Uma onda de intolerância ao cristianismo, camuflada por um falso discurso de liberdade e imparcialidade, tem avançado no Ocidente.
Ela já reina soberana na Europa, amordaçando a fé da maioria das igrejas. Alguns cristãos nos Estados Unidos ainda lutam valentemente contra ela, recusando-se a ter sua fé amordaçada. No Brasil, porém, os tentáculos desse movimento já começam a se instalar e muitos cristãos ainda não despertaram para isso.
A ordem em que cito as nações no parágrafo acima (Europa-EUA-Brasil) não é por acaso. Muitos modismos filosóficos e projetos de lei liberais nascem na Europa, fazem escala nos Estados Unidos e, só depois, desembarcam no Brasil. Essa rota nos indica que se queremos ter uma idéia de como poderá ser o nosso futuro, é só olharmos para o ponto de partida desses modismos: a Europa. Ela é a grande fonte inspiradora da maior parte dos intelectuais de hoje que defendem mudanças na sociedade.
Influência liberal européia na cultura ocidental
É crescente e preocupante a influência liberal européia na cultura ocidental. Mas, não me interpretem mal. Não sou anti-europeu.
Quero ressaltar que a Europa é um continente lindo e um exemplo positivo em várias áreas (na qualidade dos serviços públicos, por exemplo). Além do mais, é berço de muitos movimentos importantes, inclusive de ordem espiritual. Foi no continente europeu que nasceu a Reforma Protestante. Aquela região também foi palco de muitos reavivamentos extraordinários, como o Avivamento Wesleyano do século 18 e o início das Missões Modernas, no século 19. Porém, hoje, é fato que as igrejas européias estão arrefecidas espiritualmente, frias, vazias e amordaçadas, isto é, sem exercer mais influência na cultura do continente.
Por outro lado, a Europa passou a exercer nos últimos anos uma influência mundial extremamente negativa no campo filosófico, atacando especialmente os princípios judaico-cristãos.
Em artigo publicado no jornal New York Sun, edição de 11 de maio de 2004, o colunista Daniel Pipes afirma: “A Europa está se tornando, cada vez mais, uma sociedade pós-cristã, rompendo os laços com sua tradição e seus valores históricos. O número de cristãos praticantes despencou tanto nas duas últimas gerações, que alguns observadores já estão chamando a Europa de ‘novo continente das trevas’. Analistas estimam que, semanalmente, as mesquitas britânicas recebem mais fiéis que a Igreja Anglicana”.
O escritor Peter Hitchens, nas páginas 34 e 35 de seu livro The Abolition of Britain: From Winston Churchill to Princess Diana (Encounter Books, 2000), declara, citando o caso particular da Inglaterra:
“O inferno foi abolido mais ou menos no mesmo tempo em que se legalizou o aborto e a pena de morte foi eliminada. Afinal de contas, ninguém mais ia para o inferno, não é mesmo? Pois, lá pela década de 60, a condenação eterna, assim como a maior parte dos aspectos preocupantes da religião cristã, havia, aparentemente, caído em desuso. Os bispos tinham começado a admitir, de início muito timidamente, que não tinham certeza da existência de Deus nem da veracidade das doutrinas centrais de sua religião”.
“Quando não há almas a serem salvas, mas apenas corpos, só resta um objetivo: melhorar suas condições de vida, mesmo que eles depois acabem mergulhados na mais severa miséria moral. Quando não acreditamos no pecado, não é de se esperar que nos esforcemos muito em lutar contra ele. E, se acreditamos nele, dizem que estamos ‘julgando os outros’ e somos automaticamente excluídos do debate”.
Elwood McQuaid, editor-chefe da revista The Friends of Israel, pertencente ao ministério para-eclesiástico evangélico de mesmo nome (www.foi.org), comenta as palavras de Hitchens:
“Talvez a parte mais reveladora da análise de Hitchens seja esta: ‘E, se acreditamos nele [no pecado], dizem que estamos ‘julgando os outros’ e somos automaticamente excluídos do debate’. Esse é o ponto crucial do problema (...) Não estamos falando aqui de uma questão de semântica ou de diferenças de opinião teológica superficiais. As pessoas que acreditam firmemente nos princípios fundamentais da fé cristã são vistas com hostilidade, como insuportáveis adversários ‘julgadores’ que impedem a chegada da nova era liberal de ‘iluminação’”.
McQuaid denuncia em seu livro A Tirania da Minoria – atacando os valores judaico-cristãos (Editora Chamada da Meia-Noite) que muitos cristãos sofrem perseguições ou restrições em países europeus, e que essa onda de intolerância, que já alcançou os Estados Unidos, se manifesta com intensidade crescente em todo o mundo ocidental.
Talvez isso seja um indício da perspectiva escatológica de que a União Européia será o último grande império mundial antes do Milênio (Dn 2.41-44), como defendido pela maioria dos teólogos conservadores. Esse império, frisam, exercerá forte influência no resto do mundo e se oporá à fé cristã. Porém, seja indício disso ou não, está mais do que claro que enquanto os pensadores liberais europeus forem vistos como exemplos de “idéias avançadas” nos Estados Unidos, Brasil e outros países, essa onda de intolerância ao cristianismo estará em alta.
Enquanto políticas liberais como as da Holanda, por exemplo, aparecerem em novelas, artigos e discursos como exemplos de “avanços” a serem seguidos, devemos ficar preocupados (o governo holandês aprovou a legalização do “casamento” homossexual e das drogas, a descriminilização do aborto, a profissionalização da prostituição e discute a liberalização da pedofilia em casos de meninos e meninas com idade a partir de 13 e 12 anos).
Enquanto os políticos, líderes, educadores e a maioria da mídia pensarem que o que há de mais atrasado no Ocidente são os ideais conservadores judaico-cristãos e o que há de mais interessante são os ideais liberais, ateístas e naturalistas europeus, o perigo da mordaça estará de pé.
Enquanto todos os que pensam diferentemente dessa onda forem taxados de “inimigos dos avanços”, “retrógrados”, etc, precisamos ficar em alerta. O fundamentalismo liberal quer neutralizar a influência dos princípios morais e cristãos na sociedade, e, como sal e luz do mundo (Mt 5.13-16), como Igreja aqui na Terra, não podemos ficar passivos.
O exemplo norte-americano
Veja o exemplo dos Estados Unidos. Qual a massa de norte-americanos mais xingada e execrada pela mídia de lá, de cá e da maior parte do mundo? Aquela formada pelos defensores dos princípios judaico-cristãos. A mídia e os cientistas sociais chamam esse grupo costumeiramente de “obscurantistas”, “primitivos”, “retrocesso”, “a massa mais atrasada dos Estados Unidos”, “trevas” e “atraso”. Todos esses termos já apareceram ipsis literis na imprensa brasileira e norte-americana em referência aos cristãos daquele país. Dei-me o trabalho de marcá-las em vários jornais e revistas. E é interessante notar como os evangélicos no Brasil são chamados por esses mesmos críticos de “massa ignara”, “vermes” (recentemente, em um jornal do Rio de Janeiro) e “retrocesso”, entre outros termos.
Enquanto isso, os liberais dos Estados Unidos, os esquerdistas (tanto políticos quanto artistas, cientistas e jornalistas), “europeizados” em sua concepção de valores e moral, são incensados, louvados, vistos como “a banda boa dos EUA”, “o que há de melhor naquele país” (como já definiu um liberal articulista brasileiro).
É sintomático o fato de que, de vez em quando, esses idealistas norte-americanos (como alguns articulistas do liberal The New York Times) afirmam explicitamente que o seu país “deveria seguir o exemplo dos europeus, que são mais avançados”. E via de regra, isso é dito em questões que envolvem valores morais e religiosos.
Para entendermos melhor o que está acontecendo nos Estados Unidos, basta ler obras como Verdade Absoluta, de Nancy Pearcey, e E agora, como viveremos?, de Charles Colson e Pearcey (para citar as mais populares). E é bom olharmos de vez em quando para o que está acontecendo na América do Norte, porque, como já afirmamos, as idéias geralmente fazem escalas lá antes de desembarcarem aqui e em outros países. Por serem os Estados Unidos a maior potência, é a partir de lá que essas idéias são disseminadas, espalhando-se para o resto do mundo. Tudo o que acontece nos Estados Unidos ganha destaque na imprensa de todo o planeta. Mas, na maioria das vezes e infelizmente, só o que vem da falsa “banda boa” norte-americana.
Alguém pode dizer: “Será que muitos desses xingamentos e críticas não são apenas reação ao mau testemunho de muitos cristãos?” Gostaria de dizer um altissonante “sim”, mas, infelizmente, não é isso que acontece.
Uma rápida olhada no contexto em que são proferidas as ofensas dos liberais aos cristãos mostra que na maioria das vezes elas não são referência a uma generalização do que seja o perfil evangélico a partir do mau testemunho de alguns crentes. São, pelo contrário, uma alusão direta aos princípios defendidos pelos cristãos de forma geral. É intolerância ao pensamento cristão, como se fosse o mais pernicioso do mundo. E quando há algum mal testemunho, este é apenas aproveitado como pretexto para revisitar as críticas aos cristianismo. Além disso, apesar de haver muitos cristãos dos EUA e do Brasil que dêem mau testemunho (E como há!), nada justifica uma generalização.
Ironia das ironias: quem prega “tolerância” é o mais intolerante
A grande ironia do uso do termo fundamentalismo em nossos dias é que justamente aqueles que o usam com o sentido de intolerância (os liberais) são os mais intolerantes de todos.
Uma análise da cultura ocidental hodierna comprova que não há nada mais contraditório hoje no mundo do que o fundamentalismo liberal, porque não há nada mais intolerante hoje no Ocidente do que o liberalismo. É pura intolerância camuflada de tolerância para enganar ingênuos.
Para entender melhor o que estamos falando, urge explicar no que consiste o liberalismo de que falamos.
Originado no século 18 pelos iluministas, o liberalismo é fundamentalmente uma filosofia de vida e um ideal político que afirma que os indivíduos são livres para realizar suas vontades como quiserem, contanto que não infrinjam a liberdade dos outros. O termo deriva do latim liber, que significa “livre”.
Segundo essa corrente filosófica e política, o maior bem da humanidade é a preservação da liberdade individual. Por isso, tradicionalmente, os liberais se vêem como “amigos da liberdade” e enfatizam o direito de as pessoas discordarem das verdades absolutas, dos credos e das autoridades. Em parte, isso pode ser considerado sadio para o estabelecimento de uma sociedade. Até o próprio Deus permite isso.
Deus não criou o cosmos como um lugar repleto de seres que o servem mecanicamente. Deus permite que esses seres discordem dEle se quiserem. Ele lhes concedeu o livre arbítrio. Agora, as pessoas que optarem por viver longe de Deus, sofrerão, ao final, as conseqüências disso: a tormenta do eterno afastamento de Deus.
Da mesma forma, em nossa sociedade, as pessoas devem ter a liberdade de crer no que quiserem crer e discordar do que desejarem. E sofram cada um as conseqüências positivas ou não de suas opções.
O problema, porém, é que os liberais, contraditoriamente, são extremamente intolerantes.
Ora, se discordar é um direito, porque não posso, como cristão, discordar do ponto de vista de alguém não-cristão sem ser taxado de intolerante? Isso significa que são “dois pesos, duas medidas”?
Os liberais atacam dogmas, mas têm, eles mesmos, um dogma que não aceitam de forma alguma que seja criticado: o relativismo. São absolutamente intolerantes quanto a isso. Aceitam a discordância dos absolutos, mas não aceitam que se discorde do relativismo. E mais: lutam pela imposição do relativismo sobre todos.
Assim, o grande problema do liberalismo é que ele cria um novo modelo de intolerância. A tolerância passa a se transformar em intolerância na medida em que somos forçados a ter de aceitar como igualmente certas as demais ideologias. O fundamentalismo liberal confunde a necessidade de coexistência pacífica entre as ideologias com a imposição da aceitação de todas as ideologias. Isso é um tremendo erro e injustiça. Podemos conviver pacificamente com as ideologias, mas não aceitar todas as ideologias.
Devido a essa visão liberal, hoje em dia somos atacados e em alguns momentos até proibidos de expressarmos nossas crenças e valores, mesmo que isso seja feito educadamente, sem agressões verbais. O que é isso, senão a imposição de um dogma?
Pregam a liberdade de expressão, mas ao mesmo tempo impedem a liberdade de expressão. O que é isso, senão intolerância?
São lúcidas as palavras proferidas há pouco tempo pelo católico romano Anthony Frontiero, do Conselho Pontifício de Justiça e Paz da Santa Sé, em intervenção na Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, em Varsóvia: “Como demonstra a história, uma democracia sem valores pode converter-se facilmente em um totalitarismo aberto ou encoberto”.
Assim como um monarca deve respeitar os valores morais, senão estará instaurando um regime absolutista, a democracia deve ser também norteada pelos valores morais, e não pelo relativismo moral. Pensar o contrário é levar o sistema democrático à auto-destruição.
Uma democracia sem valores tem o poder de extinguir a democracia em si. Sem valores morais, o que nasceu sob o apanágio da tolerância se torna exatamente o seu oposto: um monstro de intolerância.
Falso discurso de liberdade e democracia para amordaçar a fé
Nesse prisma, em brilhante artigo publicado na edição 105 da revista Eclésia, o pastor presbiteriano Ricardo Barbosa de Souza descreve com perfeição o momento que estamos atravessando e as futuras conseqüências disso. Faço questão de reproduzir alguns trechos do artigo:
“Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos, tornando-a mais inclusiva e, ao mesmo tempo, criar outras fronteiras e preconceitos, tornando-a extremamente exclusiva e violenta. Nas últimas décadas, a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias entre as raças, romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias. Por outro lado, vemos uma enorme massa de excluídos que cresce a cada dia, transformando-se em alvos e agentes de violência e preconceitos jamais vistos”.
“A relativização dos valores morais, o rompimento das tradições e o colapso do modelo tradicional da família abriram espaço para a aceitação e inclusão dos novos modelos morais e sociais. Muitos desses modelos contrariam os princípios cristãos mais fundamentais e comprometem a saúde da sociedade; contudo, temos presenciado a reação de vários grupos que não admitem a contradição. Vivemos hoje o que o doutor James Houston chama de uma nova forma de fundamentalismo, o da ‘democracia liberal’, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã”.
“Muitos cristãos sentem-se intimidados por não poderem expressar suas convicções religiosas ou morais diante do novo fundamentalismo. Nossa cultura tornou-se moralmente e religiosamente liberal e requer que todos sejamos igualmente liberais. Isso significa que, num futuro não muito distante, sejamos impedidos de falar da revelação bíblica do pecado ou mesmo de sustentar publicamente nossas convicções morais, sob o risco de sermos considerados preconceituosos”.
“Imagino que, mais cedo do que pensamos, enfrentaremos uma forte resistência à afirmação bíblica de que Jesus é ‘o caminho, ‘a verdade’, ‘a vida’, de que ele é ‘o único Senhor’, de que ‘não há salvação fora dele’ e de que ele é o ‘único que pode perdoar nossos pecados’. Todas essas afirmações são, por si, uma agressão ao espírito ‘democrático’ da sociedade pós-moderna. Afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer outro nome que possa nos reconciliar com Deus, e isso soa como um preconceito, uma forma de discriminação inaceitável. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada preconceituosa, uma vez que nega todas as outras formas de revelação”.
“De certa forma, isso já vem acontecendo. A espiritualidade cristã pós-moderna vem se tornando cada dia mais light. Fala-se muito pouco sobre o arrependimento e o pecado; prega-se quase nada sobre a cruz e a ressurreição; as Escrituras vêm perdendo sua autoridade. Jesus vem sendo reduzido a um grande líder, alguém que nos deixou um bom exemplo para seguir – alguma coisa no mesmo nível de Buda, Ghandi, Dalai Lama ou outro grande líder da humanidade, mas nada muito além disso. Fala-se muito de um Deus que é Pai e nos aceita, ama, acolhe e perdoa, o que é certo e bíblico; mas corre-se o risco de, por trás dessa linguagem suave e atraente, embutir uma espiritualidade que pensa ser possível conhecer a Deus-Pai sem a mediação de seu Filho Jesus Cristo”.
“A primeira geração de cristãos pós-modernos já está aí. São crentes que pouco ou nada sabem da Palavra de Deus e demonstram pouco ou nenhum interesse em conhecê-la. Cultivam uma espiritualidade verticalista, com nenhuma consciência missionária, social ou política. Consideram tudo muito ‘normal’ e não vêem nenhuma relevância na cruz de Cristo. Acham que a radicalidade da fé bíblica é uma forma de fanatismo religioso e não demonstram nenhuma preocupação em lutar pelo que crêem, se é que crêem em alguma coisa pela qual valha a pena lutar”.
“O cristão pós-moderno é hoje desafiado a experimentar uma espiritualidade que o coloque na fronteira entre a comunhão vertical da oração, meditação, contemplação e intimidade com Deus, e o compromisso horizontal com a missão evangelizadora, com os pobres, com a justiça e o serviço; entre a inclusão, buscando receber, acolher e amar os diferentes, mas também rejeitar, confrontar e lutar contra o pecado e todas as suas formas de escravidão e aprisionamento; entre o diálogo inter-religioso na procura por mecanismos sociais mais justos, mas também na afirmação e compromisso com as verdades absolutas da revelação bíblica”.
“Que o Espírito Santo nos dê discernimento e coragem para uma fé e um espírito comprometidos com o Deus da Aliança, preservando a identidade cristã, mesmo que isso nos custe alguns processos”.
Ressalto as últimas palavras: “...mesmo que isso nos custe alguns processos”. Se a onda liberal não for detida, chegaremos a isso. Alguém duvida?
O que poderá nos reservar o futuro
Não sou alarmista, mas, verdade seja dita, se essa onda do fundamentalismo liberal vingar em nosso país, brevemente teremos uma fé amordaçada, tolhida, como vemos hoje em muitos países da Europa.
Alguém pode dizer: “Mas os ateus são minoria na população”. Mas quem disse que o fundamentalismo liberal pretende necessariamente acabar com a existência das religiões? Ela quer acabar com a sua influência, amordaçar a fé, deixá-la irrelevante na vida das pessoas, para que definhe aos poucos, sufocada, como está acontecendo já há alguns anos na Europa. Sempre existirão igrejas, mas se a mensagem cristã não puder mais influenciar as pessoas, o cristianismo esfriará, arrefecerá até ser apenas uma religião morta. Disse Jesus: “Quando o Filho do Homem voltar, porventura achará fé na Terra?”
Será um exagero crermos nessa probabilidade? Não! Há evidências concretas para pensarmos assim.
Na manhã do dia 20 de julho de 2003, o pastor Ake Green, líder da Igreja Pentecostal em Borgholm, Suécia, pregou a cerca de 50 participantes do culto em sua igreja uma mensagem contundente acerca do que a Bíblia diz sobre a homossexualidade. Aquela mensagem em uma pequena reunião de sua congregação acabou chegando aos ouvidos da comunidade homossexual naquele país e, em 29 de junho de 2004, Green foi sentenciado à prisão, onde ficou por um mês. A razão? A Corte em Kalmar julgou que sua mensagem de que “homossexualidade é pecado” foi uma afronta ao comportamento homossexual. Até onde se sabe, em nenhum momento de seu sermão Green xingou homossexuais ou fez chacotas com quem tem esse comportamento. Apenas pregou com amor e seriedade o que diz a Bíblia, mas foi preso.
Esse mesmo tipo de lei com interpretação subjetiva sobre o que é discriminação de homossexuais está sendo discutida no Brasil. Copiando o radicalismo dos esquerdistas europeus, a Câmara dos Deputados em Brasília aprovou no final de 2006 uma lei que torna crime de homofobia toda oposição à homossexualidade. Se aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente, o Projeto de Lei 5003/2001, hoje PLC 122/2006, tornará crime “qualquer manifestação contrária à orientação sexual e identidade de gênero”. A pena prevista é de 2 a 5 anos de prisão, sendo crime inafiançável.
Em vez de se assemelhar à lei canadense (que é mais equilibrada, pois condena a ofensa a homossexuais, mas respeita a liberdade de imprensa e de religião), o projeto de lei brasileiro procura inspiração, ao que parece, na lei sueca. O texto do projeto é claro: não está se falando de ter conduta discriminatória em razão de pessoas, mas, sim, em razão de comportamentos.
Ora, a Bíblia nos ensina que devemos amar a todos independentemente da situação, sejam eles homossexuais ou não. Porém, a mesma Bíblia diz que não devemos concordar com comportamentos que chocam-se com a Palavra de Deus, e entre eles está a homossexualidade (Rm 1.24-27; 1Co 6.10).
Homossexuais não devem ser xingados, porém a fé das pessoas e a liberdade de pensarem diferentemente devem também ser respeitadas. Uma coisa é ter o direito de ser homossexual, outra bem diferente é impedir que outros discordem dessa opção sexual e informem o que a Bíblia diz sobre isso. A Palavra de Deus afirma que seguir a vontade divina é uma escolha da própria pessoa (Ap 22.16-17). Todos têm o direito de optarem na área sexual como bem desejarem. Porém, as pessoas também têm o direito de informarem que a Palavra de Deus assevera que homossexualidade é pecado e que Deus transforma homossexuais, fazendo com que estes voltem à sua heterossexualidade se desejarem (1Co 6.10,11; Rm 1.16).
As pessoas têm todo o direito de serem homossexuais se quiserem e de não serem ofendidas, assim como é direito do cidadão discordar de uma opção e afirmar o que diz a Palavra de Deus sobre essa opção. Mas o texto do projeto de lei brasileiro tem exatamente o mesmo teor da lei anti-homofobia na Suécia, que levou à prisão o pastor pentecostal Ake Green por pregar que homossexualidade é pecado. Em outras palavras, se nada for feito, o que aconteceu com o pastor Ake Green poderá acontecer com pastores no Brasil em pouco tempo.
Universidades: habitat do livre pensar ou lugar de discriminação?
Mais um caso: No dia 18 de novembro de 2006, o jornal londrino The Times publicou uma matéria afirmando que estudantes cristãos, em especial grupos como a Aliança Bíblica Universitária, estão sendo discriminados, perseguidos e proibidos em universidades conceituadas da Grã-Bretanha, tais como Exeter, Edimburgo e Birmingham. O jornal trazia ainda um manifesto assinado por educadores e clérigos condenando tais acontecimentos e ressaltando a gravidade da situação: “Estudantes cristãos de muitas de nossas universidades estão sofrendo considerável oposição e discriminação, com violação de seus direitos de liberdade de expressão, liberdade de fé e liberdade de associação”.
Por mais absurdo que pareça, a universidade, que em tese é o habitat do livre pensar, passou a ser, em alguns lugares, um lugar de discriminação a cristãos. Detalhe: a maioria das grandes universidades ocidentais foi fundada por cristãos, que objetivavam a busca pelo saber e um espaço sadio para o livre pensar. Portanto, o que está acontecendo não é só uma injustiça em um país que se afirma democrático e de Primeiro Mundo, mas um desrespeito total à história dessas instituições.
Mesmo que esse nível de discriminação não seja uma realidade nas universidades brasileiras, sabe-se que em nosso país os estudantes cristãos são muitas vezes tolhidos e zombados por professores em plena sala de aula por causa da sua fé.
Há alguns anos, presenciei em sala de aula um professor pregar que a grande solução para os problemas da humanidade é o fim da religião. Segundo ele, o mundo só seria melhor com a vitória do ateísmo. Claro que não pude ficar calado. Comecei amistosamente um debate em que as idéias dele foram confrontadas e, ao final, a maioria esmagadora da turma, que antes assistia calada e condescendente suas afirmações, optou por discordar dele. Mas, nem sempre é assim. Há professores que sequer aceitam o debate e quem discordar de suas posições é rechaçado rápida e acidamente.
Tal posicionamento é mais comum do que se imagina. Está não só nas universidades, mas na mídia.
Cristãos e suas posições são ignorados flagrantemente em debates. São discriminados, escanteados. A fé é vista como arquiinimiga da Ciência e dos “avanços sociais”. É taxada como “coisa de ultrapassado e fanático”. Enquanto isso, as afirmações de ateus e liberais são vistas como genuínas, puras e perfeitas científica e socialmente. E quando alguém tenta contradizer isso, mesmo que polidamente, começa a guerra.
Veja o que está acontecendo nos Estados Unidos.
Ali, surgiu um movimento de contra-ataque a essa onda liberal, demonstrando a cosmovisão cristã como (1) a alternativa mais coerente para entender a vida e (2) um movimento sadio de contra-cultura com um sólido arcabouço científico. Resultado? Os ateus e liberais, pegos de surpresa pelas fortes argumentações da cosmovisão cristã, têm se esforçado desesperadamente para esconder ou minimizar essas argumentações e desacreditar o cristianismo como nunca antes fizeram em toda a história daquele país. Já estão, inclusive, apelando, partindo para um ataque baixo, nervoso, emocional e intolerante. Isso mesmo: acabaram as balas e agora estão jogando o revólver.
Vamos aos nomes.
Recentemente, três cientistas norte-americanos de destaque internacional lançaram livros pedindo exatamente o fim da religião. Não que eles pensem, ingenuamente, que um dia não mais existirão religiões no mundo, mas seus ataques pretendem influenciar o aumento das mordaças sobre a fé, para que ela perca a sua relevância. Para esses cientistas, o maior mal do mundo atende pelo nome de “religião” ou “fé”. Principalmente “fé cristã”.
O primeiro foi o zoólogo britânico Richard Dawkins, um dos mais conhecidos pesquisadores do evolucionismo. Ele publicou em setembro de 2006 o livro The God Delusion (A Ilusão de Deus), com base em um documentário que fez para a tevê britânica. Logo em seguida, ainda em 2006, o neurocientista norte-americano Sam Harris lançou Letter to a Christian Nation (Carta a uma Nação Cristã). Sua obra tenta desafiar a fé cristã, criticando-a com frágeis argumentos pró-ateísmo. O último, publicado em novembro de 2006 (e no Brasil em dezembro), é do filósofo norte-americano Daniel Dennett. Chama-se Breaking the Spell (Quebrando o encanto: a religião como fenômeno natural), e pretende explicar o surgimento da fé e o papel das religiões. Como define matéria publicada na revista Época, edição 443, de 13/11/06 (A igreja dos novos ateus), a mensagem central das três obras é que “a religiosidade faz mais mal do que bem à humanidade”.
Isto é, “Se não conseguimos vencê-los no debate, vamos eliminá-los!”
Bem “sadio”, não?
São essas idéias que têm sido propaladas hoje em dia, contando com todo o apoio da mídia, às vezes veladamente, às vezes não. Não estou dizendo com isso que creio que o mundo vai se tornar menos religioso devido a esses ataques. Não, o problema não é esse. A maioria dos seres humanos sempre será religiosa. O problema está na influência desse discurso anti-religioso nas decisões políticas que afetam a sociedade como um todo.
Essas idéias liberais anti-religiosas estão embutidas em atos políticos, em omissões descabidas ou em projetos de lei que vez por outra aparecem propondo limites à liberdade religiosa e criando mecanismos inibidores da proclamação da mensagem do Evangelho em sua integralidade.
Despertamento
A partir do momento que não podemos mais chamar de pecado o que a Bíblia chama de pecado e somos tolhidos ao tentar expressar nossa fé, estamos sendo amordaçados.
O objetivo deste texto é despertar o maior número possível de crentes para essa realidade, prevenir quanto à sutileza das mordaças que estão sendo preparadas, desmascarar as armadilhas dessa intolerância travestida de “tolerância” que está sendo pregada, despertar para a necessidade de municiar os cristãos com informações que possam ajudá-los em sua atividade apologética e conclamar cada cristão a buscar um avivamento. Isso porque, à luz da Bíblia, da experiência e da História, as maiores ferramentas contra esse tipo de onda são sempre o conhecimento, o engajamento e, claro, a unção do Espírito. Sem ela, qualquer engajamento é insuficiente.
Que Deus possa usar este e tantos outros textos como instrumentos para despertar consciências e avivar vidas.