sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma história resumida do narcotráfico no Rio de Janeiro e minha impressão sobre os atuais passos do Estado na guerra contra o tráfico

Sou pernambucano radicado no Rio de Janeiro há 13 anos. Nesta cidade, bela pelas suas belezas naturais e pelo seu povo quase sempre bem-humorado e carinhoso, concluí minha primeira faculdade e ainda continuo estudando; trabalho há cerca de 12 anos e meio na Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), trabalho este que considero um ministério; e também conheci Lília, minha esposa, uma carioca e serva de Deus que considero a maior bênção que Deus me concedeu depois da minha Salvação. Tenho ainda muitos irmãos em Cristo e amigos no Rio. Por todas essas razões, gosto desta cidade, apesar do seu grande índice de violência, que a coloca sempre entre as três ou cinco cidades mais violentas de nosso país.
É como morador do Rio de Janeiro que externo minha impressão sobre toda essa operação da PM carioca em parceria com as Forças Armadas e a Polícia Federal para combater o poder paralelo do narcotráfico nos morros e favelas desta cidade. Em uma frase: Acho muito boa, mas não suficiente. É um excelente passo, mas muita coisa ainda precisa ser feita para efetivamente acabar com o crime organizado por aqui.
Todos sabemos que acabar definitivamente com o crime de forma geral é definitivamente impossível - só quando Cristo voltar. Porém, é igualmente fato que esse específico estado de coisas que vemos há décadas no Rio de Janeiro poderia ter sido evitado décadas atrás, mas pode ainda ser revertido nos próximos anos, da mesma forma que a criminalidade diminuiu drasticamente em Nova York com o programa conservador de "Tolerância Zero" e a máfia foi esfacelada na Itália com choques de lei-e-ordem envolvendo conjuntamente polícia, promotoria e tribunais.
Para entender melhor o que estou dizendo, é preciso relembrar a história do narcotráfico no Rio de Janeiro.
Como nasceu o poder paralelo no Rio de Janeiro
A história do poder paralelo do narcotráfico no Rio de Janeiro começa nos anos 70, quando guerrilheiros comunistas do grupo Falange Vermelha presos pela Ditadura Militar resolveram ensinar táticas de guerrilha a presos comuns na extinta prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, Rio de Janeiro (RJ), no período em que conviveram juntos ali de 1969 a 1978. Esses guerrilheiros acreditavam que, dessa forma, conseguiriam trazer esses bandidos para sua causa criminosa e, assim, fazer com que a guerrilha comunista não morresse no país, embora já esmagada pelos militares àquela época. Por isso, deram um curso completo de guerrilha, dentro e fora do presídio, usando como material didático as obras "O Pequeno Manual do Guerrilheiro Urbano", de Carlos Marighela; "Guerra de Guerrilhas", de Ché Guevara; "A Revolução da Revolução", de Régis Debray; e "A Guerrilha Vista por Dentro", de Wilfred Burchett. Todas as táticas e estrutura organizacional e operacional do Comando Vermelho estão explicitadas nesses livros e foram seguidas à risca pelo grupo desde a sua fundação.
William Lima da Silva, chamado de "Professor", foi um dos fundadores e gurus do grupo de bandidos-alunos. Nos anos 90, ele lançou sua autobiografia "400 contra 1 - Uma História do Comando Vermelho", com apoio do então petista e ex-guerrilheiro César Benjamin.
Pois bem, em 1979, alguns desses presos de Ilha Grande fugiram e se instalaram nos morros do Rio, onde começaram a pôr em prática tudo que aprenderam com os guerrilheiros. Em homenagem aos seus mestres do Falange Vermelha, batizaram o grupo de “Comando Vermelho” (CV) e passaram a promover uma série de assaltos no Rio: assaltos a banco, a joalherias, a várias lojas, a depósito de materiais militares etc. Mas, diferentemente do que esperavam seus mestres comunistas da prisão, não se interessaram em dar continuidade ao ideal comunista no Brasil, mas em enriquecer com roubos e tráfico.
Com os contatos com o exterior aprendidos com a turma da guerrilha na cadeia, esses bandidos descobriram não só o caminho das pedras para adquirir armamentos como também para alavancar o mercado das drogas no país. O contato principal do CV no exterior (desde os anos 80) era com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo de narcoguerrilha comunista que passou a fornecer ao CV a cocaína para ser vendida no Brasil. Não é à toa que quando o traficante Fernandinho Beira-Mar, um dos chefes do CV, foi finalmente preso em abril de 2001, ele estava na Colômbia, com seus parceiros das Farc. Naquela ocasião, os serviços de inteligência dos EUA, Colômbia e Brasil divulgaram que as drogas das Farc que chegavam ao nosso país via Comando Vermelho representavam em 2001 simplesmente 70% de toda a cocaína que entrava no Brasil.
Quem quiser saber mais detalhes sobre essa história deve ler os livros “Comando Vermelho: A História Secreta do Crime Organizado”, de Carlos Amorim; e, para ter uma visão mais ampla da coisa no continente americano, “Red Cocaine - The Drugging of America”, de Joseph D. Douglas Jr.
O mais impressionante dessa história é que o mal poderia ter sido cortado pela raiz ainda nos anos 80, mas políticas esquerdistas do senhor Leonel Brizola acabaram consolidando o poder paralelo no Rio.
Foram as absurdas políticas de segurança e urbanismo dos dois governos do senhor Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro (1983 a 1987 e 1991 a 1994) o fator absolutamente decisivo para aumentar e, por fim, consolidar o domínio do narcotráfico nos morros do Rio de Janeiro.
As políticas “nonsense” de Brizola na área de urbanismo e de segurança pública consistiam no seguinte:
(1) Na área de urbanismo, Brizola era contra proibir o crescimento das favelas no Rio, e o fazia em nome do “respeito e valorização dos trabalhadores”. Para Brizola, o Estado não tinha nada que impedir a invasão dos morros e o aumento de construções irregulares no espaço urbano, pois ele achava que “o pobre do trabalhador” precisava disso para se estabelecer. É a mesma mentalidade burra que defende as invasões ilegais, criminosas, do MST, cujas propostas Brizola sempre defendeu, desde a época das Ligas Camponeses dos anos 60.
A lógica era a seguinte: “E daí que são ilegais e irão aumentar a favelização da cidade? Se o povo que chega ao Rio de Janeiro de outras regiões do país não tem lugar para ficar e nem dinheiro para comprar ou alugar uma casa ou apartamento, que invadam os morros e favelas que aqui já existem e construam lá suas casas para morar. O governo não vai se meter nisso, não vai proibir nada”. Assim, o governo do senhor Leonel Brizola causou uma proliferação das favelas por todo o Rio e Grande Rio, fazendo-as aumentar em mais de dez vezes sua área de ocupação.
Ora, caro leitor, uma coisa é o governo construir casas em regiões mais propícias para ajudar os menos favorecidos, outra bem diferente é cometer a irresponsabilidade de defender invasões e construções ilegais, inchando favelas, o que torna esses lugares (A) campos propícios para imensas tragédias naturais (os já tradicionais deslizamentos provocados pelas chuvas, como os deste ano) e também (B) bolsões de pobreza mais suscetíveis à ação da bandidagem.
(2) Mas, em segundo lugar, e ainda mais decisivo, o governo de Brizola também proibiu qualquer tipo de incursão policial nas favelas. Ele simplesmente tornou as favelas os únicos locais das cidades fluminenses onde o poder público era impedido de exercer qualquer vigilância. A ordem era: “No meu governo, polícia não sobe em morro e não entra em favela”. Foram oito anos de ausência absoluta do Estado nesses lugares. Com isso, o senhor Brizola favoreceu a organização e consolidação dos criminosos nos morros e favelas do Rio. Como era o único lugar onde não havia presença da polícia, esses lugares se tornaram seus quartéis generais. O tráfico fazia incursões no asfalto e, quando era perseguido, fugia para o seu quartel impenetrável dos morros e favelas. E como o crescimento dessas favelas não foi controlado, o tamanho do território sob o domínio do narcotráfico dentro das cidades aumentou, se alastrando por vários bairros. Já em 2002, se dizia que 2/5 da cidade do Rio de Janeiro eram formados por favelas, todas dominadas pelo tráfico.
Essa foi a época de consolidação do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro. As facções TC (Terceiro Comando) e ADA (“Amigos dos Amigos” – reunindo traficantes e policiais corruptos) só surgiriam anos depois. O TC é uma cisão de dentro do CV e o ADA, de dentro do TC. Como os negócios do narcotráfico cresciam e prosperavam, surgiram essas cisões, todas procurando tocar seu próprio negócio e hegemonia.
Se tivessem sido mantidas as políticas de repressão ao CV nos morros e favelas do Rio que haviam sido empreendidas pelos governadores Chagas Freitas (1979-1983) e Moreira Franco (1987-1991) – governos que tinham suas falhas, mas nesse ponto foram corretos –, não haveria CV, nem TC e nem ADA no Rio de Janeiro. Crimes sempre continuariam a existir, como em qualquer outra grande cidade, mas esse estado de coisas, não.
Outro efeito terrível dessa política burra é que, além da consolidação de um poder paralelo bem armado e cristalizado nos morros e favelas da cidade (com bazucas, granadas, fuzis AR-15 e muito mais), criou-se uma cultura de fascínio em relação ao narcotráfico nas gerações que foram surgindo, a partir dessa época em diante, nesses locais que não contavam com a presença do poder público. Facilmente, os criminosos conseguiam adolescentes e jovens para se “alistarem” ao seu exército e dar continuidade ao seu trabalho, posto que essas crianças e jovens haviam crescido sem ver a presença do poder público onde moram e, por isso, entendiam que ser do tráfico significa ser respeitado e conseguir as coisas que quiser.
Assim, mesmo quando se prendia ou matava os chefões do tráfico e muitos dos seus soldados, o poder de “reposição” era enorme. Some-se a isso ainda (1) a constatação de que o tráfico estava mais bem armado e equipado do que a polícia, que não conseguia por isso desalojá-los dos morros; (2) e que os bandidos, quando pegos, faziam ainda fugas espetaculares (lembre-se de Escadinha e Gregório Gordo) e, posteriormente, passaram a usar as próprias celas deles nos presídios como seus escritórios, de onde continuavam gerenciando o tráfico. Os bandidos viraram “estrelas” midiáticas e um fascínio para as crianças e jovens dos morros. Enfim, seus “heróis”.
Então, veio o final dos anos 90, o período pós-Brizola, e como a polícia não conseguia entrar nas favelas, o governo resolveu reprimir os pontos de venda de drogas, pois o raciocínio era que com isso se tiraria a fonte de renda do tráfico e este, assim, enfraqueceria. A resposta foi os bandidos migrando para outras atividades criminosas e pondo ainda mais em pânico a população. Os bandidos passaram a promover seqüestros e assaltos a bancos em grande escala. No final dos anos 90, houve uma onda que parecia interminável de seqüestros relâmpagos e assaltos a banco no Rio de Janeiro, até que a polícia relaxou na repressão aos pontos de venda e os seqüestros e assaltos a banco desapareceram. Hoje, são muito raros no Rio, apesar de serem comuns em outros Estados.
Simultaneamente a isso, veio a política de Favela Bairro e as ONGs subindo os morros na esperança de "mudar a mentalidade" dos jovens do morro. Como o poder público não podia subir, as ONGs subiam para "tentar mudar". Se tentava criar uma cultura nova e do bem nas favelas como contraponto à influência do narcotráfico sobre a mente de muitos jovens, mas quem tentou subir para fazer isso acabou, para se manter lá em cima, tendo que se tornar condescendente à política dos “donos do morro”. As ONGs não mudaram os morros; os “donos” dos morros submeteram o pessoal das ONGs à sua política em sua grande maioria. Os agentes das ONGs tiveram que ser, pelo menos, omissos diante de tudo que viam, se quisessem permanecer nos morros fazendo alguma atividade positiva para a população.
Outro detalhe: Com o tráfico cada vez mais forte bélica e financeiramente, o poder de suborno do narcotráfico cresceu. Logo, houve o fenômeno da “banda pobre” da polícia. Como a polícia era impotente para combater o tráfico e o tráfico ainda oferecia altas quantias como suborno, muitos policiais de vários escalões se permitiram ser cooptados pelo tráfico. Não eram a maioria, mas muitos. Prova desse fenômeno é o surgimento da facção ADA e, posteriormente, das milícias. A população, então, passou a perder a confiança na polícia. Em muitos lugares do Rio, passou-se a ver polícia como sinônimo de bandido também. Uma pena!
Porém, de alguns anos para cá, começou a se popularizar, principalmente a partir do filme “Tropa de Elite” (2007), a imagem, que corresponde aos fatos, de que a maioria dos policiais não é corrupta e, inclusive, há grupos dentro da PM que são muito fechados à corrupção. O principal exemplo era o Batalhão de Operações Especiais do RJ, o BOPE, criado pelo Decreto 16.374 de março de 1991. Nos últimos 10 anos anos, esse grupo foi sendo melhor equipado e treinado para se tornar a grande frente de enfrentamento da polícia contra o tráfico. Em 2000, o BOPE chegou a ganhar finalmente suas primeiras instalações próprias. Forte, bem treinado e equipado, o BOPE passou a ser o único que conseguia subir os morros do Rio para enfrentar os bandidos.
Assume, então, o governador Sérgio Cabral (2007-2010) que, adianto, é um governador que não gosto. Porém, o seu governo teve como ponto positivo readotar no Rio a política de enfrentamento mais intenso nos morros, objetivando subir nesses lugares para expulsar os bandidos. A proposta foi encabeçada pelo secretário de Segurança do Rio, José Beltrame, e outros membros da PM. Com Beltrame, o governo passou a explorar (mais do que os dois governos dos Garotinho fizeram) o BOPE para varrer os bandidos desses lugares. Entretanto, ainda havia um problema: Que adiantava o BOPE subir, eliminar e expulsar os bandidos, se, no primeiro dia após a saída do BOPE, os bandidos que haviam fugido voltavam para continuar mandando ali? Isso quando não vinham bandidos de facções rivais para tomarem o espaço liberado; ou milícias (policiais corruptos visando à sua “independência financeira” do tráfico) para ocupar esses lugares.
Surge, então, uma resposta: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que nada mais são do que as antigas GPAE criadas pelo governo Garotinho, só que um pouco melhoradas. Uma excelente idéia, mas que ainda não resolvia todo o problema. Por quê? Ora, porque só há uma forma concreta de diminuir a criminalidade: Prender os bandidos. Tudo o mais é complementar a isso. Exatamente por essa razão o GPAE, por exemplo, não dera certo antes. Os bandidos conviviam normalmente com o GPAE. Por quê? Por que se o GPAE dominava a parte de baixo dos morros, os bandidos continuavam mandando na parte de cima. Sempre fora assim.
Se é verdade que os bandidos perderam agora, de fato, territórios com o trabalho do BOPE seguido pelas implantações das UPPs, também é verdade que ainda estavam soltos por aí, porque só se tira bandido das ruas prendendo. Ação social, UPPs, tudo isso é bom, mas é preciso prender. Se não estão promovendo mais crimes onde há UPPs, estão fazendo-o em outros lugares, porque não existe conversão, da noite para o dia, de uma massa de bandidos em gente honesta.
O uso descarado das UPPs eleitoralmente fez o governo do Rio ignorar e omitir o básico: a importância de também prender. A UPP não pode ser apresentada como sendo tudo, porque não resolve, de fato, todo o problema. É apenas uma pequena parte da solução. Foi só começarem os ataques desta semana que o governo se lembrou disso. Ele foi forçado a preocupar-se em efetivamente prender os bandidos, e instigado pelo apelo da população.
Ademais, a presença das UPPs não acabou com a venda de drogas em todos os lugares onde existem essas unidades. Moradores de localidades com UPPs afirmam que ainda há venda de drogas em algumas favelas ocupadas pelos agentes pacificadores, só não existe mais aquela presença ostensiva do tráfico, aquele seu séquito armado impondo o medo. A coisa agora ocorre mais às esconsas. Não são em todos os lugares onde há UPPs, mas em muitos deles.
Ou seja, uma parte do tráfico ficou totalmente “desempregada”, mas não todo ele, e é essa parte que ficou “desempregada” que está promovendo esse terrorismo no Estado do Rio de Janeiro.
Medidas seguintes

Essa ação do BOPE com a ajuda da Polícia Civil e dos militares vai, finalmente, acabar com o poder paralelo do narcotráfico no Rio de Janeiro? Depende. Se não ficar só por aí, pode ser o começo disso; ao contrário, terá sido mais uma de tantas oportunidades perdidas.
Para que a mudança desejada se concretize, é preciso caçar esses bandidos até prendê-los todos ou pelo menos a maioria esmagadoras deles, mas também asfixiar os pontos de drogas e vigiar melhor as fronteiras para impedir a entrada de mais drogas e armamentos pesados, além de reunir gente suficiente para o trabalho das UPPs, já que não há quantidade suficiente de policiais no Rio para trabalhar em todas as unidades que teriam que ser abertas ainda no Estado.
Repito: Ainda que o Complexo do Alemão seja retomado das mãos do Comando Vermelho, terá sido dado apenas um primeiro passo. Só haverá "página virada" mesmo, como vende o governador Sérgio Cabral, se as medidas complementares ora citadas forem igualmente perseguidas.
Seja como for, não deixa de ser bom ver o povo carioca, que até alguns anos atrás havia perdido a confiança na polícia, apoiando-a e batendo palmas nas ruas à passagem dos homens da lei. Como disse o comentarista Alexandre Garcia, da Rede Globo, nesta manhã, no "Bom Dia Brasil", parece que cada carioca, ao olhar para um agente do BOPE, "vê nele um Capitão Nascimento, um herói". Já faz alguns anos que a população não está mais aceitando o estereótipo de que "todo policial é bandido", e o que vemos acontecer nas ruas do Rio nesses dias, em relação ao tratamento do povo à polícia, tem demonstrado isso fortemente.
Enfim, como se vê, o buraco é bem mais fundo, mas não deixa de ser, até agora, um importante avanço o que estamos vendo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A campanha midiática pela aprovação do PL 122 recomeçou com força total

Mal terminaram as eleições presidenciais, já recomeçou com força total a campanha pela aprovação do famigerado Projeto de Lei 122, que institui o crime de “homofobia”. Três eventos recentes foram usados para catalisar a campanha.
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Congresso Internacional de Missões das Assembléias de Deus começa hoje no Rio de Janeiro

De hoje ao dia 21 deste mês, a Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil (CGADB) e a Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD) estarão promovendo no centro de eventos do Riocentro, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de Missões das Assembléias de Deus (Cimad). Entre os preletores estão os pastores José Wellington Bezerra da Costa, presidente da CGADB; e José Satírio dos Santos, missionário na Colômbia há 35 anos e líder de uma das maiores igrejas evangélicas daquele país; o missionário presbiteriano Ronaldo Lidório, do Amazonas; os missionários Olinto de Oliveira, da China; Vivek Dass, da Índia; Walmir Farinelli, da Itália; Dagnaldo Pinheiro Gomes, do Oriente Médio (Egito); e Célia Rabelo, do México; e os pastores Cesino Bernardino, de Santa Catarina; Nelson Lutchemberg, de Rondônia; Álvaro Alen Sanches, de Minas Gerais; e Raul Cavalcanti, do Maranhão, todos envolvidos diretamente com Missões.
Como parte da programação, no dia 19 de novembro, serão comemorados os cem anos da chegada dos missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém, capital do Estado do Pará, vindos dos Estados Unidos da América. Os dois jovens suecos iniciaram no Brasil um movimento que alterou profundamente o perfil religioso do país. No culto da noite do dia 19, estarão presentes parentes dos pioneiros escandinavos Gunnar Vingren, Daniel Berg, Lewi Pethrus, Nils Kastberg, Nels Nelson, Nils Taranger, Simon Lundgren e Joel Carlson, e do missionário norte-americano Lawrence Olson, para celebrar os exatos 100 anos da chegada de Vingren e Berg ao Brasil.
Simultaneamente ao Congresso, acontecerá no sábado o evento "GeraçãoJC Missões", edição especial do Encontro GeraçãoJC, destinado a jovens e adolescentes. As palestras terão como tema a importância de se cumprir o “Ide” ordenado por Jesus. Entre os preletores, os missionários Dagnaldo Pinheiro (Egito), Célia Rabelo (México), Vivek Dass (Índia), Ronaldo Lidório (África e, hoje, Amazonas) e José Satírio (Colômbia). Acontecerá também o evento “Missões para Crianças”, com uma programação de cunho missionário com a participação da Tia Jô (Joany Bentes – Paraná) e Tia Nita (Anita Oiayzu – São Paulo), e dos professores Helena Figueiredo e Newton Cezar.
Localizado na Barra da Tijuca, região de maior crescimento econômico da cidade do Rio de Janeiro, o Riocentro está em convergência com o que há de mais moderno em infra-estrutura e serviços para eventos. Seu endereço é Avenida Salvador Allende, 6555, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (RJ).
A programação do Congresso Internacional de Missões começa às 19h de hoje e se estenderá das 9h às 21h dos dias 19 e 20 (sexta e sábado), e de 9h às 12h no dia 21 (domingo). O valor da inscrição é R$ 50, que pode ser pago em duas vezes sem juros no cartão de crédito. Quem ainda não fez inscrições, poderá fazer ainda hoje no próprio local do evento, já a partir da tarde de hoje.
Ore, divulgue, participe e “Ide”!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Notas finais sobre as eleições norte-americanas

Chegam os dados finais das eleições norte-americanas. Eis o final da história: Se no Senado norte-americano temos hoje 59 democratas contra 41 republicanos, em 2011 serão 53 democratas contra 47 republicanos (Lembrando que, neste ano, no Senado, estiveram em disputa apenas um terço das cadeiras); se na Câmara dos Representantes são hoje 255 democratas contra 178 republicanos, agora serão 240 republicanos contra 190 democratas, além de 5 independentes; e se os governos estaduais tinham 26 democratas contra 24 republicanos, agora serão 29 governadores republicanos contra 19 democratas e 1 independente. Enfim, os grandes vencedores deste pleito foram os conservadores dos Estados Unidos, representados sobretudo pelo Tea Party Movement, um movimento que nasceu entre os próprios cidadãos dos EUA, sem um líder, mas que foi se organizando aos poucos e hoje já goza do respeito da maioria dos norte-americanos, como mostrou recentemente pesquisa Gallup (E isso contra toda zombaria da mídia liberal dos EUA).
Quanto aos plebiscitos pela legalização da maconha, as derrotas impostas pelos conservadores também foram marcantes. Na liberal Califórnia, 54% votaram contra a legalização contra 46% a favor.
Curioso, mas nada incomum, o caso do músico, diretor e produtor Jonathan Khan, que desde 2001 abandonou a esquerda (liberalismo social, representado pelo Partido Democrata) para se tornar de direita (conservadorismo social, representado pelo Partido Republicano) e tem sofrido preconceito em Hollywood. Leia essa história aqui.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mais dados sobre a eleição norte-americana

Os votos das urnas ainda estão sendo apurados, mas o que podemos já adiantar como certo é o seguinte:
1) 37 estados tiveram eleições para governador este ano nos EUA. Até agora, os republicanos perderam três estados para os democratas, mas tomaram dez dos democratas, fechando com mais sete estados, enquanto os democratas já estão com menos oito estados. Agora, dos 50 estados dos EUA, 29 são governados por republicanos, só 17 por democratas e 1 por independentes. Até às 12h30 (horário de Brasília), ainda estavam indefinidas as eleições em apenas três estados: Connecticut (com o republicano Foley à frente com 50% dos votos contra 49% do democrata Malloy, e faltando ainda apurar 1% das urnas), Illinois (com o republicano Brady empatadíssimo com o democrata Quinn – ambos com 50% dos votos válidos – faltando apurar menos de 1% das urnas) e Minessota (com o democrata Dayton à frente com 44% contra 43% do republicano Emmer e 12% do independente Horner, faltando apurar menos de 1% das urnas). Tudo indica que, nessa disputa final, os republicanos vão faturar mais uma vitória contra mais duas dos democratas, fechando 30 estados com governo republicano contra 19 de democratas e 1 de independentes.
2) Na Câmara dos Representantes, das 435 cadeiras em disputa (ou seja, todas), o resultado até agora é: 240 cadeiras para os republicanos (61 a mais do que já tinham) contra 185 dos democratas (exatas 61 a menos). Os independentes estão com só uma garantida; as outras nove ainda estão em disputa, com a tendência de 3 delas saírem para os democratas e 2 para os republicanos; as outras 4 indefinidas têm resultado absolutamente imprevisível. Faltando menos de 1% para essas urnas serem totalmente apuradas, os candidatos republicanos e democratas que disputam essas últimas quatro vagas estão rigorosamente empatados.
3) No Senado, com só um terço das cadeiras em disputa nesta eleição, os democratas apanharam menos. Estão com 6 cadeiras a menos, enquanto os republicanos ganharam mais 6. Agora, são 52 cadeiras democratas contra 46 republicanas, contra uma independente. A cadeira de Washington ainda está em disputa, com os candidatos Murray (democrata) e Rossi (republicano) rigorosamente empatados, com 74% das urnas apuradas. A conferir.
4) A onda conservadora derrotou ainda plebiscitos pela liberação da maconha que ocorreram em alguns Estados simultaneamente às eleições. Foram outras derrotadas acachapantes.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Republicanos massacram democratas nas urnas

Nas eleições de 2 de novembro nos EUA para renovar a totalidade da Câmara dos Representantes e um terço do Senado, os republicanos massacraram os democratas nas urnas, como esperado. Obama, que assumira a presidência em 20 de janeiro de 2009 com quase 70% de aprovação, está hoje com apenas 35% de aprovação. As questões econômicas e de valores pesaram.
Até uma hora atrás, os republicanos, que desde 2007 haviam perdido a maioria da casa, passando a representar apenas um terço da Câmara dos Representantes, passaram a ter agora 239 das 435 cadeiras (os democratas não deverão chegar sequer a 200 cadeiras, cedendo muitas aos independentes); e no Senado, onde também representavam cerca de um terço, os republicanos passaram a ter agora quase metade das cadeiras: têm 46 das 100 cadeiras do Senado, podendo ainda aumentar. Os democratas foram de 59 para 51 cadeiras, tendo as demais ficado com independentes ou ainda indefinidas. É a maior derrota dos democratas desde as eleições de 1994.

Novo presidente do Brasil, anseios e orações

Em 31 de outubro, o Brasil elegeu a primeira presidente mulher de sua história, fato que, por si só, já é de grande relevância para a história do nosso país. Nosso desejo, agora, é que a presidente eleita Dilma Rousseff honre, de fato, o seu compromisso assumido em seu primeiro discurso como eleita.
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Dislexia" premeditada. Ou: Corrigindo as recentes e propaladas distorções feitas sobre os escritos ortodoxos acerca da dupla natureza de Cristo

Tempos atrás, ao debatermos neste blog os argumentos antibíblicos do chamado Teísmo Aberto, cunhei um termo para designar a atitude reprovável, de boa parte dos proponentes dessa heresia, de usar definições diferentes e estranhas para conceitos bíblicos-doutrinários bem definidos, com o objetivo de confundir crentes desatentos, levando-os a crer que o Open Theism também cria em todos os pontos fundamentais da ortodoxia bíblica a respeito da Doutrina de Deus. O termo que usei à época era “dislexia” premeditada.
Dislexia, sabemos, é a incapacidade de compreensão do que se lê em decorrência de uma lesão no sistema nervoso. É óbvio que, ao falar de dislexia de forma aspeada e seguida da expressão “premeditada”, eu não quero dizer que seguidores do Teísmo Aberto sofrem de alguma lesão no sistema nervoso, mas estou me referindo a uma proposital, calculada e dissimulada tentativa de distorcer o significado óbvio de algumas expressões para fazer com que as pessoas menos atentas pensem que os teístas abertos não dizem o que dizem. Como assim?
Por exemplo: Alguns defensores do TA diziam que criam na onisciência divina, isto é, que Deus conhece o passado, o presente e o futuro, só que com uma única diferença: a definição do que seria esse futuro que Deus conhece. Segundo eles, alguém pode conhecer o futuro como possibilidades ou como realidades. Logo, afirmavam que Deus não conheceria o futuro só como realidades, mas apenas parte desse futuro como realidades e a outra parte, que seria a maioria, como possibilidades. E aí arrematavam: “Eu não estou dizendo que não creio que Deus é onisciente; só estou dizendo que não creio que essa onisciência seja estática. Creio que Deus tem uma ‘onisciência em movimento’, que está sendo construída, e não uma onisciência estática”. E ainda: “Não estou dizendo que Deus não sabe de tudo. Só estou dizendo que todas as realidades do futuro não são conhecidas por Ele; apenas uma parte desse futuro Ele conhece como realidades e a outra parte Ele também conhece, mas apenas como possibilidades”.
Ora, o que esses seguidores do Teísmo Aberto estavam dizendo escamoteadamente é que não crêem mesmo que Deus seja onisciente, porém temiam dizer isso abertamente porque não queriam que seus ouvintes se afastassem de seus ensinos reconhecendo-os imediatamente como heresia. Por isso, em vez de dizerem “Não creio que Deus seja onisciente” optavam por “Creio, de fato, que Deus é onisciente, mas apenas digo que trata-se de uma onisciência em movimento”. Ora, o que significa “onisciência”? O prefixo “oni” significa “tudo”, “todo”, “plenitude”. Logo, quando afirmamos que Deus é onisciente, estamos dizendo que Deus sabe de todas as coisas exaustivamente, seja passado, presente ou futuro; estamos afirmando que todas as coisas do passado, do presente e do futuro já são conhecidas como realidade por Ele desde sempre, como afirmam as Sagradas Escrituras (Is 46.10; Sl 139.1-18; Hb 4.13; Sl 147.5). Portanto, falar de “onisciência em movimento” ou “onisciência em construção” é uma contradição de termos. Se alguém diz que Deus não conhece exaustivamente o futuro, está dizendo que Ele não é onisciente.
Outro caso era o tratamento dado à onipotência de Deus: “Sabe, não é que eu não creio que Deus seja onipotente; eu só creio que Ele não é plenamente onipotente”. Ora, se Deus não é “plenamente onipotente”, logo estou dizendo que Ele não é onipotente, porque onipotente significa exatamente ter todo o poder, ser todo-poderoso, como Deus é (Gn 17.1; Sl 62.11).
Destarte, toda vez que um seguidor do Teísmo Aberto usava os termos onisciência e onipotência diferentemente do seu significado, como se não entendesse o significado desses termos (e como se acreditasse que seus leitores não perceberiam a contradição em que incorreriam ao aceitá-los com significado distorcido), estava praticando o que chamo de “dislexia” premeditada. Mas, se quiser, você pode chamar isso também de engodo ou distorção.
Pois bem, lamentavelmente, nos últimos dias, estamos vendo na blogosfera (e exatamente de quem menos esperávamos, o que aumenta a tristeza), novamente o uso da “dislexia” premeditada, só que agora em relação a outra Doutrina Bíblica basilar, crucial e fundamental – a Doutrina da Encarnação de Cristo –, e esse expediente tem levado muitos crentes incautos a ficarem confusos na blogosfera.
Os exemplos de “dislexia” premeditada em relação a esse assunto se multiplicam a cada dia. Por quê? Porque em vez de a pessoa que começou tudo isso admitir humildemente o seu erro inicial, não só prosseguiu nele como ainda tenta, a todo custo (levado pela vaidade humana a que todos estamos sujeitos), remendar e justificar o não-consertável e o injustificável. Em vez de dizer “Gente, desculpe, eu confundi as coisas. Havia dito isso, mas, na verdade, não é assim; ao contrário, é desta outra forma, como a cristandade sempre defendeu à luz de textos claros das Escrituras”, a pessoa distorce aqui, distorce acolá, faz malabarismos, verdadeiras ginásticas, para “dar nó em pingo d’água”, isto é, para sustentar o insustentável. Lamentável, profundamente lamentável.
Tudo começou com a negação da afirmação ortodoxa de que Jesus, em Sua encarnação, além de continuar a ser 100% Deus, era 100% homem. O irmão que a fez, que sempre foi ortodoxo, de repente passou a estranhamente defender que Jesus, em Sua encarnação, era 100% Deus (Ok!), mas não era 100% homem (?!?!?). E ao ser alertado gentilmente por colegas, através de e-mail, do erro que cometera, não apenas desdenhou seus colegas (como pude constatar posteriormente) como depois partiu para posts de ataque pessoal a esses irmãos, que tiveram que se defender.
Quando confrontado na blogosfera sobre o fato de que toda a cristandade afirma enfaticamente, há mais de 1.500 anos, à luz da Bíblia, que Jesus, em Sua encarnação, além de continuar a ser plenamente Deus, era completamente homem, o referido irmão perdeu todos os limites, passando a usar descaradamente o expediente reprovável da “dislexia” premeditada, e chegando, infelizmente, até a confundir alguns cristãos sinceros. Em vez de reconhecer o erro, disse que, ao não crer que Jesus não era 100% homem em Sua encarnação, não estava dizendo com isso que não cria que Jesus era plenamente homem em Sua encarnação (?!?!?). Disse que aceitava as expressões "verdadeiramente" e "plenamente" para se referir à natureza humana de Cristo em Sua encarnação, mas não a expressão 100% (?!?!?), como se não significassem a mesmíssima coisa. Chegou a ser até constrangedor ver outros irmãos tendo que lembrar que dizer que algo é 100% alguma coisa é o mesmo que dizer que esse algo é completamente, verdadeiramente, plenamente, perfeitamente essa alguma coisa.
Por favor, queridos leitores, não se ofendam por passar agora a dar um exemplo explicativo do que estou falando, como se eu não acreditasse na capacidade dos senhores e senhoras de entender o óbvio ululante do que acabei de afirmar. É porque o didatismo nos leva a partirmos sempre do princípio de que eventualmente alguém a quem estamos explicando algo pode ainda não ter entendido esse algo, por mais óbvio que seja. Vamos lá: Se uma parede é completamente azul anil, perfeitamente azul anil, verdadeiramente azul anil, totalmente azul anil, o que estou dizendo, portanto, é que ela é... 100% azul anil. Ou digamos que diga que uma parede é 100% verde oliva; logo, estou dizendo que ela é totalmente verde oliva, completamente verde oliva, verdadeiramente verde oliva, perfeitamente verde oliva. Ou não?
Repito: Chega a ser constrangedor ter que explicar isso.
Mas, aí, apesar dessa gritante “dislexia” premeditada (Premeditada, sim, porque eu não acredito que alguém, mesmo que minimamente inteligente, não entenda algo que até uma criança entende perfeitamente), o nosso irmão passou a desafiar as pessoas que contestavam sua heresia a encontrarem pelo menos um teólogo protestante pentecostal que usasse exatamente o termo “100% Deus e 100% homem”. Aí, um irmão apresentou-lhe de cara os dois maiores teólogos pentecostais vivos da atualidade, Stanley Horton e William Menzies, afirmando em “Doutrinas Bíblicas Pentecostais” (CPAD) a obviedade à luz da Bíblia, e repetida por séculos por teólogos ortodoxos, de que Jesus era, em Sua encarnação, “100% Deus e 100% homem”. Entretanto, não bastou.
Vejam até que ponto pode levar a vaidade humana: Passou-se a dizer, então, que Horton e Menzies, apesar de teólogos respeitáveis e admiráveis, não estavam sendo totalmente bíblicos nessa questão! E aí a coisa que já estava mal passou a degringolar de vez...
Enfaticamente o nosso irmão passou a defender que a natureza humana de Jesus não era igual à nossa ou à de Adão, mas diferente (sic); a ensinar que existem três tipos ou modalidades (sic) de naturezas humanas (a nossa, a de Adão e a de Jesus); e que Jesus, em Sua encarnação, era, portanto, homem apenas em determinado sentido, e não em todos os sentidos, como se o fato de Jesus continuar a ser Deus em Sua encarnação tivesse feito com que a natureza humana dEle fosse diferente da minha, da sua e da de Adão e Eva; como se as propriedades de uma natureza afetassem as propriedades da outra, em vez de as propriedades de ambas as naturezas terem se mantido intactas, como defende, com acerto, à luz da Bíblia, o Concílio de Calcedônia.
Aliás, por falar de Concílio de Calcedônia, em meio a essa tentativa de defender o indefensável, o referido irmão chegou a desprezar o Credo de Calcedônia, só aceitando o Credo dos Apóstolos, o Credo Niceno e o Credo de Atanásio.
Isso mesmo: Calcedônia? Não. Só os três primeiros credos. Isso é assinar um atestado de heresia!
Ora, todo mundo sabe que como o Credo dos Apóstolos foi criado nos primórdios do Cristianismo, ele não se preocupava em tecer detalhes sobre doutrinas bíblicas como, por exemplo, a divindade de Cristo e do Espírito Santo. Era um credo absolutamente enxuto, que omitia a defesa explícita de várias doutrinas. Justamente por isso, era também aceito por arianos e unitários, que, respectivamente, não crêem na divindade de Cristo e na Doutrina Bíblica da Trindade. Então, para combater as heresias ariana e unitária, foram necessários posteriormente credos mais explícitos quanto a esses assuntos, daí o Credo de Atanásio e o Credo Niceno, exatamente para combater essas heresias. Porém, pouco tempo depois, veio outra heresia, o Eutiquianismo, ensinando que a natureza humana de Jesus era diferente da nossa; e em resposta a mais esta heresia, foi elaborado o Credo de Calcedônia, aceito por toda a cristandade no mundo, exceto pelas seitas mórmon, testemunhas de jeová e sete pequenas seitas saídas da Igreja Ortodoxa.
Por que o desprezo desse irmão ao excepcional Credo de Calcedônia, totalmente bíblico e ortodoxo em seu conteúdo? Porque ele não se coaduna com o que esse irmão defende: um Eutiquianismo adaptado, versão 2001. Falei isso em artigo anterior (Leia-o aqui). Lembremo-nos que Eutíquio defendia exatamente a heresia de que a natureza humana de Jesus não era idêntica à nossa, mas fora especialmente criada por Deus para a missão que veio cumprir. E com o passar do tempo, Eutíquio sofisticou sua heresia. Ele sempre reconheceu a divindade de Cristo, mas não reconhecia a plena natureza humana dEle e, ao final, terminou proclamando que Jesus tinha uma natureza humana deificada.
E ainda há irmãos em Cristo que prezo muitíssimo, mas que, levados por esse engodo, estão sugerindo um “Concílio” para a denominação discutir as duas naturezas de Cristo! Meus amados irmãos, o que é isso! Todas as igrejas cristãs, sejam elas evangélicas, católicas ou ortodoxas, reconhecem o Concílio de Calcedônia: Batista, Presbiteriana, Assembléia de Deus, Luterana, Anglicana, Metodista etc. Se a cada confusão que um simples crente ou obreiro em particular de uma dessas denominações tiver, em relação a uma Doutrina Bíblica fundamental, essas denominações fossem fazer um “Concílio”, teríamos inúmeros “Concílios”. Queridos, não se fazem “Concílios” para definir Doutrinas Bíblicas fundamentais, que nos definem como cristãos; e não são as instituições cristãs que têm que fazer novos “Concílios” para definir algo que já está definido por toda cristandade há mais de 1.500 anos e que nos define como cristãos, só porque há irmãos aqui ou ali que não conhecem direito as Doutrinas Bíblicas fundamentais; são as pessoas que têm essas dúvidas que devem conhecer melhor as Doutrinas Bíblicas esposadas pela cristandade e por sua denominação.
Se alguém em nossa denominação não conhece a Doutrina Bíblica basilar, fundamental, das duas e plenas naturezas divina e humana de Cristo, é porque nunca a estudou direito e precisa fazê-lo. Falta de oportunidade não teve. Além de inúmeros livros que a Casa já publicou mencionando o assunto (Doutrinas Bíblicas Pentecostais; O Cristianismo Segundo a Bíblia, Fundamentos da Fé Cristã etc etc), desde os anos 30, as revistas de Escola Dominical da CPAD publicaram edições inteiras sobre Cristologia escritas por Samuel Nyström, José Menezes, João de Oliveira, Lawrence Olson, Eurico Bergstén, Estevam Ângelo de Souza, só para citar os mais antigos, defendendo exatamente “o mistério da piedade”: que Jesus, em Sua encarnação, era completamente, totalmente, perfeitamente, verdadeiramente Deus e completamente, totalmente, perfeitamente, verdadeiramente homem; 100% Deus e 100% homem.

Três tipos de natureza humana?!?

Não existem três tipos ou modalidades de natureza humana! Isso não é ensinado na Bíblia. Existe apenas a natureza humana, que não foi criada por Deus tendo tendência pecaminosa. Essa tendência pecaminosa os seres humanos só ganharam depois da Queda. Portanto, considerar como tendo natureza 100% humana apenas os homens que herdaram o pecado original para afirmar que Jesus, então, não poderia ser considerado 100% humano porque não herdara a tendência pecaminosa, é dizer que (1) o pecado faz parte da essência da natureza humana e que (2) Deus é o autor do pecado, quando a Bíblia mostra exatamente o contrário.
Porque Deus criou o ser humano diretamente à imagem e semelhança dEle (Gn 1.27), a natureza humana foi criada originalmente sem pecado, sem tendência pecaminosa, e, claro, auto-consciente, racional, dotada de senso moral e detentora de livre agência ou livre-escolha, o que são outras características dessa “imagem e semelhança”. A própria Palavra de Deus afirma isso ao dizer que Adão e Eva sequer conheciam o mal, o que passaram a conhecer apenas após comerem do fruto proibido (Gn 1.17; 3.22).
Se um homem ou uma mulher só pudessem ser considerados 100% humanos se tivessem tendência pecaminosa, logo, por esse critério (que não é apenas não-bíblico, mas também antibíblico), Adão (O primeiro homem!) não poderia ser considerado 100% homem porque não tinha tendência pecaminosa ao ser criado. Vejam que absurdo! E pior ainda é se falar de um terceiro tipo ou modalidade de natureza humana, dizendo que Jesus não era nem como Adão!
Jesus, afirma a Bíblia, era 100% homem (Hb 2.14,17; 4.15), assim como Adão, eu e você; com a única diferença de que era um homem que não herdou o pecado original. Portanto, era como Adão antes da Queda. O que não significa que existam duas modalidades de natureza humana ou que Jesus era menos humano que eu e você, porque a tendência pecaminosa não faz parte da essência humana (como vimos em Gênesis), não é o que nos define como humanos. Ademais, até dos resultados não-morais do pecado de Adão e Eva Jesus participou, mas sem que Ele mesmo se tornasse pecaminoso (Rm 8.3; Gn 3.17-19).
Além de essa verdade ser óbvia à luz do texto bíblico, há quase dois milênios de cristianismo reconhecendo essa obviedade à luz da Bíblia. De Irineu a Agostinho, e deste a Tomás de Aquino, e deste a Lutero e Calvino, passando por todos os grandes teólogos ortodoxos do Cristianismo.

Filho Unigênito de Deus não é referência à humanidade de Cristo!
Outro absurdo repetido à exaustão é que Jesus teria uma natureza humana diferente da nossa, “sui generis”, porque a Bíblia O chama de “Unigênito” ou “Unigênito de Deus” (Do grego "monogenes" e "monogenes theos"). Ora, essa expressão bíblica não se refere à qualidade ou à diferença da natureza humana de Cristo, ou melhor, não se refere a NADA da natureza humana de Cristo, mas à Sua divindade eterna! Quando João diz que Cristo é o Unigênito de Deus, está dizendo que aquele homem Jesus, que andou entre eles, sempre fora Deus, por toda a eternidade, e não afirmando que a natureza humana de Cristo é uma criação “sui generis” de Deus.
“Unigênito de Deus” significa: Jesus é Deus; Ele sempre teve todos os atributos da divindade; Ele sempre esteve unido, eternamente, ao Pai.
Esse tipo de declaração absurda sobre o significado da expressão “Unigênito de Deus” só revela a que nível de distorção as coisas chegaram a fim de se sustentar uma heresia. Nem o próprio texto bíblico está sendo minimamente respeitado.

Como estropiaram um excelente texto de Hank Hanegraaff
Eis outro exemplo gigantesco de “dislexia” premeditada: Dizer que Hank Hanegraaff, em “Cristianismo em Crise” (CPAD), defende que Jesus não era um homem como Adão e que quem defende isso segue a heresia de Kenneth Copeland. Que absurdo! O herege Kenneth Copeland defende que Jesus, em Sua encarnação, deixou de ser Deus, passando a ser apenas homem. É essa bizarria que Hanegraaff ataca, e não que Jesus não era 100% homem em Sua encarnação.
Caro leitor, leia (ou releia) o que Hanegraaff escreve sobre o herege Kenneth Copeland com grifos que não são meus, mas de quem defende esse tipo de coisa:
Até agora vimos que os mestres da Fé recriam o homem à imagem de Deus, rebaixam Deus à condição humana, e deificam Satanás como se fora um deus. Daqui em diante nós os veremos rebaixarem Cristo ao nível dum mortal qualquer. Considere o leitor esta inacreditável declaração, feita por Kenneth Copeland:
[Adão] era a cópia, parecendo-se exatamente com [Deus]. Se você pusesse Adão ao lado de Deus, veria que um e outro são exatamente iguais. E se pusesse Jesus lado a lado com Adão, eles se pareceriam e soariam precisamente idênticos.
Aqui temos um eminente mestre da Fé que não reconhece qualquer diferença ou distinção entre Deus e o homem. Mas a coisa não para nesse ponto.
Paremos aqui por enquanto. Não precisa ser nenhum erudito para entender o que foi escrito. E se alguém ainda tem dificuldade de entender um texto simples numa primeira leitura, releia-o de novo. E se já leu o suficiente, então vamos à pergunta: Por acaso, o texto acima diz que a afirmação de que Jesus, em Sua encarnação, além de continuar a ser 100% Deus, era um homem igual a eu, você e Adão, significa o não reconhecimento “de qualquer diferença ou distinção entre Deus e o homem”? Significa rebaixar Jesus em Sua divindade e exaltar o homem à estatura da divindade? Onde? Como?
Pois é, mas não pára por aí. Vejamos a seqüência da citação.
Ao ser interrogado a respeito dessa blasfêmia, Copeland replicou: “Eu não disse que Jesus não era Deus. Disse apenas que Ele [Jesus] não reivindicou ser Deus quando esteve nesta Terra. Busquem os Evangelhos por vocês mesmos. Se o fizerem, verão a verdade do que digo”.
Se os seguidores de Copeland seguissem a sugestão de rebuscar os Evangelhos, descobririam quão errado está. Para começar, consideremos o Evangelho de João. Jesus asseverou: “Eu e o Pai somos um”.
Outra pausa. Nova pergunta: Afirmar que Jesus, em Sua encarnação, além de continuar a ser 100% Deus, era um homem igual a eu, você e Adão, é dizer que Jesus, quando estava aqui na Terra, nunca reivindicou ser Deus? É dizer que Jesus havia deixado de ser Deus na Sua encarnação? É dizer que Jesus nunca disse que era Deus?
Quem afirma que Jesus encarnado é 100% homem e 100% Deus não crê que Jesus era Deus? É isso mesmo? Alguém aí entendeu outra coisa?
Mas, o pior ainda está por vir.
Os leitores modernos poderão não captar o significado dessa afirmativa, mas os judeus antigos certamente não tiveram dúvidas. Sabiam exatamente o que Jesus queria dizer; [...] Jesus proclamou-se mesmo Deus; mas Copeland, à semelhança dos judeus que pretenderam apedrejá-lo, proclama-o um mero homem. (...)
Deixa eu ver se entendi: A palavra “homem” em itálico ao lado da expressão “mero” é para sugerir aos leitores que quem afirma que Jesus, em Sua encarnação, além de continuar a ser 100% Deus, era também 100% homem, não acredita que Jesus encarnado não era só homem? É isso?
Não, não faz o mínimo sentido. Vamos dar uma segunda chance. Talvez seja outra coisa. Talvez seja para insinuar que Hanegraaff está sugerindo aqui que existem tipos de natureza humana e a de Jesus seria, então, diferente da minha, da sua e da de Adão. É isso mesmo?
Alguém aí sabe o significado da palavra “mero”? Uma ajudinha: Pode significar (1) “sem mistura”, “puro” ou (2) “comum”, “simples”. Pois bem, em qual sentido Hanegraaff usa o termo aqui? Será que é no primeiro sentido? Se sim, ele estaria falando que Jesus não era “um homem puro” ou “puro homem”. Ué, mais ele não diz expressamente no mesmo livro “Cristianismo em Crise” que Jesus, em Sua encarnação, era “100% homem”? Como é que estaria dizendo agora que Jesus não seria “puro homem” ou “um homem puro”? Ah, não... O que Hanegraaff está dizendo é que Jesus não era apenas, simplesmente, tão somente, só ou somente homem. Ele está dizendo que Jesus não era só 100% homem, mas que era também 100% Deus, como ele mesmo assevera expressamente mais à frente, reverberando o ensino bíblico sobre as duas e plenas naturezas de Cristo em Sua encarnação. Se há alguma dúvida, tiremos o “mero” da frase e vamos relê-la agora: “Copeland, à semelhança dos judeus que pretenderam apedrejá-lo, proclama-o um homem”. Sentiu alguma coisa? Relei-a agora na forma original, com o “mero”: “Copeland, à semelhança dos judeus que pretenderam apedrejá-lo, proclama-o um mero homem”.
Alguma dúvida de que Hanegraaff não está negando que Jesus era 100% homem como nós, mas apenas destacando que Ele também era mais do que isso: continuava a ser 100% Deus em Sua encarnação? Nenhuma!
Mas, prossigamos com o excelente texto de Hanegraaff.
Espantosamente, Copeland deifica o homem e rebaixa Jesus Cristo. Confunde-nos a mente ouvi-lo:
Por que Deus tem de pagar o preço por isso? Ele precisava dum homem que fosse igual ao primeiro. Tinha de ser um homem. Precisava ser inteiramente homem. Ele não pode ser um Deus e invadir o espaço aqui com atributos e dignidades que não são comuns ao homem. Ele não pode fazer isso. Não seria legal.
Qual será a razão de destacar exatamente a frase de Hanegraaff “Copeland deifica o homem e rebaixa Jesus Cristo” e as de Copeland “Ele não pode ser um Deus” e “Ele não pode fazer isso”? Entendi errado ou o irmão está sugerindo o absurdo de que Hanegraaff estaria dizendo que quem afirma que Jesus, em Sua encarnação, é 100% homem e 100% Deus está “deificando o homem e rebaixando Jesus Cristo” como faz Copeland?
Prossigamos.
Não somente Copeland reduziu Jesus a uma cópia em papel-carbono do homem que percorria o jardim do Éden — como se Adão fosse o Theanthropos (o Deus-homem) — mas despoja claramente o Senhor Jesus Cristo de todo e qualquer indício de deidade.”
Qual será a razão de o irmão destacar essa frase inicial? Por acaso, quem afirma que Jesus, em Sua encarnação, era 100% homem e continuava a ser 100% Deus está afirmando que Adão era Deus também?
A seguir, marque a alternativa correta. Quem afirma que Jesus, em Sua encarnação, era 100% homem (como eu, você e Adão) e continuava a ser 100% Deus está afirmando:
( ) Que Adão era Deus-homem como Jesus.
( ) Que Adão e Jesus eram iguais apenas em natureza humana
Assinalada a alternativa correta, vamos ver agora o que Hanegraaff fala sobre Cristo e Adão.
No capítulo 75 de sua obra “The Complete Bible Answer Book” (“O Livro Completo de Respostas da Bíblia”), Hanegraaff, ao discorrer sobre a encarnação de Cristo, afirma que ao dizer que “Ele [Jesus] não era meramente humano” não está querendo dizer que Jesus “não era completamente humano” em Sua encarnação, mas que Ele, em Sua encarnação, além de ser totalmente homem, continuava sendo “totalmente Deus”. Ele não está reconsiderando a plena natureza de Cristo como se Ele não tivesse sido como qualquer ser humano em Sua encarnação, mas apenas lembrando que Jesus tinha duas naturezas: uma humana e outra divina. E depois de explicar isso, enfatiza com todas as letras: “O Deus-Homem é plenamente humano”.
E em seguida, ainda no mesmo capítulo, Hanegraaff ressalta que Jesus era semelhante a Adão antes da Queda por não ter herdado o pecado original: “Assim como Adão foi criado sem inclinação para o pecado, assim foi o segundo Adão isento do pecado original”.
É isso aí, Hanegraaff. Ortodoxia pura.
Lendo corretamente Vine para quem o leu errado
Outro caso de “dislexia” premeditada: A afirmação de que o "Dicionário Vine" (CPAD), ao comentar o termo grego “homoiõma” (ver verbete SEMELHANÇA, pág, 982), usado em Filipenses 2.7, defende que a natureza humana de Jesus era diferente da nossa. Onde Vine diz isso? Em canto nenhum. O que diz Vine? Primeiro, diz que o vocábulo “homoiõma” denota “semelhança” e também “aquilo que é feito como algo” (por isso, há versões no português e no inglês que traduzem-no aqui das duas formas); e segundo, ao comentar o uso do referido vocábulo em Filipenses 2.7, apresenta uma excelente citação da obra “On the Incarnation” do teólogo e juiz escocês Adam Lord Gifford (1820-1887), que por sua vez cita o “Comentário da Epístola aos Filipenses” do então jovem pastor e teólogo batista Frederick Brotherton (F.B.) Meyer (1847-1929), justamente para defender que o uso de “homoiõma” em Filipenses 2.7 não indica, à luz da expressão “forma de servo” (que aparece no mesmo versículo), e de outras passagens neotestamentárias que falam também sobre a encarnação, que a natureza humana de Jesus era diferente da nossa.
Diz Gifford: “A expressão ‘semelhança do homem’ (ARA) por si só não implica, muito menos exclui ou diminui, a realidade da natureza que Cristo assumiu. Isto [...] está declarado nas palavras ‘forma de servo’. [Agora, Gifford cita Meyer para explicar o uso que Paulo faz aqui de ‘homoiõmas’:]‘Paulo simplesmente diz ‘semelhante aos homens’ porque, de fato, Cristo, embora sem dúvida Homem perfeito (Rm 5.15; 1Co 15.21; 1Tm 2.5), foi, por causa da natureza divina presente nEle, não apenas e meramente homem, [...] mas o Filho encarnado de Deus’”.
Ora, o que vemos é Gifford defendendo a plena identificação de Cristo com a natureza humana em Sua encarnação. Ele diz expressamente que o fato de a expressão usada em Filipenses 2.7 ser, no original, “semelhança do homem” “não implica, muito menos exclui ou diminui, a realidade da natureza que Cristo assumiu”, uma vez que a expressão “forma de servo” denota plena humanidade e outras passagens do NT são ainda mais fortes para descrever a completa humanidade de Cristo, como destacará citando Meyer. O que é isso, se não a defesa da total humanidade de Cristo?
Alguns leitores poderiam eventual e desnecessariamente ficar confusos com o uso do termo “implicar” por Gifford nessa citação, na versão em português de Vine, porque o termo “implicar” pode ter, no português, dois significados básicos: (1) embaçar e confundir ou (2) resultar. Aqui, o tradutor da citação de Gifford para o português emprega o vocábulo “implicar” exatamente no sentido de embaraçar, e não de resultar. É uma aplicação correta, já que, no original em inglês deste verbete, Gifford usa a expressão “itself imply”, que significa literalmente “encerrar em si mesmo”.
Ou seja, o que Gifford está dizendo é que a expressão “semelhança do homem” não encerra em si mesma a realidade do que foi a natureza humana, que Cristo assumiu em Sua encarnação, pois passagens como Romanos 5.15, 1Coríntios 15.21 e 1Timóteo 2.5, citadas por Meyer (e muitas outras poderiam ainda ser citadas), deixam claro que Jesus era plenamente homem como nós em Sua encarnação. Isto é, Gifford não está dizendo que Jesus não era 100% homem em Sua encarnação, mas afirmando que Paulo, nessa passagem em apreço, usa o termo “homoiõma” porque tem como foco aqui o fato de que Jesus continuava a ser Deus na encarnação mesmo tendo tomado “a forma de servo” (Aliás, se o termo “forma de Deus” implica plenamente Deus, o termo “forma de servo”, em relação à humanidade, implica plenamente homem). E Gifford ainda reforça isso citando o comentário de Meyer.
Meyer, por sua vez, também não diz que Jesus não era, em Sua encarnação, um ser humano como eu e você, mas diz que Ele não era apenas e meramente homem. E por quê, Meyer? Será que é porque Jesus teria uma natureza humana diferente da nossa? Não! Meyer é claro: É porque, além de ser perfeitamente homem, Jesus era também Deus encarnado – “O Filho encarnado de Deus”. Meyer está dizendo: “Paulo usa ‘homoiõma’ aqui porque Jesus não era só homem. Ele era Deus e homem, Deus feito homem. Ele tinha dupla natureza, e não uma natureza humana diferente da nossa”. E para não deixar dúvidas sobre isso, ao se referir à humanidade de Cristo, Meyer repete um termo usado na declaração de Calcedônia e repetido por teólogos ortodoxos durante séculos para descrever a plena humanidade de Cristo: “homem perfeito” ou “perfeitamente homem”. Calcedônia usa essa expressão para dizer que Jesus era homem mesmo em Sua encarnação, como eu e você.
Enfim, o que o verbete de Vine sobre “homoiõma” nos diz explicitamente é que a natureza humana de Cristo era real, verdadeira, integral.

“Homoios”, “Homoiõs” e “Isos”
Mais uma “dislexia” premeditada: a distorção do significado do vocábulo grego traduzido, em algumas versões em português, como “semelhante” em Hebreus 2.17, num malabarismo exegético para tentar justificar a heresia de que Jesus, em Sua encarnação, não era 100% homem como nós ou Adão. Mais uma vez, o pobre Vine é “esganado” para dizer o que não diz.
Para começar: Quem disse que somente quando o vocábulo “Isos” aparece no texto bíblico existe a idéia de igualdade de fato? “Isos” só aparece em oito versículos em todo o Novo Testamento e há muitas outras passagens neotestamentárias cuja a idéia de igualdade é obviamente expressa sem o uso do vocábulo “Isos”. No grego, não é só o vocábulo “Isos” que expressa a idéia de igualdade. Exemplo: O vocábulo “homoios”, para o qual o Dicionário Vine (CPAD) dá os seguintes significados (ver verbete “COMO”, pág. 479): “Como, semelhante a, do tipo que, igual a”. Ué, “homoios” significa “semelhante a” ou “igual a”? Por que pode significar as duas coisas?
Quem estuda exegese sabe muito bem que o que vai determinar em que sentido exato um vocábulo está sendo usado é exatamente o seu contexto. Exemplo: Como ressalta Vine, “homoios” pode ser usado para referir-se à igualdade de aparência (que teria o significado popular que damos à expressão “semelhança”) e à igualdade de forma, habilidades, condição, natureza, ação e pensamento. Logo, o aludido vocábulo é utilizado, por exemplo, para dizer que Deus não é “semelhante ao ouro, ou a prata, ou a pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens”, mas também para descrever pessoas igualmente mentirosas (Jo 8.55); para descrever exatamente um mesmo destino (Jd 7); para descrever a mesma natureza das obras da carne (Gl 5.21); e usada por João em sua Primeira Epístola para dizer que veremos a Cristo exatamente como Ele é: “Assim como [homoios] é o veremos” (1Jo 3.2). Alguém tem dúvida de que João, nessa passagem, está dizendo que veremos Jesus exatamente como Ele é? Ou será que ele está dizendo que, lá na eternidade, veremos Jesus apenas parecido com o que Ele realmente é?
Enfim, é um grosseiro subterfúgio ignorar que (1) um vocábulo pode ter diferentes nuances de sentido dependendo do contexto em que é empregado e que (2) o grego não só tem uma palavra para descrever a idéia de igualdade.
Bem, e qual é o vocábulo que aparece em Hebreus 2.17 e 4.15 sendo traduzido em algumas versões para o português por “semelhante” e em outras para “igual”? E mais: Esse vocábulo traz a idéia de igualdade mesmo ou não?
O tal vocábulo é “homoiõs”, que segundo o próprio Vine (verbete IGUALMENTE, pág. 700) significa “Do mesmo modo, semelhantemente, igualmente” e é derivado do adjetivo "homoios", de que já falamos e que é citado em 1 João 3.2 (“Assim como é o veremos”). Vine lembra que “homoiõs” aparece no texto bíblico, por exemplo, para descrever uma igualdade de situações (Mt 22.26; Lc 17.28); igualdade de práticas (Lc 5.33); igualdade de tratamentos (Lc 6.31); igualdade de comportamentos (Lc 10.32,37; Rm 1.27; Jd 8); igualdade de proporções (Lc 16.25); igualdade de ação (Lc 17.31); igualdade de ações entre o Pai e o Filho (Jo 5.19); repartir igualmente (Jo 6.11); dar de igual forma (Jo 21.13); igual modo (Tg 2.25; Ap 8.12); e para descrever deveres com igual peso (1Pe 3.1,7; 5.5). Não é à toa que, na maioria dessas passagens, “homoiõs” é traduzido literalmente como “igual”, “igualmente” ou “mesmo”. E num mesmo capítulo (1Pe 3), ele é traduzido como “igualmente” (v1) e “semelhantemente” (v7) em situações em que não há diferença alguma de sentido nas duas ocasiões em que o termo é usado. É só questão estilística.
Enfim, o vocábulo traduzido em algumas versões do NT para o português como “semelhante” em Hebreus 2.17 é “igualmente” (“homoiõs) no original grego, como já havíamos afirmado.
Mais uma referência? Sempre é bom, não é mesmo? Que tal a maravilhosa “Chave Linguística do Novo Testamento Grego” (lançada no Brasil conjuntamente pelas editoras Targumim – judia – e Hagnos – evangélica – em 2009). Ela foi elaborada pelos teólogos Wilfrid Haubeck (Doutor em Teologia, professor de Exegese Neotestamentária e Grego no Seminário Teológico de Ewersbach, Alemanha) e Heinrich Von Siebenthal (Doutor em Filosofia, professor de Línguas Bíblicas e Pesquisa de Textos na Academia Teológica Freien, na Alemanha). A obra traz todo o texto do NT na grafia original grega, um minidicionário grego-português na introdução e cerca de 100 páginas de um anexo gramatical ao final. Vale a pena. Bem, como é que essa obra traduz o tal trecho de Hebreus 2.17? “Tornar-se semelhante/igual; ser igual” (Pág. 1202). E o vocábulo “homoios”, de onde deriva “homoiõs”? “Igual/do mesmo tipo; similar [similar significa "que tem a mesma natureza"]”, tradução idêntica a que dá o Vine (“Como, semelhante a, do tipo que, igual a”, página 479).
Mais uma ajuda? A obra “A Commentary on the Epistle to the Hebrews” (“Comentário da Epístola aos Hebreus”), ainda não publicada no Brasil, de autoria do teólogo britânico reformado Phillip Edgcumbe Hughes. Ela afirma, em sua página 110, comentando Hebreus 2.14, onde aparece também, no original, o vocábulo “homoiõs”: “O advérbio grego ‘homoiõs’ traduzido aqui como ‘igualmente’, em nossa versão [King James], implica, afirma Spics, ‘em uma total similaridade; ele pode ser traduzido como ‘sem qualquer diferença’; Cristo foi integralmente homem’”. E depois de citar Spics, Hughes enfatiza que o vocábulo grego ali significa “igualmente” e lembra ainda que, apesar de o referido advérbio grego já ser suficiente para expressar igualdade de naturezas, ou seja, naturezas “idênticas” (nas palavras do próprio Hughes), o escritor aos Hebreus ainda usa a expressão “as mesmas coisas” para reforçar o fato de que Cristo assumiu indubitavelmente a nossa natureza humana e não alguma coisa parecida com ela.
Concluindo, escreve Hughes ao final do primeiro parágrafo da página 111: “O Filho de Deus assumiu a mesma natureza humana [que nós] e assim veio verdadeiramente como homem, em verdadeira conformidade com a humanidade”.

Nem o pobre do Norman Geisler escapou da distorção. O que ele fez para merecer isso?
Para encerrar por aqui, porque já escrevi demais, vamos agora ver o que fizeram com o pobre Geisler. Eis o texto dele (sempre excelente):
O cristianismo ortodoxo sustenta a crença que Jesus, o “Filho de Deus”, assumiu natureza humana finita e se tornou homem — o Deus encarnado. Textos como Filipenses 2.5-8 fazem mais sentido quando os entendemos no contexto da união das duas naturezas encontradas na única pessoa, Jesus Cristo. A Bíblia declara claramente:[v.5] Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, [v.6] que embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; [v.7] mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. [v.8] E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!Observe que esse texto não diz que Deus se tornou homem, i.e., que o infinito se tornou finito. Seria uma contradição lógica dizer que o infinito e o finito existem na mesma natureza. Vamos examinar esse mistério logo adiante, mas por ora é importante saber que esta doutrina não é uma contradição. Podemos entender que esse texto diz que “Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus, retendo todos os seus atributos divinos, assumiu para si o padrão de conduta volitivo humano quando assumiu para si mesmo todos os atributos essenciais da natureza humana”. Esse entendimento das naturezas de uma pessoa, Jesus, nos conduz à nossa próxima pergunta.
Veja a frase e expressões que foram postas em destaque (Sempre lembrando que os grifos não são meus nem do autor do texto, mas de quem está tentando provar o improvável). Note, por exemplo, como se grifou equivocadamente uma frase ortodoxa para se defender o absurdo de que Jesus não era homem como eu, você e Adão em Sua encarnação. A frase é: “Seria uma contradição lógica dizer que o infinito e o finito existem na mesma natureza”. Claro! Quem defende um absurdo desses está dizendo que Jesus, ao encarnar, deixou de ser 100% Deus para ser 100% homem, quando a Bíblia afirma que Jesus, na Sua encarnação, continuou sendo 100% Deus ao se tornar também 100% homem. O que Geisler está dizendo mais claro do que a luz do dia é que Jesus, ao encarnar, não perdeu a Sua natureza divina. A encarnação não foi a perda da natureza divina para se ganhar a natureza humana, mas a adição da natureza humana à natureza divina na pessoa de Cristo sem afetar as propriedades de cada uma: Jesus era 100% Deus e 100% homem. O infinito e o finito NÃO existem NA MESMA natureza. Jesus encarnado tem DUAS naturezas distintas EM UMA MESMA Pessoa. Jesus “reteve(=manteve) todos os Seus atributos divinos quando assumiu para si mesmo todos os atributos essenciais da natureza humana”. Nada mais, nada menos, do que afirmou Calcedônia à luz da Bíblia.
E Geisler só faz reafirmar isso a seguir.
COMO JESUS CRISTO PODE SER TANTO DEUS QUANTO HOMEM?
O Novo Testamento mostra Jesus claramente como uma pessoa que tem duas naturezas, a humana e a divina. Um olhar apressado nessa verdade pode causar o mal-entendido de que a expressão frequentemente mencionada — “Deus se tornou homem” — signifique que o infinito se tornou finito. Isso não é uma descrição tecnicamente precisa da encarnação. Não há problema em verbalizar a encarnação dessa maneira entre crentes que pensam da mesma maneira — contanto que o significado seja perfeitamente entendido pelo locutor e pelos ouvintes. Entretanto, a encarnação deve ser corretamente entendida da seguinte forma: “Jesus, o Deus Filho, existindo como a segunda pessoa do Deus trino e uno, uniu sua natureza divina a uma natureza humana e por meio dela veio ao mundo”. Quer dizer, ele não parou de ser Deus quando adicionou humanidade a si.
” GEISLER, Norman, Fundamentos Inabaláveis, Editora Vida, p.318-319.
É isso aí, grande Geisler: Jesus não deixou de ser 100% Deus quando se tornou 100% homem, mas Ele continuou sendo 100% Deus sendo agora também 100% homem. Ortodoxia pura.
E por falar em Geisler, os teólogos Norman Geisler e Ron Rhodes, em seu livro “Conviction Without Compromisse – Standing strong in the Core Beliefs of the Christian Faith” (“Convicção sem Compromisso – Mantendo-se fortes nas crenças fundamentais da fé cristã”), ainda não publicado no Brasil (pelo menos não que eu saiba), afirmam, na página 57: “Jesus, em sua encarnação, era 100% Deus e 100% homem”. E repetem na página 66: “Cristo, na encarnação, era 100% Deus e 100% homem”.
E nas páginas 61 e 64: “A humanidade de Cristo, como sua deidade, é uma doutrina essencial para a nossa salvação. Como o perfeito mediador entre Deus e o homem, Cristo, em Sua encarnação, era ao mesmo tempo plenamente divino e plenamente humano. Negar isso é uma heresia. De fato, a Bíblia rotula de ‘anticristos’ aqueles que negam sua humanidade (1Jo 4.3; 2Jo 7). (...) A humanidade de Cristo é tão importante que as Escrituras dizem que é heresia negá-la. Como João colocou, ‘Nisto reconheceis o Espírito de Deus; todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus’ (1Jo 4.2). E ele repetiu o alerta em 2 João 7: ‘Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo afora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo’. É por essa razão que a humanidade de Cristo está entre as grandes e essenciais doutrinas da fé cristã”.
Como citado por Geisler e Rhodes, o teólogo John Walvoord, combatendo o Apolinarianismo, afirma ainda: “É evidente que Cristo possuía uma humanidade verdadeira não apenas em seus aspectos materiais como indicado em seu corpo humano, mas também nos aspectos imateriais especificados nas Escrituras, ou seja, sua alma e espírito. Não é suficiente reconhecer que Jesus Cristo, como Filho de Deus, possuía um corpo humano, mas é necessário ver que Ele tinha uma natureza humana completa: corpo, alma e espírito”.
E na página 67: “Apesar de erros relacionados à humanidade de Cristo não serem tão comuns hoje como outros erros teológicos, ainda nos deparamos de vez em quando com esses erros e, algumas vezes, infelizmente, dentro de igrejas cristãs. Por exemplo, um destes autores [ou seja, Geisler ou Rhodes] visitou uma popular igreja bíblica independente na área de Dallas [Texas] em que um diácono estava ensinando a alunos [de Escola Dominical] que, na encarnação, [...] Jesus era um ser híbrido, parte Deus e parte homem, mas não 100% Deus e não 100% homem. O diácono foi gentilmente informado do que dizia a Bíblia e a classe pôde ser também instruída”.
Na mesma página 67, Geisler e Rhodes citam ainda o caso de um pastor nas Filipinas que nos anos 90 escreveu um livro defendendo, entre outras coisas, que Jesus não era plenamente homem como nós, usando como base Filipenses 2.5-8 e enfatizando nesse texto as expressões “semelhante aos homens” e “figura de homem” para justificar sua posição. E então, na página 68, Geisler e Rhodes, após asseverarem que tal entendimento “é um grave erro”, ressaltam Hebreus 2.17 e fazem a exegese de Filipenses 2.5-8: “Hebreus 2.17 informa-nos que a humanidade de Cristo é necessária para a nossa salvação, pois ‘em todas as coisas Ele foi feito como Seus irmãos, para que Ele pudesse ser um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo’ – NKJV, ênfase adicionada. Se Cristo viesse só como Deus ou só como homem, nossa salvação não seria possível. O próprio entendimento de Filipenses 2.5-8 apóia a idéia de que Cristo, na encarnação, era 100% Deus e 100% homem. O ponto principal desta passagem é que, enquanto Cristo continuava sendo Deus por toda a eternidade, Ele agora ganhara uma natureza complementar - a natureza humana. A encarnação envolveu um ganho de atributos humanos em oposição a uma desistência de atributos divinos. Que isso se entende em Paulo está claro na sua afirmação de que, na encarnação, Cristo ‘na forma de Deus’, o que aponta para a plena divindade de Cristo, veio ‘na forma de servo’, o que aponta para a plena humanidade de Cristo (Fp 2.7)”.
No “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia”, já publicado no Brasil, comentando Romanos 8.3, Norman Geisler e Ron Rhodes afirmam: “Jesus não foi apenas semelhante aos homens – Ele foi um homem. Ele não veio só em semelhança à carne humana, mas veio com um corpo de carne realmente humana. Nesse ponto as Escrituras são claras. João declarou: ‘E o Verbo [Cristo] se fez carne e habitou entre nós’ (Jo 1.14). Posteriormente ele advertiu que todo aquele que não confessa ‘que Jesus Cristo veio em carne’ não é de Deus (1Jo 4.2,3; cf 2Jo 7). De igual forma, Paulo insistiu que ‘Deus se manifestou em carne’ (1Tm 3.16, SBTB). Noutra parte, nesse mesmo livro [Romanos], Paulo usa a expressão ‘semelhança’ no sentido de ‘ser realmente como’ (Rm 1.23; 5.14; 6.5). Assim, bem pode ser que Paulo não estivesse fazendo diferenciação entre ‘semelhança’ e ‘tal como’. Ou quando Paulo afirmou em Romanos 8.3 que Jesus veio ‘em semelhança de carne’, talvez ele não estivesse se referindo à carne humana como tal [alguma diferença entre a nossa carne e a de Cristo], mas à ‘carne humana pecaminosa’. Jesus tinha verdadeiramente carne humana, mas sua carne era apenas semelhante à carne humana pecaminosa, porque ele não tinha pecado (Hb 4.15; 1Pe 3.18; 1Jo 3.3). De qualquer modo, em Filipenses 2, Paulo fala de Cristo tornar-se ‘em semelhança de homens’, com o sentido de que ele era um ser humano (v7). Assim, sem o adjetivo ‘pecaminosa’, Paulo fala da ‘semelhança’ aos homens como sendo o mesmo que ‘ser humano’”.
Geisler e Rhodes estão dizendo aqui que, no caso específico de Romanos 8.3, o vocábulo que aparece é “homoiõma” (“semelhança”, como em Filipenses 2.7), só que isso não significa que Jesus foi apenas “parecido com os homens”, pois há outras passagens que falam da encarnação em termos indubitáveis de igualdade (Hebreus 2.14,17 [homoiõs] e 4.15 [homoios]). É o mesmo argumento que Gifford e Meyer, citados no "Dicionário Vine", usam para explicar que o uso do mesmo “homoiõma” em Filipenses 2.7 não significa também que Jesus era apenas semelhante a nós em vez de Sua humanidade ser igual à nossa. A diferença é que Geisler e Rhodes ainda lembram que “homoiõmas”, dependendo do contexto, pode significar também “ser realmente como” (ou “tal como”, como ressalta o "Dicionário Vine"), pois o próprio Paulo já o usara em outras passagens nesse sentido, e Geisler e Rhodes entendem que entre esses casos estaria Filipenses 2.7, já que, como já falamos (citando em uma das vezes os próprios Geisler e Rhodes), os termos “forma de Deus” e “forma de servo” deixam claras a plena divindade e a plena humanidade de Cristo, fazendo com que o uso de “homoiõmas”, nesse caso, não signifique que Jesus apenas aparentava ser homem como nós em Sua encarnação.
Em seguida, Geisler e Rhodes ressaltam que provavelmente Paulo usa “homoiõmas” em Romanos 8.3 apenas porque ele fala de “carne pecaminosa”. O ponto é: Se Jesus não nasceu com natureza pecaminosa, logo Ele não era igual à carne pecaminosa, mas “semelhante” a ela. Lembrando ainda que Hebreus 4.15, que usa o termo “igualdade” mesmo, faz uma exceção em seguida: “...mas sem pecado”. Logo, dizer “em semelhança à carne pecaminosa” (Rm 8.3) seria o mesmo que dizer “igual a nós, mas sem pecado” (Hb 4.15).Outros teólogos, como o pentecostal David Nichols, em “Teologia Sistemática, uma perspectiva pentecostal” (CPAD), ressaltam ainda outro detalhe importantíssimo sobre esse assunto. Como Paulo afirma que Jesus foi feito "semelhante à carne pecaminosa", logo Jesus não tinha natureza pecaminosa, não herdou o pecado original, porém essa passagem sugere que "Jesus participou dos resultados não-morais do pecado de Adão e Eva, sem que Ele mesmo se tornasse pecaminoso" (pág. 332). E como lembra Nichols, Ele, mesmo sendo santo em tudo, vivenciou em Sua humanidade "a maldição contra a terra, a labuta dos seres humanos para conseguir alimentos e a morte física", como sentenciado por Deus em Gênesis 3.17-19 a Adão e sua descendência.
Enfim, oremos para que o nosso amado irmão, que promoveu toda essa “lambança”, mas que sempre defendera a ortodoxia bíblica, reconheça seu erro pontual e volte à ortodoxia bíblica a respeito das naturezas humana e divina de Jesus em Sua encarnação. Retificações necessárias sempre são bem-vindas. Não há nada de feio nisso, muito ao contrário: É atitude muito nobre e só reforçará que há um real compromisso com a ortodoxia bíblica.