
Fevereiro de 2007 foi importante para os evangélicos anglo-saxões. Na manhã de domingo, 18 de fevereiro, cristãos de todos os países de fala inglesa entoaram solenemente em suas igrejas o hino Amazing Grace (Maravilhosa Graça). É que nessa data completou-se o bicentenário da abolição da escravatura na Inglaterra, que teve como um de seus grandes nomes o autor desse célebre hino, o pastor John Newton. Por isso, 18 de fevereiro foi consagrado pelos norte-americanos e ingleses como o Amazing Grace Sunday, em ação de graças. Dias depois, a Aliança Evangélica Mundial, em parceria com a Walden Media, lançou nos EUA, Canadá e Reino Unido, o filme Amazing Grace: A História de Wilberforce, sobre a abolição da escravatura (aos interessados, o filme não foi lançado em português nem nos cinemas nem em DVD, mas o DVD da película em espanhol está disponível para venda na internet; e mais sobre ele pode ser encontrado no site oficial www.amazinggracemovie.com).
Mas, quem foram John Newton e Wilberforce? E qual a ligação de Amazing Grace com a abolição?
O hino Amazing Grace está ligado à luta pela abolição da escravatura. Antes de converter-se a Cristo, John Newton (1725-1807) gastara parte da sua vida no comércio de escravos, tendo ele próprio sido preso na África e tratado como escravo. Na viagem de regresso à Inglaterra, quando o barco quase naufragava, Newton voltou-se para Deus. Ele chamava o dia de sua conversão de “dia da minha libertação”.
Depois disso, Newton passou a ler todos os dias a Bíblia e “devorou” o livro Imitação de Cristo, de Thomás de Kempis. Também tornou-se discípulo do evangelista George Whitefield e admirador de John Wesley, fundador da Igreja Metodista. Ordenado pastor, Newton liderou a Olney Parish Church e a Saint Mary, Woolnot, em Londres. Em Olney, tornou-se amigo do poeta William Cowper. Juntos trabalharam nos cultos, em reuniões de oração e na produção de um novo hino para cada culto da comunidade. Newton compôs Amazing Grace nesse período, mais precisamente em dezembro de 1772, apresentando-o à sua congregação em 1 de janeiro de 1773.
Mas, Newton não era conhecido só pelos belos hinos e poesias. Seus sermões também eram ungidos. Foi durante a apresentação da oratória O Messias, de Haendel, em Londres, que Newton pregou uma série de sermões sobre os temas do libreto da oratória (Nascimento, Paixão, Ressurreição, Glorificação de Cristo e Juízo Final). Em um deles, um jovem recém-convertido a Cristo chamado William Willberforce (1759-1833), membro da Câmara dos Comuns desde 21 anos, procurou conselho pastoral com Newton. Influenciado pelos conselhos de Newton, Wilberforce começou a levantar-se cedo para ler a Bíblia, orar e escrever seu diário, e entendeu que Deus o chamara para lutar pelo fim da escravatura e pela reforma moral da sociedade inglesa. John Newton tornou-se sua inspiração para essa gigantesca luta. Gigantesca porque tinham contra si grandes poderes e interesses. O comércio de escravos era justificado pelo país econômica e politicamente.
Enquanto Newton e outros pregavam contra a escravatura, Wilberforce apresentava várias propostas de lei, todas rejeitadas, mas não desistiu. Ele escreveu: “A perversidade do comércio [de escravos] era tão gigantesca, tão medonha e tão irremediável, que a minha mente estava completamente preparada para a abolição. Fossem quais fossem as conseqüências. Desde então, determinei que nunca descansaria até que tivesse conseguido a abolição” (131 Christians Everyone Should Know).

De tanto insistir, o comércio de escravos foi oficialmente abolido em 1807, ano da morte de John Newton. A abolição total dos escravos, porém, ocorreu em 1833, ano da morte de Wilberforce, que também desempenhou papel fundamental na criação da British and Foreign Bible Society, em 1804, e da Church Missionary Society, em 1799. Nas palavras de Robin Furneaux, “sua mensagem era a de que não bastava professar o cristianismo, levar uma vida decente e ir à igreja aos domingos, já que o cristianismo atravessa cada aspecto, cada canto da vida cristã. A sua abordagem do cristianismo era essencialmente prática”.
No século 20, Winston Churchill ainda diria que a história não terá muitas pessoas que tenham contribuído tanto para o bem da sociedade como William Wilberforce. Não é à toa que Churchill o chamou de “a consciência da nação”.
De 1904 a 1910, o País de Gales experimentou um dos maiores avivamentos da História, que teve como principal instrumento divino o jovem pregador Evan Roberts (1879-1951). O avivamento foi tão notório que, em 1904, o famoso jornalista William Stead (1849-1912), editor de um dos principais jornais britânicos da época, o Pall Mall Gazette, publicou uma série de matérias de destaque sobre o acontecimento. Porém, até 1909, o avivamento ainda seria notícia em jornais britânicos. Foi nesse ano que um jornalista de Londres resolveu visitar Gales para ver se, cinco anos depois, o avivamento ainda estava vivo.
Ao chegar em Gales, o jornalista marcou uma entrevista com pastores de uma das primeiras cidades onde tudo começara. No encontro, um deles afirmou que, dois anos antes do avivamento, o número de crentes fiéis na cidade era quase nenhum, ao ponto de as igrejas estarem prestes a fechar. Quando o jornalista perguntou se o reavivamento já estava em declínio, eles responderam: “Sim, está. É que não existe mais ninguém aqui querendo ser salvo. Todos os habitantes da nossa cidade aceitaram Jesus durante o avivamento”.

O País de Gales foi marcado por muitos avivamentos. O primeiro foi no final do século 18, com Christmas Evans. O segundo ocorreu em 1859. No início do século 20, porém, não havia mais resquícios do grande avivamento galês. Por isso, muitos crentes daquele país começaram a orar por um reavivamento, que veio no final de 1904.
Tudo começou em 29 de setembro de 1904, quando Evan Roberts, um jovem minerador de carvão de 25 anos que estava se preparando para o ministério, e mais 19 amigos se reuniram em uma manhã para ouvir o evangelista Seth Joshua. Em sua mensagem, Joshua afirmou: “A igreja galesa precisa, acima de tudo, ser dobrada, quebrantada como argila mole nas mãos de Deus”. Aquelas palavras tocaram o coração de Evans, que prostrou-se em lágrimas clamando: “Senhor, dobra-me!” E, como escreveu alguém, “dentro de pouco tempo, a igreja galesa estava acertando seus corações com Deus. Os líderes estavam clamando a Deus. E, de repente, Deus chegou!”
O detalhe desse avivamento é que, de 1904 a 1905, temos muito pouco registro de pregação evangelística. Entretanto, nesse período, em menos de 40 dias, 20 mil pessoas vieram a Cristo. Em seis meses, esse número subiu para 100 mil. O que foi que aconteceu?
Nos contam os registros da época que o avivamento começou quando Evans deu início a reuniões de oração e passou a ensinar, insistentemente, quatro coisas, que se tornaram “Os quatro pontos do avivamento galês”: os galeses deveriam pedir perdão a Deus de seus pecados, confessar publicamente Cristo como o seu Salvador, afastar-se de tudo aquilo que desagrada a Deus e não resistir à ação do Espírito Santo. Muitos receberam essa palavra, foram restaurados espiritualmente e, através da visível transformação de suas vidas, o restante do país foi atraído a Cristo.Contam os historiadores que “as transações de jogo e álcool perderam a sua atividade e os teatros foram obrigados a fechar as portas por falta de espectadores. (...) Adolescentes, cansados de seus pais alcoólatras batendo nas mães, oravam para que os bares se fechassem. A polícia pranteava e se juntou aos cânticos – e a criminalidade quase cessou”. Em pouco tempo, todas as igrejas ficaram lotadas, de tal forma que multidões ficavam sem poder entrar. As reuniões eram das dez da manhã até à meia-noite, com três cultos bem definidos realizados todos os dias.
“Os infiéis se convertiam, beberrões, gatunos e jogadores profissionais eram salvos; e milhares voltavam a ser cidadãos respeitáveis. Confissões depecados horrendos se faziam ouvir por toda parte. Dívidas antigas eram saldadas”.
E tudo começou com oração e o ensino bíblico sobre conversão e avivamento.