segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Uma questão de natureza - uma reflexão sobre o atual estado de coisas em nosso país

Lula em campanha nas eleições de 1989:
o leopardo não perdeu as manchas
Há certas coisas para as quais não é preciso ser vidente ou ter uma clarividência acima do normal para saber no que vão dar. Isso porque, como disse Salomão - e não a decantada “sabedoria popular”, como muitos imaginam -, “aquilo que nasce torto não se pode endireitar” (Ec 1.15). Com essas palavras, o então encanecido rei de Israel queria dizer que há certas coisas na vida que não podem ser endireitadas pelo ser humano porque são o que são por natureza, e não por circunstância. Isto é, não podem ser mudadas porque, para isso, seria preciso simplesmente mudar a natureza delas, o que, na quase totalidade das vezes, é uma tarefa impossível ao homem. O maior exemplo disso é a Salvação: o homem não pode mudar a sua natureza. Só somos salvos quando confiamos totalmente no sacrifício de Cristo para perdão de nossos pecados e entregamos nossa vida a Ele para que o Espírito de Deus gere em nós uma nova natureza (Jo 3). Sem Deus, o milagre da Salvação, que promove a regeneração, é impossível.
Logo, se é verdade que certas coisas mudam, é igualmente verdadeiro que outras coisas não mudam de jeito nenhum, porque sua natureza não permite isso. A única solução é uma conversão dramática de natureza.
É justamente essa constatação que faz com que eventualmente fazer previsões não seja uma atividade espinhosa. Se há certas coisas que não podem ser previstas perfeitamente, devendo ser tratadas apenas no campo hipotético porque prevê-las perfeitamente demandaria o conhecimento de todas as variáveis presentes e futuras, algo impossível para o ser humano, outras coisas podem ser delineadas antecipadamente sem receio, faça sol, faça chuva, porque têm como fator determinante sua natureza. Não é preciso receber uma revelação divina ou possuir uma “bola de cristal” ou "máquina do tempo" para saber como certas coisas procederão, porque já está escrito no DNA delas o que farão - basta conhecê-lo.
É como aquela velha fábula de Esopo em que o escorpião convenceu o sapo a levá-lo para o outro lado do lago sob o argumento de que não seria louco de inocular seu veneno no sapo durante o percurso porque fazê-lo levaria os dois à morte, já que o escorpião não sabia nadar. No percurso, porém, o escorpião descumpriu a promessa, o que levou o sapo a dizer perplexo enquanto os dois afundavam: “Seu tolo! Agora vamos morrer os dois! Por que você fez isso?”. E o escorpião respondeu, em tom de lamento: “Eu sou um escorpião. É a minha natureza”.
Pois bem, toda essa introdução é para dizer que o que está acontecendo hoje no Brasil no governo do PT era mais do que previsível; e o que se vislumbra para um eventual governo Dilma - cada vez mais possível, segundo as pesquisas - o é também, e por uma razão muito simples: porque o PT nunca deixou de ser o PT. Está e sempre esteve em sua natureza, em seu DNA, essas suas iniciativas autoritárias e socialmente liberais que vemos hoje. O que acontece é que muitos caíram em 2002 na conversa de que o “escorpião” tinha mudado e agora encontram-se perplexos por terem sido picados por ele no percurso.
Eis apenas algumas das mais recentes demonstrações de "amor" à democracia por parte dessa turma:
"Nós devemos extirpar o DEM da política brasileira" (Lula hoje, em comício em Joinville, Santa Catarina, pró-Ideli Salvati, candidata ao governo pelo PT. Sim, é isso mesmo que você leu: o presidente da República pregando o extermínio de um partido político da oposição).
"O problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e de imprensa" (José Dirceu, líder do PT, hoje, em discurso pró-Dilma na Bahia em palestra para sindicalistas do setor petroleiro). Pois é, há tempos que Hugo Chavez, que está torcendo por sua companheira Dilma, está resolvendo o "problema" do "excesso de liberdade e do direito de expressão e de imprensa" em seu país. Fidel, então, já o resolveu há décadas! E o governo Lula tem tentado. Ele criou há pouco tempo uma tal Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que propõe a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, que também chamam de Conselho Nacional de Jornalismo. Segundo o texto de 633 propostas aprovadas pela Confecom, o propósito é promover o "controle social da mídia". Ou como definiu um dos líderes do Confecom, "punir os maus jornalistas". Resumindo: acabar com o tal "excesso de liberdade e do direito de expressão e de imprensa" e com "o monopólio das grandes mídias".
E as propostas do famigerado Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH 3), promovido no Decreto nº 7.037/09 emitido por Lula em 21 de dezembro de 2009, e cujo conteúdo foi matéria de capa do jornal Mensageiro da Paz 1.497, de fevereiro deste ano? Ele foi redigido pelo quarteto petista de ex-guerrilheiros Paulo Vannuchi, Dilma Rousseff, Tarso Genro e Franklin Martins. Relembremos alguns trechos curiosos:
“Estabelecer o ensino da diversidade e história das religiões, inclusive as derivadas de matriz africana, na rede pública de ensino, com ênfase no reconhecimento das diferenças culturais”.
“Realizar relatório sobre pesquisas populacionais relativas a práticas religiosas, que contenha, entre outras, informações sobre número de religiões praticadas, proporção de pessoas distribuídas entre as religiões, proporção de pessoas que já trocaram de religião, número de pessoas religiosas não praticantes e número de pessoas sem religião”. (Mas não já bastam os dados do IBGE?).
“Apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos”.
“Desenvolver políticas afirmativas e de promoção de cultura e respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero, favorecendo a visibilidade e o reconhecimento social".
“Apoiar projeto de lei que dispõe sobre união civil de pessoas do mesmo sexo".
“Promover ações voltadas à garantia do direito de adoção por casais homoafetivos".
“Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço público todas as configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com base na desconstrução da heteronormatividade”.
"Apoiar a regulamentação da parceria civil registrada entre pessoas do mesmo sexo e a regulamentação da lei de redesignação de sexo e mudança de registro civil para transexuais".
"Recomenda-se ao Poder Legislativo a aprovação de legislação que reconheça a união civil entre pessoas do mesmo sexo".
"Propor o aperfeiçoamento da legislação penal no que se refere à discriminação e à violência motivadas por orientação sexual".
“Realizar relatório periódico de acompanhamento das políticas contra discriminação à população LGBT, que contenha, entre outras, informações sobre (...) número de violações registradas e apuradas, recorrências de violações...”.
“Fortalecer a execução do Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (...) garantindo (...) a defesa em ações judiciais de má-fé em decorrência de suas atividades”. (O que são “ações judiciais de má-fé” contra os promotores do Programa Nacional de Direitos Humanos? Por que alguém quereria entrar com uma ação contra os tais "direitos humanos" impostos pelo PNDH 3, não é verdade? Por que será? Um exemplozinho só: Se o Programa Nacional de Direitos Humanos defende a aprovação de um projeto de lei que fere as liberdades religiosa e de expressão - o tal projeto de lei contra a “homofobia” -, isso quer dizer que se esse projeto for aprovado e alguém lutar judicialmente contra sua aplicabilidade, isto é, pelos seus direitos de expressar-se e de consciência religiosa, estará agindo “de má-fé” e terá a máquina do governo anulando a luta judicial contra ela?).
"Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos...". (Ou seja, ao invadirem sua terra, não mais você poderá entrar imediatamente com ação de reintegração de posse com base na Constituição Federal, que estabelece a propriedade privada no país. Aprovado esse projeto de lei proposto, se sua propriedade agrária ou urbana for invadida, terá que se instituir uma comissão de mediação para que você discuta com o bandido e o pessoal da comissão o que se vai fazer. Mais detalhes sobre o assunto, leia aqui).
"Apoiar programas voltados para a defesa dos direitos de profissionais do sexo".
"Apoiar programas voltados para a proteção da saúde de profissionais do sexo".
"Garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de profissionais do sexo por meio da regulamentação de sua profissão".
"Realizar campanhas e ações educativas para desconstruir os estereótipos relativos às profissionais do sexo".
E por aí vai...

O que vemos hoje já se temia em 1989

Em 1989, depois de mais de 20 anos de Regime Militar e ao final do governo de Sarney, que assumira com a morte de Tancredo, o Brasil felizmente voltava a ter eleições diretas. Entretanto, naquela época, conservadores e evangélicos em geral temiam principalmente a eleição de um candidato: Lula. Falava-se muito do perigo para o país de um eventual governo Lula, das medidas absurdas que resultariam na falência da economia, nas medidas totalitárias que seriam adotadas por um governo do PT etc. Essas apreensões não se baseavam em paranóia alguma, mas no próprio discurso explícito do PT, em suas propostas pregadas nacionalmente, em alto e bom som, em 1989. Era um temor objetivo. Anos depois, porém, essas apreensões seriam desonestamente ironizadas como “paranóia”, “boatos” e “previsões infundadas” pelos evangélicos de esquerda, especialmente por ocasião do advento do “Lulinha-Paz-e-Amor” em 2001 e de sua eleição. Como se o Lula antes de 2002 nunca tivesse existido ou fosse um teatro, e o verdadeiro Lula fosse o “Lulinha-Paz-e-Amor” encetado em 2001. E muita gente cairia nessa conversa, como que tomados por uma estranha amnésia em relação às propostas históricas e explícitas do PT. Outros, porém, como eu, não seriam acometidos por tal amnésia, mas passariam a dar inicialmente (no meu caso, até o primeiro escândalo) um voto de confiança ao “novo Lula” por pensar ingenuamente que, de repente, o leopardo tivesse perdido mesmo as suas manchas, que o PT tivesse deixado de lado alguns de seus radicalismos e se tornado uma esquerda “light”, mais responsável, como o PSDB, que aderiu à corrente política denominada “Terceira Via”. Ledo engano.
O “Lulinha-Paz-e-Amor” era uma fachada circunstancialmente conveniente - e eficiente - para vencer eleição. Logo que conseguiu o que queria, começou a “mostrar as suas garras” - embora a maioria do povo nem tenha sentido as “garras” entrando e ferindo as instituições democráticas, por estar anestesiada pelo já previsto crescimento econômico do país (que aconteceria independente de quem dos dois - Serra ou Lula - fosse o sucessor de Fernando Henrique à presidência).
Para quem não se lembra mais: o PT de 1989 pregava abertamente governo socialista (que chamavam de “socialismo democrático” - uma contradição de termos - já falei disso aqui no blog); ruptura com o modelo capitalista via estatização do sistema financeiro; calote na dívida externa; liberalismo social; apoio aos ideais radicais do MST, dentre outras maluquices, e ainda havia o projeto hegemônico de poder, denunciado à época não por anti-esquerdistas, mas por gente da própria esquerda não ligada ao PT. Em 1989, o único aliado do PT era o PCdoB. Aliás, justamente por isso, anunciava-se que os ministros de um futuro governo Lula seriam todos apenas desses dois partidos.
O PT também foi pioneiro na defesa do aborto, tendo, em 1989, durante a gestão Luiz Erundina (então do PT) à frente da Prefeitura de São Paulo e tendo Eduardo Jorge (PT) como seu secretário de Saúde, instalado na capital paulista o primeiro serviço de aborto financiado com o dinheiro público (Portaria 692/89). Mais sobre o assunto, leia aqui. Além do mais, quem não se lembra do depoimento de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, a quem este teria dado dinheiro para ela abortar? (Relembre aqui).
Não menos importante, e corroborando essa apreensão, é o fato de que o Partido dos Trabalhadores também demonstrava total desprezo ao Congresso Nacional e à Constituição de 1988, que prometia reformar logo que assumisse o poder, para adptá-la à sua ideologia. O PT, é importante lembrar, foi, desde o início, contra o texto final da Constituição de 1988, considerada “burguesa” e "contra a reforma agrária" (Lembrado disso, Lula quis fazer, recentemente, mea-culpa, dizendo que mesmo ele e o PT não apoiando a Constituição de 1988, ele trabalhou muito na Assembleia Constituinte. Trabalhou "muito"? Quem disse? Ele foi um dos que menos atuaram naquela Assembleia e ainda se opôs ao conteúdo da Carta Magna, que foi assinada por ele e seu partido sob protestos).
Se temia ainda naquela época que Lula, ao subir ao poder, quisesse se perpetuar (O próprio Lula não esconde ainda hoje que, se pudesse, se perpetuava no poder. Além de pregar o extermínio da oposição, como fez hoje à noite, não escondeu há poucos dias que, depois de 8 anos de mandato, ainda desejava enviar uma emenda à Constituição para se prolongar no poder. Leia aqui).
Finalmente, havia também os indícios de que havia uma ligação ideológica, de apoio político, entre os seqüestradores do empresário Abílio Diniz (seqüestrado em 1989) e os petistas. Ao ser libertado do seu cativeiro no dia da eleição, seus seqüestradores, presos pela polícia, estavam vestidos com camisetas do PT. Detalhe: eles eram todos membros do grupo terrorista de esquerda MIR chileno junto com a FPL de El Salvador, igualmente de esquerda. Mais um detalhe: Na época, o PT mobilizou-se para garantir a liberdade dos seqüestradores. E anos depois, quando o publicitário Washington Olivetto foi seqüestrado pelo mesmo MIR chileno, o PT fez a mesma coisa. Assim como hoje Lula defende Cesare Battisti, terrorista italiano de esquerda condenado por quatro assassinatos na Itália.
E mais: tanto o MIR chileno como o FPL de El Salvador fazem parte do Foro de São Paulo desde a sua fundação. O Foro foi criado por Lula e Fidel Castro em 1990 para reunir todas as esquerdas da América Latina com o objetivo oficial de "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu (queda da URSS)". Outro membro de primeira hora são as Farc, grupo terrorista de esquerda adepto da narcoguerrilha. O Foro de São Paulo tinha como projeto fazer com que em pouco mais de dez anos os países da América Latina fossem governados por membros do Foro. Foram bem-sucedidos em grande parte, como no caso de Lula no Brasil, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Hugo Chavez na Venezuela, Ortega na Nicarágua e Lugo no Paraguai. Há mais de dez países da América Latina governados hoje por foristas.
Aos interessados, todas as atas do Foro de São Paulo podem ser lidas aqui.
Enfim, para quem não viveu a época das eleições de 1989, vai a informação: Lula era abertamente um Hugo Chavez brasileiro candidato à presidência da República (E, no fundo, ainda hoje o é; por debaixo da maquiagem do "Lulinha-Paz-e-Amor", ele sempre foi um Chavez em natureza). Não era à toa o medo dos conservadores e dos evangélicos em relação a um eventual governo Lula em 1989.
Collor foi eleito em 1989 porque fez o discurso certo no segundo turno, enfatizando a loucura que seriam as propostas para um governo dos “vermelhos”. Não, não acredite nessa história de que “Lula perdeu porque a Globo editou o resumo do último debate para o Jornal Nacional privilegiando Collor”, desculpa esfarrapada de petistas. Não, Lula perdeu porque suas propostas eram obviamente insensatas em sua execução (o que parte do "povão" não entendia, mas a maioria da imprensa da época, além de conservadores, empresários e evangélicos estavam conscientes disso) e também porque foi PÉSSIMO naquele debate, essa é a verdade (o que qualquer um pôde constatar gritantemente).
Sim, é fato que a edição do Jornal Nacional - diferentemente da do Bom Dia Brasil - privilegiava Collor, porém é preciso dizer que ela apenas refletia o que marcou o debate: a diferença abissal entre os desempenhos dos oponentes. Quem assistiu ao debate na íntegra na noite anterior, como eu, juntamente com familiares e amigos (na época, eu era um adolescente já interessado em política, mas sem idade para votar - só seria possível fazê-lo na eleição seguinte), sabe que Lula perdeu feio. Não que Collor fosse mil maravilhas, mas Lula... Bem, o “sapo barbudo” - como Brizola o batizara - era visivelmente a encarnação de tudo aquilo que não queríamos para um presidente: um homem com propostas radicais e absurdas; e como se não bastasse isso, desgrenhado, que mal sabia se expressar, além de grosso. Collor, que podia ser o que fosse, mas não era bobo, facilmente pintou e bordou sobre seu oponente. Naquele segundo turno histórico, deu Collor, que nunca fora meu preferido para ser o presidente. Meu preferido era Afif Domingos - "Juntos chegaremos lá, fé no Brasil; com Afif juntos chegaremos lá..." -, mas, como este não chegou ao segundo turno, se eu votasse na época, com certeza também teria votado em Collor e não em Lula.
Depois de eleito, Collor decepcionou. Ele, como tantos outros na história política deste país, era tão somente um oportunista se fazendo de conservador. Ele adotou convenientemente um discurso conservador porque a maioria do povo brasileiro - ainda mais naquela época - sempre fora conservador. Prova cabal de que Collor era um mero oportunista temos hoje, quando o vemos ao lado de... Lula e Dilma!
A única virtude que Collor teve em seu governo, e esta indubitável, foi ter começado a abrir a economia, nada mais. E aqui é bom que se frise o seguinte: a frustração com Collor não significa que Lula era para ser eleito, que Lula seria a melhor opção. Isso é balela! O governo Collor mostrou apenas que a melhor opção não era Collor, e não que esta era Lula. Um governo Lula naquela época seria um desastre econômico, político e social completo para o país (bastava implementar as propostas pregadas pelo PT à época para se viver o inferno) e com certeza também teria terminado antes do tempo com um impeachment. Aliás, reconhecem isso até mesmo gente que durante muito tempo foi ligada ao PT, como o cientista político Benedito Tadeu César, da UFRS, conforme depoimento à revista Veja logo após a posse de Lula, em 2003.
O sucesso do governo Lula hoje na área econômica e em parte da área social - e que lhe dá toda essa popularidade hoje - se deve ao fato de que Lula manteve duas coisas que sempre combateu visceralmente: o modelo econômico e os populares projetos sociais do governo anterior, projetos estes que ele unificou em um só - o Bolsa Família -; e também ao fato de que, em seus oito anos de governo, o governo Lula só enfrentou uma crise econômica internacional, que foi muito forte nos EUA e Europa, mas não tão forte sobre as economias emergentes de forma geral, entre elas o Brasil, enquanto o governo FHC sofreu, em oito anos, mais de cinco crises econômicas internacionais que afetaram diretamente nosso país (e mesmo assim não foram suficientes para deter o crescimento do Brasil nesse período, mas suficientes para não fazê-lo crescer com volúpia, como hoje): Crise dos Tigres Asiáticos, Crise da Argentina, Crise das Bolhas de Internet nos EUA etc.
É uma mentira retumbante, nojenta, essa de que Lula herdou economicamente uma “herança maldita” do governo FHC, como repete incansavelmente o presidente. Ele herdou um país arrumado, com as privatizações necessárias já feitas (privatizações que foram importantíssimas para a saúde econômica do país e que ainda estão dando um fruto extraordinário - leia, por exemplo, aqui, aqui, aqui e aqui), lei de responsabilidade fiscal, estabilidade econômica etc. A única coisa negativa que Lula herdou de FHC na área econômica foi um pequeno aumento da dívida pública em relação ao tamanho que ela tinha no governo Collor-Itamar. Se é que podemos chamar isso de "coisa negativa", já que o pequeno tamanho do aumento ocorrido durante o governo FHC é mais uma amostra positiva das privatizações, porque, sem elas, a dívida pública teria sido bem maior. Pois bem, o que Lula fez depois? Em sete anos de mandato, DOBROU essa dívida e a tornou, a partir daí, extremamente preocupante.
E essa história de que Lula assumiu com a economia em baixa por causa de seu antecessor é uma mentira das grossas. Quando Lula assumiu, havia poucos meses que a economia sofria um momento de incerteza (com bolsa em baixa e dólar e risco país em alta), mas não devido a alguma medida do governo anterior, mas por causa do “Efeito Lula”, isto é, devido à incerteza declarada que o mercado financeiro sentia em relação a um futuro governo Luiz Inácio Lula da Silva, que, naquele período, já estava à frente nas pesquisas por causa do sucesso da versão "Lulinha-Paz-e-Amor". Foi essa apreensão dos mercados, inclusive, que levou o petista a, durante a campanha, escrever a célebre "Carta aos Brasileiros", garantindo, entre outras coisas, que não cumpriria suas ameaças que fizera antes contra o modelo econômico. Aí, depois de eleito, quando o mercado viu que Lula estava mantendo essa promessa da "Carta" (contrariando seu discurso histórico), a confiança voltou e tudo se normalizou.
Portanto, dizer que herdou uma “herança maldita” só demonstra o caráter da atual gestão, que não só mente sobre o tamanho dos seus próprios feitos como rouba os louros dos feitos do seu antecessor chamando-os de seus. E ainda está elevando os gastos públicos a patamares que provocarão, nos próximos anos, uma crise cuja previsão é explodir provavelmente já no colo do próximo presidente (ou, na melhor das hipóteses, no início do mandato seguinte). Mas, o “povão” não sabe o que é isso, e bate palmas ignorantemente para o presidente que vai lhes fazer herdar a próxima crise econômica de nosso país.
Com isso não estou dizendo que sou fã de FHC, mas que o governo FHC, em vários sentidos, foi muito positivo. No que diz respeito ao liberalismo social, por exemplo, o governo do ateu FHC foi vergonhoso. Mas, na área econômica e em outras, foi realmente muito bom. Fez o que devia, apesar dos protestos nonsenses de Lula, PT e coligados, que chegaram ao absurdo de pedir o impeachment de FHC, criando dossiês os mais absurdos para sujar reputações, dossiês estes que foram todos derrubados pelos fatos, um a um. Isso não é fazer oposição; é ser irresponsável.
Bem, Lula assumiu e, oito anos depois, para quem pensava que ele mudara, o que se viu foi o contrário.

A culpa da esquerda evangélica

É engraçado vermos hoje aqueles líderes da esquerda evangélica no Brasil que criticavam tanto e acidamente os evangélicos por não votarem em Lula, e que durante anos fizeram fervorosamente campanha para o petista, ficarem todos hoje ou muito caladinhos ou estranhamente “surpresos” nestes últimos anos diante das denúncias contra seu ex-queridinho.
Ainda hoje alguns se manifestam “frustrados” - Coitadinhos... - com seu antigo candidato do coração. Detalhe: não vi até hoje nenhum pedido de perdão por terem feito campanha a favor de Lula. E agora, estes estão pedindo para que votemos em Marina. Mas, por que não em Dilma? Seria muito mais coerente com o discurso de anos da esquerda evangélica. Quanto a Marina, já escrevi no blog sobre o que penso dela, que, aliás, é muito melhor do que Dilma (Para mim, o único problema da irmã Marina é que, em alguns momentos, ela dá sinais de que, apesar de ter saído do PT, o PT não saiu totalmente dela. Há sempre alguma coisinha lá. Uma pena!). Porém, essa turma evangélica esquerdista (alguns deles envolvidos com liberalismo teológico e outros fãs do que há de mais vergonhoso na América Latina - Chavez, Morales etc) são os que menos têm a nos dizer sobre quem votar.
Quem fez campanha para Chavez e Lula não é guiado pelos princípios bíblicos, mas pelo seu coração marxista. O candidato tem um pouco de cheiro de socialismo? Eles apóiam - eis o critério. Eles amam o socialismo (para eles, o "Céu na Terra" - que o digam a Venezuela, Cuba, Bolívia etc).
Alguém pode dizer: “Aproveitando que você fala de princípios bíblicos, se seguirmos o ideal bíblico de candidato, nenhum dos atuais candidatos a presidente passará 100% no critério”. Concordo plenamente. Mas, quem disse que quando votamos devemos escolher o “candidato ideal”? Não existe candidato 100% ideal! O critério bíblico existe para, quando votarmos, escolhermos o melhor (ou menos ruim, como queiram) a partir dele, e não "o perfeito", que não existe. Dizendo de outra forma, escolher o melhor dentre os não-ideais.

Deixe-me refrescar sua memória

Regimes totalitários costumam nascer a partir de grande popularidade. Porém, infelizmente, as pessoas que desconhecem a História, ou preferem ignorá-la, pensam que regimes totalitários nascem já se manifestando autoritários desde o início sobre a população. Ledo engano. Na maioria esmagadora das vezes, regimes autoritários nascem assim: surge um candidato que se apresenta com uma candidatura carismática (o "Lulinha-Paz-e-Amor", por exemplo) e messiânica, e acaba sendo eleito com grande popularidade. Com o tempo, seu grupo consegue se perpetuar no poder devido a essa popularidade e ao processo simultâneo de aparelhamento de Estado que pratica, que transforma o Estado (ou a maior parte dele) no partido. Só depois disso, passa a mostrar seu autoritarismo.
Com o Estado nas mãos, o grupo passa a usar a máquina para perseguir, chantagear e silenciar os contrários aos ideais do partido. Primeiro, vêm as pequenas medidas totalitárias, que o grosso da população nem se importa, porque não as afeta diretamente. Pensa essa parte da população: “Não têm nada a ver comigo e minha vida está boa”. Porém, após algum tempo, “o caldo engrossa” e o povo começa a sentir o reflexo de algumas medidas. Só que, quando o povo percebe a tolice que fez, “Inês já é morta”. Só para citar exemplos mais fortes e conhecidos, foi assim com Hitler (que tinha mais de 80% de popularidade na Alemanha), com Mussolini (idem) e com Chavez na Venezuela (para citar um exemplo mais recente). No Brasil, poderíamos citar, por exemplo, a fascista Ditadura Vargas, do "Pai dos Pobres".
Quando essas coisas acontecem, sempre me vem à mente a célebre frase de um pastor e teólogo alemão preso pelos nazistas, Martin Niemöller (1892-1984), que curiosa e sintomaticamente foi relembrada por gente da imprensa secular recentemente para alertar sobre o atual estado de coisas em nosso país: “Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar”. Para quem não conhece, Niemöller chegou a flertar com o nazismo no seu início. Quando, então, percebeu quem realmente era Hitler e no que ia dar sua doutrina nacional-socialista, tentou conversar com ele para dissuadi-lo, mas viu que o líder nazista não dava atenção aos seus argumentos de apreensão. Logo, passou a ser opositor do governo abertamente e foi preso por sete meses sob o argumento de que sua pregação nas igrejas (1) denegria o governo e o nacional-socialismo e (2) criava um clima de instabilidade social no país. Em seguida, foi levado a um campo de concentração em Dachau, onde passou cerca de 7 anos (1938-1945), saindo ao final da Segunda Guerra Mundial.
Quando vejo, por exemplo, o PT querendo processar um pastor batista de Curitiba por dizer a verdade, por denunciar as manifestações de liberalismo social, inversão de valores e de autoritarismo por parte do governo, lembro-me das palavras de Niemöller.
O líder do PT do Paraná disse que o pastor Paschoal Piragine mentia, porém:
1) O PT puniu mesmo dois deputados por se oporem à descriminalização do aborto, porque, no PT, você pode até se dizer pessoalmente contra o aborto, mas é obrigado a votar a favor (Leia aqui);
2) O PT aprovou em seu último Congresso Nacional a luta pela descriminalização do aborto (Leia aqui).
3) Aborto não é questão de saúde pública; é assassinato.
Onde está a mentira do pastor Piragine?
Ainda sobre esse assunto, não deixe de assistir este vídeo didático cujo link disponibilizo aqui.

Série de acontecimentos de dar náuseas

Se evangélicos lulistas diziam “Ah, se falava tanto do temor de um governo Lula, mas quando Collor assumiu houve corrupção”, o PT tratou de decepcioná-los rapidinho. Ainda no primeiro mandato do governo Lula, ocorreu o pior caso de corrupção da história do país: o Mensalão. Lula temeu pelo impeachment. Quem não se lembra de seu discurso nervoso na televisão à época, temendo pelo pior, tentando convencer que ele não tinha nada a ver? O impeachment só não ocorreu porque ele conseguiu se blindar, jogando a culpa toda nos seus obedientes subordinados e dizendo-se surpreso e chateado com tudo. “Eu não sabia” foi seu mote. Felizmente para ele, as pesquisas mostravam que a estratégia colara - a popularidade do PT despencou e a de Lula sofrera só um pequeno revés. Então, Lula escapou e sua popularidade voltou a subir.
Para que você não esqueça nada sobre como se deu o "mensalão", leia o livro eletrônico "O Chefe", disponibilizado gratuitamente por seu autor, o jornalista Ivo Patarra, aqui.
Depois, ainda viriam os dólares na cueca; o caso Waldomiro; os petistas (denominados apenas como “aloprados” pelo presidente que, coitado, nunca sabia de nada...) pegos com R$ 1,7 milhão em espécie para comprar e fabricar dossiês contra José Serra, atingindo Geraldo Alckmin (ou seja, em favor do candidato Lula, que tentava a reeleição); o escândalo dos cartões corporativos; o dossiê criminoso contra Ruth Cardoso numa tentativa de se contrapor à descoberta do escândalo dos cartões; o caso Lina Vieira; o apoio às Farc, ao Hamas, à ditadura cubana, ao governo criminoso do Sudão (que assassinou 400 mil pessoas em menos de dez anos), ao “amigo Kadaf”, a Cessare Batisti e ao Irã; o caso dos boxeadores cubanos; a petista PL 122 (que institui o crime de homofobia) e a promoção do Congresso Nacional GLBT; o patrocínio em dezenas de milhões de reais ao MST, à UNE e aos sindicatos; um aparelhamento de Estado inédito na história do Brasil; a produção de dossiês contra opositores; quebra de sigilo de um caseiro e de adversários políticos, um crime constitucional; grampo telefônico de adversários e até mesmo do presidente do Supremo Tribunal Federal; o PNDH 3; a vergonha do apoio ao golpista Zelaya; a denúncia de financiamento de campanha pelas Farc; o apoio do governo Lula a Olivério Medina, das Farc, e sua esposa; as denúncias de envolvimento de petistas ilustres com as Farc (aqui); a proposta do Conselho Federal de Jornalismo etc etc etc.
Os exemplos se multiplicam. O leopardo não perdeu suas manchas. A camada de tinta por cima da sua pele já faz um bom tempo que derreteu, revelando as tão antigas e temidas manchas por baixo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pastor Silas.

Seu post só falta ser perfeito, pq creio q perfeito aqui por enquanto, nada o é. Vc citou aquelas eleições diretas, tb eu era uma criança. Me lembro do Affif, com o juntos chegaremos lá, e que certamente angariou muitos votos com seus discursos prolongados.
Desde criança quando estudava e prestava atenção até nos jornais, sempre odiei e continuo odiando Partidos vermelhos!!!
Tomara que haja uma reviravolta nessas eleições, e o que eu posso fazer para isso, estou fazendo-o.

Graça e Paz

o Júnior de sempre

Rômulo Cantarela disse...

Bela explanação de uma inexorável e insofismável realidade, que está a mercê dessa decisão de tetra-periodicidade. Mas não serei nem um pouco perspicaz em dizer que tudo se encaminha para um país que plageia idéias tão medíocres e inescupulosas.

Que a Paz do Senhor esteja com todos!
Abraços Pr. Silas.

Clébio de Freitas disse...

Pr. Silas,

Acredito que o grande problema é que a maioria da população se sente beneficiada por Lula e o PT e muitos chegam a defender, muitas vezes sem pensar, ao PT e suas políticas. Muito do que vo cê disse aqui tem sido considerado mentira por muitos jornalistas influentes e o povo já caiiu na armadilha. Que Deus tenha misericórdia de nós!

Atenciosamente,

Clébio de Freitas

Silas Daniel disse...

Caro Clébio, a Paz!

Jornalistas que brigam contra os fatos em vez de admiti-los, deixando de lutar contra o ataque às instituições democráticas que o atual governo faz sistematicamente, ou é gente que está alinhada ideológica e desavergonhadamente a esse sistema, pondo seu compromisso partidário acima dos direitos constitucionais, ou é gente que se vendeu. Ainda bem que a maioria esmagadora da imprensa já está acordada.

A verdade é que estamos caminhando para um regime autoritário e a maioria da nação está anestesiada para esse fato. Deus os ajude!

Abraço!

Anônimo disse...

Perfeito!
Estou pedindo a Deus que desperte os nossos líderes, a orientar suas ovelhas em relação ao que vem por aí.
Que Deus tenha misericórdia de Nós!
Que o Senhor Jesus continue te usando desta forma maravilhosa com todo esse conhecimento.
A Paz!