo que vemos na Declaração Universal de Direitos Humanos: os direitos à liberdade, à igualdade, à vida, à segurança pessoal, a ir e vir; as liberdades religiosa, de expressão, opinião, imprensa e consciência; o direito à propriedade, à integridade física, à proteção judicial eficaz, a um julgamento independente e imparcial; a proibição de intromissões arbitrárias na vida privada e familiar; o direito à reunião e a associações pacíficas etc etc etc.

Em relação à guerra, os evangélicos conservadores dos EUA, assim como de qualquer parte do mundo, só defendem as chamadas guerras justas. Sobre o que é ou não uma guerra justa à luz da Bíblia, explicar isso aqui exigiria uma postagem enorme. O que posso dizer, porém, é que, dentro desse prisma, a guerra contra o Afeganistão foi considerada por eles uma guerra justa, mas a contra o Iraque é vista de formas diferentes. Alguns a consideraram justa, outros não. Eu diria que, nesse aspecto - guerra - a opinião evangélica norte-americana tem falhado algumas vezes, tendo sido afetada pelo patriotismo exacerbado e pelo contexto político e conjuntura histórica de cada época. Mas, infelizmente, isso também acontece conosco. Na América Latina, não são poucos os cristãos que são afetados pela onda anti-americanista na hora de expressar sua opinião. Muitos cristãos, em vez de expressarem uma opinião coerente e honesta, acabam sendo contaminados pela conjuntura e tendências de seu país ou região em seus posicionamentos. Isso acontece lá; isso acontece cá.

Em relação à questão ambiental, os evangélicos conservadores nos EUA são defensores da preservação da natureza. Há artigos e livros de conservadores sobre o assunto (só para citar um dentre muitos exemplos: o livro "Poluição e a morte do homem", de Francis Schaeffer, publicado nos EUA em 1970). Os conservadores evangélicos norte-americanos só se dividem em relação ao tema “aquecimento global”. Por quê? Justamente por causa das denúncias e fortes argumentos apresentados pelos chamados cientistas "céticos", que discordam dos cientistas que pregam que o aquecimento global atual é irreversível. Perceba: ninguém nega que está acontecendo um aquecimento global. O que alguns questionam é se esse aquecimento não será igual a tantos outros que a Terra já experimentou durante séculos e que foram tão intensos quanto este. Alguns acham, seguindo a onda apocalíptica da imprensa internacional, que é irreversível mesmo, mas outros não. E pelo que tenho lido dos evangélicos conservadores dos EUA, posso te dizer que a maior parte deles está sensibilizada pelos apelos dos que defendem que o atual aquecimento global é irreversível e, por isso, é favorável a uma ênfase maior nas questões ambientais. Inclusive, a maioria dos evangélicos conservadores dos EUA associa a atual situação climática do mundo aos vaticínios bíblicos quanto ao final dos tempos. Ela crê que está havendo uma mudança preocupante mesmo, que isso tem a ver com a irresponsabilidade do homem e com o final dos tempos, e que cada um deve fazer a sua parte como mordomos que somos desta Terra que o Senhor nos deu para habitar e cuidar.

Os evangélicos conservadores dos EUA ou em qualquer parte do mundo são contrários, sim, aos exageros, a essa relação quase mística que alguns evangélicos liberais estão tendo com a natureza. Sob o pretexto sadio de se envolverem mais com as questões ambientais, alguns acabaram se deixando levar sutilmente pelos modismos esotéricos embutidos nessa onda “verde” que acomete o mundo. Sua religiosidade passou a ser quase panteística. Quem sabe numa postagem futura falo mais sobre o assunto?

Abraço!

Anônimo disse...

BOA TARDE SILAS TÁ HORA DE POSTAR ALGO A MAIS NÃO ACHA!
OLHA UM DETALHE FALE UM POUCO SOBRE A QUESTÃO
DE VARIOS CAMPOS DA ASSEMBLÉIA DE DEUS FILIADAS A CONVEÇÃO DE ESTADOS COMO A COMADESP
QUE ESTÁ PERDENDO O RUMO. LIDER VENDENDO MINISTERIO COM MEMBRO E TUDO.
NÃO ENTENDO ISTO PORQUE NÃO TRATA DESTE TERMO E ASSUNTO AQUI NO BLOG

FABIO

ABRAÇOS FABIO

Silas Daniel disse...

Caro Fábio,

Antes de tudo, por favor, não me interprete mal, mas acho deselegante demais um texto escrito todo em caixa alta. Parece que a pessoa está gritando para ser ouvida. Se a pessoa tem algo a dizer, não precisa fazê-lo todo em caixa alta. E se o faz, a impressão que dá é que a pessoa quer apenas "fazer barulho".

Bem, adiante.

Não pude ainda postar o novo artigo porque não consegui encontrar tempo para perorar o texto, que está quase pronto, e precisando também de uns pequenos retoques. Estive envolvido nestes últimos dias com muitos compromissos: o fechamento da próxima edição da revista “Obreiro”, da qual sou editor interinamente, e, imediatamente após este, o fechamento da edição de setembro do jornal “Mensageiro da Paz”, que estamos fechando esta semana ainda; bem como estive viajando para ministrar em eventos em Vitória (ES), Brasília (DF), Boa Vista (RR), Maranhão, Rio de Janeiro etc, e amanhã já estou viajando de novo, à tarde, para outro evento no Espírito Santo. Portanto, peço a sua compreensão e a dos demais leitores. De domingo não passa.

Quanto aos supostos casos de "venda de igreja" em São Paulo envolvendo igrejas filiadas à Comadespe, logo que li sua declaração, fiquei espantado e, por curiosidade e prudência, resolvi informar-me a respeito, e a notícia que recebi é que a informação não procede. “Vários ministérios ligados à Comadespe 'vendendo igrejas com membro e tudo'?!? Não procede”, disseram-me enfaticamente colegas de SP. Seja como for, se estivesse acontecendo isso mesmo, seria uma atitude absolutamente reprovável, repugnante. Ademais, aproveito para voltar a frisar aqui o que já disse em comentários em outras postagens deste blog: o "Verba Volant Scripta Manent" não discute acertos, erros ou problemas internos de direção de igrejas ou convenções, nada de política eclesiástica. Este blog é de reflexão teológica.

Reprovamos qualquer atitude não-cristã, não-bíblica, seja ela na área teológica ou na área de política e governo eclesiásticos, somente destacamos que esta última área não é o que discutimos aqui. A única vez em que toquei em um assunto de política eclesiástica, no caso uma cisão de ministério, foi numa das primeiras postagens deste blog, e apenas porque o fato envolvia questões teológicas. E na ocasião fiz questão de frisar que o foco seria apenas sobre as questões teológicas envolvidas, nada mais. Nada contra amigos que dão espaço para discussão sobre política e querelas eclesiásticas de suas denominações ou de outras em seus blogs, mas esta não é e nunca foi a proposta deste blog. Repito: este é um blog de reflexão teológica. Apenas isso.

Victor Leonardo Barbosa disse...

Olá pastor Silas, a Paz do Senhor!
Muito importante este artigo sobre o filósofo alemão. É triste vermos alguém com uma mente que poderia ser usada para a Glória de Deus, se distanciar tanto do caminho da verdade.

Não é somente lamentável pastores utilizarem Nietzsche em suas reflexões, é algo totalmente absurdo e destituído de respaldo reacional e de bom senso.

Abraços e Paz do Senhor!

Anônimo disse...

Caro jornalista e pastor

O ser humano é puro paradoxo. O Apóstolo Paulo resumiu muito bem o que é o homem,naqueles que eu considero dois dos mais belos e significativos versículos do N. Testamento( Romanos 7: 15 e 7: 24)
Ora, se nesse poço profundo que é o meu "eu", só consigo enxergar o que está na superfície, como vou então me arvorar julgar se o outro é "salvo" ou não?. Se está certo ou não, pelo que deixou escrito? Quem ver cara(palavras), não ver coração - diz o sábio ditado popular.
Discutimos muito sobre o discurso do outro, mas há uma "fala" oculta em nós que nada tem a ver com o "discurso"
Espero que não se chegue a queimar as obras de Nietzsche. O que devemos fazer é retirar as espinhas, para depois saborearmos o seu PEIXE. Que fique sempre em nossa lembrança o criminoso incêndio da maravilhosa biblioteca de Alexandria ( no tempo da igreja primitiva), provocado pelos LEGALISTAS do poder DISCIPLINADOR,os quais (como hoje ainda), proibiam que a palavra de Deus fosse objeto de estudo; só a admitiam como "revelação"


OBS: Gostaria que fizesse uma visita ao meu blog: www.levibronze.blogspot.com Entre outros textos de cunho bíblico, leia o mais recente: "O DEUS-OBJETO da RELIGIÃO"

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Graça e Paz,

Levi Bronzeado dos Santos

Silas Daniel disse...

Caros,

Como mais uma prova da falibilidade dos projetos humanos, como frisa o apóstolo Tiago, acabei não podendo cumprir minha promessa de postar o artigo seguinte no domingo 17 de agosto. O atraso foi totalmente involuntário. Cheguei de viagem em casa no final da tarde de domingo. Cansado da maratona, acabei deixando para perorar o texto na segunda-feira, mas, no final das contas, devido aos muitos compromissos nesse dia, só foi possível fazê-lo mesmo na terça. Peço desculpas por ter criado a expectativa. Obrigado pela compreensão.

Abraços!

Silas Daniel disse...

Caro Victor,

Citar Nietzsche não é o problema (se bem que, como já disse, é difícil encontrar algo realmente aproveitável em seus escritos da fase de revolta). O problema mesmo é distorcer o que Nietzsche diz, e ainda mais com o objetivo de soar legal para a "entourage" intelectual da pós-modernidade. Sei que é isso que você quis dizer. Só clarifico com o propósito de aproveitar esta oportunidade para melhor frisar esse ponto.

Abraço!

Silas Daniel disse...

Caro Levi,

Infelizmente, você está vendo duendes em jardim. Em nenhum momento afirmei que Nietzsche está no Inferno! Onde você leu isso? Não sei se ele se arrependeu ou não de seus pecados antes de falecer. Só Deus sabe. E o que é isso que você diz a seguir? – “Espero que não se chegue a queimar as obras de Nietzsche” (!?!?). Por acaso alguém aqui sugeriu que fossem queimadas as obras de Nietzsche? Onde foi que eu sugeri um index do que se deve ler ou não? Eu mesmo tenho muitos livros dele em casa!

Não estou dizendo que ninguém deve ler Nietzsche, mas apenas que os seus livros da fase de revolta só servem mesmo para entendermos a mentalidade de nossa época, influenciada pelos seus escritos, não acrescentando nada mais a nós. Isso é bem diferente de sugerir que seus livros nunca devam ser lidos. Uma coisa é proibir livros, outra é dizer que um livro é bom ou cheio de erros grosseiros. São coisas totalmente diferentes.

Além disso, que história é essa de que não podemos dizer que alguém está certo ou errado no que escreveu? Não posso dizer que alguém está certo ou errado no que deixou escrito? Você nos propõe a acriticidade? A Bíblia, diferentemente, nos diz que é um dever analisarmos honestamente tudo aquilo que lemos ou ouvimos (1Ts 5.21; 1Jo 4.1).

Quer dizer que se Nietzsche escreve que a Bíblia é um lixo, que Jesus não é Deus, que o Jesus da Bíblia é uma farsa e um “canalha indecente”, não devo julgar suas afirmações, não devo dizer se são certas ou erradas? Ademais, é um desrespeito tremendo a Nietzsche dizer que ele não queria dizer o que escreveu e sem rodeios ou tergiversações. Isso é extremamente desonesto!

E você ainda argumenta que “quem ver cara (palavras) não ver coração” (permita-me corrigir a grafia: “Quem vê cara não vê coração”), não percebendo o quanto esse ditado não tem nada a ver com o que está sendo tratado aqui. Você, consciente ou inconscientemente, distorce o sentido desse ditado popular para encaixá-lo em sua defesa. O que esse ditado nos diz, quando aplicado às palavras, é que alguém pode estar mentindo quando afirma defender uma determinada coisa, e não que não dá para analisar se o que a pessoa está defendendo é certo ou errado. Não estou julgando se Nietzsche mentia quanto à sinceridade de suas afirmações; estou julgando se as afirmações dele são corretas ou erradas. Não analiso corações; analiso o que escrevem e dizem, e isso é mais do que saudável: é o que a Bíblia me manda fazer. E para ser honesto na análise, não distorço o que Nietzsche disse. Aceito o que ele disse do jeito que ele disse. Estou julgando suas afirmações e atos segundo a reta justiça, algo que Jesus nos mandou fazer (Jo 7.24).

Sobre o seu texto “O deus-objeto da religião”, não se ofenda, mas ele contém várias falhas. Por exemplo: não podemos delimitar Deus, mas podemos crer no que a Sua Palavra diz sobre Ele. O que é dito sobre Ele que vai de encontro à Sua Palavra, rechaçamos; o que vai ao encontro, abraçamos. Simples assim. O próprio Jesus fez referência à Bíblia dezenas de vezes como padrão sobre Deus, o Messias e Sua obra, e a vida espiritual. Outra coisa: Deus é um Deus pessoal, mas isso não significa que Ele é exclusivista. O problema é que nem todos os homens querem segui-lO conforme a Sua Palavra. Enfim, poderia listar aqui mais alguns equívocos, porém esse texto já está enorme (quase um artigo). Fica para uma próxima, se Deus permitir.

Abraço!

Levi B. Santos disse...

Caro Pastor e amigo debatedor

Paul Valèry certa vez afirmou que a palavra é metade de quem fala e metade de quem a ouve. Por isso, tirando os arroubos emocionais, acho salutar o nosso diálogo. Voltando ao "louco" filósofo.
Quem poderá afirmar com absoluta certeza que Nietzsche blafesfemou contra Deus, ao escrever que "Ele estava morto". Será que o que esse filósofo queria dizer, não era que o Deus que se pregava na sua época estava morto? Jesus falou o mesmo com outras palavras ao se dirigir aos legalistas: "Vós tendes por Pai o Diabo".
Olha, na linguística, esse negócio de conceituar é tremendoooo. Veja só esses dois exemplos:
Está lá registrado na literatura cristã: "Freud é 100% ateu". Veja o trecho de uma carta que foi enviada a Freud (já muito doente)pelo seu amigo do peito, o pastor Oskar Pfister, que frequentava todas as reuniôes das quarta-feiras no círculo de psicanálise daquela época em Viena: "...E não está longe do reino de Deus, quem, pela criação da psicanálise, elaborou o instrumento pelo qual são serradas as cadeias das almas sofredoras e são abertas as portas dos cárceres. Desse modo podem correr à terra ensolarada de uma fé vivificante. Jesus conta uma bela parábola de dois filhos[...]. Você sabe com quanta alegria o fundador da religião cristã prefere o último".
Outro que foi combatido e massacrado como um dos piores ateus: "Espinosa". Vejamos o que ele escreveu no seu interessantíssimo livro - "Tratado Teológico-Político":
"...Porque as coisas, infelizmente, chegaram a um ponto em que até homens que confessam abertamente não ter a mínima ideia de Deus, nem o conhecer senão pelas coisas criadas (das quais ignoram as causas), não se envergonham de acusar de ateísmo os filósofos" -( página 32 da edição 2003 pela Martins Fontes).
Quero encerrar por hora o nosso diálogo com uma frase do, senão me engano, nosso irmão em Cristo Pascal: "O coração tem razões,que a nossa própria razão desconhece."

Cordialmente,
Levi

Silas Daniel disse...

Caro Levi,

Você chama de “arroubos emocionais” o que eu disse? Se estou procurando ser o mais racional possível e apegado aos fatos e registros, em vez de ficar “viajando” no campo das suposições como você faz, estou cometendo “arroubos emocionais”? O que afirmo com provas são “arroubos emocionais”? Nem se você quisesse usar esse termo apenas para se referir a algum tom supostamente forte, imprimido por mim em minha resposta, o uso desse termo se justificaria, já que, diante daquela colocação que você fez em sua primeira intervenção, minha resposta ainda foi “soft”. Digo que o livro é ruim e você já sugere que falta pouco para eu mandar queimarem os livros de Nieztsche? E ainda sou eu que cometo “arroubos emocionais”!

Veja outro exemplo agora, nessa sua última intervenção: você fala o tempo todo como se eu estivesse inventando ou supondo que Nietzsche era ateu e antiteísta. Ora, quem afirmou com todas as letras que era ateu foi o próprio Nietzsche, além de seus escritos serem uma pregação contínua de ateísmo e antiteísmo. Então, como estou “rotulando” Nietzsche, se estou apenas afirmando o que o próprio prussiano dizia sobre si mesmo e que não foi, em nenhum momento, contraditado em sua vida e escritos?

Ora, Levi, se você quer tentar justificar seu argumento de que Nietzsche não teria sido ateu, você deveria me mostrar algo que prove que Nietzsche não o era. Mas, em vez disso, apresenta-me textos de cartas de Freud. Ou seja, você quer incrivelmente provar que Nietzsche não era ateu via experiência de Freud.

O que os aparentes momentos de agnosticismo de Freud têm a ver com o ateísmo de Nietzsche? Onde Nietzsche demonstrou ser um agnóstico? Além de o prussiano ter sido muito mais contundente que Freud em seu ateísmo, ele não deixou nenhum escrito da sua fase de revolta que pudesse nos levar a imaginar que chegou a ter uma oscilação para o agnosticismo. Na ânsia de vender Nietzsche diferentemente do que era, de eufemizar ou dar novos e palatáveis significados ao que ele disse (ainda que seus textos não o permitem), simplesmente você ignora tudo isso. Simplesmente, despreza o fato de que, para se fazer analogias, é preciso haver pontos de similaridade, casos semelhantes. Onde estão as cartas ou algum outro texto do Nietzsche da fase de revolta que mostram que os casos eram os mesmos? Quer dizer que se algum ateu demonstrou ser em alguns momentos um agnóstico, logo todos os ateus são agnósticos? Fico imaginando você argumentando com um ateu: “Nietzsche e Freud eram ateus. Freud respondeu às cartas de um pastor reformado que queria convertê-lo demonstrando deferência em relação ao cristianismo, o que pode assinalar que ele teve momentos de agnosticismo. Logo, Nietzsche era um agnóstico também”. “Brilhante”! Mas talvez não tão “brilhante” quanto à sua expressão “100% ateu”. O que seria alguém ser “99% ateu”? Ou se é ateu ou agnóstico ou crente (teísta, deísta, panteísta, animista etc). Não existe alguém “97,84% ateu”.

Ademais, não há erro em afirmar que Freud era ateu. O que pode-se dizer, sem problemas, é que ele, em seu ateísmo, teve momentos em que aparentemente oscilou entre o agnosticismo e o ateísmo. Voltou a frisar: aparentemente. Sim, porque as cartas entre Freud e o pastor reformado Pfister foram escritas para convencer o famoso psicanalista a crer em Deus, e essa troca de cartas, até onde se sabe, não resultou na conversão de Freud nem pelo menos na sua transformação em um agnóstico. O resultado foi apenas um bom debate. Em nenhum momento Freud afirmou em cartas ao pastor Pfister que abandonara o seu ateísmo. Onde ele escreveu abdicando de seu ateísmo? Citar expressões de deferência ao cristianismo nas cartas amigáveis de Freud a Pfister como prova de que aquele não era ateu é forçar a barra. Conheço o livro “Cartas entre Freud e Pfister”, da Ultimato, e li o artigo do jornalista Mark Edmundson sobre as cartas de Freud, que saiu no caderno dominical do jornal “The New York Times” de 9 de setembro de 2007. Inclusive, fiz referência ao texto de Edmundson em texto publicado no jornal “Mensageiro da Paz”, do qual sou editor, em edição do final do ano passado. Acho o conteúdo das cartas muito bom e interessante, com um debate recheado de bons momentos, mas daí a concluir que Freud cria em Deus é forçar a barra. Além de as cartas não nos darem sustentação para afirmar isso, pouco antes de morrer, em carta dirigida ao historiador Charles Singer, Freud fez questão de enfatizar: “Jamais escondi o fato de que sou descrente de cabo a rabo”. E ainda se referiu a ele mesmo enfaticamente como “ateu”, “materialista”, “médico sem deus”, “descrente” e “infiel”.

Freud foi um ateu que, aparentemente, teve momentos de agnosticismo: é o máximo que podemos depreender de suas cartas a Pfister. Já Nietzsche era um ateu (como ele mesmo afirma com todas as letras em sua obra “Ecce Homo”) cujo fato nunca foi questionado pelos próximos a ele ou por qualquer escrito seu, seja carta, seja livro. Porém, apesar dos fatos, alguns, como o irmão, preferem fantasiar um Nietzsche não-ateu, não-antiteísta, tentando incrivelmente criar um paralelo entre Nietzsche e as aparentes oscilações agnósticas de Freud, quando estas não tiveram nenhum paralelo com o que ficou registrado sobre o Nietzsche da fase de revolta, e ainda chegam a dar novos significados a coisas que Nietzsche disse e para as quais não permitiu qualquer outra interpretação.

Ao ler Nietzsche, o significado de suas palavras é claro. Quando ele, em sua obra “A Gaia Ciência” (1882) e, posteriormente, em “Assim falava Zaratrusta” (1883), afirma “Deus está morto”, não é simplesmente uma referência à morte do conceito de Deus de sua época, como se o prussiano estivesse aberto a aceitar outra idéia de um Ser sobrenatural. Para começar, Nietzsche afirmava não crer em sobrenatural algum, seja este Deus, deuses, os conceitos transcendentais do budismo ou do espiritismo, a crença na vida além-morte, na imortalidade da alma, na ressurreição etc. Ao dizer “Deus está morto”, Nietzsche está se referindo à morte do metafísico, está aludindo à morte de todos os valores que têm na crença no sobrenatural (no caso do Ocidente cristianizado, Deus), a sua inspiração. Para ele, os valores passariam a ser redefinidos a partir da única realidade que Nietzsche reconhecia – a realidade material, este mundo – e, assim, como conseqüência, os homens se tornariam, eles mesmos, por assim dizer, deuses.

Quanto a Espinoza, ele cria em Deus apenas como uma energia impessoal imanente. Para ele, Deus era apenas um mecanismo imanente na natureza e no Universo. Pergunta-se: O que esse “Deus” tem a ver com o Deus da Bíblia? Nada! Aliás, Espinoza nem cria na Bíblia como sendo a Palavra de Deus, mas apenas como uma “obra metafórica-alegórica que não pede uma leitura racional e não exprime a verdade sobre Deus”.

Espinoza não era ateu, pois não era alguém que pregava “Deus não existe”. Ele era panteísta. Espinoza não cria em um Deus pessoal, muito menos no Deus da Bíblia, mas só num “Deus” que seria apenas uma força, uma energia, um mecanismo impessoal que está imanente na natureza.

E você me cita o Paul Valéry, aquele poeta francês do Simbolismo, que endeusava o subjetivismo? Aquele que dizia que o que importa mesmo é o ponto de vista de cada um e não uma “visão objetiva do acontecimento”? Aquele que afirmava descrer nos valores morais, sociais e religiosos? Aquele que odiava História por achar que toda ela foi distorcida? É como invocar um gremista roxo para opinar se foi pênalti ou não em favor do Grêmio em um jogo contra o Internacional.

Finalmente, quero concluir destacando que, mais uma vez, você distorce um ditado. Como no caso anterior do “Quem vê cara não vê coração”, o ditado de Pascal “O coração tem razões que a própria razão desconhece” não tem nada a ver com a aplicação que você está dando a ele. Esse ditado diz respeito a atos e afirmações ilógicos que uma pessoa apaixonada comete porque a sua paixão a cega para que ignore os apelos da razão. O que isso tem a ver com o assunto? Qual o "link" entre uma coisa e outra?

Pensando bem, talvez tudo a ver. Pode explicar que a distorção que o irmão faz dos textos de Nietzsche talvez não seja um caso isolado. Se você consegue confundir o significado de ditados, o que dizer de outros textos?

Desculpe se fui forte, mas, como já disse, fazer o quê? Diante da insistência em certas colocações forçadas, é preciso às vezes ser contundente. Mas saiba que, apesar de nossa profunda discordância, percebo (depois de breve visita ao seu blog) que o irmão defende, em muitos pontos, os mesmos valores que eu (temos divergências, mas também há pontos de similaridade e convergência). Só às vezes vê esses valores em lugares onde não estão.

Abraço!