O texto que analisamos a seguir foi preparado anos atrás pelo pastor e teólogo Gregory Boyd, defensor do Teísmo Aberto, por ocasião de uma Conferência Geral Batista nos EUA, quando foi questionado sobre seus ensinos. Naquela oportunidade, apesar da pressão dos batistas para que fosse excluído de sua denominação (exatamente por causa do TA), ele conseguiu permanecer nela. Mas viu a membresia da igreja a qual dirigia diminuir quase 25% depois de denunciadas suas heresias. Veja as respostas dele às objeções que lhe foram feitas naquela conferência e nossa análise sobre cada uma das respostas de Boyd (sua defesa foi traduzida por Paulo César Antunes e pode ser encontrada também no site www.arminianismo.com).
Objeção 1: A visão aberta mina a onisciência de Deus
Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus absolutamente conhece todas as coisas. Não há nenhuma diferença em meu entendimento da onisciência de Deus e do de qualquer outro teólogo ortodoxo, mas eu defendo que parte da realidade que Deus perfeitamente conhece consiste de possibilidades assim como de realidades. A diferença está em nosso entendimento da natureza do futuro, não em nosso entendimento da onisciência de Deus.
Análise: Boyd afirma que Deus conhece absolutamente todas as coisas. Porém, o que diz a seguir contradiz absolutamente sua primeira afirmação. A partir do momento que ele afirma que o futuro que Deus conhece consiste não só de realidades, mas também de possibilidades, ele está dizendo que Deus não sabe de tudo.
Diz Boyd que há coisas no futuro que para Deus são apenas possibilidades, o que significa que Deus não saberia exatamente onde essas determinadas coisas vão dar. Ele as descobriria aos poucos (o que o TA chama, numa tentativa tresloucada de tentar mostrar que ainda crêem na onisciência divina, de “onisciência em movimento”; tal “onisciência” está em contraposição à verdadeira onisciência, que o TA chama de “estática”). Para Boyd, Deus teria que esperar para ver o que realmente vai acontecer em alguns casos específicos. Porém, não é isso que a Bíblia ensina (e mais à frente vamos citar textos que mostram claramente isso). Antes, porém, detenhamo-nos um pouco mais na fragilidade dessa afirmação de Boyd.
Ao dizer que o problema não é a definição de onisciência, mas a definição de futuro, Boyd tenta camuflar sua descrença na onisciência de Deus. O problema mesmo dele é com a onisciência, mas, infelizmente, ele não é honesto para afirmar isso. Desonestamente, joga com as palavras para confundir os desatentos.
É simples: quando digo que para Deus o futuro está cheio de possibilidades (como acontece com o homem), já estou partindo do princípio de que Deus não é onisciente. Não posso mexer numa coisa sem deixar de afetar a outra. Na verdade, o que Boyd está dizendo é o seguinte absurdo: “Não estou dizendo que Deus não sabe de tudo; estou dizendo que nem todo o futuro é conhecido por Ele”. Ora, Boyd, se você está dizendo que todo o futuro não é conhecido por Deus, logo está dizendo que Deus não é onisciente!
Em alguns momentos, em seus livros e artigos, Boyd repete que acredita que Deus é onisciente e, ao mesmo tempo, diz que não acredita que “essa onisciência seja plena ou exaustiva”. Ora, o termo onisciente significa “aquele que sabe de tudo”. O prefixo “oni” determina plenitude e exaustão nesse conhecimento. Logo, dizer que alguém “não é plenamente onisciente” ou “não é exaustivamente onisciente” é dizer que esse alguém não é onisciente, porque se não é pleno, se não é exaustivo, não é “oni”. Então, é ilógico dizer “creio na onisciência divina” e ao mesmo tempo “não creio que essa onisciência seja exaustiva”. O pior de tudo é saber que há pessoas inteligentes que conseguem ler uma declaração absurda dessas sem notar o erro de lógica crasso que reside nela.
Bem, mas vamos aos textos bíblicos. Isaías 46.10 e Salmos 139.1-18 (especialmente os versículos 2 a 4) são os textos mais conhecidos dentre os que afirmam claramente a onisciência de Deus (o conhecimento exaustivo de Deus em relação a todas as coisas passadas, presentes e futuras), mas gostaria de destacar ainda Hebreus 4.13 e Salmos 31.15 e 147.5. O primeiro texto diz: “E não há criatura alguma encoberta diante dEle; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”. Detalhe: o vocábulo usado no original grego nesta passagem e traduzido por “patentes” é o mesmo utilizado para descrever um lutador imobilizado pelo seu oponente. Ou seja, o termo traz a idéia também de submissão total. Logo, o que o escritor da Epístola aos Hebreus quis dizer mais profundamente é que todas as coisas e acontecimentos (futuros, passados e presentes) não são apenas totalmente conhecidos por Deus, mas também totalmente submissos a Ele. E isso é confirmado no segundo texto: “Os meus tempos [passado, presente e futuro] estão nas Tuas mãos” (Sl 31.15).
Portanto, os acontecimentos passados, presentes e futuros estão todos sob o controle divino; Ele os conhece e é Ele quem permitiu que os acontecimentos passados se tornassem realidade e permite que os acontecimentos presentes e futuros se tornem realidade. Logo, não há acontecimentos futuros que sejam hoje só possibilidades para Deus, mas todos os acontecimentos futuros são realidades já conhecidas por Ele, pois é Ele que os permite (dentro de Sua vontade absoluta ou permissiva).
Finalmente, o terceiro texto diz: “Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu conhecimento é INFINITO” (Sl 147.5). Ora, o futuro para nós é apenas um conjunto de possibilidades com só algumas certezas que temos por fé em Deus e na Sua Palavra. Mas para Deus, não. O Seu conhecimento é infinito!
O Senhor não manipula nossas decisões, mas Ele já sabe o que nós, pelo nosso livre arbítrio, decidiremos a seguir e administra nossas decisões livres conforme Sua vontade absoluta e Sua vontade permissiva. Ou seja, à luz da Bíblia, para Deus, o futuro já é todo realidade, não meio-realidade e meio-possibilidade.
Objeção 2: A visão aberta mina a onipotência de Deus
Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus é onipotente. Ele é o Criador de todas as coisas e por isso todo poder deriva dele. Como todos os arminianos, eu também defendo que Deus limita o exercício de seu próprio poder para conceder livre-arbítrio àqueles que ele criou à sua própria imagem.
Análise: Em primeiro lugar, Deus não é todo-poderoso simplesmente porque todo poder deriva dEle. Pela lógica que Boyd sugere, Deus não seria na verdade todo-poderoso ao pé da letra; Ele seria apenas a fonte dos poderes que existem. Dizer que Deus é “todo-poderoso” para Boyd significaria apenas isso. Porém, a Bíblia diz que Deus é todo-poderoso porque (1) tudo está sob o controle divino e (2) ninguém pode impedir Deus quando Ele deseja operar. Ninguém! É só ler Gênesis 17.1; Jó 42.2; Lucas 1.37; Isaías 43.13; 2Crônicas 20.6 e Daniel 4.35.
Em segundo lugar: Quem disse que o arminianismo afirma que o fato de Deus criar os seres humanos com livre arbítrio significa necessariamente que Deus limitou a Sua onipotência? É o velho hábito dos teístas abertos de tentarem camuflar seus erros colocando-os desonestamente na conta do arminianismo.
Para os arminianos, Deus é mesmo onipotente, Ele tem mesmo todo o poder. Deus não limita o Seu poder por causa do livre arbítrio humano. Se fosse o livre arbítrio que salvasse, alguém poderia dizer que Boyd está certo, mas quem salva é Deus. O homem não é salvo pelo seu livre arbítrio. Este apenas possibilita-o escolher ou não a salvação que só Deus poderá efetuar em sua vida (Mt 19.25,26). E se o homem não escolhe a salvação do Onipotente, ele se perde eternamente. A vontade de Deus, em nenhum momento, se submete ao livre arbítrio humano. Nem na oração isso acontece (1Jo 5.14). O ser humano, em seu livre arbítrio, é que deve escolher a vontade divina, se não, ao final, sofrerá as conseqüências de sua decisão e nada que o homem venha a fazer posteriormente poderá reverter isso. Será sofrimento eterno. Portanto, é errado ver o livre arbítrio como uma limitação da onipotência divina, posto que o homem, dentro do seu livre arbítrio, não pode mudar Deus e, se for contra Deus, sofrerá por isso.
Objeção 3: A visão aberta mina nossa confiança na capacidade de Deus para cumprir seus propósitos
Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus pode e garantiu tudo que quis sobre o futuro, visto ser ele onipotente. Eu também afirmo (porque a Escritura também ensina) que Deus nos criou com a capacidade para amar, e por isso nos capacitou a tomar decisões de algumas questões por nós mesmos. Dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Criador, parâmetros que garantem tudo que Deus quer garantir sobre o futuro, os humanos têm algum grau de auto-determinação. Isso significa que em relação ao destino dos indivíduos particulares as coisas podem não se mostrar como Deus deseja. Se negarmos isto, devemos aceitar que Deus na verdade deseja que algumas pessoas vão para o inferno. A Escritura nega isso (1Tm 2.4; 2Pe 3.9).
Análise: Aqui há uma meia verdade. Há a vontade absoluta de Deus e a vontade permissiva de Deus, e dentro desta última o ser humano pode tomar decisões particulares. Aí tudo bem. Os problemas estão apenas em dois pontos.
Primeiro, no fato de que a concepção de Deus do Teísmo Aberto – que apresenta Deus como não sendo onipotente (não tem todo o poder) nem onisciente (não sabe de tudo) – afeta mesmo a garantia de que Deus cumprirá tudo que diz. E o argumento que Boyd usa para dizer que isso não é verdade simplesmente não tem nada a ver com o assunto. A capacidade que Deus dá aos homens de tomarem decisões particulares não significa limitação no poder de Deus. Isso porque essas decisões particulares, fruto do livre arbítrio, não são realizadas fora da vontade de Deus, mesmo aquelas decisões que ofendem a santidade divina. Elas são realizadas dentro da vontade permissiva de Deus. Logo, Deus está no controle, Ele administra essas ações. Ele não as provocou (no caso das decisões pecaminosas), não as incentivou, não se agrada delas, mas Ele soberanamente as administra. Essas ações livres do homem não limitaram Seu poder porque estão todas elas sujeitas ao Seu poder e cada uma delas terá sua recompensa segundo o Seu poder.
Por sua vez, o segundo problema está na confusão que Boyd faz entre o desejo de Deus que todos se salvem e a onipotência divina.
O fato de o ser humano ter o livre arbítrio para rejeitar a salvação oferecida por Deus não significa que Deus, portanto, não teve o poder para salvar o ser humano (logo, Ele não seria onipotente ou, como dizem os teístas abertos, cometendo um erro de lógica, “não seria plenamente onipotente” [ora, se não é pleno já não é “oni”]). Deus pôde e pode salvar, o ser humano é que muitas vezes não quer a salvação divina e sofrerá por isso. A onipotência divina não é afetada (ou “limitada”, como dizem os teístas abertos) pelo livre arbítrio quando o ser humano recusa Deus. Ao pensar o contrário, os adeptos do Teísmo Aberto, que se dizem tão arminianos, estão usando, na verdade, uma lógica calvinista.
Muitos calvinistas argumentam exatamente assim: “Se o ser humano pode resistir, logo você está dizendo que Deus não tem o poder de salvar”. Porém, na verdade, porque o livre arbítrio permite ao homem recusar a salvação, isso não significa que o livre arbítrio implica na limitação do poder de Deus. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas o que os teístas abertos dizem é o mesmo que muitos calvinistas afirmam: que tem a ver sim. Sendo que, no caso dos calvinistas, ao criarem esse problema claramente desnecessário, eles o eliminam dizendo que o livre arbítrio simplesmente não existe, que o livre arbítrio é um “escravo”, e que o que existe mesmo é apenas uma “livre agência” que Deus deu ao homem. Já os teístas abertos resolvem o “problema” criando um verdadeiro PROBLEMA, diminuindo os atributos de Deus, diminuindo Deus, chocando-se frontalmente com a doutrina bíblica; enfim, fazendo com que Deus deixe de ser Deus.
Objeção 4: A visão aberta mina a perfeição de Deus
Eu afirmo (porque a Escritura ensina) a absoluta perfeição de Deus. Eu não vejo, entretanto, que a Escritura ensina que o futuro deve ser predeterminado, ou na mente de Deus ou em sua vontade, para Deus ser perfeito. Antes, creio que a perfeição de Deus é mais exaltada quando o entendemos ser tão transcendente em seu poder a ponto de genuinamente conceder livre-arbítrio aos agentes moralmente responsáveis.
Análise: Ora, esse é outro dos tremendos assaltos à lógica que o Teísmo Aberto pratica. O que faz Deus ser Deus, perfeito, são justamente seus atributos, que são únicos e O distinguem de todos os outros seres. Se Deus não é mais onipotente e onisciente, logo Ele não é mais perfeito. Além disso, outra vez Boyd, desonestamente, tenta vincular o Teísmo Aberto ao genuíno arminianismo, ao dizer que Deus, ao conceder o livre arbítrio, estava automaticamente limitando Seu poder e limitando Seu conhecimento. Como já vimos, o livre arbítrio do homem não implica nem em uma coisa nem em outra.
Objeção 5: A visão aberta mina a força da oração
Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que a oração petitória é nossa mais poderosa ferramenta para realizar a vontade do Pai “na terra como no céu.” Realmente, pelo fato de minha concepção permitir que o futuro seja um tanto aberto, creio que faz mais sentido por causa da urgência e eficácia que a Escritura atribui à oração.
Análise: O nosso relacionamento com Deus não muda Deus, não altera-o conforme nossa vontade. Para o Teísmo Aberto, as ações e orações do homem afetam Deus no sentido de fazer com que a vontade dEle seja alterada. Mas não é isso que a Bíblia diz. A oração, em nenhum momento, altera a vontade de Deus. Ela é que nos leva à vontade de Deus, quando oramos com nosso coração aberto, humilde e sinceros diante do Senhor. A Bíblia diz que Deus só atende à oração que é feita segundo a Sua vontade (1Jo 5.14). A oração não muda a vontade de Deus.
O texto que Boyd usa em seu favor vai exatamente contra seu ensinamento. Jesus, na Oração do Pai Nosso, ensinou que devemos orar para que seja feita a vontade de Deus na Terra “assim como no Céu” (Mt 6.10). Ou seja, Ele estava ensinando que a oração não é para que seja feita no Céu a nossa vontade na Terra, mas para que seja feita na Terra a vontade do Céu, a vontade de Deus. Um exemplo: 2Crônicas 7.14. Nessa passagem, está claro que quando nós mudamos, aceitando a vontade de Deus para nossas vidas, Deus nos abençoa. Não é Deus que muda Seu comportamento em nosso favor, nós é que mudamos nosso comportamento em relação a Ele, nos convertemos a Ele, buscamos a Sua presença, e então Ele, que sempre quer nos abençoar, nos abençoa. Por isso costumo dizer que Deus está mais interessado em nos abençoar do que nós em sermos abençoados por Ele. A questão é nosso comportamento, não Deus.
Objeção 6: A visão aberta não pode explicar a profecia bíblica
Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus pode e determina e prevê o futuro sempre que for adequado aos seus soberanos propósitos agir assim. Mas eu nego que isto logicamente requer, ou que a Escritura ensina, que o futuro seja exaustivamente determinado. Deus é sábio o suficiente para ser capaz de cumprir seus propósitos enquanto concede às suas criaturas um grau significativo de liberdade.
Análise: Sobre a primeira parte dessa afirmação, a verdade é que o futuro pode não ser exaustivamente determinado, mas é exaustivamente conhecido por Deus, e todas as livres ações dos seres humanos que Deus permite pela Sua vontade são administradas por Ele para que não firam seus propósitos eternos.
Quanto à segunda parte da afirmação de Boyd, já falamos mais acima sobre a falácia do argumento que encontramos aqui. A liberdade de escolha do homem não tem nada a ver com limitação de poder ou de conhecimento de Deus.
Objeção 7: A visão aberta é incoerente
Alguns argumentam que é logicamente impossível para Deus garantir aspectos do futuro sem controlar tudo sobre o futuro. Esta objeção tem sido levantada pelos calvinistas contra os arminianos por séculos e não é mais poderosa contra a visão aberta do que contra os arminianos clássicos. Tudo na vida, da nossa experiência pessoal às partículas quânticas, aponta para a verdade de que o eqüilíbrio previsível não exclui um elemento de imprevisibilidade.
Análise: Já falamos sobre a falácia desse argumento também. Pelo menos aqui Boyd, de passagem, assume que o Teísmo Aberto não tem nada a ver com o verdadeiro arminianismo, cuja única coisa que tem a ver com essa história toda é ter o desgosto de ver que o TA surgiu em seu meio. O TA não é arminianismo. É distorção do verdadeiro arminianismo.
Só um detalhe: Deus controla tudo sobre o futuro? Sim. Tanto os calvinistas quanto os arminianos concordam com essa afirmação, sendo que a interpretam de forma diferente; já o Teísmo Aberto não concorda com essa afirmação. Mas, à luz da Bíblia, Deus administra as ações livres dos seres humanos.
Quanto a essa história de relacionar física quântica com a Bíblia, brevemente estarei escrevendo sobre esse assunto. Aguardem.
Objeção 8: A Escritura usada para apoiar a visão aberta pode ser interpretada como antropomorfismos fenomenológicos
Esta declara que estas passagens são uma maneira humana de falar sobre coisas que parecem ser não como elas verdadeiramente são. Entretanto, nada no contexto destas Escrituras, cobrindo uma variedade de públicos, autores e contextos, sugere que sejam. Não há nenhuma razão para ler nestas descrições das ações de Deus qualquer coisa diferente da que sua mais natural explicação. Como podem relatos sobre o que Deus estava imaginando ser fenomenológicos (Jr 3.6,7; Jr 19-20; Êx 33.17)? E do que eles seriam considerados como antropomórficos?
Análise: O “arrependimento” de Deus trata-se, sim, de uma linguagem antropomórfica para explicar a relação de Deus com o homem. Não significa dizer que Deus é como o homem. A própria Bíblia nega isso contundentemente (Nm 23.19). O antropomorfismo é um recurso lingüístico milenar que foi usado não só na Bíblia. Inclusive, nas Sagradas Escrituras encontramos muitos outros recursos lingüísticos antiqüíssimos. Desprezar esse fato é forçar uma contradição na Bíblia (compare 1Samuel 15.10,11 com 15.39, por exemplo). É claro o uso desse recurso nas Sagradas Escrituras. Não se trata de um critério usado ao bel prazer, só em algumas passagens, para atender ao gosto do intérprete da Bíblia (como dizem Boyd e outros). Não perceber esse recurso claro no texto bíblico não só é desonesto como força uma interpretação de Deus que choca-se frontalmente com todo o resto do que a Bíblia diz sobre Ele.
Arrependimento significa “mudança de atitude”. Ora, quando a Bíblia diz, em linguagem antropomórfica, que “Deus se arrependeu”, está afirmando, portanto, que Ele, por causa de nossa mudança de atitude diante dEle, mudou Sua ação sobre nós, não Sua vontade.
Deus não muda. Ele continua sendo o que sempre disse que era. Nós é que muitas vezes deixamos de ser ou fazer e, à medida que mudamos, Sua ação sobre nós também muda. Não Sua vontade. Deus está sempre no mesmo lugar, nós é que nem sempre estamos no mesmo lugar onde Ele está (Sua vontade). Ele não muda, nós é que mudamos e sofremos as conseqüências naturais disso. Suas ações mudam na medida em que nós saímos do lugar em que Deus sempre esteve e nunca vai sair (Ml 3.6). E os textos que Boyd cita não contradizem isso. No último texto bíblico citado, lembremos que todas as orações de Moisés que Deus atendeu foram dentro da Sua vontade, não contra a Sua vontade.
Objeção 9: A visão aberta diminui a soberania de Deus
Pelo contrário, ela exalta a soberania de Deus. Após descrever um iminente julgamento, o profeta Joel afirma, “Ainda assim, agora mesmo diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção...” (Jl 2.12-14).
Análise: Bem, já vimos que não exalta. Pelo contrário, diminui Deus. E o texto que Boyd cita não o ajuda. A interpretação desse texto é clara e pode ser feita facilmente à luz do que já explicamos principalmente nas análises às respostas dele às objeções 5 e 8.
Como vemos, os argumentos de Boyd são um exemplo clássico de como um discurso envernizado e com tom piedoso pode esconder terríveis erros doutrinários e de lógica que só enganam os mais desatentos. Sejamos como os bereanos (At 17.11).