quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Só há uma opção: votar em José Serra

Seria muito confortável para mim não emitir minha opinião sobre as eleições presidenciais usando o discurso deslocado de que "As pessoas votam em quem quiserem", mas (1) à luz dos fatos e dos valores que defendemos como cristãos; (2) por entender que os princípios da fé cristã não devem influenciar só determinados setores da minha vida, mas todas as esferas da minha vida, inclusive a minha abordagem sobre a política secular; (3) e diante de um assunto de suma importância que é a escolha de nosso principal representante para os próximos quatro anos, não poderia deixar de expressar o que a minha consciência cristã me aponta em relação às eleições em meu país: o candidato do PSDB é, sem sombra de dúvida, a melhor opção de voto que temos para presidente no dia 31 de outubro, tanto por ser infinitamente mais experiente e competente do que sua adversária quanto por ser o mais sensível aos valores que esposamos como cristãos.
Se no primeiro turno poderíamos dizer que, utilizando o princípio do mal menor, tínhamos pelo menos duas opções – votar em Marina Silva ou em José Serra –, agora, no segundo turno, restou apenas uma opção: José Serra.
Chega a ser lamentável ver até mesmo alguns cristãos, seduzidos pelo petismo, se prestando ao papel de tentarem a todo custo equiparar negativamente o candidato tucano com a candidata petista em questão de valores, quando as discrepâncias entre eles são claramente abissais. Muitos nem tentam mais salvar a imagem de sua amada chamando irresponsavelmente fatos de “boatos”, porque nem podem; o negócio agora é tentar descobrir ou redimensionar alguma falha do tucano na área de valores para, assim, tentar emplacar o seguinte argumento: “Lama por lama, prefiro a Dilma”. Ora, que Serra não é nenhuma “fina flor” do conservadorismo social todos nós sabemos há muito tempo! Ninguém pode negar isso. Agora, daí a dizer que ele equivale a Dilma no quesito valores é de uma inverdade colossal. Mesmo assim, desde que comecei a postar artigos aqui sobre as eleições criticando os posicionamentos históricos e o comportamento da candidata governista, alguns petistas (evangélicos e não evangélicos) têm tentado insistentemente postar comentários neste blog objetivando disseminar mentiras sobre o candidato tucano, muitas delas já respondidas nos espaços de comentários deste blog mais de uma vez, mais eles nem se cansam de repetir, como se este pastor blogueiro nunca tivesse falado sobre elas. Como o meu tempo é precioso, este blog não é palanque para disseminação de inverdades e respeito muito os meus leitores, não dou voz nem vez para esse tipo de coisa por aqui.
Dito isso, a seguir, vejamos o perfil dos dois candidatos e as razões pelas quais o senhor José Serra é infinitamente melhor do que a senhora Dilma Rousseff para presidir o Brasil.
1) José Serra é muito mais experiente. Dilma Rousseff, por exemplo, sequer já concorreu a um cargo legislativo ou executivo
Todas as funções de Dilma na vida política foram: assessora dos deputados do PDT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul nos anos 80; secretária de Fazenda da prefeitura de Porto Alegre no governo de Alceu Collares (1985 a 1988), abandonando meses antes a função para se dedicar à coordenação da campanha derrotada de Carlos Araújo (PDT) ao governo gaúcho; diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre em 1989, sendo demitida no mesmo ano pelo presidente da casa, o vereador Valdir Fraga, porque sempre chegava tarde ao trabalho; secretária de Energia, Minas e Comunicações nos dois últimos anos de mandato do governador Alceu Collares (de 1993 a 1994), em acordo fechado pelo PDT com o governador gaúcho; voltou a exercer a função de secretária de Minas e Energia de 1999 a 2002, a convite do governador eleito Olívio Dutra, do PT (nesse período, sai, então, do PDT para o PT); em 2003, Lula a chama para ser ministra de Minas e Energia; e, finalmente, no segundo semestre de 2005, assume a Casa Civil depois do escândalo do mensalão, que derrubou José Dirceu. Fica até o início de 2010, quando sai para se dedicar à sua campanha para a Presidência da República.
Por sua vez, José Serra foi secretário de Planejamento do Estado de São Paulo (1983-1986); deputado federal constituinte (1987-1991), sendo considerado o melhor deputado constituinte, por ter tido o maior percentual de emendas aprovadas (130 de 208), entre elas a que criava o Fundo de Amparo ao Trabalhador para financiar o seguro-desemprego, que passou a ser efetivamente pago após sua implementação; deputado federal por São Paulo (1991-1995); senador por São Paulo (1995-2002); ministro do Planejamento e Orçamento do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1996); ministro da Saúde (1998-2002), tendo sido responsável pela conquista internacional de não se aplicar as regras de patentes na produção e distribuição dos remédios genéricos, barateando os remédios essenciais para a população; prefeito de São Paulo (2005-2006); e governador de São Paulo (2007-2010).
2) José Serra tem um histórico que o abona muito mais do que o de Dilma Rousseff
Católico desde sempre, José Serra começou sua militância política no grupo Ação Popular (AP), mais conhecido como “esquerda cristã” e do qual foi um dos fundadores. O AP foi um movimento político nascido em junho de 1962 a partir de um congresso de jovens católicos em Belo Horizonte reunindo a Juventude Universitária Católica (JUC) e outras agremiações da chamada Ação Católica. Serra foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) com o apoio do AP. Eleito, apoiou o governo João Goulart. À época, Serra defendia o socialismo. Com a deposição de Jango, teve que fugir para não ser preso pelo Regime Militar, refugiando-se na embaixada boliviana, de onde foi à Bolívia e de lá, para a França.
Em 1965, voltou clandestinamente ao Brasil, mas, caçado pelo DOPS, teve que fugir logo para o Chile. Conta o próprio Serra que, no exílio, ao saber que o AP, já reorganizado, adotara a luta armada, rompeu ideologicamente com o grupo, sendo considerado pela turma da guerrilha “frouxo” por isso. Em seu exílio, passou pelo Chile, Panamá, Itália e Estados Unidos. Durante a época de exilado, renunciou os ideais socialistas, aderindo definitivamente à social-democracia contemporânea, mais conhecida hoje como “Terceira Via”, uma espécie de “esquerda light” que nega a luta de classes, rompe com qualquer proposta de substituir o sistema capitalista por outro (nem mesmo paulatinamente), porém ainda defendendo alguma intervenção do Estado tanto na economia como na vida das pessoas.
Agora, vejamos Dilma Rousseff: Durante o Regime Militar, ela foi guerrilheira dos grupos terroristas Política Operária (Polop), Colina e VAR-Palmares, sendo líder desses dois últimos. Esses grupos assaltaram bancos, roubaram carros, seqüestraram, promoveram atentados a bomba e sabotagens, além de terem matado dezenas de pessoas, tudo isso em nome do propósito de implantar a ditadura comunista no Brasil, e não com o propósito de trazer de volta a democracia ao país, como propalam hoje Dilma e boa parte de sua antiga turma para enganar ingênuos e ignorantes, posando diante destes como se fossem democratas desde criancinhas.
O Polop liderou uma sublevação de sargentos comunistas em Brasília em 12 de março de 1963, matando duas pessoas: o soldado Divino Dias dos Santos e o motorista de taxi Francisco Moraes. Nessa época, Dilma ainda não fazia parte do grupo. Ingressaria nele em 1966, tendo inclusive casado no ano seguinte (apenas no civil) com um de seus líderes, o guerrilheiro Cláudio Galeno Linhares, que participara do levante de março de 1963.
Em 1967, membros do Polop estavam querendo abandonar a ideia de guerrilha e o grupo se dividiu, com a facção que optou pelo terrorismo passando a se chamar Comando de Libertação Nacional (Colina). O novo grupo foi fundado oficialmente em julho de 1968 em Minas Gerais, sendo Dilma um de seus fundadores e líderes. O Colina tinha como seu objetivo expresso, conforme o texto do seu estatuto de fundação, derrubar a Ditadura Militar para instalar em seu lugar um regime totalitário de inspiração soviética.
O assassinato mais famoso promovido pelo Colina foi o do major do exército alemão Edward Ernest Tito Otto Maximilian von Westernhagen, em 1 de julho de 1968. Ele fazia o Curso de Estado Maior na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (RJ), e foi morto por engano ao ser confundido com um militar boliviano que também fazia o mesmo curso e que era acusado de ter morto Che Guevara. O executor foi João Lucas Alves, de quem Cláudio Galeano, marido de Dilma, diria, em entrevista recente à Revista Piauí: “O João Lucas ficava hospedado em nossa casa” (Veja mais aqui).
Ainda no mesmo ano de 1968, o grupo assaltou, em 28 de agosto, o Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, agência Pedro II, em Belo Horizonte; e em 4 de outubro, o Banco do Brasil, na cidade industrial de Contagem (MG). O Colina também promoveu, em 18 de outubro, dois atentados a bomba em Belo Horizonte, nas residências do delegado regional do Trabalho e do interventor dos Sindicatos dos Bancários e dos Metalúrgicos; assassinou, em 25 de outubro, no Rio de Janeiro, o civil Wenceslau Ramalho Leite, com quatro tiros de pistola Luger 9mm, quando o grupo roubava o seu carro; e assaltou, em 29 de outubro, o Banco Ultramarino, agência de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em 14 de janeiro de 1969, o Colina ainda assaltaria o Banco da Lavoura e o Banco Mercantil de Minas Gerais, ambos em Sabará (MG), levando ao todo 70 milhões de cruzeiros. Ao descobrirem o paradeiro dos assaltantes, a polícia foi até o local, mas foi recebida a tiros. Ninguém do Colina morreu ou foi ferido, mas o Colina matou o subinspetor da polícia Cecildes Moreira de Faria, que deixou viúva e 8 filhos menores; e o guarda-civil José Antunes Ferreira, além de ferir gravemente o investigador José Reis de Oliveira (Veja aqui).
Em abril de 1969, depois da prisão de vários membros dos grupos terroristas Colina e VPR (Vanguarda Popular Revolucionária, responsável até então por 13 assaltos a banco, além de assaltos a um hospital, a uma gráfica, a uma pedreira, a quartéis e a carros; 7 atentados a bomba, um mutilamento e 6 assassinatos, além de dezenas de feridos), alguns dos seus remanescentes resolveram fundir-se para criar um novo grupo: o VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Lideraram as reuniões de fusão os líderes do VPR (Carlos Lamarca, Antônio Espinosa, Chizuo Ozawa, Fernando Mesquita Sampaio e Cláudio de Souza Ribeiro) e do Colina (Carlos Franklin Paixão de Araújo [segundo marido de Dilma], Dilma Rousseff [que também usava os nomes falsos de Wanda e Estela], Maria do Carmo Brito, Carlos Alberto de Freitas e Hérbert Eustáquio de Carvalho).
Ao final do encontro, foi emitido um “Informe Conjunto” que falava de uma “perfeita identidade política das duas organizações” que deveria conduzi-las à fusão. Estima-se que o VAR-Palmares chegou a ter, em seu auge, mais de 2 mil militantes, entre grupos armados e apoiadores logísticos. O seu estatuto dizia: “A Vanguarda Armada Revolucionária Palmares é uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”.
Sobre o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros pelo VAR-Palmares, em que foram roubados 2,6 milhões de dólares (muito dinheiro mesmo para hoje), leia detalhes aqui, aqui e aqui. O VAR-Palmares cometeu ainda muitos outros crimes, desde assaltos a assassinatos. Por exemplo: Em 11 de julho de 1969, o taxista carioca Cidelino Palmares do Nascimento foi assassinado pelo VAR-Palmares no assalto ao Banco Aliança, na agência de Muda. Em 24 de julho do mesmo ano, o grupo assassinou o soldado da PM Aparecido dos Santos Oliveira, quando este tentava impedir o assalto ao Banco Bradesco, agência de Perdizes, em São Paulo (SP). Em 22 de setembro do mesmo ano, o grupo de Dilma ainda assassinaria o comerciante Kurt Kriegel em Porto Alegre (RS). Esses são só alguns dos assassinados pelos grupos a qual Dilma pertencia. A lista é maior.
Não está em discussão aqui se Dilma foi executora desses assassinatos. Dilma, particularmente, nega ter sido executora. O problema, porém, é que, como líder desses grupos, ela é, no mínimo, co-participante desses crimes.
Como sabemos, com o fim da guerrilha pela ação implacável da Ditadura Militar, veio depois o período de abertura paulatina, com a Lei de Anistia (que perdoou os crimes cometidos pelos dois lados – guerrilheiros e militares). Em seguida, as eleições indiretas e, depois, eleições diretas. Porém, até hoje, Dilma nunca declarou seu repúdio ao que fizera antes em nome da implantação de uma ditadura estilo Cuba no Brasil, diferentemente de outros ex-guerrilheiros (Veja aqui e aqui). Ao contrário, ela celebra a luta que travaram e ainda mente ao dizer que foi “pela democracia”, quando nunca foi.
Para que esse tópico não fique maior do que já está, citarei apenas dois de muitos ex-guerrilheiros que hoje repudiam seu passado de guerrilha e admitem que nenhuma guerrilha lutava pela volta da democracia durante o Regime Militar.
Afirma Daniel Aarão Reis, ex-guerrilheiro e hoje professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF): “As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre a guerra”.
Afirma também o ex-guerrilheiro e hoje político Fernando Gabeira: “Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na luta política costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra a ditadura militar, mas, se você examinar o programa político que nos movia naquele momento, [ele] era voltado para uma ditadura do proletariado. Então, você não pode voltar atrás, corrigir seu passado e dizer que estava lutando pela democracia. Havia muita gente lutando pela democracia no Brasil, mas não os grupos armados, que tinham como programa esse processo de chegar à ditadura do proletariado. A luta armada não estava visando à democracia”.
Portanto, como posso, como cristão, votar para ser presidente do meu país uma pessoa com um histórico desses, como a Dilma, e que, principalmente, nunca se arrependeu nem repudiou esses crimes terríveis dos quais participou, e (como se não bastasse tudo isso) ainda declara a mentira de que fez isso em nome da democracia, quando o fez pela derrubada de uma ditadura para implantar outra?
3) Serra sempre foi contra a legalização do aborto, enquanto Dilma sempre foi a favor, mudando o discurso de forma oportunista há apenas 15 dias do segundo turno
Historicamente, Serra sempre se posicionou contra a legalização do aborto no Brasil, posição que mantém até hoje. Em relação ao tema aborto, pesa contra ele apenas um episódio de 1998, quando congressistas pró-aborto pressionaram o então ministro da Saúde José Serra para que editasse uma Norma Técnica dispondo sobre a excepcionalidade da prática de abortos no Sistema Único de Saúde (SUS) do governo federal em casos de crianças de até 20 semanas (cinco meses) concebidas por meio de estupro. Como a legislação brasileira permite o aborto em casos de estupro (artigo 128 do Código Penal), Serra cedeu e editou a tal Norma, que fez com que o SUS praticasse pela primeira vez abortos.
É importante lembrar, porém, que Serra publicou a referida Norma Técnica estabelecendo que, para que o SUS aceitasse realizar abortos no caso de estupro, era preciso (1) cópia do Boletim de Ocorrência Policial comprovando o estupro e também (2) informar à mulher – ou a seu representante legal – de que ela seria responsabilizada criminalmente caso as declarações constantes no Boletim de Ocorrência Policial fossem falsas. Ademais, ainda naquela época, Serra fez questão de deixar claro que era contra mudar a legislação brasileira a respeito do aborto.
Inclusive, o padre Luiz Carlos Lodi, talvez o nome mais famoso do movimento pró-vida no Brasil, e que fez uma oposição nacional contra Serra em 1998 por causa da tal Norma Técnica, oposição esta aderida por vários padres no país, afirmou que vai votar em Serra não porque o considere um conservador social, mas porque reconhece que (1) Serra realmente nunca foi a favor da legalização do aborto, (2) que aquela Norma Técnica de 1998 de liberar abortos por estupro pelo SUS não foi invenção dele e (3) que assinou-a apenas atendendo à pressão da bancada abortista no Congresso Nacional, liderada pelo PT, que reivindicava-a com base no Código Penal. Leia a entrevista do padre Lodi aqui.
Agora, finalmente, um detalhe importantíssimo sobre esse assunto: Foi o primeiro ministro da Saúde do governo Lula, Humberto Costa, do PT, quem baixou em 2004 nova Norma Técnica dispensando a exigência do Boletim de Ocorrência estabelecido por Serra. Com essa decisão do governo Lula, diferentemente do que estabelecia a Norma emitida por Serra, qualquer pessoa poderia simplesmente dizer que sua gravidez era decorrente de estupro, mesmo sem precisar provar, e, assim, praticar aborto via SUS. Esse é o PT.
Na atual campanha, o candidato do PSDB enfatizou outra vez, e mais de uma vez, ser contra o aborto. Em maio, em entrevista ao apresentador Carlos Massa (“Ratinho”) do SBT, disse: “Não apoiarei nenhuma iniciativa para mexer na legislação sobre o aborto”. Em julho, em entrevista à TV Brasil, afirmou: “No que depender da iniciativa do Executivo, a lei atual [sobre o aborto] ficará como está”. Ainda em julho, na sabatina de presidenciáveis promovida pelo jornal Folha de São Paulo e o portal de notícias UOL, Serra asseverou: “Considero o aborto uma coisa terrível. (...) Isso [a legalização do aborto] liberaria uma verdadeira carnificina”. E em 6 de outubro, enfatizou: “Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra. Tem amigos que me acham atrasado. Eu tenho minhas razões íntimas, pessoais, de história, para ter essa convicção. Errado é querer enrolar. Chegou-se ao máximo de estampar em primeira página que o PT ia tirar o aborto do programa. O que não tem direito é uma campanha presidencial enrolar. No fundo, é desrespeitar pessoas, os cidadãos. Essa decepção comigo não existirá”.
Aproveitando, alguns petistas andaram espalhando semana retrasada o boato de que Mônica Serra, esposa do tucano, teria feito aborto quando no exílio. A fonte da estória foi uma ex-aluna de Mônica Serra, confessadamente eleitora de Plínio de Arruda Sampaio no primeiro turno e de Dilma no segundo, e que disse que ouviu essa informação dos lábios da própria Mônica. Porém, (1) nenhuma outra colega dela que tenha sido também ex-aluna de Mônica disse ter ouvido essa história; (2) Mônica e Serra negam veementemente tal história e historicamente nunca defenderam a legalização do aborto (aqui); (3) quem disseminou isso foi a jornalista Mônica Bérgamo, que já declarou em entrevista “Olha, posso ser tudo, menos serrista” (aqui e aqui); (4) e o ônus, caros, é de quem acusa, não de quem é acusado. Já imaginou se adotássemos o critério petista de aceitar uma acusação sem provas? Eu acuso você de algo sem provar e você é que tem o ônus de provar se estou mentindo ou não. Isso é loucura! Quando afirmamos aqui que Dilma sempre foi a favor da legalização do aborto, demonstramos isso com vídeos e depoimentos da própria Dilma. Ela mesmo falando por ela mesma, e não essa história de “ouvi fulano dizer que beltrano teria dito a ele um dia, num momento bem íntimo, que...”.
Dilma, por sua vez, sempre foi a favor da legalização do aborto. Em sabatina à Folha de São Paulo em 2007, afirmou Dilma: “Tem de haver a descriminalização do aborto. Hoje, no Brasil, é um absurdo que não haja a descriminalização” (Veja aqui). Em entrevista à revista Marie Claire, edição de abril de 2009, asseverou: “Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização” (Veja aqui).
Em 7 de maio deste ano, em entrevista dada ao “Encontro de Editores 2010”, promovido pela revista Istoé, afirmou Dilma: “O aborto, do ponto de vista de um governo, não é questão de foro íntimo, é uma questão necessariamente de saúde pública. Tem que ser seriamente conduzido dessa forma. (...) Sou a favor de atendimento público para quem estiver em condições de fazer o aborto ou querendo fazer o aborto” (Veja aqui).
Seis dias depois, em entrevista ao sair de uma missa em São Paulo, Dilma disse sobre a legalização do aborto: “Não é uma questão se eu sou contra ou a favor, é o que eu acho que tem que ser feito. Não acho que ninguém quer arrancar um dente, e ninguém tampouco quer tirar a vida de dentro de si” – comparando o aborto a arrancar um dente (Veja aqui).
O deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, foi um dos líderes pró-aborto no Congresso Nacional. Em julho de 2008, quando orientava a votação dos colegas de partido sobre o projeto de lei para legalizar o aborto, afirmou: “Nossa posição é muito clara: na linha favorável à descriminalização do aborto”.
Oportunista, preocupada com o resultado do primeiro turno, Dilma, que sempre defendeu a legalização do aborto, se reuniu com evangélicos em Brasília no dia 13 de outubro dizendo que assinaria um manifesto contra o aborto e a união civil homossexual. Dois dias depois, no dia 15 de outubro, disse que não iria assinar mais (sic). No dia seguinte, mudou de idéia de novo e terminou assinando. Mas, dois dias depois (18 de outubro), em entrevista ao Jornal Nacional, perguntada por William Bonner sobre o assunto, a candidata não negou nem confirmou se era contra ou a favor da legalização do aborto. Disse e desdisse o que pensa duas vezes em uma única resposta. Ademais, ainda que tivesse agido diferentemente e confirmado realmente ser contra, é ingenuidade demais acreditar que alguém que sempre defendeu a legalização do aborto está sendo sincero ao dizer que agora é contra porque assinou um documento afirmando isso há apenas 15 dias antes do segundo turno, e exatamente quando esse tema foi uma das razões pelas quais não ganhou no primeiro turno. É como crer em Papai Noel e Coelinho da Páscoa.
Prefiro crer em quem, historicamente, sempre foi contra a legalização do aborto, e não em quem disse que mudou de posição faltando apenas 15 dias para o segundo turno e ainda mentiu chamando de boatos todas as suas afirmações anteriores sobre o assunto sempre a favor do aborto e bem documentadas.
4) Tanto Serra quanto Dilma são, infelizmente, a favor da união civil homossexual, porém Serra é contra as igrejas terem de aceitar casar homossexuais. Sobre esse ponto, Dilma nunca disse nada a respeito.
Em 1 de maio deste ano, falando no evento dos Gideões Missionários da Última Hora, promovido pela Assembleia de Deus em Camboriu (SC), Serra afirmou que “o Estado não deve legislar sobre casamentos entre pessoas do mesmo sexo em cerimônias religiosas”, pois “essa é uma questão de cada igreja. Cada uma tem liberdade e autonomia para decidir a esse respeito. Seria uma intrusão dizer que tal igreja tem que fazer isso ou aquilo”. E em entrevista à estatal TV Brasil, em julho, Serra reafirmou sua posição contra qualquer imposição do Estado para que igrejas sejam forçadas a realizar “casamentos” entre pessoas do mesmo sexo, destacando que isso seria ferir a liberdade religiosa no país: “É um assunto em que o Estado não entra, é problema das pessoas. Cada crença tem a sua orientação. Se uma igreja não quer casar, mesmo havendo a união civil, a igreja não pode ser obrigada a isso”.
5) Serra é menos ambíguo que Dilma em relação à legalização das drogas.
Serra é totalmente contra a legalização das drogas. Em entrevista à TV Bandeirantes em Belo Horizonte, em 28 de julho, Serra asseverou que não aceita nem mesmo a legalização da maconha, dita pelos liberais como “inofensiva”: “Sou contra [a legalização das drogas], daria uma confusão. Nem mesmo na Holanda, um país arrumadíssimo, a legalização da maconha deu certo. A maconha é um passo para outras drogas. Defendo uma política de combate às drogas baseada em repressão, educação nas escolas e tratamento”.
Dilma, por sua vez, declara-se contra, mas sempre abrindo a ressalva de que o faz apenas “dentro do quadro que temos hoje no Brasil”. Ou seja, é contra, mas não descarta a possibilidade de, no futuro, sob outras condições, o tema ser discutido. Sobre o tema, declarou ainda em entrevista à TV Brasil: “Não podemos falar em processo de descriminalização de droga nenhuma enquanto tivermos o quadro que temos hoje no Brasil”.

Sobre privatizações

Aproveitando: É mentira que Serra é privatista! Serra sempre defendeu as privatizações, mas isso não significa dizer que é um privatista, pois ele e o falecido Mário Covas faziam parte da ala do PSDB que era contra o que chamavam de “radicalismos” na privatização. Eles sempre defenderam um certo dirigismo estatal, um “Estado forte”, um Estado gigante, posição da qual discordo profundamente. As privatizações, repito, foram um bem para o país!
As estatais quase falidas que foram vendidas durante o governo Fernando Henrique Cardoso renderam ao país, à época, 106 bilhões de dólares, que foram usados para abater a dívida pública que FHC herdara dos governos Sarney e Collor, e permitir o reequilíbrio fiscal do país naquele período. E sabe por que essas estatais estavam quase falidas (com o governo tendo que tirar dinheiro da educação, saúde e segurança para colocar nelas para que sobrevivessem)? Porque o Estado nunca teve função empresarial e, por isso, todas as vezes que tentou fazer essa tarefa em qualquer o país, o fez pessimamente e aumentando sua dívida pública. Inclusive, essas estatais sempre foram usadas mais para cabides de emprego de correligionários do que para usar o talento de profissionais de fato, sobrecarregando os gastos.
O Estado não nasceu para usar nossos impostos para incursões empresariais, desviando dinheiro de suas atividades essenciais (saúde, educação, segurança) e concorrendo deslealmente com empresas privadas ou monopolizando mercados (e conseqüentemente encarecendo serviços e produtos, diferentemente da concorrência que, comprovadamente, sempre resultou em melhora e barateamento dos produtos e serviços). Repito: O Estado nasceu para dedicar nossos impostos apenas às suas funções básicas, como segurança pública, educação e saúde.
E por falar de dívida pública, os gastos desmedidos do governo Lula simplesmente dobraram a dívida pública do país de 2003 a 2009. Até o início do ano que vem, o salto será maior ainda, o que já aponta para uma crise econômica futura (Leia aqui). Para se ter uma idéia do que seria essa crise, é só olhar para o que está acontecendo hoje na Grécia, em Portugal, França e Inglaterra, por exemplo, tendo que, sob protestos da população, cortar na própria carne para evitar o caos total do país.
Após as privatizações do período FHC, aquelas empresas que davam prejuízo ao governo todos os anos foram modernizadas, empregaram exponencialmente muito mais que antes, deram um retorno absurdo em impostos aos cofres do governo federal, e baratearam e melhoraram os produtos e serviços oferecidos ao povo, melhorando sua qualidade de vida. E se uma minoria dessas empresas ainda não presta um serviço com 100% de qualidade, as agências reguladoras foram criadas para cobrar exatamente isso delas, e o Código de Defesa do Consumidor já está aí há um bom tempo para também defender o consumidor. Lembrando ainda que se fôssemos brigar com empresas monopolizadoras do Estado por melhoria de serviços ou produtos, seria muito mais complicado do que com empresas privadas que estão sob as regras de agências reguladoras.
E a Petrobras, queridos, nunca foi e nunca será privatizada, porque nunca deu prejuízo ao Estado. Agora, uma das coisas mais sensacionais que o governo FHC fez em relação à Petrobras foi quebrar em 1997 o monopólio de exploração de petróleo pela Petrobras, que passou a ser uma empresa de capital misto (com o governo apenas como sócio majoritário), fazendo com que o governo não gastasse mais bilhões com exploração de petróleo, deixando isso para o capital privado, e ainda lucrasse absurdamente com os resultados do investimento do capital privado na Petrobras em exploração. Daí a Petrobras deu o pulo que deu no cenário internacional e o próprio pré-sal se tornou hoje uma possibilidade, como fruto desses investimentos. A exploração de petróleo do país cresceu 1.500% de 1997 para cá e a alta da produção de petróleo foi de mais de 30%.
Se você é contra as privatizações, jogue fora seu celular e volte ao telefone fixo que não dava linha e que custava o valor de um carro, ao ponto de ter de ser mencionado na declaração de imposto de renda e ser dado como entrada na compra de uma casa ou de um carro. E olha que ainda se pagava a conta de telefone todo mês... Coisa de rico. Então, vieram as privatizações, que abriram espaço no Brasil para as tecnologias de telefonia móvel e fixa, aumentando os investimentos nessa área e melhorando e barateando, via concorrência, os produtos e serviços para os brasileiros.
Antes das privatizações, tínhamos apenas 10 milhões de linhas fixas de telefone no Brasil. Hoje, são 70 milhões de telefones fixos e 190 milhões de celulares. Ou seja, 250 milhões de linhas a mais. Linhas fixas? Oferecem de graça. Celular? Dependendo do aparelho, também. E o Brasil ainda ganhou imediatamente 21 bilhões de reais no caixa, fora os centenas de bilhões de reais em impostos recolhidos das teles privadas desde as privatizações até agora.
A Embraer, antes de ser privatizada em 1997, vendia quatro aviões por ano, tinha 6 mil funcionários e faturava 700 milhões por ano. Hoje, são quase 250 aviões vendidos por ano, 17 mil funcionários e 5 bilhões anuais de faturamento. Só perde para Boeing e Air Bus. Aumento de 550%. E ainda devemos lembrar os bilhões em impostos pagos ao governo federal nos últimos 13 anos.
E a Vale do Rio Doce? Em 1997, ano da privatização, a Vale valia 8 bilhões de reais, lucrava 750 milhões de reais por ano, produzia 110 milhões de toneladas de minério por ano e empregava 11 mil pessoas. Hoje, ela vale 272 bilhões de reais e está em 35 países, lucra 10 bilhões de reais por ano, produz 320 milhões de toneladas de minério por ano e emprega 40 mil pessoas só no Brasil, fora os bilhões em impostos pagos ao governo federal nestes 13 anos de privatizada.

Concluindo

Enfim, poderia enumerar muitas outras razões (como os arroubos totalitários do PT, expressos mais recentemente no PNDH 3 - leia aqui e aqui), mas já escrevi bastante. Entretanto, para não ficar só em minhas palavras, leia ainda as razões pelas quais as revistas The Economist (aqui) e Financial Times (aqui), o jornal O Estado de São Paulo (aqui) e estes artistas e intelectuais (aqui e aqui) apóiam José Serra para presidente.
Serra é perfeito? Não. Mas, é, sem dúvida, o melhor candidato. Meu voto em 31 de outubro vai para ele.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Jesus é 100% homem e 100% Deus

Em janeiro de 2007, a edição 22 da revista Reposta Fiel (CPAD) trouxe como artigo de capa um texto de minha lavra evocando uma velha máxima da ortodoxia bíblica e do cristianismo histórico: “Jesus é 100% homem e 100% Deus”. Trata-se de uma afirmação repetida por cristãos ortodoxos há séculos, fundamentada na verdade apresentada pela Bíblia sobre a humanidade e a divindade de Cristo em Sua encarnação, e que procura reverberar fielmente o texto final do Concílio de Calcedônia, realizado em 451 d.C., justamente porque a decisão desse Concílio foi fiel ao ensino bíblico sobre o paradoxo que é a encarnação de Cristo. Aliás, o texto de Calcedônia é aceito por todos os ramos do Cristianismo até hoje: católicos, protestantes (não-pentecostais e pentecostais) e ortodoxos, justamente por ter sido fiel ao máximo às Escrituras. Só não aceitam o texto de Calcedônia as seitas Testemunhas de Jeová e Mórmons, e seis pequenas dissidências da Igreja Ortodoxa: a Igreja Apostólica Armênia, a Igreja Ortodoxa Síria, a Igreja Ortodoxa Copta, a Igreja Ortodoxa Etíope, a Igreja Ortodoxa Indiana e a Igreja Ortodoxa de Eritréia. Todos os demais ramos do cristianismo no mundo aceitam a afirmação de que Jesus é 100% homem e 100% Deus, posto que reconhecem que é assim que as Escrituras ensinam sobre a divindade e a humanidade de Cristo, por mais paradoxal que essa afirmação seja para a mente humana.
Paulo chama a encarnação de “mistério” (1Tm 3.16) exatamente por causa desse paradoxo. Para a razão humana, não há como entender que Jesus de Nazaré era 100% homem e 100% Deus. Da mesma forma que a Trindade é uma realidade bíblica que está além da nossa compreensão humana, mas aceitamos por fé, assim é o ensino bíblico sobre a encarnação de Cristo.
Portanto, é absolutamente estranho que haja crentes que vejam a expressão “100% homem e 100% Deus” como uma tentativa de explicar ou resolver o mistério da encarnação, quando ela é exatamente o oposto: A apresentação do paradoxo da encarnação! A encarnação é um mistério exatamente porque a Bíblia mostra que Jesus continuava sendo 100% Deus mesmo sendo 100% homem e vice-versa. Muitas são as passagens bíblicas que ressaltam que Jesus era, ao mesmo tempo, plenamente humano e plenamente divino.
Quando teólogos como Norman Geisler, Stanley Horton, William Menzies, Bruce Milne, Hank Hanegraaff, Ron Rhodes e James Packer repetem em seus escritos exatamente a antiga expressão “Jesus é 100% homem e 100% Deus”, estão reconhecendo bíblica e humildemente o mistério da encarnação. O mesmo faz o pastor e teólogo Eurico Bergstén, quando afirma que “Jesus era verdadeiro Deus, mas também era verdadeiro homem”; ou o pastor e teólogo Severino Pedro, quando afirma que Jesus era “plenamente homem e plenamente Deus”; ou os teólogos pentecostais David Demchuk, Roger Stronstad e French Arrington, quando afirmam que Jesus era “completamente Deus e completamente humano”. A lista de exemplos é imensa. Ela abarca homens de Deus que deram suas vidas pela ortodoxia bíblica nos últimos 15 séculos.
Dizer que Jesus é 100% homem nada mais é do que dizer que Jesus é plenamente homem, completamente homem, verdadeiro homem. Assim como dizer que Jesus é 100% Deus nada mais é do que dizer que Jesus é plenamente Deus, completamente Deus, verdadeiro Deus. Foi o que fez com propriedade o Concílio de Calcedônia:
Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na divindade, perfeito na humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem; (...) consubstancial ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado; (...) em duas naturezas inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e inseparáveis; a distinção das naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência; não dividido ou separado em duas pessoas, mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor...”.
Algumas observações:
1) O detalhismo expresso no uso de termos como “perfeito na divindade”, “verdadeiro Deus”, “consubstancial ao Pai, segundo a divindade” e “propriedades de cada natureza intactas” foi usado pelo Concílio para deixar bem claro que Jesus era 100% Deus. A expressão traduzida aqui por “consubstancial” é, no original, homoousios, que significa “da mesma substância que”.
2) As mesmas expressões foram usadas propositalmente em relação à humanidade de Cristo (“perfeito na humanidade”, “verdadeiro homem”, “consubstancial a nós, segundo a humanidade” e “propriedades de cada natureza intactas”), para deixar bem claro também que Jesus era 100% homem. Lembrando mais uma vez que a expressão traduzida aqui por “consubstancial” é, no original, homoousios, que significa “da mesma substância que”.
3) O Concílio de Calcedônia ocorreu para combater exatamente os ensinos populares de Eutíquio, de Constantinopla, que “começou asseverando que o corpo de Jesus não era idêntico ao nosso, mas fora especialmente criado por Deus para a missão que veio cumprir” (Teologia Sistemática, uma perspectiva pentecostal, CPAD). O Eutiquianismo ou Monofisismo, como passou a ser conhecido, iniciou com essas premissas antibíblicas e acabou proclamando que “Jesus era uma só Pessoa com uma só natureza, uma humanidade deificada, diferente de qualquer outra humanidade”.
4) O Concílio considerou, com razão, o assunto muito sério porque a Bíblia diz que negarmos tanto a plena divindade (como os liberais o fazem) quanto a plena humanidade (como os gnósticos, monofisistas, docetistas etc o fazem) de Cristo é grave (Cl 2.8,9; 1Jo 4.2; 1Co 11.4).

Sobre a plena humanidade de Cristo

Em que sentido Jesus foi homem? Em seu sentido pleno, completo, perfeito, total. A Bíblia assevera a plena humanidade de Cristo. As Escrituras afirmam que Jesus foi concebido por obra e graça do Espírito Santo no útero de Maria, gerado não só nela, mas dela (falaremos disso mais adiante), e seu nascimento foi normal e humano (Mt 1.25; Lc 2.7 e Gl 4.4). Cristo desenvolveu-se no ventre de Sua mãe como qualquer outro embrião e feto saudáveis, passando por um período de gestação e trabalho de parto normais. Após Seu nascimento, desenvolveu-se fisicamente de forma também normal (Lc 2.40-52 e Hb 5.8), vivendo sadiamente em um lar (Mc 6.1-6).
As Sagradas Escrituras afirmam ainda que Jesus esteve sujeito a todas as limitações físicas próprias da humanidade: teve sede (Mt 11.29), fome (Mt 21.18) e cansaço (Jo 4.6); e sentiu alegria (Lc 10.21), tristeza (Mt 26.37), amor (Jo 11.5), compaixão (Mt 9.36), surpresa (Lc 7.9) e ira (Mc 3.5).
O teólogo britânico Bruce Milne, em sua obra Conheça a Verdade (ABU Editora, 1987), destaca que a tradução literal das passagens de Lucas 19.41, Mateus 27.46 e João 2.17 aponta para um Jesus que viveu intensamente as emoções humanas. Em Lucas, lê-se no original grego que “tomado de tristeza incontrolável, chorou”. Na passagem de Mateus, lê-se que Jesus teve “uma consternação que se assemelha ao desalento”. Já no Evangelho de João, o apóstolo descreve o Mestre com uma “indignação violenta que o consome como fogo”.
Entretanto, há ainda três provas contundentes da plena humanidade de Jesus.
(I) Sua vida religiosa prova sua plena humanidade. Mesmo sendo Deus, Jesus, como homem, precisava estudar. Ele precisou aprender Sua língua, como qualquer outra criança (Lc 2.52). Jesus estudou as Escrituras e meditou nelas para poder explicá-las (Lc 2.46,52). E quando explicou-as, o fez com uma percepção singular (Mt 22.29; 26.54,56; Lc 4.21; 24.27,44). Como homem, Jesus também precisava orar e jejuar (Mt 12.28; Lc 4.18 e At 10.38). Para isso, Jesus orava constantemente, e algumas vezes a noite inteira (Lc 6.12).
(II) As tentações que Jesus sofreu são também uma prova eloqüente de sua plena humanidade. Ele foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Mas, alguém pode dizer: “Será que essas tentações foram mesmo tentações para Ele, uma vez que Jesus não nasceu com natureza pecaminosa?”. O fato de as tentações que Cristo sofreu não terem contado com apoio interno, com uma natureza pecaminosa lutando dentro dEle a favor da tentação, como ocorre conosco quando somos tentados, não significa que Jesus não sofreu pressões quando tentado. Lembremos de Adão antes da Queda. Ele é um caso de natureza humana sem pecado, mas sujeita a uma tentação real (Gn 3). Além disso, o “filtro” da proteção divina na hora da tentação não estava sobre Jesus. Como assim?
1Coríntios 10.13 diz que Deus faz com que nunca sejamos tentados “além das nossas forças”. Ou seja, a tentação que encontramos é filtrada por Deus. Porém, no caso de Jesus, esse “filtro” foi removido. Não é à toa que Cristo chegou a suar sangue em meio à tensão para fazer a vontade do Pai (Lc 22.44). Assim, Jesus não participou do pecado original e permaneceu sem pecado, mas, como verdadeiro homem, Ele suportou o peso e o poder da tentação a um ponto que jamais iremos experimentar. As tentações sobre Jesus foram reais, Ele foi tentado em tudo, e fortemente, mas venceu porque é Deus. Nenhum outro ser, dotado apenas da natureza humana, suportaria o que Jesus suportou por nós.
(III) A necessidade de aperfeiçoamento e de aprender a obediência comprovam contundentemente a total humanidade de Cristo em Sua encarnação. A última grande prova da plena humanidade de Cristo está em Hebreus: “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e por meio de quem tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles” (Hb 2.10). Hebreus 5.8 diz ainda que Jesus, mesmo sendo Filho de Deus, “aprendeu a obediência pelo que sofreu”. Ou seja, Jesus precisou se aperfeiçoar e aprender a obediência. Quem ignora que Jesus foi 100% homem em Sua encarnação não pode aceitar que Jesus teve que ser aperfeiçoado e aprender mesmo sendo Ele Deus. Somente aceitando o paradoxo da encarnação apresentado na Bíblia, de que Jesus, ao encarnar, foi totalmente humano sem deixar de ser totalmente Deus pode-se entender que Jesus teve que ser aperfeiçoado e aprender em Sua encarnação. Só reconhecendo que Ele foi 100% homem sem deixar de ser 100% Deus, por mais incompreensível que isso seja para a mente humana, assim como o é a Doutrina da Trindade. É o “mistério da piedade”, como disse Paulo.
Dizer que o aperfeiçoamento de Jesus não foi real é negar a Sua inteira humanidade; e se Jesus não era 100% homem, Sua morte na cruz seria em vão, já que o substituto da humanidade, aquele para morrer em nosso lugar, tinha que ser um de nós de verdade (Abordarei esse tema mais adiante).
Jesus, como Deus, não precisava realmente passar por um aperfeiçoamento. Mas, como homem, sim. A humanidade de Jesus precisava ser aperfeiçoada. E aperfeiçoamento, em Hebreus 2.10, claro que não significa purificação de algum pecado ou fraqueza moral, pois a Bíblia enfatiza a impecabilidade de Jesus (Jo 8.46; 2Co 5.21; 1Pe 1.19;2.22), inclusive o próprio escritor de Hebreus (Hb 4.15; 7.26).
Jesus, como homem, precisava crescer, como cresceu, em graça, sabedoria e em qualidades morais positivas que já manifestava desde Seu nascimento (Lc 2.40,52). Além disso, como deixa claro o escritor de Hebreus, Jesus foi, como homem, aperfeiçoado em Sua missão remidora. Tudo o que era necessário para Sua missão foi forjado nEle pelo sofrimento, incluindo aí, acima de tudo, o Getsêmani e a Sua morte e ressurreição.
Vejamos agora mais alguns pontos importantíssimos sobre a plena humanidade de Cristo à luz da Bíblia.
1) As Escrituras afirmam que Jesus era como Adão antes da Queda
Paulo, escrevendo aos Romanos, afirma que Jesus era “um homem” assim como Adão (Rm 8.15,19); e em sua carta aos crentes em Corinto, ele é mais direto ainda, ao se referir a Jesus como sendo o “segundo homem” em relação a Adão e também o “último Adão” (1Co 15.45,47). Ora, se Paulo diz que Jesus era o segundo homem depois de Adão e que Ele também era “o último Adão”, e não um “novo Adão”, isso significa dizer que:
(I) Jesus e Adão eram iguais em humanidade;
(II) Adão e Jesus compartilhavam de uma singularidade como seres humanos em relação a todos os demais seres humanos;
(III) E ambos são cabeça dos seres humanos: Adão, o cabeça da nossa mortalidade e Jesus, o cabeça da nossa imortalidade. Por isso que Paulo ressalta que Adão era apenas um ser vivente, enquanto Jesus, o “espírito que dá vida” ou “espírito vivificante”. Ou seja, de Adão, herdamos a mortalidade; de Cristo, a imortalidade (1Co 15.22). Esse é o tema preponderante em 1 Coríntios 15: Como Cristo ressuscitou e teve Seu corpo - composto de carne, sangue e ossos (Lc 24.39) - glorificado, assim também ressuscitaremos e teremos o nosso corpo glorificado, que será semelhante ao dEle glorificado (Fp 3.20,21).
Bem, mas no que Adão e Jesus eram singulares como humanos em relação a todos os demais seres humanos de todos os tempos (além, claro, do fato de serem Cabeças da humanidade na mortalidade e na imortalidade respectivamente)?
Jesus e Adão eram humanos como eu e você, exceto num aspecto, explicitado pelas Escrituras: Jesus não tinha uma natureza pecaminosa (2Co 5.21; Hb 4.15), assim como Adão também não tinha antes da Queda, porquanto fora criado diretamente à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), o que significa dizer que foi criado originalmente como um ser sem pecado, sem tendência pecaminosa, e, claro, auto-consciente, racional, dotado de senso moral e detentor de livre agência ou livre-escolha, o que são outras características dessa “imagem e semelhança” que herdamos de Adão. A Palavra de Deus diz que Adão e Eva sequer conheciam o mal, o que passaram a conhecer após pecarem (Gn 1.17; 3.22).
Disse Davi: “Eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Trata-se de uma referência clara à natureza caída, ao pecado original que herdamos de Adão após a sua Queda, como Paulo ensina em Romanos 5.12, e que é reafirmado por ele ainda em passagens clássicas como Romanos 3.23 e Efésios 2.3. Adão ganhou uma natureza pecaminosa depois da Queda, e que nos foi passada hereditariamente. É por isso que essa natureza pecaminosa é denominada ainda de “velho Adão” e “velha natureza” ou “velho homem” (Ef 4.22).
Cristo foi gerado como qualquer descendente de Adão, mas sem herdar a sua natureza pecaminosa. Como afirmam as Escrituras, Jesus é o segundo Adão que, diferentemente do primeiro, “não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.6). A expressão de Filipenses 2.6 é uma referência direta à diferença de atitude do segundo Adão em relação ao primeiro, que quis ser “igual a Deus”, como prometeu-lhe falsamente a serpente no Jardim do Éden (Gn 3.5). Adão não tinha direito nem condições de ser igual a Deus, mas quis ser igual a Deus. Já Jesus, mesmo sendo Deus, não quis, aqui na Terra, explorar os seus poderes e privilégios naturais como Deus, que Ele poderia usar a qualquer momento, se quisesse, por direito (Mt 26.53). Ele “não teve por usurpação ser igual a Deus”.
Agora, resta fazer uma pergunta: Uma pessoa que não peca pode ser considerada realmente humana? À luz das Sagradas Escrituras, sim. Como já vimos, a Bíblia nos mostra que o pecado nunca fez parte da essência da natureza humana em sua forma original, antes da Queda. Nós, descendentes de Adão, somos versões adulteradas, corrompidas, da humanidade original, corrompida pós-Queda. Por isso que se é dito teologicamente que trazemos as "relíquias da imagem de Deus em nós", e que Cristo veio para restaurar isso. Nas palavras do teólogo Millard Erickson: "Se dissermos que uma pessoa que não peca não é realmente humana, estamos sustentado que o pecado faz parte da essência da natureza humana. Tal concepção deve ser considerada uma heresia por qualquer pessoa que creia que a humanidade foi criada por Deus, já que Deus seria então a causa do pecado, o criador de uma natureza essencialmente má. (...) O tipo de natureza humana que cada um de nós possui não é a natureza humana pura. A verdadeira humanidade criada por Deus foi, no nosso caso, corrompida e danificada. No fim, só houve três seres humanos puros: Adão e Eva antes da Queda, e Jesus. (...) Jesus não é apenas tão humano como nós; Ele é mais humano [E não menos humano!]. Nossa humanidade não é um padrão pelo qual possamos medir a dEle. Sua humanidade, verdadeira e não adulterada, é o padrão pelo qual nós seremos medidos" (Introdução à Teologia Sistemática, Vida Nova).
2) Paulo não afirma que o corpo de Jesus era diferente do corpo de Adão
Quando Paulo diz que o primeiro Adão é terreno e o segundo Adão é celestial (1Co 15.47), ele não está dizendo que a natureza humana de Jesus era diferente da natureza humana de Adão antes deste cair, mas se refere à procedência do primeiro Adão ser diferente da procedência do segundo Adão. Ou seja, Paulo não alude à diferença de natureza humana entre o primeiro e o segundo Adão, mas à diferença relativa a de onde viera o primeiro Adão e de onde viera o segundo Adão. Um veio da Terra, o outro veio do Céu, mas Este era, como ser humano, igual em tudo ao que veio da Terra; ou seja, Sua natureza humana era igual à de Adão. Tanto que, voltamos a lembrar, Jesus é chamado no contexto da referida passagem de “segundo homem [Adão]” e “último Adão”, o que se refere claramente à igualdade de natureza entre eles. Se o apóstolo Paulo quisesse se referir a Cristo como tendo algum tipo de natureza humana distinta da de Adão antes deste cair, teria usado a expressão “novo Adão” e não “segundo homem [Adão]” e “último Adão”. Essas expressões trazem naturalmente as ideias de continuidade e igualdade, e não de descontinuidade. Ademais, há muitas passagens bíblicas que se referem à natureza humana de Jesus como sendo plenamente humana, como veremos mais à frente.
Historicamente, quem usava exatamente o texto de 1 Coríntios 15.47 de forma distorcida para ensinar que o corpo de Jesus era diferente do de Adão e dos demais seres humanos, dizendo que Cristo não era tão humano como nós ou Adão, eram os gnósticos, seita combatida por Paulo, Pedro, João, os Pais da Igreja e, enfim, por toda a Igreja em seus primeiros séculos.
Perorando, as duas únicas diferenças entre o primeiro e o segundo Adão dizem respeito à procedência de cada um e ao fato de que o primeiro Adão tinha só uma natureza humana, enquanto o segundo tinha não só uma natureza humana idêntica à de Adão e descendida dele, mas também uma natureza divina, como Deus que Ele era e é desde antes da fundação do mundo, desde toda a eternidade (Jo 1.1-3).
Isso está claro para quem lê atentamente 1 Coríntios 15.47-49 em qualquer tradução que temos hoje das Sagradas Escrituras, mas, para que fique mais claro ainda, vejamos essa passagem na Bíblia na Linguagem de Hoje:
“47 O primeiro homem foi feito do pó da terra; o segundo veio do céu [Ou seja, Jesus não foi feito direto do solo, como o primeiro Adão. A Bíblia diz que o segundo Adão veio ao mundo assim como eu e você: concebidos no ventre; sendo que, no caso do Cristo, essa concepção se deu por obra e graça do Espírito Santo (Mt 1.20). É nesse sentido que Paulo diz que o segundo Adão é “celestial”, e não no sentido de que sua natureza humana não é humana como a de Adão antes deste cair]".
“48 Os que pertencem à terra são como aquele que foi feito do pó da terra. Os que pertencem ao céu [Aqui, Paulo se refere aos crentes nascidos de novo em Cristo Jesus, que têm gerada neles uma nova natureza, de ordem espiritual] são como aquele que veio do céu.”
“49 Assim como somos parecidos com o homem feito do pó da terra, assim também seremos parecidos com o homem do céu [Ou seja, se Cristo veio do Céu e para lá retornou, nós, que nos identificamos com Ele em Sua morte e ressurreição, iremos ao Céu de onde veio e onde Ele está, se formos fiéis. E assim como Cristo, em Sua ressurreição, teve seu corpo físico glorificado, teremos também nossos corpos glorificados]”.
Lembrando ainda que a expressão bíblica “corpo espiritual” não se refere a um corpo falso, fictício, que na verdade seria puro espírito, invisível, mas a um corpo de fato, como o de Cristo ressurreto; um corpo de fato, mas que corresponda às necessidades da vida espiritual, assim como a expressão “corpo natural” refere-se a um corpo de fato, mas que é adaptado apenas às necessidades da vida neste mundo. O que Paulo diz é que, quando os mortos em Cristo ressuscitarem, será em seus próprios corpos, só que glorificados, revestidos de imortalidade (1Co 15.52-57). Então, seremos plenamente e eternamente conforme a imagem de Cristo ressurreto (1Co 15.49).
E para que não restasse dúvida do que havia falado até o versículo 49, Paulo explicaria ainda no versículo seguinte: “Meus irmãos, o que eu quero dizer é isto: o que é feito de carne e de sangue não pode ter parte no Reino de Deus, e o que é mortal não pode ter a imortalidade” (v50, NTLH). Ou seja, nossa alma já é imortal (inclusive, aquele que morre em Cristo hoje já vai para o Paraíso – Lc 23.43), só que, para vivermos eternamente também com nossos corpos no Céu, para que esse nosso corpo, feito de carne e sangue, não se deteriore (não se corrompa) como hoje acontece, é preciso que ele se revista de imortalidade. Isso é o que Paulo chama de “redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). Esse corpo é glorificado, ganhando poderes, capacitações e privilégios que hoje não tem, sendo, assim, finalmente redimido para que possamos viver eternamente com Deus no Céu absolutamente completos – não mais almas desencarnadas no Paraíso, mas almas com seus respectivos corpos glorificados.
3) O corpo de Jesus não foi uma criação à parte no ventre de Maria; o homem Jesus descendia fisicamente, geneticamente, de Adão, por Maria
Já vimos, no tópico 2, que Jesus não era um novo Adão, mas um segundo e último Adão, o que fala claramente de igualdade de naturezas entre Cristo e Adão no que diz respeito à humanidade de Cristo. Agora, é preciso ainda enfatizar que essa igualdade de naturezas não significa que Jesus tinha uma natureza humana coincidente a de Adão, mas sem descender geneticamente de Adão. Não. Jesus não só era igual a Adão como homem; Ele também, como homem, descendia diretamente de Adão. Assim afirmam claramente as Escrituras.
Essa visão de que o corpo de Jesus foi criado no ventre de Maria à parte nunca foi a visão ortodoxa sobre a encarnação de Cristo, e nem poderia à luz do texto bíblico. Foi o falecido teólogo norte-americano Henry Morris (1918-2006) quem a esposou e popularizou em um folheto publicado em 30 de dezembro de 1975 nos Estados Unidos, intitulado “A Criação e o Nascimento Virginal”. Nele, Morris, que até então sempre fora ortodoxo biblicamente, de repente passou a ensinar uma visão heterodoxa da encarnação. Dizia ele que “A concepção virginal de Cristo no útero não foi uma fertilização sobrenatural do óvulo de Maria, mas, sim, uma criação direta da parte de Deus-Pai. Logo, o corpo de Jesus não estava geneticamente ligado ao de Adão”. Explicava ainda Morris que “O corpo de Jesus não foi formado nem pela semente do homem, nem pelo óvulo da mulher, mas cresceu a partir de uma semente única plantada no corpo da mulher pelo próprio Deus. Assim, o corpo de Cristo foi preparado pelo magnífico Criador, sem a necessidade de matérias primas. (...) Ou seja, Deus formou diretamente um corpo para o segundo Adão, tal qual fez com o primeiro Adão (Gn 2.7). Isto não foi nada mais que um milagre de criação, que somente poderia ter sido realizado pelo próprio Criador”.
Morris defendia sua posição basicamente evocando os seguintes textos bíblicos: Primeiro, Hebreus 10.5, que fala que Deus preparou o corpo de Jesus; e segundo, os textos bíblicos que falam que Jesus nasceu sem pecado, ao que argumentava que sua tese da criação no ventre era a única forma de explicar porque Jesus não herdou a natureza pecaminosa de Adão. O problema do argumento de Morris é que Hebreus 10.5 não fala de “criar”, mas de “preparar”; não é criação ex nihilo, mas “preparação”; e a própria Bíblia também deixa claro que Jesus não herdou a natureza pecaminosa de Adão pós-queda por causa da Sua natureza divina. O anjo Gabriel disse a Maria que a concepção se daria quando o Espírito Santo descesse sobre ela e o poder do Altíssimo a envolvesse, e que “por isso” Jesus não seria apenas homem mas “também” seria “ente santo”, pois era “Filho de Deus”, isto é, Deus (Lc 1.35).
Jesus não poderia pecar porque Ele não era só homem, mas também Deus. A impecabilidade de Cristo como ser humano se devia exatamente à ligação essencial entre as naturezas humana e divina na encarnação.
Explicado isso, vejamos agora várias passagens bíblicas que denotam que Jesus descendia geneticamente de Adão. Se não, vejamos.
a) Lucas 3.23,38 afirma que Jesus descende geneticamente de Adão: “Jesus (...) filho de Adão”. Enquanto Mateus, que escreve seu evangelho originalmente a judeus, se preocupa mais em mostrar o parentesco de Jesus com o rei Davi e Abraão, o médico Lucas, que escreveu seu evangelho a gentios, preocupa-se mais em mostrar a ligação de Cristo com Adão e, assim, com toda a humanidade. Por isso, a árvore genealógica de Jesus é traçada por Lucas até Adão. Era Lucas asseverando que, tal qual cada pessoa citada naquela lista, Jesus descendia de Adão.
Porém, alguém pode perguntar: “Mas, pastor Silas, as duas genealogias de Jesus são traçadas a partir de seu pai putativo, José, e não a partir de Maria? Logo, a genealogia de Lucas só serviria como argumento se fosse traçada a partir de Maria”.
Não, a genealogia de Jesus em Mateus é traçada a partir de José, mas a de Lucas é a partir de Maria.
“Como assim?”
Heli era pai de Maria (Lc 3.23). O pai de José chamava-se Jacó (Mt 1.16). O que acontece é que, no grego daquela época, não existia uma palavra para “genro”.
“Então, como é que os genros eram chamados à época?”
Eram chamados todos de “filhos”, por serem assim considerados pelos seus sogros. Por isso José é chamado de “filho de Heli” em Lucas 3.23, quando o pai dele era, na verdade, Jacó, como lemos em Mateus 1.16.
Tanto a genealogia de Mateus quanto a de Lucas mostram Jesus como herdeiro legítimo de Davi, seja pelo pai legal, seja pela mãe legítima. José era descendente de Davi pelo seu filho Salomão (Mt 1.6), enquanto Maria era descendente de Davi pelo seu filho Natã (Lc 3.31). Natã e Salomão eram filhos de Bate-Seba com Davi (1Cr 3.5).
b) Gálatas 4.4 afirma que o corpo humano de Jesus foi “nascido de mulher”. O vocábulo grego traduzido ali como “nascer” é ginomai, que significa literalmente “gerar”. Ou seja, Jesus não veio simplesmente à luz por meio de uma mulher, mas foi gerado de uma mulher. Não houve uma criação separada em seu ventre, como se Maria não tivesse participado geneticamente da geração do menino em seu ventre. Jesus foi gerado por Deus e de sua mãe terrena no ventre dela. A Bíblia tanto diz que Cristo foi gerado sem intercurso sexual no ventre de Maria por obra e graça do Espírito Santo como também que Ele foi gerado dela. Logo, Jesus compartilhava da natureza humana de Maria, descendente de Adão, como todos os descendentes físicos compartilham da natureza de seus genitores. Jesus tanto herdou as características genéticas de sua mãe que foi identificado naturalmente como judeu em seus dias, sem que precisasse se apresentar (Jo 4.9).
c) A promessa direta de Deus referente a Jesus em Gênesis 3.15 define o Messias como sendo “semente da mulher”, expressão que implica ligação genética entre Cristo e sua mãe, e conseqüentemente com Adão e a humanidade como um todo.
d) A Bíblia diz que Jesus é nosso parente consangüíneo, pois Ele participou da nossa carne e sangue (Hb 2.14).
e) A Bíblia afirma ainda expressamente que Jesus é “descendente de Abraão” (Gl 3.16; no original grego, a palavra traduzida aqui por “descendente” é sperma, que é usada para descrever descendência natural) e também de “semente” de Abraão (Hb 2.14-17). As Escrituras afirmam também que Ele veio dos “lombos” de Davi (1Rs 8.19) e é a “raiz” de Jessé (Is 11.10). Isso fala de ligação genética de Jesus com Abraão, Davi e Jessé, e, portanto, com Adão. Aliás, se Jesus não fosse descendente físico de Abraão e Davi, as promessas divinas a estes homens relativas à descendência deles - e a se cumprir claramente em Jesus, como a descendência deles - não poderiam se cumprir literalmente.
4) Se Jesus não fosse 100% homem, não poderia nos salvar
A Bíblia afirma que Jesus é o perfeito mediador dos descendentes de Adão justamente porque, em Sua encarnação, se tornou, de fato, um deles. Se não, vejamos.
a) Além de Romanos 5, que fala de Jesus como o segundo Adão, Paulo, para ressaltar a perfeição de Cristo como mediador, escreve em 1 Timóteo 2.5 que o mediador dos descendentes de Adão diante de Deus é um homem como eles: “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”. Hebreus 2.14 ressalta essa mesma verdade: “Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele [ou seja, da mesma forma que nós, assim como nós] participou das mesmas coisas [da carne e do sangue, igualmente a nós], para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”. Hebreus 2.17 ressalta o mesmo: “Pelo que convinha que, em tudo [Note: “em tudo”, e não em parte], fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo”.
A expressão “semelhante”, usada nas versões ARA e ARC de Hebreus 2.17, não quer dizer um mero “parecer com”, como se Jesus apenas “parecesse” ser totalmente humano, o que já fica claro nessas mesmas versões a partir do uso da expressão “em tudo” ao lado de “semelhante”, que demonstra que o escritor aos Hebreus não está se referindo originalmente a um mero “parecer”, mas a ser mesmo “identificado com”, como sugere o texto grego (homoiosis). Além disso, o versículo 17 à luz da afirmação do versículo 14 deixa claro que não trata-se de um mero “parecer”, mas de compartilhamento total da natureza humana, exceto no que diz respeito ao pecado (Hb 4.15). Por isso, algumas versões da Bíblia não usam aqui a expressão “em tudo semelhante” ou “em todas as coisas semelhante”, mas “igual em tudo” ou “feito em tudo como”, por ser ainda mais exata em relação ao que o texto grego sugere. É o caso das versões King James, American Standard Version, Tradução Inglesa de Darby, Noah Webster Bible, World English Bible e a Tradução Literal de Young, e aqui, no Brasil, a NVI e a Bíblia na Linguagem de Hoje.
b) João destaca em seu Evangelho a encarnação de Cristo como a razão de Sua mediação perfeita (Jo 1.12-14,18,29), e quando João diz que “o Verbo se fez carne” – no original, sarx egeneto –, a expressão traduzida por “carne” no original grego (sarx) denota que Cristo foi plenamente humano em Sua encarnação. Jesus não se fez meramente soma (um corpo), mas sarx (carne como nós). Não tratava-se de um Cristo dotado de uma humanidade aparente ou de um Cristo não plenamente humano. Jesus se fez sarx como nós, participando da nossa carne e sangue (Hb 2.14), e não meramente soma.
c) Em Romanos 8.3, Paulo diz que Cristo foi a propiciação perfeita pelos nossos pecados porquanto “Deus enviou seu Filho em semelhança de carne pecaminosa, e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado” por nós. Isso fala da completa identificação de Cristo conosco em Sua humanidade, só não compartilhando com o nosso pecado, mas sofrendo o castigo do pecado por nós. Curiosidade: A expressão “no tocante ao pecado” é como a Septuaginta traduzia a expressão “oferta para o pecado”. São uma e a mesma coisa.
5) Filipenses 2.7 fala que Cristo se esvaziou de Sua glória em Sua encarnação, e não de seus atributos
A Teoria de Kenosis, Teologia Kenótica ou Kenoticismo trata-se de uma antiga e equivocada interpretação sobre Filipenses 2.7 que ensina que Jesus, quando estava aqui na Terra, esvaziou-se de seus atributos naturais, tais como onisciência e onipotência.
A Teoria de Kenosis, como foi batizada por seus proponentes no século 19 (Foi o bispo Gore, da Inglaterra, quem a criou no século retrasado), baseia-se exclusivamente em uma frágil interpretação de uma expressão usada na passagem de Filipenses 2.7. É quando Paulo diz que Jesus “esvaziou-se” ou “aniquilou-se a si mesmo”. No original grego, o termo usado nessa passagem de Filipenses é ekenosen, daí o nome dado a essa teoria. Essa teoria não erra ao afirmar que houve ekenosen, mas erra ao tentar definir o que teria sido a ekenosen. Ou seja, ekenosen ou kenosis (forma aportuguesada) aconteceu, mas não como afirma a teoria que leva o seu nome.
A Teologia Kenótica é tremendamente frágil, pois já nasce apoiada em uma miragem, em uma base que não existe. O próprio versículo usado para, sobre ele, ser erigida essa teoria simplesmente desaprova-a. Filipenses 2.7 não está dizendo que Jesus esvaziou-se de seus poderes divinos, mas sim da sua glória, isto é, da sua dignidade divina. Nesse sentido, Jesus “tornou-se a si mesmo insignificante”. Jesus se esvaziou de sua glória celeste (Jo 17.5), não de Seus atributos. Jesus não pode ter se esvaziado dos Seus atributos porque, primeiro, esse texto, como veremos a seguir, não diz isso; e segundo, porque são os atributos de uma coisa ou ser que fazem ele ser o que é. Exemplo: Um atributo básico da luz é iluminar. Se ela não mais ilumina, não é mais luz. Se Jesus esvaziou-se de Seus atributos em Sua encarnação, Ele não era mais Deus. Os atributos de Jesus continuavam com Ele em Sua encarnação.
Aliás, o contexto dessa passagem mostra Paulo falando da necessidade dos crentes serem humildes (Fp 2.3,4) e, para exemplificar o que estava ensinado, evocou o exemplo de Cristo, que, mesmo sendo Deus, tomou "a forma de servo" (Fp 2.5-8). Por isso que ekenosen também é traduzido nessa passagem como “humilhou-se”, porque a alusão que Paulo faz aqui é à humildade de Cristo, a um auto-esvaziamento de Sua dignidade, a se submeter como servo em vez de usar naquele período aqui na Terra Seus privilégios de Deus que era, é e sempre será. Em 2 Coríntios 8.9, Paulo deixa isso ainda mais claro ao dizer que Jesus, “sendo rico, por amor de vós se fez pobre” em Sua encarnação.
Se Jesus tivesse vindo esvaziado de Seus atributos, isso significaria a perda, mesmo que momentânea, de sua divindade, o que não tem base na Bíblia (Jo 20.31). E sobre a relação entre a humanidade de Cristo e Seus atributos divinos em Sua encarnação, o que alguns textos bíblicos mostram, na verdade, é Jesus limitando o exercício de alguns de Seus atributos, e não limitando os Seus atributos (o que O tornaria "menos" Deus em Sua encarnação). Lembrando ainda que a construção gramatical de Filipenses 2.6,7 relaciona a expressão "forma de servo" com a expressão "igual a Deus" (no original, "igualmente a Deus") e não com a expressão "forma de Deus". Logo, o esvaziamento de Cristo não diz respeito à perda ou diminuição de Sua forma (natureza ou essência) divina, mas ao abrir mão de Seus privilégios como Deus, ao não se aferrar à Sua dignidade divina; ao não reivindicar Seu direito de manifestar-se em glória, com os privilégios que tinha como Deus (Jo 17.5); enfim, refere-se a ser subordinado funcionalmente ao Pai em Sua missão, padecendo como homem. Por isso, Cristo é o nosso maior exemplo de humildade.
Como a Igreja Cristã sempre asseverou à luz da Bíblia desde os tempos apostólicos até hoje, reverberamos em nossos dias: Jesus é plenamente, completamente, verdadeiramente, perfeitamente Deus e plenamente, completamente, verdadeiramente, perfeitamente homem. É 100% Deus e 100% homem.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Acompanhe no CPAD News tudo o que está acontecendo e sendo discutido no III Congresso Lausanne de Evangelização Mundial

Começou sábado, dia 16 de outubro, a terceira edição do Congresso Lausanne de Evangelização Mundial. O portal de notícias CPAD News está acompanhando diariamente todos os dias do evento, destacando os principais fatos e discussões. O portal está não apenas reproduzindo em português as principais matérias sobre o dia-a-dia do Congresso como também produzindo matérias próprias a partir do link direto que temos com alguns participantes da edição deste ano, que ocorre na Cidade do Cabo, na África do Sul. O evento durará toda a semana. Se você quiser saber como foram os primeiros dias, acesse as matérias nos seguintes links abaixo:
1) O que é o evento e as expectativas para ele (aqui e aqui);
2) Como foi a abertura no sábado (aqui e aqui);
3) Qual foi o principal assunto no segundo dia (aqui);
4) Como foi o primeiro dia de debates, que ocorreu na segunda-feira, quando o primeiro tema do evento ("Verdade") foi discutido (Veja aqui).
Hoje ainda e durante toda a semana, até o encerramento do evento, o CPAD News estará publicando todas as principais informações sobre o III Congresso Lausanne de Evangelização Mundial. Não perca. O endereço do portal é cpadnews.com.br.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sobre os “evangélicos progressistas” e ataque às liberdades religiosa e de expressão

Os denominados “evangélicos progressistas” (Uma perfeita contradição de termos) são mesmo uma graça... Eles sempre fizeram campanha para que os evangélicos no Brasil votassem em Lula. Muitos deles, inclusive, eram filiados de carteirinha ao PT. Aí, depois que o incensado Lula assumiu, o que vimos foi a explosão da maior série de escândalos que o Brasil já viu: o escândalo do “mensalão” (Em montante de dinheiro, o maior de todos na história do país – Podemos, portanto, dizer como Lula: “Nunca antes na história deste país...”); os dólares na cueca; o caso Waldomiro; os petistas pegos com R$ 1,7 milhão em espécie para comprar e fabricar dossiês contra adversários do presidente Lula em sua campanha de reeleição (e denominados apenas como “aloprados” pelo presidente que, coitado, nunca sabia de nada...); o escândalo dos cartões corporativos; o dossiê criminoso contra Ruth Cardoso numa tentativa de se contrapor à descoberta do escândalo dos cartões corporativos; o depoimento de Lina Vieira; o apoio às Farc, ao Hamas, à ditadura cubana, ao governo criminoso do Sudão (que assassinou 400 mil pessoas em menos de dez anos), ao “amigo Kadaf” (Como o próprio Lula o definiu), ao terrorista Cessare Batisti e ao Irã; o caso dos boxeadores cubanos; o petista PL 122 (que institui o crime de “homofobia”) e a promoção do Congresso Nacional GLBT pelo governo federal; o patrocínio em centenas de milhões de reais ao MST, à UNE e às centrais sindicais; um aparelhamento de Estado inédito na história do Brasil; a produção de dossiês contra opositores; quebra de sigilo de um caseiro e de adversários políticos, o que se constitui crime contra a Constituição; grampo telefônico em adversários e até mesmo no presidente do Supremo Tribunal Federal; o famigerado PNDH 3; o escândalo Bancoop, que ajudou a financiar o “mensalão”; a vergonha do apoio ao golpista Zelaya; a denúncia do financiamento de campanha do PT pelas Farc; o apoio do governo Lula a Olivério Medina, das Farc, e sua esposa, contratada pelo governo; as denúncias de envolvimento de petistas ilustres com as Farc; o famigerado Conselho Federal de Jornalismo, o caso Erenice Guerra etc.
Bem, depois de tudo isso, muitos dos “evangélicos progressistas” ficaram envergonhados. Declararam até sua frustração com seu amado Lula. Então, o que muitos deles propuseram como solução? Adivinhem... Mais PT! (Leia, por exemplo, aqui). Em suma, eles afirmam que esses escândalos só se multiplicaram porque não seria o PT de fato que está no poder, porque se fosse o PT de verdade que estivesse no poder, nada disso teria acontecido. Como prova disso, evocam a "Carta de Olinda", assinada em 2001, que dizem que se tivesse sido seguida fielmente e não sido substituída pela "Carta ao Povo Brasileiro", de 2002, então tudo seria diferente...
O quê? A "Carta de Olinda"? (Já falo sobre ela daqui a pouco). E esse PT aí não é o de verdade?
Luiz Inácio Lula da Silva não é o PT de verdade? José Dirceu não é o PT de verdade? Luiz Gushiken não é o PT de verdade? Tarso Genro não é o PT de verdade? Gilberto Carvalho não é o PT de verdade? José Genoíno não é o PT de verdade? Aloísio Mercadante não é o PT de verdade? Antonio Palocci Filho não é o PT de verdade? Sílvio Pereira não é o PT de verdade? Luiz Dulci não é o PT de verdade? Marta Suplicy não é o PT de verdade? Ideli Salvatti não é o PT de verdade? Carlos Minc não é o PT de verdade? Alexandre Padilha não é o PT de verdade? Guido Mantega não é o PT de verdade? Benedita da Silva não é o PT de verdade? Altemir Gregolin não é o PT de verdade? Olívio Dutra não é o PT de verdade? Humberto Costa não é o PT de verdade? Jaques Wagner não é o PT de verdade? Patrus Ananias não é o PT de verdade? Matilde Ribeiro não é o PT de verdade? José Fritsch não é o PT de verdade? Erenice Guerra não é o PT de verdade? Dilma Rousseff, antes PDT, filiada há 10 anos ao PT e candidata à Presidência aprovada pela Convenção do PT, não é o PT de verdade? Waldir Pires, aliado do PT há muitos anos e há 12 anos filiado ao partido (abandonou o PDT pelo PT em 1998), não é o PT de verdade?
Todos foram ministros ou líderes governistas no Congresso nos oito anos do governo Lula, fundador do PT (E essa ainda não é a lista completa dos petistas em ministérios ou em liderança no Congresso nestes oito anos. A lista é bem mais longa.); todos aqui mencionados pertencem aos quadros do PT; a maioria deles fundou o PT juntamente com Lula; a maioria deles exerceu altas funções na hierarquia do PT, tendo sido considerados os principais nomes do partido durante anos; porém... Não representam o PT de verdade?!? E o problema do Brasil é a falta do PT no poder?!?
É aquela velha falácia socialista: O socialismo foi implantado na Rússia, mas não deu certo; foi implantado em praticamente todo o leste europeu, mas não deu certo; foi implantado na China, mas não deu certo; foi implantando na Alemanha Oriental, mas não deu certo; implantado na Coréia do Norte, mas não deu certo; implantado no Vietnã, mas não deu certo; implantado em Cuba, mas não deu certo; implantado em Camboja, mas não deu certo. E aí o socialista diz: “É porque não era o verdadeiro socialismo. Concedam-nos mais uma chance para mostrarmos o que é o verdadeiro socialismo. Uma coisa é o socialismo real e outra é o socialismo utópico...”. Isso, claro, é afrontar os mais de 100 milhões de mortos pelo socialismo no século 20. É dizer a eles e a suas famílias: “Os mais de 100 milhões de mortos foi um erro de implantação do sistema; ainda dá para apostar no socialismo; aquilo não era o socialismo pleno. Dêem-nos outras oportunidades de tentarmos implantar a experiência socialista em seus países e vocês verão que agora será diferente. O que vocês viveram não era ainda o verdadeiro socialismo...”. A Venezuela é um país que está dando outra chance.
Bem, mas voltando aos "evangélicos progressistas", é lamentável vê-los achando lamentável exatamente aquilo que é o maior acerto do governo Lula: a manutenção do modelo econômico que tanto ele e todo o PT criticaram antes. Para esses "cristãos progressistas", deveria ser diferente; para eles, Lula errou ao mantê-lo. Ora, se Lula seguisse a tal "Carta de Olinda", que condenava o modelo econômico de agora, não teríamos o crescimento econômico que estamos vivenciando hoje no país! Nunca!
Ademais, a "Carta de Olinda", tão incensada, além de atacar o modelo econômico, já trazia algumas propostas totalitárias que vemos no programa original de governo de Dilma, aprovado no Congresso do PT deste ano, e no PNDH 3. Por exemplo: Pedia o "controle social" dos meios de comunicação (Leia-se: cercear a liberdade de imprensa) e a "democratização da propriedade" com "uma ampla reforma agrária" e "o fim da violência e da impunidade do latifúndio" (Sim, é isso que você leu. Violento é o "latifúndio", e não o MST, e a propriedade deve ser "democratizada". Esse é o PT).
Ademais, é vergonhoso ver cristãos se prestando a fazer a defesa de um ditador como Hugo Chavez, confundindo o socialismo com a mensagem do Evangelho e fazendo manifesto (1) contra o conservadorismo cristão (sic), (2) a favor de Dilma Rousseff para presidente e (3) contra os cristãos que votaram contra ela no primeiro turno (Veja o tal manifesto aqui). Diante de tal absurdo, pensei em postar hoje um longo artigo comentando ponto a ponto as asneiras do texto do tal “Manifesto Evangélico”, que de evangélico não tem nada, mas recebi a informação de que a blogueira Norma Braga, uma cristã presbiteriana, já escreveu um excelente artigo a respeito, o qual indico para os leitores deste blog. Leiam-no aqui.
Aproveitando, vocês já devem ter lido na imprensa o absurdo recolhimento feito pela Polícia Federal de centenas de milhares de panfletos da Comissão de Defesa da Vida da Regional Sul 1 da católica CNBB, depois de pressão do PT, num verdadeiro ataque às liberdades de expressão e religiosa no Brasil. Um leitor do blog indicou-me um artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, a respeito do fato, o qual indico também para leitura. Leiam-no aqui.
Se alguém gostaria de ler o conteúdo do panfleto da Comissão de Defesa da Vida para tirar suas próprias dúvidas se havia alguma ilegalidade ou não em seu conteúdo perante a lei eleitoral, pode lê-lo aqui.

E falando de liberdade religiosa...

Quando falamos que está havendo ameaça à liberdade religiosa no Brasil, há quem pense que estamos exagerando, porque, ingenuamente, pensam que ataque à liberdade religiosa só se daria mesmo se fosse baixado um decreto em nosso país com as seguintes determinações: “A partir de hoje, é proibido qualquer culto religioso no Brasil e todas as igrejas serão fechadas”. Ledo engano. Excetuando os países governados por radicais islâmicos, nenhum país que cerceou a liberdade religiosa o fez usando exatamente esse expediente. Nem os países comunistas. Por exemplo: a antiga URSS, a China e Cuba não fecharam todas as igrejas com a instalação do socialismo. Destruíram muitas, mas deixaram ainda de pé algumas delas, e também permitiram que os cristãos se reunissem nestas que sobraram para cultuar. Além do mais, proibiram terminantemente a evangelização e a construção de novas igrejas, duas coisas que passaram a dar cadeia nesses países; e controlaram a produção e entrada de Bíblias em suas plagas – só poderiam ser produzidas Bíblias em quantidade suficiente para atender apenas à membresia fixa das igrejas oficiais, as registradas e autorizadas. A idéia era dar a impressão aos países não-comunistas que havia liberdade religiosa nos países comunistas.
Com o crescimento das igrejas em lares em território cubano, Cuba tem flexibilizado um pouco sua perseguição aos cristãos nos últimos cinco anos, porém China e Coréia do Norte ainda mantêm uma linha extremamente dura, à moda mais antiga. Recentemente, só para tentar diminuir a sua má fama diante do mundo ocidental por causa do cerceamento das liberdades de expressão e religião, a China chegou a construir uma mega-igreja em sua capital. Entretanto, com poucos meses de inaugurada, como o referido templo estava fazendo grande sucesso, com os cultos concorridos, superlotados, o governo chinês achou por bem destruir a mega-igreja menos de um ano depois de a ter erguido. Essa é a China.
Bem, estou citando exemplos mais radicais para mostrar que mesmo estes não fazem a coisa do tipo “A partir de hoje, é proibido qualquer culto religioso e todas as igrejas serão fechadas”, pois não se precisa chegar a tanto para se atacar ou cercear a liberdade religiosa em um país. E não é preciso acontecer aqui o que há na China, Coréia do Norte ou em Cuba para só então se configurar a situação como “ataque à liberdade religiosa”. Quando falamos desse risco por aqui, é óbvio que não estamos falando nos termos do que ocorre nesses países já mencionados. Referimo-nos a cerceamentos ardilosos, que tornar-se-ão realidade brevemente se forem aprovadas e executadas as seguintes propostas, a maioria já em trâmite no Congresso Nacional. Se não, vejamos:
1) Se aprovado o Projeto de Lei Complementar 122/2006, de autoria da deputada federal Iara Bernardi (PT/SP), pregar contra o homossexualismo e pedir que dois homossexuais deixem de se beijar no pátio de uma igreja levarão cristãos a dois a cinco anos de prisão. Isso é ataque às liberdades religiosa e de expressão.
2) Se aprovado o Projeto de Lei 6418/2005, de autoria da deputada federal Janete Pietá (PT/SP), as entidades que promoverem a dita manifestação de “homofobia” serão fechadas a partir da simples lavratura de um boletim de ocorrência. Ou seja, igrejas podem ser fechadas, sim!
3) O ponto 45 da resolução do 4º Congresso do PT, realizado este ano, e que definiu o programa original de governo de Dilma que foi registrado no TSE (sem as retificações que vieram depois após as críticas da imprensa), fala de “proibição da sublocação de emissoras e horários”. Ora, essa proibição afetará principalmente as igrejas, pois são elas hoje, no Brasil, que mais utilizam esse método para ter seus programas nesse grande meio de comunicação de massa que é a tevê. E há ainda um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que quer estabelecer que seja permitido vender apenas uma hora de programação religiosa por dia na tevê brasileira. Uma coisa ou outra resulta em cerceamento.
O que é tudo isso, se não ataque às liberdades religiosa e de expressão?
Os cerceamentos, queridos, não acontecem de forma “escancarada”, mas de maneira ardilosa e paulatina, e sempre sob algum pretexto “social”. É disso que estamos falando.
Agora, uma última e breve reflexão: Será que a censura à impressão de cópias do documento oficial da Comissão de Defesa da Vida da Regional Sul 1 da CNBB, com a Polícia Federal sendo acionada após denúncia do PT; e a censura a vídeos de pastores e padres na Internet também a pedido da campanha do PT seriam algum sinal de que pode haver alguma espécie de “revanchismo” por parte da candidata governista em relação aos cristãos – ou a projetos de interesse dos cristãos – futuramente, caso ela vença o pleito do dia 31 de outubro (ainda mais que ela sempre defendeu esses projetos, mudando o discurso apenas de última hora para não perder votos)?
A conferir.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pesquisa Ibope diverge de levantamento do Datafolha e assevera que voto evangélico determinou o segundo turno

Caros, a matéria abaixo é do jornal O Estado de São Paulo. Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem à noite, diferentemente do que diz uma recente pesquisa do Instituto Datafolha, o voto evangélico teria evitado, sim, a vitória da candidata petista no primeiro turno. Reproduzo a matéria abaixo, na íntegra, conforme o site do Estadão publicou hoje às 0h00.

Voto religioso evitou vitória de candidata do PT no 1º turno
Pesquisa Ibope aponta que o efeito da religião na decisão do voto deve ser limitado no segundo turno da eleição
A pesquisa Ibope confirma que o voto religioso teve papel decisivo para evitar a vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno, mas o efeito religião parece ser limitado nesta nova fase da campanha. A maioria dos eleitores sensíveis a essas questões já trocou de candidato.Segundo o Ibope, Dilma teve o voto de metade dos católicos, mas de pouco mais de um terço dos evangélicos. Nesse segmento, ela empatou com José Serra (PSDB). Marina Silva (PV) chegou a um quarto dos votos.
A queda de Dilma na véspera do primeiro turno começou entre os evangélicos e depois se estendeu aos católicos. O principal motivo foi a campanha, em templos e igrejas, contra o voto nela por causa da legalização do aborto, defendida pelo PT. Segundo o Ibope, 80% dos eleitores são contra a mudança da lei.
Agora, a intenção de voto em Dilma se estabilizou tanto entre evangélicos quanto entre católicos, quando se compara com a pesquisa feita na véspera do primeiro turno: ela continua com 41% entre os primeiros, e foi de 50% para 52% entre os outros.
Mas há uma diferença fundamental: agora só restam dois candidatos. Para onde foram os eleitores religiosos de Marina Silva (PV)? Migraram, na proporção de dois para um, para Serra. Como consequência, ele cresceu em todos os segmentos religiosos, mas principalmente entre os evangélicos.
O tucano tem hoje 41% dos eleitores católicos, contra os 29% de antes do primeiro turno. Nesse segmento, que representa 61% do eleitorado nacional, ele ainda tem 11 pontos porcentuais a menos do que Dilma.
Entre os evangélicos, Serra dobrou e virou: tem agora 52% (tinha 25%), ou seja, 11 pontos porcentuais a mais do que a petista. Esse segmento é responsável por 1 em cada 5 eleitores.
Mas nem todos os eleitores de Marina são evangélicos ou católicos. Há 22% de ateus, agnósticos e de eleitores que professam outra religião. Esses racharam: partes iguais migraram para Serra e Dilma, mas ainda restam 20% de sem-candidato (indecisos e os que pretendem anular ou votar em branco).
A disputa pelo voto desses eleitores agnósticos, ateus e adeptos do espiritismo e outras religiões é a mais apertada. Dilma recuperou-se e chegou agora a 47%, contra 41% de Serra.
Para a conta da intenção de voto total fechar, é preciso levar em conta os eleitores que dizem ter votado em Dilma e Serra no primeiro turno e que, pelo menos por enquanto, trocaram de candidato. O saldo é ligeiramente favorável ao tucano.
Dos eleitores da petista no primeiro turno, 7% pularam agora para Serra. E, dos eleitores do tucano, 5% saltaram para o barco de Dilma. Isso ajuda a explicar a diminuição da diferença entre os dois candidatos.
Só eleitores evangélicos afirmam ter acatado orientação de um líder religioso para não votar em um dos candidatos (no caso, em Dilma). Dos que seguem a orientação dos pastores, não sobrou nenhum que ainda pretenda votar na petista.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Como o voto evangélico levou o tema aborto à pauta das revistas semanais e influencia nova reflexão sobre o assunto na imprensa

Até antes do resultado do primeiro turno das eleições, a imprensa secular e boa parte dos partidos políticos não estavam dando tanta importância ao voto evangélico, mesmo depois do que este já demonstrara no primeiro turno do pleito de 2002 e apesar dos evangélicos representarem hoje provavelmente 25% do eleitorado. Entretanto, ao emergirem das urnas os resultados do pleito de 3 de outubro, tudo mudou. O diagnóstico apontado foi quase unânime: o voto evangélico pesou, e pesou bastante. Se é verdade que o fator Marina levou a disputa presidencial para o segundo turno, também o é que o voto evangélico foi o fator que alavancou a campanha de Marina. Ou seja, em última análise, não houve uma “onda verde”, mas uma “onda evangélica” mais uma vez.
Antes da mobilização evangélica, Marina estava com seus 7% a 8% dos votos, mesmo com o início da propaganda eleitoral. Porém, com o início da campanha pró-Marina por parte dos evangélicos nos últimos 15 dias antes do dia 3 de outubro, ela foi subindo nas pesquisas, oscilando de 10% para 12%, e depois para 14%, e por fim para 17%, fechando com quase 20% quando as urnas foram abertas. Algo semelhante aconteceu na campanha presidencial de 2002, quando nos últimos 10 dias para a votação, a “onda evangélica” levou Garotinho de 9% para 18%.
É verdade que uma pesquisa Datafolha feita recentemente, logo após o primeiro turno, revelou que a maior parte das pessoas que mudaram de voto, optando de última hora por Marina ou Serra em vez de Dilma, o fez mais por causa dos escândalos envolvendo a Casa Civil do que pelo pedido de pastores ou padres. Só que é importante lembrar que entre os votos que foram para Serra e Marina nas últimas horas antes da votação também estavam os dos indecisos, dentre eles evangélicos. Ademais, o dia-a-dia das campanhas já havia mostrado o crescente descontentamento com Dilma por parte dos evangélicos.
A revista Veja desta semana (edição 2.186, de 13 de outubro), por exemplo, conta que “Semanas antes do primeiro turno, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), então candidato à reeleição, procurou os coordenadores da campanha da petista para adverti-los de que sua equipe havia verificado a existência de uma rejeição crescente de Dilma entre o eleitorado cristão, influenciado por pastores e padres que passaram a pregar contra a candidata por suas declarações favoráveis à descriminalização do aborto. Outros três candidatos a governador pelo PT fizeram o mesmo. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chegou a avisar que eleitores da Baixada Fluminense, reduto evangélico do Rio, se recusavam a pegar panfletos em que ele aparecia ao lado de Dilma. Ninguém na campanha petista lhes deu ouvidos. Afinal, todas as pesquisas mostravam que Dilma venceria tranquilamente no primeiro turno”. Isto é, a campanha petista achava que o voto evangélico não tinha peso suficiente para ameaçar sua eleição, um engano gigantesco.
Agora, depois do resultado das urnas, não só o PT reconhece isso como os políticos, de forma geral, estão definindo suas pautas e campanhas observando também, com muita atenção, o que pensam os evangélicos, algo que haviam esquecido desde as eleições de 2006, quando o voto evangélico não pareceu ter influência nenhuma.
Até mesmo Marina Silva ficou impressionada com a força do voto evangélico. Na entrevista à revista Época desta semana, ela afirma que até então nem pensava que o tema aborto tinha tanto apelo no Brasil. Diz ela que achava que o movimento pró-vida só era forte nos Estados Unidos, e conclui dizendo que este “fenômeno no Brasil” precisa ser melhor analisado. Ou seja, os grandes formadores de opinião do país, que são, em sua esmagadora maioria, pró-descriminalização do aborto, pró-“casamento” homossexual, pró-legalização da maconha e pró-adoção de crianças por homossexuais, conseguiram fazer com que muita gente influente em nossa nação caísse na história da carochinha de que a sociedade brasileira já aceita normalmente seus ideais absurdos de “mundo melhor”. E isso mesmo depois de seguidas pesquisas Datafolha e Ibope, e outras, terem demonstrado reiteradamente nos últimos cinco anos que a maioria dos brasileiros é contra a descriminalização do aborto (antes 68%, agora 71%), contra a legalização da maconha (76%), contra a adoção de crianças por “casais” homossexuais (52%), contra a união civil homossexual (45%) e contra a prática homossexual, considerando-a pecado e não-natural (92%).
Curioso também é ver a revista Veja, que tradicionalmente sempre mostrou-se simpática à descriminalização do aborto, de repente manifestar-se contra, mas não porque considere o embrião ou feto uma vida – se não estaria traindo seu antigo discurso. Veja apresenta razões econômicas para se posicionar assim. Sim, é isso mesmo que você leu. Ao final da matéria assinada pelas jornalistas Adriana Dias Lopes e Laura Ming, intitulada Voltamos à pergunta: Quando começa a vida?, da edição já mencionada, desta semana, é dito que “A legalização pura e simples do aborto não é uma questão simples. Para além dos aspectos religiosos, morais e científicos, o sistema público de saúde brasileiro não tem a menor condição de realizar a contento as cirurgias de curetagem na quantidade que seria exigida caso elas fossem legalizadas sem nenhuma precondição. Faltam infraestrutura adequada e dinheiro. O custo de uma curetagem é de 180 reais. Multiplique-se isso por, no mínimo, 1 milhão de cirurgias, e se tem um rombo ainda maior nas contas estatais. Sai mais barato fazer campanhas educativas em favor da contracepção”.
Veja achando melhor não legalizar apenas por questões meramente econômicas? Não seria essa nova posição mais uma demonstração do poder de influência que há no surgimento de ondas contundentes de manifestações conservadoras cristãs, que podem até mesmo influenciar os principais veículos de comunicação, que antes viviam entrincheirados em favor do liberalismo social, sem ceder um milímetro sequer de atenção à argumentação conservadora, vista como “arcaica”, “atrasada” etc? O que não faz o peso do voto cristão nas urnas, não é mesmo?
Aproveitando: Na aludida matéria, Veja reafirma a velha máxima pró-aborto de que não há consenso em relação a quando começa a vida humana. Bem, digamos que isso seja absolutamente verdade; digamos que haja mesmo uma divergência científica séria nesse assunto, ou seja, que as opiniões dos cientistas pró-aborto não se devam necessariamente à sua cosmovisão naturalista, mas a sérias dúvidas científicas mesmo, apesar das fortíssimas evidências. Ok. Acontece que quando há dúvida, a prudência manda não ir adiante. Os pró-aborto, porém, invertem a lógica: "Na dúvida, ultrapasse! Vá adiante!”.
Vejam que coisa: Se um caçador encontra um animal na floresta, ele atira; se percebe que o que encontrou é, na verdade, um ser humano, não atira; e se não tem certeza, pela posição onde está, se o que avista é ou não um ser humano, não atira.
Se o caçador seguisse o critério da turma pró-legalização do aborto, mesmo na dúvida, atiraria. Ou seja, o caçador mais “cascudo” é mais ético do que o mais sensível humanista pró-aborto.