Seria muito confortável para mim não emitir minha opinião sobre as eleições presidenciais usando o discurso deslocado de que "As pessoas votam em quem quiserem", mas (1) à luz dos fatos e dos valores que defendemos como cristãos; (2) por entender que os princípios da fé cristã não devem influenciar só determinados setores da minha vida, mas todas as esferas da minha vida, inclusive a minha abordagem sobre a política secular; (3) e diante de um assunto de suma importância que é a escolha de nosso principal representante para os próximos quatro anos, não poderia deixar de expressar o que a minha consciência cristã me aponta em relação às eleições em meu país: o candidato do PSDB é, sem sombra de dúvida, a melhor opção de voto que temos para presidente no dia 31 de outubro, tanto por ser infinitamente mais experiente e competente do que sua adversária quanto por ser o mais sensível aos valores que esposamos como cristãos.
Se no primeiro turno poderíamos dizer que, utilizando o princípio do mal menor, tínhamos pelo menos duas opções – votar em Marina Silva ou em José Serra –, agora, no segundo turno, restou apenas uma opção: José Serra.
Chega a ser lamentável ver até mesmo alguns cristãos, seduzidos pelo petismo, se prestando ao papel de tentarem a todo custo equiparar negativamente o candidato tucano com a candidata petista em questão de valores, quando as discrepâncias entre eles são claramente abissais. Muitos nem tentam mais salvar a imagem de sua amada chamando irresponsavelmente fatos de “boatos”, porque nem podem; o negócio agora é tentar descobrir ou redimensionar alguma falha do tucano na área de valores para, assim, tentar emplacar o seguinte argumento: “Lama por lama, prefiro a Dilma”. Ora, que Serra não é nenhuma “fina flor” do conservadorismo social todos nós sabemos há muito tempo! Ninguém pode negar isso. Agora, daí a dizer que ele equivale a Dilma no quesito valores é de uma inverdade colossal. Mesmo assim, desde que comecei a postar artigos aqui sobre as eleições criticando os posicionamentos históricos e o comportamento da candidata governista, alguns petistas (evangélicos e não evangélicos) têm tentado insistentemente postar comentários neste blog objetivando disseminar mentiras sobre o candidato tucano, muitas delas já respondidas nos espaços de comentários deste blog mais de uma vez, mais eles nem se cansam de repetir, como se este pastor blogueiro nunca tivesse falado sobre elas. Como o meu tempo é precioso, este blog não é palanque para disseminação de inverdades e respeito muito os meus leitores, não dou voz nem vez para esse tipo de coisa por aqui.
Dito isso, a seguir, vejamos o perfil dos dois candidatos e as razões pelas quais o senhor José Serra é infinitamente melhor do que a senhora Dilma Rousseff para presidir o Brasil.
1) José Serra é muito mais experiente. Dilma Rousseff, por exemplo, sequer já concorreu a um cargo legislativo ou executivo
Todas as funções de Dilma na vida política foram: assessora dos deputados do PDT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul nos anos 80; secretária de Fazenda da prefeitura de Porto Alegre no governo de Alceu Collares (1985 a 1988), abandonando meses antes a função para se dedicar à coordenação da campanha derrotada de Carlos Araújo (PDT) ao governo gaúcho; diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre em 1989, sendo demitida no mesmo ano pelo presidente da casa, o vereador Valdir Fraga, porque sempre chegava tarde ao trabalho; secretária de Energia, Minas e Comunicações nos dois últimos anos de mandato do governador Alceu Collares (de 1993 a 1994), em acordo fechado pelo PDT com o governador gaúcho; voltou a exercer a função de secretária de Minas e Energia de 1999 a 2002, a convite do governador eleito Olívio Dutra, do PT (nesse período, sai, então, do PDT para o PT); em 2003, Lula a chama para ser ministra de Minas e Energia; e, finalmente, no segundo semestre de 2005, assume a Casa Civil depois do escândalo do mensalão, que derrubou José Dirceu. Fica até o início de 2010, quando sai para se dedicar à sua campanha para a Presidência da República.
Por sua vez, José Serra foi secretário de Planejamento do Estado de São Paulo (1983-1986); deputado federal constituinte (1987-1991), sendo considerado o melhor deputado constituinte, por ter tido o maior percentual de emendas aprovadas (130 de 208), entre elas a que criava o Fundo de Amparo ao Trabalhador para financiar o seguro-desemprego, que passou a ser efetivamente pago após sua implementação; deputado federal por São Paulo (1991-1995); senador por São Paulo (1995-2002); ministro do Planejamento e Orçamento do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1996); ministro da Saúde (1998-2002), tendo sido responsável pela conquista internacional de não se aplicar as regras de patentes na produção e distribuição dos remédios genéricos, barateando os remédios essenciais para a população; prefeito de São Paulo (2005-2006); e governador de São Paulo (2007-2010).
2) José Serra tem um histórico que o abona muito mais do que o de Dilma Rousseff
Católico desde sempre, José Serra começou sua militância política no grupo Ação Popular (AP), mais conhecido como “esquerda cristã” e do qual foi um dos fundadores. O AP foi um movimento político nascido em junho de 1962 a partir de um congresso de jovens católicos em Belo Horizonte reunindo a Juventude Universitária Católica (JUC) e outras agremiações da chamada Ação Católica. Serra foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) com o apoio do AP. Eleito, apoiou o governo João Goulart. À época, Serra defendia o socialismo. Com a deposição de Jango, teve que fugir para não ser preso pelo Regime Militar, refugiando-se na embaixada boliviana, de onde foi à Bolívia e de lá, para a França.
Em 1965, voltou clandestinamente ao Brasil, mas, caçado pelo DOPS, teve que fugir logo para o Chile. Conta o próprio Serra que, no exílio, ao saber que o AP, já reorganizado, adotara a luta armada, rompeu ideologicamente com o grupo, sendo considerado pela turma da guerrilha “frouxo” por isso. Em seu exílio, passou pelo Chile, Panamá, Itália e Estados Unidos. Durante a época de exilado, renunciou os ideais socialistas, aderindo definitivamente à social-democracia contemporânea, mais conhecida hoje como “Terceira Via”, uma espécie de “esquerda light” que nega a luta de classes, rompe com qualquer proposta de substituir o sistema capitalista por outro (nem mesmo paulatinamente), porém ainda defendendo alguma intervenção do Estado tanto na economia como na vida das pessoas.
Agora, vejamos Dilma Rousseff: Durante o Regime Militar, ela foi guerrilheira dos grupos terroristas Política Operária (Polop), Colina e VAR-Palmares, sendo líder desses dois últimos. Esses grupos assaltaram bancos, roubaram carros, seqüestraram, promoveram atentados a bomba e sabotagens, além de terem matado dezenas de pessoas, tudo isso em nome do propósito de implantar a ditadura comunista no Brasil, e não com o propósito de trazer de volta a democracia ao país, como propalam hoje Dilma e boa parte de sua antiga turma para enganar ingênuos e ignorantes, posando diante destes como se fossem democratas desde criancinhas.
O Polop liderou uma sublevação de sargentos comunistas em Brasília em 12 de março de 1963, matando duas pessoas: o soldado Divino Dias dos Santos e o motorista de taxi Francisco Moraes. Nessa época, Dilma ainda não fazia parte do grupo. Ingressaria nele em 1966, tendo inclusive casado no ano seguinte (apenas no civil) com um de seus líderes, o guerrilheiro Cláudio Galeno Linhares, que participara do levante de março de 1963.
Em 1967, membros do Polop estavam querendo abandonar a ideia de guerrilha e o grupo se dividiu, com a facção que optou pelo terrorismo passando a se chamar Comando de Libertação Nacional (Colina). O novo grupo foi fundado oficialmente em julho de 1968 em Minas Gerais, sendo Dilma um de seus fundadores e líderes. O Colina tinha como seu objetivo expresso, conforme o texto do seu estatuto de fundação, derrubar a Ditadura Militar para instalar em seu lugar um regime totalitário de inspiração soviética.
O assassinato mais famoso promovido pelo Colina foi o do major do exército alemão Edward Ernest Tito Otto Maximilian von Westernhagen, em 1 de julho de 1968. Ele fazia o Curso de Estado Maior na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (RJ), e foi morto por engano ao ser confundido com um militar boliviano que também fazia o mesmo curso e que era acusado de ter morto Che Guevara. O executor foi João Lucas Alves, de quem Cláudio Galeano, marido de Dilma, diria, em entrevista recente à Revista Piauí: “O João Lucas ficava hospedado em nossa casa” (Veja mais aqui).
Ainda no mesmo ano de 1968, o grupo assaltou, em 28 de agosto, o Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, agência Pedro II, em Belo Horizonte; e em 4 de outubro, o Banco do Brasil, na cidade industrial de Contagem (MG). O Colina também promoveu, em 18 de outubro, dois atentados a bomba em Belo Horizonte, nas residências do delegado regional do Trabalho e do interventor dos Sindicatos dos Bancários e dos Metalúrgicos; assassinou, em 25 de outubro, no Rio de Janeiro, o civil Wenceslau Ramalho Leite, com quatro tiros de pistola Luger 9mm, quando o grupo roubava o seu carro; e assaltou, em 29 de outubro, o Banco Ultramarino, agência de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em 14 de janeiro de 1969, o Colina ainda assaltaria o Banco da Lavoura e o Banco Mercantil de Minas Gerais, ambos em Sabará (MG), levando ao todo 70 milhões de cruzeiros. Ao descobrirem o paradeiro dos assaltantes, a polícia foi até o local, mas foi recebida a tiros. Ninguém do Colina morreu ou foi ferido, mas o Colina matou o subinspetor da polícia Cecildes Moreira de Faria, que deixou viúva e 8 filhos menores; e o guarda-civil José Antunes Ferreira, além de ferir gravemente o investigador José Reis de Oliveira (Veja aqui).
Em abril de 1969, depois da prisão de vários membros dos grupos terroristas Colina e VPR (Vanguarda Popular Revolucionária, responsável até então por 13 assaltos a banco, além de assaltos a um hospital, a uma gráfica, a uma pedreira, a quartéis e a carros; 7 atentados a bomba, um mutilamento e 6 assassinatos, além de dezenas de feridos), alguns dos seus remanescentes resolveram fundir-se para criar um novo grupo: o VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Lideraram as reuniões de fusão os líderes do VPR (Carlos Lamarca, Antônio Espinosa, Chizuo Ozawa, Fernando Mesquita Sampaio e Cláudio de Souza Ribeiro) e do Colina (Carlos Franklin Paixão de Araújo [segundo marido de Dilma], Dilma Rousseff [que também usava os nomes falsos de Wanda e Estela], Maria do Carmo Brito, Carlos Alberto de Freitas e Hérbert Eustáquio de Carvalho).
Ao final do encontro, foi emitido um “Informe Conjunto” que falava de uma “perfeita identidade política das duas organizações” que deveria conduzi-las à fusão. Estima-se que o VAR-Palmares chegou a ter, em seu auge, mais de 2 mil militantes, entre grupos armados e apoiadores logísticos. O seu estatuto dizia: “A Vanguarda Armada Revolucionária Palmares é uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”.
Sobre o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros pelo VAR-Palmares, em que foram roubados 2,6 milhões de dólares (muito dinheiro mesmo para hoje), leia detalhes aqui, aqui e aqui. O VAR-Palmares cometeu ainda muitos outros crimes, desde assaltos a assassinatos. Por exemplo: Em 11 de julho de 1969, o taxista carioca Cidelino Palmares do Nascimento foi assassinado pelo VAR-Palmares no assalto ao Banco Aliança, na agência de Muda. Em 24 de julho do mesmo ano, o grupo assassinou o soldado da PM Aparecido dos Santos Oliveira, quando este tentava impedir o assalto ao Banco Bradesco, agência de Perdizes, em São Paulo (SP). Em 22 de setembro do mesmo ano, o grupo de Dilma ainda assassinaria o comerciante Kurt Kriegel em Porto Alegre (RS). Esses são só alguns dos assassinados pelos grupos a qual Dilma pertencia. A lista é maior.
Não está em discussão aqui se Dilma foi executora desses assassinatos. Dilma, particularmente, nega ter sido executora. O problema, porém, é que, como líder desses grupos, ela é, no mínimo, co-participante desses crimes.
Como sabemos, com o fim da guerrilha pela ação implacável da Ditadura Militar, veio depois o período de abertura paulatina, com a Lei de Anistia (que perdoou os crimes cometidos pelos dois lados – guerrilheiros e militares). Em seguida, as eleições indiretas e, depois, eleições diretas. Porém, até hoje, Dilma nunca declarou seu repúdio ao que fizera antes em nome da implantação de uma ditadura estilo Cuba no Brasil, diferentemente de outros ex-guerrilheiros (Veja aqui e aqui). Ao contrário, ela celebra a luta que travaram e ainda mente ao dizer que foi “pela democracia”, quando nunca foi.
Para que esse tópico não fique maior do que já está, citarei apenas dois de muitos ex-guerrilheiros que hoje repudiam seu passado de guerrilha e admitem que nenhuma guerrilha lutava pela volta da democracia durante o Regime Militar.
Afirma Daniel Aarão Reis, ex-guerrilheiro e hoje professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF): “As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre a guerra”.
Afirma também o ex-guerrilheiro e hoje político Fernando Gabeira: “Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na luta política costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra a ditadura militar, mas, se você examinar o programa político que nos movia naquele momento, [ele] era voltado para uma ditadura do proletariado. Então, você não pode voltar atrás, corrigir seu passado e dizer que estava lutando pela democracia. Havia muita gente lutando pela democracia no Brasil, mas não os grupos armados, que tinham como programa esse processo de chegar à ditadura do proletariado. A luta armada não estava visando à democracia”.
Portanto, como posso, como cristão, votar para ser presidente do meu país uma pessoa com um histórico desses, como a Dilma, e que, principalmente, nunca se arrependeu nem repudiou esses crimes terríveis dos quais participou, e (como se não bastasse tudo isso) ainda declara a mentira de que fez isso em nome da democracia, quando o fez pela derrubada de uma ditadura para implantar outra?
3) Serra sempre foi contra a legalização do aborto, enquanto Dilma sempre foi a favor, mudando o discurso de forma oportunista há apenas 15 dias do segundo turno
Historicamente, Serra sempre se posicionou contra a legalização do aborto no Brasil, posição que mantém até hoje. Em relação ao tema aborto, pesa contra ele apenas um episódio de 1998, quando congressistas pró-aborto pressionaram o então ministro da Saúde José Serra para que editasse uma Norma Técnica dispondo sobre a excepcionalidade da prática de abortos no Sistema Único de Saúde (SUS) do governo federal em casos de crianças de até 20 semanas (cinco meses) concebidas por meio de estupro. Como a legislação brasileira permite o aborto em casos de estupro (artigo 128 do Código Penal), Serra cedeu e editou a tal Norma, que fez com que o SUS praticasse pela primeira vez abortos.
É importante lembrar, porém, que Serra publicou a referida Norma Técnica estabelecendo que, para que o SUS aceitasse realizar abortos no caso de estupro, era preciso (1) cópia do Boletim de Ocorrência Policial comprovando o estupro e também (2) informar à mulher – ou a seu representante legal – de que ela seria responsabilizada criminalmente caso as declarações constantes no Boletim de Ocorrência Policial fossem falsas. Ademais, ainda naquela época, Serra fez questão de deixar claro que era contra mudar a legislação brasileira a respeito do aborto.
Inclusive, o padre Luiz Carlos Lodi, talvez o nome mais famoso do movimento pró-vida no Brasil, e que fez uma oposição nacional contra Serra em 1998 por causa da tal Norma Técnica, oposição esta aderida por vários padres no país, afirmou que vai votar em Serra não porque o considere um conservador social, mas porque reconhece que (1) Serra realmente nunca foi a favor da legalização do aborto, (2) que aquela Norma Técnica de 1998 de liberar abortos por estupro pelo SUS não foi invenção dele e (3) que assinou-a apenas atendendo à pressão da bancada abortista no Congresso Nacional, liderada pelo PT, que reivindicava-a com base no Código Penal. Leia a entrevista do padre Lodi aqui.
Agora, finalmente, um detalhe importantíssimo sobre esse assunto: Foi o primeiro ministro da Saúde do governo Lula, Humberto Costa, do PT, quem baixou em 2004 nova Norma Técnica dispensando a exigência do Boletim de Ocorrência estabelecido por Serra. Com essa decisão do governo Lula, diferentemente do que estabelecia a Norma emitida por Serra, qualquer pessoa poderia simplesmente dizer que sua gravidez era decorrente de estupro, mesmo sem precisar provar, e, assim, praticar aborto via SUS. Esse é o PT.
Na atual campanha, o candidato do PSDB enfatizou outra vez, e mais de uma vez, ser contra o aborto. Em maio, em entrevista ao apresentador Carlos Massa (“Ratinho”) do SBT, disse: “Não apoiarei nenhuma iniciativa para mexer na legislação sobre o aborto”. Em julho, em entrevista à TV Brasil, afirmou: “No que depender da iniciativa do Executivo, a lei atual [sobre o aborto] ficará como está”. Ainda em julho, na sabatina de presidenciáveis promovida pelo jornal Folha de São Paulo e o portal de notícias UOL, Serra asseverou: “Considero o aborto uma coisa terrível. (...) Isso [a legalização do aborto] liberaria uma verdadeira carnificina”. E em 6 de outubro, enfatizou: “Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra. Tem amigos que me acham atrasado. Eu tenho minhas razões íntimas, pessoais, de história, para ter essa convicção. Errado é querer enrolar. Chegou-se ao máximo de estampar em primeira página que o PT ia tirar o aborto do programa. O que não tem direito é uma campanha presidencial enrolar. No fundo, é desrespeitar pessoas, os cidadãos. Essa decepção comigo não existirá”.
Aproveitando, alguns petistas andaram espalhando semana retrasada o boato de que Mônica Serra, esposa do tucano, teria feito aborto quando no exílio. A fonte da estória foi uma ex-aluna de Mônica Serra, confessadamente eleitora de Plínio de Arruda Sampaio no primeiro turno e de Dilma no segundo, e que disse que ouviu essa informação dos lábios da própria Mônica. Porém, (1) nenhuma outra colega dela que tenha sido também ex-aluna de Mônica disse ter ouvido essa história; (2) Mônica e Serra negam veementemente tal história e historicamente nunca defenderam a legalização do aborto (aqui); (3) quem disseminou isso foi a jornalista Mônica Bérgamo, que já declarou em entrevista “Olha, posso ser tudo, menos serrista” (aqui e aqui); (4) e o ônus, caros, é de quem acusa, não de quem é acusado. Já imaginou se adotássemos o critério petista de aceitar uma acusação sem provas? Eu acuso você de algo sem provar e você é que tem o ônus de provar se estou mentindo ou não. Isso é loucura! Quando afirmamos aqui que Dilma sempre foi a favor da legalização do aborto, demonstramos isso com vídeos e depoimentos da própria Dilma. Ela mesmo falando por ela mesma, e não essa história de “ouvi fulano dizer que beltrano teria dito a ele um dia, num momento bem íntimo, que...”.
Dilma, por sua vez, sempre foi a favor da legalização do aborto. Em sabatina à Folha de São Paulo em 2007, afirmou Dilma: “Tem de haver a descriminalização do aborto. Hoje, no Brasil, é um absurdo que não haja a descriminalização” (Veja aqui). Em entrevista à revista Marie Claire, edição de abril de 2009, asseverou: “Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização” (Veja aqui).
Em 7 de maio deste ano, em entrevista dada ao “Encontro de Editores 2010”, promovido pela revista Istoé, afirmou Dilma: “O aborto, do ponto de vista de um governo, não é questão de foro íntimo, é uma questão necessariamente de saúde pública. Tem que ser seriamente conduzido dessa forma. (...) Sou a favor de atendimento público para quem estiver em condições de fazer o aborto ou querendo fazer o aborto” (Veja aqui).
Seis dias depois, em entrevista ao sair de uma missa em São Paulo, Dilma disse sobre a legalização do aborto: “Não é uma questão se eu sou contra ou a favor, é o que eu acho que tem que ser feito. Não acho que ninguém quer arrancar um dente, e ninguém tampouco quer tirar a vida de dentro de si” – comparando o aborto a arrancar um dente (Veja aqui).
O deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, foi um dos líderes pró-aborto no Congresso Nacional. Em julho de 2008, quando orientava a votação dos colegas de partido sobre o projeto de lei para legalizar o aborto, afirmou: “Nossa posição é muito clara: na linha favorável à descriminalização do aborto”.
Oportunista, preocupada com o resultado do primeiro turno, Dilma, que sempre defendeu a legalização do aborto, se reuniu com evangélicos em Brasília no dia 13 de outubro dizendo que assinaria um manifesto contra o aborto e a união civil homossexual. Dois dias depois, no dia 15 de outubro, disse que não iria assinar mais (sic). No dia seguinte, mudou de idéia de novo e terminou assinando. Mas, dois dias depois (18 de outubro), em entrevista ao Jornal Nacional, perguntada por William Bonner sobre o assunto, a candidata não negou nem confirmou se era contra ou a favor da legalização do aborto. Disse e desdisse o que pensa duas vezes em uma única resposta. Ademais, ainda que tivesse agido diferentemente e confirmado realmente ser contra, é ingenuidade demais acreditar que alguém que sempre defendeu a legalização do aborto está sendo sincero ao dizer que agora é contra porque assinou um documento afirmando isso há apenas 15 dias antes do segundo turno, e exatamente quando esse tema foi uma das razões pelas quais não ganhou no primeiro turno. É como crer em Papai Noel e Coelinho da Páscoa.
Prefiro crer em quem, historicamente, sempre foi contra a legalização do aborto, e não em quem disse que mudou de posição faltando apenas 15 dias para o segundo turno e ainda mentiu chamando de boatos todas as suas afirmações anteriores sobre o assunto sempre a favor do aborto e bem documentadas.
4) Tanto Serra quanto Dilma são, infelizmente, a favor da união civil homossexual, porém Serra é contra as igrejas terem de aceitar casar homossexuais. Sobre esse ponto, Dilma nunca disse nada a respeito.
Em 1 de maio deste ano, falando no evento dos Gideões Missionários da Última Hora, promovido pela Assembleia de Deus em Camboriu (SC), Serra afirmou que “o Estado não deve legislar sobre casamentos entre pessoas do mesmo sexo em cerimônias religiosas”, pois “essa é uma questão de cada igreja. Cada uma tem liberdade e autonomia para decidir a esse respeito. Seria uma intrusão dizer que tal igreja tem que fazer isso ou aquilo”. E em entrevista à estatal TV Brasil, em julho, Serra reafirmou sua posição contra qualquer imposição do Estado para que igrejas sejam forçadas a realizar “casamentos” entre pessoas do mesmo sexo, destacando que isso seria ferir a liberdade religiosa no país: “É um assunto em que o Estado não entra, é problema das pessoas. Cada crença tem a sua orientação. Se uma igreja não quer casar, mesmo havendo a união civil, a igreja não pode ser obrigada a isso”.
5) Serra é menos ambíguo que Dilma em relação à legalização das drogas.
Serra é totalmente contra a legalização das drogas. Em entrevista à TV Bandeirantes em Belo Horizonte, em 28 de julho, Serra asseverou que não aceita nem mesmo a legalização da maconha, dita pelos liberais como “inofensiva”: “Sou contra [a legalização das drogas], daria uma confusão. Nem mesmo na Holanda, um país arrumadíssimo, a legalização da maconha deu certo. A maconha é um passo para outras drogas. Defendo uma política de combate às drogas baseada em repressão, educação nas escolas e tratamento”.
Dilma, por sua vez, declara-se contra, mas sempre abrindo a ressalva de que o faz apenas “dentro do quadro que temos hoje no Brasil”. Ou seja, é contra, mas não descarta a possibilidade de, no futuro, sob outras condições, o tema ser discutido. Sobre o tema, declarou ainda em entrevista à TV Brasil: “Não podemos falar em processo de descriminalização de droga nenhuma enquanto tivermos o quadro que temos hoje no Brasil”.
Sobre privatizações
Aproveitando: É mentira que Serra é privatista! Serra sempre defendeu as privatizações, mas isso não significa dizer que é um privatista, pois ele e o falecido Mário Covas faziam parte da ala do PSDB que era contra o que chamavam de “radicalismos” na privatização. Eles sempre defenderam um certo dirigismo estatal, um “Estado forte”, um Estado gigante, posição da qual discordo profundamente. As privatizações, repito, foram um bem para o país!
As estatais quase falidas que foram vendidas durante o governo Fernando Henrique Cardoso renderam ao país, à época, 106 bilhões de dólares, que foram usados para abater a dívida pública que FHC herdara dos governos Sarney e Collor, e permitir o reequilíbrio fiscal do país naquele período. E sabe por que essas estatais estavam quase falidas (com o governo tendo que tirar dinheiro da educação, saúde e segurança para colocar nelas para que sobrevivessem)? Porque o Estado nunca teve função empresarial e, por isso, todas as vezes que tentou fazer essa tarefa em qualquer o país, o fez pessimamente e aumentando sua dívida pública. Inclusive, essas estatais sempre foram usadas mais para cabides de emprego de correligionários do que para usar o talento de profissionais de fato, sobrecarregando os gastos.
O Estado não nasceu para usar nossos impostos para incursões empresariais, desviando dinheiro de suas atividades essenciais (saúde, educação, segurança) e concorrendo deslealmente com empresas privadas ou monopolizando mercados (e conseqüentemente encarecendo serviços e produtos, diferentemente da concorrência que, comprovadamente, sempre resultou em melhora e barateamento dos produtos e serviços). Repito: O Estado nasceu para dedicar nossos impostos apenas às suas funções básicas, como segurança pública, educação e saúde.
E por falar de dívida pública, os gastos desmedidos do governo Lula simplesmente dobraram a dívida pública do país de 2003 a 2009. Até o início do ano que vem, o salto será maior ainda, o que já aponta para uma crise econômica futura (Leia aqui). Para se ter uma idéia do que seria essa crise, é só olhar para o que está acontecendo hoje na Grécia, em Portugal, França e Inglaterra, por exemplo, tendo que, sob protestos da população, cortar na própria carne para evitar o caos total do país.
Após as privatizações do período FHC, aquelas empresas que davam prejuízo ao governo todos os anos foram modernizadas, empregaram exponencialmente muito mais que antes, deram um retorno absurdo em impostos aos cofres do governo federal, e baratearam e melhoraram os produtos e serviços oferecidos ao povo, melhorando sua qualidade de vida. E se uma minoria dessas empresas ainda não presta um serviço com 100% de qualidade, as agências reguladoras foram criadas para cobrar exatamente isso delas, e o Código de Defesa do Consumidor já está aí há um bom tempo para também defender o consumidor. Lembrando ainda que se fôssemos brigar com empresas monopolizadoras do Estado por melhoria de serviços ou produtos, seria muito mais complicado do que com empresas privadas que estão sob as regras de agências reguladoras.
E a Petrobras, queridos, nunca foi e nunca será privatizada, porque nunca deu prejuízo ao Estado. Agora, uma das coisas mais sensacionais que o governo FHC fez em relação à Petrobras foi quebrar em 1997 o monopólio de exploração de petróleo pela Petrobras, que passou a ser uma empresa de capital misto (com o governo apenas como sócio majoritário), fazendo com que o governo não gastasse mais bilhões com exploração de petróleo, deixando isso para o capital privado, e ainda lucrasse absurdamente com os resultados do investimento do capital privado na Petrobras em exploração. Daí a Petrobras deu o pulo que deu no cenário internacional e o próprio pré-sal se tornou hoje uma possibilidade, como fruto desses investimentos. A exploração de petróleo do país cresceu 1.500% de 1997 para cá e a alta da produção de petróleo foi de mais de 30%.
Se você é contra as privatizações, jogue fora seu celular e volte ao telefone fixo que não dava linha e que custava o valor de um carro, ao ponto de ter de ser mencionado na declaração de imposto de renda e ser dado como entrada na compra de uma casa ou de um carro. E olha que ainda se pagava a conta de telefone todo mês... Coisa de rico. Então, vieram as privatizações, que abriram espaço no Brasil para as tecnologias de telefonia móvel e fixa, aumentando os investimentos nessa área e melhorando e barateando, via concorrência, os produtos e serviços para os brasileiros.
Antes das privatizações, tínhamos apenas 10 milhões de linhas fixas de telefone no Brasil. Hoje, são 70 milhões de telefones fixos e 190 milhões de celulares. Ou seja, 250 milhões de linhas a mais. Linhas fixas? Oferecem de graça. Celular? Dependendo do aparelho, também. E o Brasil ainda ganhou imediatamente 21 bilhões de reais no caixa, fora os centenas de bilhões de reais em impostos recolhidos das teles privadas desde as privatizações até agora.
A Embraer, antes de ser privatizada em 1997, vendia quatro aviões por ano, tinha 6 mil funcionários e faturava 700 milhões por ano. Hoje, são quase 250 aviões vendidos por ano, 17 mil funcionários e 5 bilhões anuais de faturamento. Só perde para Boeing e Air Bus. Aumento de 550%. E ainda devemos lembrar os bilhões em impostos pagos ao governo federal nos últimos 13 anos.
E a Vale do Rio Doce? Em 1997, ano da privatização, a Vale valia 8 bilhões de reais, lucrava 750 milhões de reais por ano, produzia 110 milhões de toneladas de minério por ano e empregava 11 mil pessoas. Hoje, ela vale 272 bilhões de reais e está em 35 países, lucra 10 bilhões de reais por ano, produz 320 milhões de toneladas de minério por ano e emprega 40 mil pessoas só no Brasil, fora os bilhões em impostos pagos ao governo federal nestes 13 anos de privatizada.
Chega a ser lamentável ver até mesmo alguns cristãos, seduzidos pelo petismo, se prestando ao papel de tentarem a todo custo equiparar negativamente o candidato tucano com a candidata petista em questão de valores, quando as discrepâncias entre eles são claramente abissais. Muitos nem tentam mais salvar a imagem de sua amada chamando irresponsavelmente fatos de “boatos”, porque nem podem; o negócio agora é tentar descobrir ou redimensionar alguma falha do tucano na área de valores para, assim, tentar emplacar o seguinte argumento: “Lama por lama, prefiro a Dilma”. Ora, que Serra não é nenhuma “fina flor” do conservadorismo social todos nós sabemos há muito tempo! Ninguém pode negar isso. Agora, daí a dizer que ele equivale a Dilma no quesito valores é de uma inverdade colossal. Mesmo assim, desde que comecei a postar artigos aqui sobre as eleições criticando os posicionamentos históricos e o comportamento da candidata governista, alguns petistas (evangélicos e não evangélicos) têm tentado insistentemente postar comentários neste blog objetivando disseminar mentiras sobre o candidato tucano, muitas delas já respondidas nos espaços de comentários deste blog mais de uma vez, mais eles nem se cansam de repetir, como se este pastor blogueiro nunca tivesse falado sobre elas. Como o meu tempo é precioso, este blog não é palanque para disseminação de inverdades e respeito muito os meus leitores, não dou voz nem vez para esse tipo de coisa por aqui.
Dito isso, a seguir, vejamos o perfil dos dois candidatos e as razões pelas quais o senhor José Serra é infinitamente melhor do que a senhora Dilma Rousseff para presidir o Brasil.
1) José Serra é muito mais experiente. Dilma Rousseff, por exemplo, sequer já concorreu a um cargo legislativo ou executivo
Todas as funções de Dilma na vida política foram: assessora dos deputados do PDT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul nos anos 80; secretária de Fazenda da prefeitura de Porto Alegre no governo de Alceu Collares (1985 a 1988), abandonando meses antes a função para se dedicar à coordenação da campanha derrotada de Carlos Araújo (PDT) ao governo gaúcho; diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre em 1989, sendo demitida no mesmo ano pelo presidente da casa, o vereador Valdir Fraga, porque sempre chegava tarde ao trabalho; secretária de Energia, Minas e Comunicações nos dois últimos anos de mandato do governador Alceu Collares (de 1993 a 1994), em acordo fechado pelo PDT com o governador gaúcho; voltou a exercer a função de secretária de Minas e Energia de 1999 a 2002, a convite do governador eleito Olívio Dutra, do PT (nesse período, sai, então, do PDT para o PT); em 2003, Lula a chama para ser ministra de Minas e Energia; e, finalmente, no segundo semestre de 2005, assume a Casa Civil depois do escândalo do mensalão, que derrubou José Dirceu. Fica até o início de 2010, quando sai para se dedicar à sua campanha para a Presidência da República.
Por sua vez, José Serra foi secretário de Planejamento do Estado de São Paulo (1983-1986); deputado federal constituinte (1987-1991), sendo considerado o melhor deputado constituinte, por ter tido o maior percentual de emendas aprovadas (130 de 208), entre elas a que criava o Fundo de Amparo ao Trabalhador para financiar o seguro-desemprego, que passou a ser efetivamente pago após sua implementação; deputado federal por São Paulo (1991-1995); senador por São Paulo (1995-2002); ministro do Planejamento e Orçamento do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1996); ministro da Saúde (1998-2002), tendo sido responsável pela conquista internacional de não se aplicar as regras de patentes na produção e distribuição dos remédios genéricos, barateando os remédios essenciais para a população; prefeito de São Paulo (2005-2006); e governador de São Paulo (2007-2010).
2) José Serra tem um histórico que o abona muito mais do que o de Dilma Rousseff
Católico desde sempre, José Serra começou sua militância política no grupo Ação Popular (AP), mais conhecido como “esquerda cristã” e do qual foi um dos fundadores. O AP foi um movimento político nascido em junho de 1962 a partir de um congresso de jovens católicos em Belo Horizonte reunindo a Juventude Universitária Católica (JUC) e outras agremiações da chamada Ação Católica. Serra foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) com o apoio do AP. Eleito, apoiou o governo João Goulart. À época, Serra defendia o socialismo. Com a deposição de Jango, teve que fugir para não ser preso pelo Regime Militar, refugiando-se na embaixada boliviana, de onde foi à Bolívia e de lá, para a França.
Em 1965, voltou clandestinamente ao Brasil, mas, caçado pelo DOPS, teve que fugir logo para o Chile. Conta o próprio Serra que, no exílio, ao saber que o AP, já reorganizado, adotara a luta armada, rompeu ideologicamente com o grupo, sendo considerado pela turma da guerrilha “frouxo” por isso. Em seu exílio, passou pelo Chile, Panamá, Itália e Estados Unidos. Durante a época de exilado, renunciou os ideais socialistas, aderindo definitivamente à social-democracia contemporânea, mais conhecida hoje como “Terceira Via”, uma espécie de “esquerda light” que nega a luta de classes, rompe com qualquer proposta de substituir o sistema capitalista por outro (nem mesmo paulatinamente), porém ainda defendendo alguma intervenção do Estado tanto na economia como na vida das pessoas.
Agora, vejamos Dilma Rousseff: Durante o Regime Militar, ela foi guerrilheira dos grupos terroristas Política Operária (Polop), Colina e VAR-Palmares, sendo líder desses dois últimos. Esses grupos assaltaram bancos, roubaram carros, seqüestraram, promoveram atentados a bomba e sabotagens, além de terem matado dezenas de pessoas, tudo isso em nome do propósito de implantar a ditadura comunista no Brasil, e não com o propósito de trazer de volta a democracia ao país, como propalam hoje Dilma e boa parte de sua antiga turma para enganar ingênuos e ignorantes, posando diante destes como se fossem democratas desde criancinhas.
O Polop liderou uma sublevação de sargentos comunistas em Brasília em 12 de março de 1963, matando duas pessoas: o soldado Divino Dias dos Santos e o motorista de taxi Francisco Moraes. Nessa época, Dilma ainda não fazia parte do grupo. Ingressaria nele em 1966, tendo inclusive casado no ano seguinte (apenas no civil) com um de seus líderes, o guerrilheiro Cláudio Galeno Linhares, que participara do levante de março de 1963.
Em 1967, membros do Polop estavam querendo abandonar a ideia de guerrilha e o grupo se dividiu, com a facção que optou pelo terrorismo passando a se chamar Comando de Libertação Nacional (Colina). O novo grupo foi fundado oficialmente em julho de 1968 em Minas Gerais, sendo Dilma um de seus fundadores e líderes. O Colina tinha como seu objetivo expresso, conforme o texto do seu estatuto de fundação, derrubar a Ditadura Militar para instalar em seu lugar um regime totalitário de inspiração soviética.
O assassinato mais famoso promovido pelo Colina foi o do major do exército alemão Edward Ernest Tito Otto Maximilian von Westernhagen, em 1 de julho de 1968. Ele fazia o Curso de Estado Maior na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (RJ), e foi morto por engano ao ser confundido com um militar boliviano que também fazia o mesmo curso e que era acusado de ter morto Che Guevara. O executor foi João Lucas Alves, de quem Cláudio Galeano, marido de Dilma, diria, em entrevista recente à Revista Piauí: “O João Lucas ficava hospedado em nossa casa” (Veja mais aqui).
Ainda no mesmo ano de 1968, o grupo assaltou, em 28 de agosto, o Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, agência Pedro II, em Belo Horizonte; e em 4 de outubro, o Banco do Brasil, na cidade industrial de Contagem (MG). O Colina também promoveu, em 18 de outubro, dois atentados a bomba em Belo Horizonte, nas residências do delegado regional do Trabalho e do interventor dos Sindicatos dos Bancários e dos Metalúrgicos; assassinou, em 25 de outubro, no Rio de Janeiro, o civil Wenceslau Ramalho Leite, com quatro tiros de pistola Luger 9mm, quando o grupo roubava o seu carro; e assaltou, em 29 de outubro, o Banco Ultramarino, agência de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em 14 de janeiro de 1969, o Colina ainda assaltaria o Banco da Lavoura e o Banco Mercantil de Minas Gerais, ambos em Sabará (MG), levando ao todo 70 milhões de cruzeiros. Ao descobrirem o paradeiro dos assaltantes, a polícia foi até o local, mas foi recebida a tiros. Ninguém do Colina morreu ou foi ferido, mas o Colina matou o subinspetor da polícia Cecildes Moreira de Faria, que deixou viúva e 8 filhos menores; e o guarda-civil José Antunes Ferreira, além de ferir gravemente o investigador José Reis de Oliveira (Veja aqui).
Em abril de 1969, depois da prisão de vários membros dos grupos terroristas Colina e VPR (Vanguarda Popular Revolucionária, responsável até então por 13 assaltos a banco, além de assaltos a um hospital, a uma gráfica, a uma pedreira, a quartéis e a carros; 7 atentados a bomba, um mutilamento e 6 assassinatos, além de dezenas de feridos), alguns dos seus remanescentes resolveram fundir-se para criar um novo grupo: o VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Lideraram as reuniões de fusão os líderes do VPR (Carlos Lamarca, Antônio Espinosa, Chizuo Ozawa, Fernando Mesquita Sampaio e Cláudio de Souza Ribeiro) e do Colina (Carlos Franklin Paixão de Araújo [segundo marido de Dilma], Dilma Rousseff [que também usava os nomes falsos de Wanda e Estela], Maria do Carmo Brito, Carlos Alberto de Freitas e Hérbert Eustáquio de Carvalho).
Ao final do encontro, foi emitido um “Informe Conjunto” que falava de uma “perfeita identidade política das duas organizações” que deveria conduzi-las à fusão. Estima-se que o VAR-Palmares chegou a ter, em seu auge, mais de 2 mil militantes, entre grupos armados e apoiadores logísticos. O seu estatuto dizia: “A Vanguarda Armada Revolucionária Palmares é uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”.
Sobre o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros pelo VAR-Palmares, em que foram roubados 2,6 milhões de dólares (muito dinheiro mesmo para hoje), leia detalhes aqui, aqui e aqui. O VAR-Palmares cometeu ainda muitos outros crimes, desde assaltos a assassinatos. Por exemplo: Em 11 de julho de 1969, o taxista carioca Cidelino Palmares do Nascimento foi assassinado pelo VAR-Palmares no assalto ao Banco Aliança, na agência de Muda. Em 24 de julho do mesmo ano, o grupo assassinou o soldado da PM Aparecido dos Santos Oliveira, quando este tentava impedir o assalto ao Banco Bradesco, agência de Perdizes, em São Paulo (SP). Em 22 de setembro do mesmo ano, o grupo de Dilma ainda assassinaria o comerciante Kurt Kriegel em Porto Alegre (RS). Esses são só alguns dos assassinados pelos grupos a qual Dilma pertencia. A lista é maior.
Não está em discussão aqui se Dilma foi executora desses assassinatos. Dilma, particularmente, nega ter sido executora. O problema, porém, é que, como líder desses grupos, ela é, no mínimo, co-participante desses crimes.
Como sabemos, com o fim da guerrilha pela ação implacável da Ditadura Militar, veio depois o período de abertura paulatina, com a Lei de Anistia (que perdoou os crimes cometidos pelos dois lados – guerrilheiros e militares). Em seguida, as eleições indiretas e, depois, eleições diretas. Porém, até hoje, Dilma nunca declarou seu repúdio ao que fizera antes em nome da implantação de uma ditadura estilo Cuba no Brasil, diferentemente de outros ex-guerrilheiros (Veja aqui e aqui). Ao contrário, ela celebra a luta que travaram e ainda mente ao dizer que foi “pela democracia”, quando nunca foi.
Para que esse tópico não fique maior do que já está, citarei apenas dois de muitos ex-guerrilheiros que hoje repudiam seu passado de guerrilha e admitem que nenhuma guerrilha lutava pela volta da democracia durante o Regime Militar.
Afirma Daniel Aarão Reis, ex-guerrilheiro e hoje professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF): “As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre a guerra”.
Afirma também o ex-guerrilheiro e hoje político Fernando Gabeira: “Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na luta política costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra a ditadura militar, mas, se você examinar o programa político que nos movia naquele momento, [ele] era voltado para uma ditadura do proletariado. Então, você não pode voltar atrás, corrigir seu passado e dizer que estava lutando pela democracia. Havia muita gente lutando pela democracia no Brasil, mas não os grupos armados, que tinham como programa esse processo de chegar à ditadura do proletariado. A luta armada não estava visando à democracia”.
Portanto, como posso, como cristão, votar para ser presidente do meu país uma pessoa com um histórico desses, como a Dilma, e que, principalmente, nunca se arrependeu nem repudiou esses crimes terríveis dos quais participou, e (como se não bastasse tudo isso) ainda declara a mentira de que fez isso em nome da democracia, quando o fez pela derrubada de uma ditadura para implantar outra?
3) Serra sempre foi contra a legalização do aborto, enquanto Dilma sempre foi a favor, mudando o discurso de forma oportunista há apenas 15 dias do segundo turno
Historicamente, Serra sempre se posicionou contra a legalização do aborto no Brasil, posição que mantém até hoje. Em relação ao tema aborto, pesa contra ele apenas um episódio de 1998, quando congressistas pró-aborto pressionaram o então ministro da Saúde José Serra para que editasse uma Norma Técnica dispondo sobre a excepcionalidade da prática de abortos no Sistema Único de Saúde (SUS) do governo federal em casos de crianças de até 20 semanas (cinco meses) concebidas por meio de estupro. Como a legislação brasileira permite o aborto em casos de estupro (artigo 128 do Código Penal), Serra cedeu e editou a tal Norma, que fez com que o SUS praticasse pela primeira vez abortos.
É importante lembrar, porém, que Serra publicou a referida Norma Técnica estabelecendo que, para que o SUS aceitasse realizar abortos no caso de estupro, era preciso (1) cópia do Boletim de Ocorrência Policial comprovando o estupro e também (2) informar à mulher – ou a seu representante legal – de que ela seria responsabilizada criminalmente caso as declarações constantes no Boletim de Ocorrência Policial fossem falsas. Ademais, ainda naquela época, Serra fez questão de deixar claro que era contra mudar a legislação brasileira a respeito do aborto.
Inclusive, o padre Luiz Carlos Lodi, talvez o nome mais famoso do movimento pró-vida no Brasil, e que fez uma oposição nacional contra Serra em 1998 por causa da tal Norma Técnica, oposição esta aderida por vários padres no país, afirmou que vai votar em Serra não porque o considere um conservador social, mas porque reconhece que (1) Serra realmente nunca foi a favor da legalização do aborto, (2) que aquela Norma Técnica de 1998 de liberar abortos por estupro pelo SUS não foi invenção dele e (3) que assinou-a apenas atendendo à pressão da bancada abortista no Congresso Nacional, liderada pelo PT, que reivindicava-a com base no Código Penal. Leia a entrevista do padre Lodi aqui.
Agora, finalmente, um detalhe importantíssimo sobre esse assunto: Foi o primeiro ministro da Saúde do governo Lula, Humberto Costa, do PT, quem baixou em 2004 nova Norma Técnica dispensando a exigência do Boletim de Ocorrência estabelecido por Serra. Com essa decisão do governo Lula, diferentemente do que estabelecia a Norma emitida por Serra, qualquer pessoa poderia simplesmente dizer que sua gravidez era decorrente de estupro, mesmo sem precisar provar, e, assim, praticar aborto via SUS. Esse é o PT.
Na atual campanha, o candidato do PSDB enfatizou outra vez, e mais de uma vez, ser contra o aborto. Em maio, em entrevista ao apresentador Carlos Massa (“Ratinho”) do SBT, disse: “Não apoiarei nenhuma iniciativa para mexer na legislação sobre o aborto”. Em julho, em entrevista à TV Brasil, afirmou: “No que depender da iniciativa do Executivo, a lei atual [sobre o aborto] ficará como está”. Ainda em julho, na sabatina de presidenciáveis promovida pelo jornal Folha de São Paulo e o portal de notícias UOL, Serra asseverou: “Considero o aborto uma coisa terrível. (...) Isso [a legalização do aborto] liberaria uma verdadeira carnificina”. E em 6 de outubro, enfatizou: “Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra. Tem amigos que me acham atrasado. Eu tenho minhas razões íntimas, pessoais, de história, para ter essa convicção. Errado é querer enrolar. Chegou-se ao máximo de estampar em primeira página que o PT ia tirar o aborto do programa. O que não tem direito é uma campanha presidencial enrolar. No fundo, é desrespeitar pessoas, os cidadãos. Essa decepção comigo não existirá”.
Aproveitando, alguns petistas andaram espalhando semana retrasada o boato de que Mônica Serra, esposa do tucano, teria feito aborto quando no exílio. A fonte da estória foi uma ex-aluna de Mônica Serra, confessadamente eleitora de Plínio de Arruda Sampaio no primeiro turno e de Dilma no segundo, e que disse que ouviu essa informação dos lábios da própria Mônica. Porém, (1) nenhuma outra colega dela que tenha sido também ex-aluna de Mônica disse ter ouvido essa história; (2) Mônica e Serra negam veementemente tal história e historicamente nunca defenderam a legalização do aborto (aqui); (3) quem disseminou isso foi a jornalista Mônica Bérgamo, que já declarou em entrevista “Olha, posso ser tudo, menos serrista” (aqui e aqui); (4) e o ônus, caros, é de quem acusa, não de quem é acusado. Já imaginou se adotássemos o critério petista de aceitar uma acusação sem provas? Eu acuso você de algo sem provar e você é que tem o ônus de provar se estou mentindo ou não. Isso é loucura! Quando afirmamos aqui que Dilma sempre foi a favor da legalização do aborto, demonstramos isso com vídeos e depoimentos da própria Dilma. Ela mesmo falando por ela mesma, e não essa história de “ouvi fulano dizer que beltrano teria dito a ele um dia, num momento bem íntimo, que...”.
Dilma, por sua vez, sempre foi a favor da legalização do aborto. Em sabatina à Folha de São Paulo em 2007, afirmou Dilma: “Tem de haver a descriminalização do aborto. Hoje, no Brasil, é um absurdo que não haja a descriminalização” (Veja aqui). Em entrevista à revista Marie Claire, edição de abril de 2009, asseverou: “Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização” (Veja aqui).
Em 7 de maio deste ano, em entrevista dada ao “Encontro de Editores 2010”, promovido pela revista Istoé, afirmou Dilma: “O aborto, do ponto de vista de um governo, não é questão de foro íntimo, é uma questão necessariamente de saúde pública. Tem que ser seriamente conduzido dessa forma. (...) Sou a favor de atendimento público para quem estiver em condições de fazer o aborto ou querendo fazer o aborto” (Veja aqui).
Seis dias depois, em entrevista ao sair de uma missa em São Paulo, Dilma disse sobre a legalização do aborto: “Não é uma questão se eu sou contra ou a favor, é o que eu acho que tem que ser feito. Não acho que ninguém quer arrancar um dente, e ninguém tampouco quer tirar a vida de dentro de si” – comparando o aborto a arrancar um dente (Veja aqui).
O deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, foi um dos líderes pró-aborto no Congresso Nacional. Em julho de 2008, quando orientava a votação dos colegas de partido sobre o projeto de lei para legalizar o aborto, afirmou: “Nossa posição é muito clara: na linha favorável à descriminalização do aborto”.
Oportunista, preocupada com o resultado do primeiro turno, Dilma, que sempre defendeu a legalização do aborto, se reuniu com evangélicos em Brasília no dia 13 de outubro dizendo que assinaria um manifesto contra o aborto e a união civil homossexual. Dois dias depois, no dia 15 de outubro, disse que não iria assinar mais (sic). No dia seguinte, mudou de idéia de novo e terminou assinando. Mas, dois dias depois (18 de outubro), em entrevista ao Jornal Nacional, perguntada por William Bonner sobre o assunto, a candidata não negou nem confirmou se era contra ou a favor da legalização do aborto. Disse e desdisse o que pensa duas vezes em uma única resposta. Ademais, ainda que tivesse agido diferentemente e confirmado realmente ser contra, é ingenuidade demais acreditar que alguém que sempre defendeu a legalização do aborto está sendo sincero ao dizer que agora é contra porque assinou um documento afirmando isso há apenas 15 dias antes do segundo turno, e exatamente quando esse tema foi uma das razões pelas quais não ganhou no primeiro turno. É como crer em Papai Noel e Coelinho da Páscoa.
Prefiro crer em quem, historicamente, sempre foi contra a legalização do aborto, e não em quem disse que mudou de posição faltando apenas 15 dias para o segundo turno e ainda mentiu chamando de boatos todas as suas afirmações anteriores sobre o assunto sempre a favor do aborto e bem documentadas.
4) Tanto Serra quanto Dilma são, infelizmente, a favor da união civil homossexual, porém Serra é contra as igrejas terem de aceitar casar homossexuais. Sobre esse ponto, Dilma nunca disse nada a respeito.
Em 1 de maio deste ano, falando no evento dos Gideões Missionários da Última Hora, promovido pela Assembleia de Deus em Camboriu (SC), Serra afirmou que “o Estado não deve legislar sobre casamentos entre pessoas do mesmo sexo em cerimônias religiosas”, pois “essa é uma questão de cada igreja. Cada uma tem liberdade e autonomia para decidir a esse respeito. Seria uma intrusão dizer que tal igreja tem que fazer isso ou aquilo”. E em entrevista à estatal TV Brasil, em julho, Serra reafirmou sua posição contra qualquer imposição do Estado para que igrejas sejam forçadas a realizar “casamentos” entre pessoas do mesmo sexo, destacando que isso seria ferir a liberdade religiosa no país: “É um assunto em que o Estado não entra, é problema das pessoas. Cada crença tem a sua orientação. Se uma igreja não quer casar, mesmo havendo a união civil, a igreja não pode ser obrigada a isso”.
5) Serra é menos ambíguo que Dilma em relação à legalização das drogas.
Serra é totalmente contra a legalização das drogas. Em entrevista à TV Bandeirantes em Belo Horizonte, em 28 de julho, Serra asseverou que não aceita nem mesmo a legalização da maconha, dita pelos liberais como “inofensiva”: “Sou contra [a legalização das drogas], daria uma confusão. Nem mesmo na Holanda, um país arrumadíssimo, a legalização da maconha deu certo. A maconha é um passo para outras drogas. Defendo uma política de combate às drogas baseada em repressão, educação nas escolas e tratamento”.
Dilma, por sua vez, declara-se contra, mas sempre abrindo a ressalva de que o faz apenas “dentro do quadro que temos hoje no Brasil”. Ou seja, é contra, mas não descarta a possibilidade de, no futuro, sob outras condições, o tema ser discutido. Sobre o tema, declarou ainda em entrevista à TV Brasil: “Não podemos falar em processo de descriminalização de droga nenhuma enquanto tivermos o quadro que temos hoje no Brasil”.
Sobre privatizações
Aproveitando: É mentira que Serra é privatista! Serra sempre defendeu as privatizações, mas isso não significa dizer que é um privatista, pois ele e o falecido Mário Covas faziam parte da ala do PSDB que era contra o que chamavam de “radicalismos” na privatização. Eles sempre defenderam um certo dirigismo estatal, um “Estado forte”, um Estado gigante, posição da qual discordo profundamente. As privatizações, repito, foram um bem para o país!
As estatais quase falidas que foram vendidas durante o governo Fernando Henrique Cardoso renderam ao país, à época, 106 bilhões de dólares, que foram usados para abater a dívida pública que FHC herdara dos governos Sarney e Collor, e permitir o reequilíbrio fiscal do país naquele período. E sabe por que essas estatais estavam quase falidas (com o governo tendo que tirar dinheiro da educação, saúde e segurança para colocar nelas para que sobrevivessem)? Porque o Estado nunca teve função empresarial e, por isso, todas as vezes que tentou fazer essa tarefa em qualquer o país, o fez pessimamente e aumentando sua dívida pública. Inclusive, essas estatais sempre foram usadas mais para cabides de emprego de correligionários do que para usar o talento de profissionais de fato, sobrecarregando os gastos.
O Estado não nasceu para usar nossos impostos para incursões empresariais, desviando dinheiro de suas atividades essenciais (saúde, educação, segurança) e concorrendo deslealmente com empresas privadas ou monopolizando mercados (e conseqüentemente encarecendo serviços e produtos, diferentemente da concorrência que, comprovadamente, sempre resultou em melhora e barateamento dos produtos e serviços). Repito: O Estado nasceu para dedicar nossos impostos apenas às suas funções básicas, como segurança pública, educação e saúde.
E por falar de dívida pública, os gastos desmedidos do governo Lula simplesmente dobraram a dívida pública do país de 2003 a 2009. Até o início do ano que vem, o salto será maior ainda, o que já aponta para uma crise econômica futura (Leia aqui). Para se ter uma idéia do que seria essa crise, é só olhar para o que está acontecendo hoje na Grécia, em Portugal, França e Inglaterra, por exemplo, tendo que, sob protestos da população, cortar na própria carne para evitar o caos total do país.
Após as privatizações do período FHC, aquelas empresas que davam prejuízo ao governo todos os anos foram modernizadas, empregaram exponencialmente muito mais que antes, deram um retorno absurdo em impostos aos cofres do governo federal, e baratearam e melhoraram os produtos e serviços oferecidos ao povo, melhorando sua qualidade de vida. E se uma minoria dessas empresas ainda não presta um serviço com 100% de qualidade, as agências reguladoras foram criadas para cobrar exatamente isso delas, e o Código de Defesa do Consumidor já está aí há um bom tempo para também defender o consumidor. Lembrando ainda que se fôssemos brigar com empresas monopolizadoras do Estado por melhoria de serviços ou produtos, seria muito mais complicado do que com empresas privadas que estão sob as regras de agências reguladoras.
E a Petrobras, queridos, nunca foi e nunca será privatizada, porque nunca deu prejuízo ao Estado. Agora, uma das coisas mais sensacionais que o governo FHC fez em relação à Petrobras foi quebrar em 1997 o monopólio de exploração de petróleo pela Petrobras, que passou a ser uma empresa de capital misto (com o governo apenas como sócio majoritário), fazendo com que o governo não gastasse mais bilhões com exploração de petróleo, deixando isso para o capital privado, e ainda lucrasse absurdamente com os resultados do investimento do capital privado na Petrobras em exploração. Daí a Petrobras deu o pulo que deu no cenário internacional e o próprio pré-sal se tornou hoje uma possibilidade, como fruto desses investimentos. A exploração de petróleo do país cresceu 1.500% de 1997 para cá e a alta da produção de petróleo foi de mais de 30%.
Se você é contra as privatizações, jogue fora seu celular e volte ao telefone fixo que não dava linha e que custava o valor de um carro, ao ponto de ter de ser mencionado na declaração de imposto de renda e ser dado como entrada na compra de uma casa ou de um carro. E olha que ainda se pagava a conta de telefone todo mês... Coisa de rico. Então, vieram as privatizações, que abriram espaço no Brasil para as tecnologias de telefonia móvel e fixa, aumentando os investimentos nessa área e melhorando e barateando, via concorrência, os produtos e serviços para os brasileiros.
Antes das privatizações, tínhamos apenas 10 milhões de linhas fixas de telefone no Brasil. Hoje, são 70 milhões de telefones fixos e 190 milhões de celulares. Ou seja, 250 milhões de linhas a mais. Linhas fixas? Oferecem de graça. Celular? Dependendo do aparelho, também. E o Brasil ainda ganhou imediatamente 21 bilhões de reais no caixa, fora os centenas de bilhões de reais em impostos recolhidos das teles privadas desde as privatizações até agora.
A Embraer, antes de ser privatizada em 1997, vendia quatro aviões por ano, tinha 6 mil funcionários e faturava 700 milhões por ano. Hoje, são quase 250 aviões vendidos por ano, 17 mil funcionários e 5 bilhões anuais de faturamento. Só perde para Boeing e Air Bus. Aumento de 550%. E ainda devemos lembrar os bilhões em impostos pagos ao governo federal nos últimos 13 anos.
E a Vale do Rio Doce? Em 1997, ano da privatização, a Vale valia 8 bilhões de reais, lucrava 750 milhões de reais por ano, produzia 110 milhões de toneladas de minério por ano e empregava 11 mil pessoas. Hoje, ela vale 272 bilhões de reais e está em 35 países, lucra 10 bilhões de reais por ano, produz 320 milhões de toneladas de minério por ano e emprega 40 mil pessoas só no Brasil, fora os bilhões em impostos pagos ao governo federal nestes 13 anos de privatizada.
Concluindo
Enfim, poderia enumerar muitas outras razões (como os arroubos totalitários do PT, expressos mais recentemente no PNDH 3 - leia aqui e aqui), mas já escrevi bastante. Entretanto, para não ficar só em minhas palavras, leia ainda as razões pelas quais as revistas The Economist (aqui) e Financial Times (aqui), o jornal O Estado de São Paulo (aqui) e estes artistas e intelectuais (aqui e aqui) apóiam José Serra para presidente.
Serra é perfeito? Não. Mas, é, sem dúvida, o melhor candidato. Meu voto em 31 de outubro vai para ele.
Serra é perfeito? Não. Mas, é, sem dúvida, o melhor candidato. Meu voto em 31 de outubro vai para ele.