Sou pernambucano radicado no Rio de Janeiro há 13 anos. Nesta cidade, bela pelas suas belezas naturais e pelo seu povo quase sempre bem-humorado e carinhoso, concluí minha primeira faculdade e ainda continuo estudando; trabalho há cerca de 12 anos e meio na Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), trabalho este que considero um ministério; e também conheci Lília, minha esposa, uma carioca e serva de Deus que considero a maior bênção que Deus me concedeu depois da minha Salvação. Tenho ainda muitos irmãos em Cristo e amigos no Rio. Por todas essas razões, gosto desta cidade, apesar do seu grande índice de violência, que a coloca sempre entre as três ou cinco cidades mais violentas de nosso país.
É como morador do Rio de Janeiro que externo minha impressão sobre toda essa operação da PM carioca em parceria com as Forças Armadas e a Polícia Federal para combater o poder paralelo do narcotráfico nos morros e favelas desta cidade. Em uma frase: Acho muito boa, mas não suficiente. É um excelente passo, mas muita coisa ainda precisa ser feita para efetivamente acabar com o crime organizado por aqui.
Todos sabemos que acabar definitivamente com o crime de forma geral é definitivamente impossível - só quando Cristo voltar. Porém, é igualmente fato que esse específico estado de coisas que vemos há décadas no Rio de Janeiro poderia ter sido evitado décadas atrás, mas pode ainda ser revertido nos próximos anos, da mesma forma que a criminalidade diminuiu drasticamente em Nova York com o programa conservador de "Tolerância Zero" e a máfia foi esfacelada na Itália com choques de lei-e-ordem envolvendo conjuntamente polícia, promotoria e tribunais.
Para entender melhor o que estou dizendo, é preciso relembrar a história do narcotráfico no Rio de Janeiro.
Como nasceu o poder paralelo no Rio de Janeiro
A história do poder paralelo do narcotráfico no Rio de Janeiro começa nos anos 70, quando guerrilheiros comunistas do grupo Falange Vermelha presos pela Ditadura Militar resolveram ensinar táticas de guerrilha a presos comuns na extinta prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, Rio de Janeiro (RJ), no período em que conviveram juntos ali de 1969 a 1978. Esses guerrilheiros acreditavam que, dessa forma, conseguiriam trazer esses bandidos para sua causa criminosa e, assim, fazer com que a guerrilha comunista não morresse no país, embora já esmagada pelos militares àquela época. Por isso, deram um curso completo de guerrilha, dentro e fora do presídio, usando como material didático as obras "O Pequeno Manual do Guerrilheiro Urbano", de Carlos Marighela; "Guerra de Guerrilhas", de Ché Guevara; "A Revolução da Revolução", de Régis Debray; e "A Guerrilha Vista por Dentro", de Wilfred Burchett. Todas as táticas e estrutura organizacional e operacional do Comando Vermelho estão explicitadas nesses livros e foram seguidas à risca pelo grupo desde a sua fundação.
William Lima da Silva, chamado de "Professor", foi um dos fundadores e gurus do grupo de bandidos-alunos. Nos anos 90, ele lançou sua autobiografia "400 contra 1 - Uma História do Comando Vermelho", com apoio do então petista e ex-guerrilheiro César Benjamin.
Pois bem, em 1979, alguns desses presos de Ilha Grande fugiram e se instalaram nos morros do Rio, onde começaram a pôr em prática tudo que aprenderam com os guerrilheiros. Em homenagem aos seus mestres do Falange Vermelha, batizaram o grupo de “Comando Vermelho” (CV) e passaram a promover uma série de assaltos no Rio: assaltos a banco, a joalherias, a várias lojas, a depósito de materiais militares etc. Mas, diferentemente do que esperavam seus mestres comunistas da prisão, não se interessaram em dar continuidade ao ideal comunista no Brasil, mas em enriquecer com roubos e tráfico.
Com os contatos com o exterior aprendidos com a turma da guerrilha na cadeia, esses bandidos descobriram não só o caminho das pedras para adquirir armamentos como também para alavancar o mercado das drogas no país. O contato principal do CV no exterior (desde os anos 80) era com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo de narcoguerrilha comunista que passou a fornecer ao CV a cocaína para ser vendida no Brasil. Não é à toa que quando o traficante Fernandinho Beira-Mar, um dos chefes do CV, foi finalmente preso em abril de 2001, ele estava na Colômbia, com seus parceiros das Farc. Naquela ocasião, os serviços de inteligência dos EUA, Colômbia e Brasil divulgaram que as drogas das Farc que chegavam ao nosso país via Comando Vermelho representavam em 2001 simplesmente 70% de toda a cocaína que entrava no Brasil.
Quem quiser saber mais detalhes sobre essa história deve ler os livros “Comando Vermelho: A História Secreta do Crime Organizado”, de Carlos Amorim; e, para ter uma visão mais ampla da coisa no continente americano, “Red Cocaine - The Drugging of America”, de Joseph D. Douglas Jr.
O mais impressionante dessa história é que o mal poderia ter sido cortado pela raiz ainda nos anos 80, mas políticas esquerdistas do senhor Leonel Brizola acabaram consolidando o poder paralelo no Rio.
Foram as absurdas políticas de segurança e urbanismo dos dois governos do senhor Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro (1983 a 1987 e 1991 a 1994) o fator absolutamente decisivo para aumentar e, por fim, consolidar o domínio do narcotráfico nos morros do Rio de Janeiro.
As políticas “nonsense” de Brizola na área de urbanismo e de segurança pública consistiam no seguinte:
(1) Na área de urbanismo, Brizola era contra proibir o crescimento das favelas no Rio, e o fazia em nome do “respeito e valorização dos trabalhadores”. Para Brizola, o Estado não tinha nada que impedir a invasão dos morros e o aumento de construções irregulares no espaço urbano, pois ele achava que “o pobre do trabalhador” precisava disso para se estabelecer. É a mesma mentalidade burra que defende as invasões ilegais, criminosas, do MST, cujas propostas Brizola sempre defendeu, desde a época das Ligas Camponeses dos anos 60.
Pois bem, em 1979, alguns desses presos de Ilha Grande fugiram e se instalaram nos morros do Rio, onde começaram a pôr em prática tudo que aprenderam com os guerrilheiros. Em homenagem aos seus mestres do Falange Vermelha, batizaram o grupo de “Comando Vermelho” (CV) e passaram a promover uma série de assaltos no Rio: assaltos a banco, a joalherias, a várias lojas, a depósito de materiais militares etc. Mas, diferentemente do que esperavam seus mestres comunistas da prisão, não se interessaram em dar continuidade ao ideal comunista no Brasil, mas em enriquecer com roubos e tráfico.
Com os contatos com o exterior aprendidos com a turma da guerrilha na cadeia, esses bandidos descobriram não só o caminho das pedras para adquirir armamentos como também para alavancar o mercado das drogas no país. O contato principal do CV no exterior (desde os anos 80) era com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo de narcoguerrilha comunista que passou a fornecer ao CV a cocaína para ser vendida no Brasil. Não é à toa que quando o traficante Fernandinho Beira-Mar, um dos chefes do CV, foi finalmente preso em abril de 2001, ele estava na Colômbia, com seus parceiros das Farc. Naquela ocasião, os serviços de inteligência dos EUA, Colômbia e Brasil divulgaram que as drogas das Farc que chegavam ao nosso país via Comando Vermelho representavam em 2001 simplesmente 70% de toda a cocaína que entrava no Brasil.
Quem quiser saber mais detalhes sobre essa história deve ler os livros “Comando Vermelho: A História Secreta do Crime Organizado”, de Carlos Amorim; e, para ter uma visão mais ampla da coisa no continente americano, “Red Cocaine - The Drugging of America”, de Joseph D. Douglas Jr.
O mais impressionante dessa história é que o mal poderia ter sido cortado pela raiz ainda nos anos 80, mas políticas esquerdistas do senhor Leonel Brizola acabaram consolidando o poder paralelo no Rio.
Foram as absurdas políticas de segurança e urbanismo dos dois governos do senhor Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro (1983 a 1987 e 1991 a 1994) o fator absolutamente decisivo para aumentar e, por fim, consolidar o domínio do narcotráfico nos morros do Rio de Janeiro.
As políticas “nonsense” de Brizola na área de urbanismo e de segurança pública consistiam no seguinte:
(1) Na área de urbanismo, Brizola era contra proibir o crescimento das favelas no Rio, e o fazia em nome do “respeito e valorização dos trabalhadores”. Para Brizola, o Estado não tinha nada que impedir a invasão dos morros e o aumento de construções irregulares no espaço urbano, pois ele achava que “o pobre do trabalhador” precisava disso para se estabelecer. É a mesma mentalidade burra que defende as invasões ilegais, criminosas, do MST, cujas propostas Brizola sempre defendeu, desde a época das Ligas Camponeses dos anos 60.
A lógica era a seguinte: “E daí que são ilegais e irão aumentar a favelização da cidade? Se o povo que chega ao Rio de Janeiro de outras regiões do país não tem lugar para ficar e nem dinheiro para comprar ou alugar uma casa ou apartamento, que invadam os morros e favelas que aqui já existem e construam lá suas casas para morar. O governo não vai se meter nisso, não vai proibir nada”. Assim, o governo do senhor Leonel Brizola causou uma proliferação das favelas por todo o Rio e Grande Rio, fazendo-as aumentar em mais de dez vezes sua área de ocupação.
Ora, caro leitor, uma coisa é o governo construir casas em regiões mais propícias para ajudar os menos favorecidos, outra bem diferente é cometer a irresponsabilidade de defender invasões e construções ilegais, inchando favelas, o que torna esses lugares (A) campos propícios para imensas tragédias naturais (os já tradicionais deslizamentos provocados pelas chuvas, como os deste ano) e também (B) bolsões de pobreza mais suscetíveis à ação da bandidagem.
(2) Mas, em segundo lugar, e ainda mais decisivo, o governo de Brizola também proibiu qualquer tipo de incursão policial nas favelas. Ele simplesmente tornou as favelas os únicos locais das cidades fluminenses onde o poder público era impedido de exercer qualquer vigilância. A ordem era: “No meu governo, polícia não sobe em morro e não entra em favela”. Foram oito anos de ausência absoluta do Estado nesses lugares. Com isso, o senhor Brizola favoreceu a organização e consolidação dos criminosos nos morros e favelas do Rio. Como era o único lugar onde não havia presença da polícia, esses lugares se tornaram seus quartéis generais. O tráfico fazia incursões no asfalto e, quando era perseguido, fugia para o seu quartel impenetrável dos morros e favelas. E como o crescimento dessas favelas não foi controlado, o tamanho do território sob o domínio do narcotráfico dentro das cidades aumentou, se alastrando por vários bairros. Já em 2002, se dizia que 2/5 da cidade do Rio de Janeiro eram formados por favelas, todas dominadas pelo tráfico.
Essa foi a época de consolidação do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro. As facções TC (Terceiro Comando) e ADA (“Amigos dos Amigos” – reunindo traficantes e policiais corruptos) só surgiriam anos depois. O TC é uma cisão de dentro do CV e o ADA, de dentro do TC. Como os negócios do narcotráfico cresciam e prosperavam, surgiram essas cisões, todas procurando tocar seu próprio negócio e hegemonia.
Se tivessem sido mantidas as políticas de repressão ao CV nos morros e favelas do Rio que haviam sido empreendidas pelos governadores Chagas Freitas (1979-1983) e Moreira Franco (1987-1991) – governos que tinham suas falhas, mas nesse ponto foram corretos –, não haveria CV, nem TC e nem ADA no Rio de Janeiro. Crimes sempre continuariam a existir, como em qualquer outra grande cidade, mas esse estado de coisas, não.
Outro efeito terrível dessa política burra é que, além da consolidação de um poder paralelo bem armado e cristalizado nos morros e favelas da cidade (com bazucas, granadas, fuzis AR-15 e muito mais), criou-se uma cultura de fascínio em relação ao narcotráfico nas gerações que foram surgindo, a partir dessa época em diante, nesses locais que não contavam com a presença do poder público. Facilmente, os criminosos conseguiam adolescentes e jovens para se “alistarem” ao seu exército e dar continuidade ao seu trabalho, posto que essas crianças e jovens haviam crescido sem ver a presença do poder público onde moram e, por isso, entendiam que ser do tráfico significa ser respeitado e conseguir as coisas que quiser.
Ora, caro leitor, uma coisa é o governo construir casas em regiões mais propícias para ajudar os menos favorecidos, outra bem diferente é cometer a irresponsabilidade de defender invasões e construções ilegais, inchando favelas, o que torna esses lugares (A) campos propícios para imensas tragédias naturais (os já tradicionais deslizamentos provocados pelas chuvas, como os deste ano) e também (B) bolsões de pobreza mais suscetíveis à ação da bandidagem.
(2) Mas, em segundo lugar, e ainda mais decisivo, o governo de Brizola também proibiu qualquer tipo de incursão policial nas favelas. Ele simplesmente tornou as favelas os únicos locais das cidades fluminenses onde o poder público era impedido de exercer qualquer vigilância. A ordem era: “No meu governo, polícia não sobe em morro e não entra em favela”. Foram oito anos de ausência absoluta do Estado nesses lugares. Com isso, o senhor Brizola favoreceu a organização e consolidação dos criminosos nos morros e favelas do Rio. Como era o único lugar onde não havia presença da polícia, esses lugares se tornaram seus quartéis generais. O tráfico fazia incursões no asfalto e, quando era perseguido, fugia para o seu quartel impenetrável dos morros e favelas. E como o crescimento dessas favelas não foi controlado, o tamanho do território sob o domínio do narcotráfico dentro das cidades aumentou, se alastrando por vários bairros. Já em 2002, se dizia que 2/5 da cidade do Rio de Janeiro eram formados por favelas, todas dominadas pelo tráfico.
Essa foi a época de consolidação do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro. As facções TC (Terceiro Comando) e ADA (“Amigos dos Amigos” – reunindo traficantes e policiais corruptos) só surgiriam anos depois. O TC é uma cisão de dentro do CV e o ADA, de dentro do TC. Como os negócios do narcotráfico cresciam e prosperavam, surgiram essas cisões, todas procurando tocar seu próprio negócio e hegemonia.
Se tivessem sido mantidas as políticas de repressão ao CV nos morros e favelas do Rio que haviam sido empreendidas pelos governadores Chagas Freitas (1979-1983) e Moreira Franco (1987-1991) – governos que tinham suas falhas, mas nesse ponto foram corretos –, não haveria CV, nem TC e nem ADA no Rio de Janeiro. Crimes sempre continuariam a existir, como em qualquer outra grande cidade, mas esse estado de coisas, não.
Outro efeito terrível dessa política burra é que, além da consolidação de um poder paralelo bem armado e cristalizado nos morros e favelas da cidade (com bazucas, granadas, fuzis AR-15 e muito mais), criou-se uma cultura de fascínio em relação ao narcotráfico nas gerações que foram surgindo, a partir dessa época em diante, nesses locais que não contavam com a presença do poder público. Facilmente, os criminosos conseguiam adolescentes e jovens para se “alistarem” ao seu exército e dar continuidade ao seu trabalho, posto que essas crianças e jovens haviam crescido sem ver a presença do poder público onde moram e, por isso, entendiam que ser do tráfico significa ser respeitado e conseguir as coisas que quiser.
Assim, mesmo quando se prendia ou matava os chefões do tráfico e muitos dos seus soldados, o poder de “reposição” era enorme. Some-se a isso ainda (1) a constatação de que o tráfico estava mais bem armado e equipado do que a polícia, que não conseguia por isso desalojá-los dos morros; (2) e que os bandidos, quando pegos, faziam ainda fugas espetaculares (lembre-se de Escadinha e Gregório Gordo) e, posteriormente, passaram a usar as próprias celas deles nos presídios como seus escritórios, de onde continuavam gerenciando o tráfico. Os bandidos viraram “estrelas” midiáticas e um fascínio para as crianças e jovens dos morros. Enfim, seus “heróis”.
Então, veio o final dos anos 90, o período pós-Brizola, e como a polícia não conseguia entrar nas favelas, o governo resolveu reprimir os pontos de venda de drogas, pois o raciocínio era que com isso se tiraria a fonte de renda do tráfico e este, assim, enfraqueceria. A resposta foi os bandidos migrando para outras atividades criminosas e pondo ainda mais em pânico a população. Os bandidos passaram a promover seqüestros e assaltos a bancos em grande escala. No final dos anos 90, houve uma onda que parecia interminável de seqüestros relâmpagos e assaltos a banco no Rio de Janeiro, até que a polícia relaxou na repressão aos pontos de venda e os seqüestros e assaltos a banco desapareceram. Hoje, são muito raros no Rio, apesar de serem comuns em outros Estados.
Simultaneamente a isso, veio a política de Favela Bairro e as ONGs subindo os morros na esperança de "mudar a mentalidade" dos jovens do morro. Como o poder público não podia subir, as ONGs subiam para "tentar mudar". Se tentava criar uma cultura nova e do bem nas favelas como contraponto à influência do narcotráfico sobre a mente de muitos jovens, mas quem tentou subir para fazer isso acabou, para se manter lá em cima, tendo que se tornar condescendente à política dos “donos do morro”. As ONGs não mudaram os morros; os “donos” dos morros submeteram o pessoal das ONGs à sua política em sua grande maioria. Os agentes das ONGs tiveram que ser, pelo menos, omissos diante de tudo que viam, se quisessem permanecer nos morros fazendo alguma atividade positiva para a população.
Outro detalhe: Com o tráfico cada vez mais forte bélica e financeiramente, o poder de suborno do narcotráfico cresceu. Logo, houve o fenômeno da “banda pobre” da polícia. Como a polícia era impotente para combater o tráfico e o tráfico ainda oferecia altas quantias como suborno, muitos policiais de vários escalões se permitiram ser cooptados pelo tráfico. Não eram a maioria, mas muitos. Prova desse fenômeno é o surgimento da facção ADA e, posteriormente, das milícias. A população, então, passou a perder a confiança na polícia. Em muitos lugares do Rio, passou-se a ver polícia como sinônimo de bandido também. Uma pena!
Porém, de alguns anos para cá, começou a se popularizar, principalmente a partir do filme “Tropa de Elite” (2007), a imagem, que corresponde aos fatos, de que a maioria dos policiais não é corrupta e, inclusive, há grupos dentro da PM que são muito fechados à corrupção. O principal exemplo era o Batalhão de Operações Especiais do RJ, o BOPE, criado pelo Decreto 16.374 de março de 1991. Nos últimos 10 anos anos, esse grupo foi sendo melhor equipado e treinado para se tornar a grande frente de enfrentamento da polícia contra o tráfico. Em 2000, o BOPE chegou a ganhar finalmente suas primeiras instalações próprias. Forte, bem treinado e equipado, o BOPE passou a ser o único que conseguia subir os morros do Rio para enfrentar os bandidos.
Assume, então, o governador Sérgio Cabral (2007-2010) que, adianto, é um governador que não gosto. Porém, o seu governo teve como ponto positivo readotar no Rio a política de enfrentamento mais intenso nos morros, objetivando subir nesses lugares para expulsar os bandidos. A proposta foi encabeçada pelo secretário de Segurança do Rio, José Beltrame, e outros membros da PM. Com Beltrame, o governo passou a explorar (mais do que os dois governos dos Garotinho fizeram) o BOPE para varrer os bandidos desses lugares. Entretanto, ainda havia um problema: Que adiantava o BOPE subir, eliminar e expulsar os bandidos, se, no primeiro dia após a saída do BOPE, os bandidos que haviam fugido voltavam para continuar mandando ali? Isso quando não vinham bandidos de facções rivais para tomarem o espaço liberado; ou milícias (policiais corruptos visando à sua “independência financeira” do tráfico) para ocupar esses lugares.
Surge, então, uma resposta: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que nada mais são do que as antigas GPAE criadas pelo governo Garotinho, só que um pouco melhoradas. Uma excelente idéia, mas que ainda não resolvia todo o problema. Por quê? Ora, porque só há uma forma concreta de diminuir a criminalidade: Prender os bandidos. Tudo o mais é complementar a isso. Exatamente por essa razão o GPAE, por exemplo, não dera certo antes. Os bandidos conviviam normalmente com o GPAE. Por quê? Por que se o GPAE dominava a parte de baixo dos morros, os bandidos continuavam mandando na parte de cima. Sempre fora assim.
Se é verdade que os bandidos perderam agora, de fato, territórios com o trabalho do BOPE seguido pelas implantações das UPPs, também é verdade que ainda estavam soltos por aí, porque só se tira bandido das ruas prendendo. Ação social, UPPs, tudo isso é bom, mas é preciso prender. Se não estão promovendo mais crimes onde há UPPs, estão fazendo-o em outros lugares, porque não existe conversão, da noite para o dia, de uma massa de bandidos em gente honesta.
Então, veio o final dos anos 90, o período pós-Brizola, e como a polícia não conseguia entrar nas favelas, o governo resolveu reprimir os pontos de venda de drogas, pois o raciocínio era que com isso se tiraria a fonte de renda do tráfico e este, assim, enfraqueceria. A resposta foi os bandidos migrando para outras atividades criminosas e pondo ainda mais em pânico a população. Os bandidos passaram a promover seqüestros e assaltos a bancos em grande escala. No final dos anos 90, houve uma onda que parecia interminável de seqüestros relâmpagos e assaltos a banco no Rio de Janeiro, até que a polícia relaxou na repressão aos pontos de venda e os seqüestros e assaltos a banco desapareceram. Hoje, são muito raros no Rio, apesar de serem comuns em outros Estados.
Simultaneamente a isso, veio a política de Favela Bairro e as ONGs subindo os morros na esperança de "mudar a mentalidade" dos jovens do morro. Como o poder público não podia subir, as ONGs subiam para "tentar mudar". Se tentava criar uma cultura nova e do bem nas favelas como contraponto à influência do narcotráfico sobre a mente de muitos jovens, mas quem tentou subir para fazer isso acabou, para se manter lá em cima, tendo que se tornar condescendente à política dos “donos do morro”. As ONGs não mudaram os morros; os “donos” dos morros submeteram o pessoal das ONGs à sua política em sua grande maioria. Os agentes das ONGs tiveram que ser, pelo menos, omissos diante de tudo que viam, se quisessem permanecer nos morros fazendo alguma atividade positiva para a população.
Outro detalhe: Com o tráfico cada vez mais forte bélica e financeiramente, o poder de suborno do narcotráfico cresceu. Logo, houve o fenômeno da “banda pobre” da polícia. Como a polícia era impotente para combater o tráfico e o tráfico ainda oferecia altas quantias como suborno, muitos policiais de vários escalões se permitiram ser cooptados pelo tráfico. Não eram a maioria, mas muitos. Prova desse fenômeno é o surgimento da facção ADA e, posteriormente, das milícias. A população, então, passou a perder a confiança na polícia. Em muitos lugares do Rio, passou-se a ver polícia como sinônimo de bandido também. Uma pena!
Porém, de alguns anos para cá, começou a se popularizar, principalmente a partir do filme “Tropa de Elite” (2007), a imagem, que corresponde aos fatos, de que a maioria dos policiais não é corrupta e, inclusive, há grupos dentro da PM que são muito fechados à corrupção. O principal exemplo era o Batalhão de Operações Especiais do RJ, o BOPE, criado pelo Decreto 16.374 de março de 1991. Nos últimos 10 anos anos, esse grupo foi sendo melhor equipado e treinado para se tornar a grande frente de enfrentamento da polícia contra o tráfico. Em 2000, o BOPE chegou a ganhar finalmente suas primeiras instalações próprias. Forte, bem treinado e equipado, o BOPE passou a ser o único que conseguia subir os morros do Rio para enfrentar os bandidos.
Assume, então, o governador Sérgio Cabral (2007-2010) que, adianto, é um governador que não gosto. Porém, o seu governo teve como ponto positivo readotar no Rio a política de enfrentamento mais intenso nos morros, objetivando subir nesses lugares para expulsar os bandidos. A proposta foi encabeçada pelo secretário de Segurança do Rio, José Beltrame, e outros membros da PM. Com Beltrame, o governo passou a explorar (mais do que os dois governos dos Garotinho fizeram) o BOPE para varrer os bandidos desses lugares. Entretanto, ainda havia um problema: Que adiantava o BOPE subir, eliminar e expulsar os bandidos, se, no primeiro dia após a saída do BOPE, os bandidos que haviam fugido voltavam para continuar mandando ali? Isso quando não vinham bandidos de facções rivais para tomarem o espaço liberado; ou milícias (policiais corruptos visando à sua “independência financeira” do tráfico) para ocupar esses lugares.
Surge, então, uma resposta: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que nada mais são do que as antigas GPAE criadas pelo governo Garotinho, só que um pouco melhoradas. Uma excelente idéia, mas que ainda não resolvia todo o problema. Por quê? Ora, porque só há uma forma concreta de diminuir a criminalidade: Prender os bandidos. Tudo o mais é complementar a isso. Exatamente por essa razão o GPAE, por exemplo, não dera certo antes. Os bandidos conviviam normalmente com o GPAE. Por quê? Por que se o GPAE dominava a parte de baixo dos morros, os bandidos continuavam mandando na parte de cima. Sempre fora assim.
Se é verdade que os bandidos perderam agora, de fato, territórios com o trabalho do BOPE seguido pelas implantações das UPPs, também é verdade que ainda estavam soltos por aí, porque só se tira bandido das ruas prendendo. Ação social, UPPs, tudo isso é bom, mas é preciso prender. Se não estão promovendo mais crimes onde há UPPs, estão fazendo-o em outros lugares, porque não existe conversão, da noite para o dia, de uma massa de bandidos em gente honesta.
O uso descarado das UPPs eleitoralmente fez o governo do Rio ignorar e omitir o básico: a importância de também prender. A UPP não pode ser apresentada como sendo tudo, porque não resolve, de fato, todo o problema. É apenas uma pequena parte da solução. Foi só começarem os ataques desta semana que o governo se lembrou disso. Ele foi forçado a preocupar-se em efetivamente prender os bandidos, e instigado pelo apelo da população.
Ademais, a presença das UPPs não acabou com a venda de drogas em todos os lugares onde existem essas unidades. Moradores de localidades com UPPs afirmam que ainda há venda de drogas em algumas favelas ocupadas pelos agentes pacificadores, só não existe mais aquela presença ostensiva do tráfico, aquele seu séquito armado impondo o medo. A coisa agora ocorre mais às esconsas. Não são em todos os lugares onde há UPPs, mas em muitos deles.
Ou seja, uma parte do tráfico ficou totalmente “desempregada”, mas não todo ele, e é essa parte que ficou “desempregada” que está promovendo esse terrorismo no Estado do Rio de Janeiro.
Ou seja, uma parte do tráfico ficou totalmente “desempregada”, mas não todo ele, e é essa parte que ficou “desempregada” que está promovendo esse terrorismo no Estado do Rio de Janeiro.
Medidas seguintes
Essa ação do BOPE com a ajuda da Polícia Civil e dos militares vai, finalmente, acabar com o poder paralelo do narcotráfico no Rio de Janeiro? Depende. Se não ficar só por aí, pode ser o começo disso; ao contrário, terá sido mais uma de tantas oportunidades perdidas.
Para que a mudança desejada se concretize, é preciso caçar esses bandidos até prendê-los todos ou pelo menos a maioria esmagadoras deles, mas também asfixiar os pontos de drogas e vigiar melhor as fronteiras para impedir a entrada de mais drogas e armamentos pesados, além de reunir gente suficiente para o trabalho das UPPs, já que não há quantidade suficiente de policiais no Rio para trabalhar em todas as unidades que teriam que ser abertas ainda no Estado.
Repito: Ainda que o Complexo do Alemão seja retomado das mãos do Comando Vermelho, terá sido dado apenas um primeiro passo. Só haverá "página virada" mesmo, como vende o governador Sérgio Cabral, se as medidas complementares ora citadas forem igualmente perseguidas.
Seja como for, não deixa de ser bom ver o povo carioca, que até alguns anos atrás havia perdido a confiança na polícia, apoiando-a e batendo palmas nas ruas à passagem dos homens da lei. Como disse o comentarista Alexandre Garcia, da Rede Globo, nesta manhã, no "Bom Dia Brasil", parece que cada carioca, ao olhar para um agente do BOPE, "vê nele um Capitão Nascimento, um herói". Já faz alguns anos que a população não está mais aceitando o estereótipo de que "todo policial é bandido", e o que vemos acontecer nas ruas do Rio nesses dias, em relação ao tratamento do povo à polícia, tem demonstrado isso fortemente.
Enfim, como se vê, o buraco é bem mais fundo, mas não deixa de ser, até agora, um importante avanço o que estamos vendo.
Enfim, como se vê, o buraco é bem mais fundo, mas não deixa de ser, até agora, um importante avanço o que estamos vendo.